quarta-feira, 2 de maio de 2007

O primeiro bilhão não se esquece

O mundo já sabe que quem vai mandar são os hedge funds, fundos de investimentos que ganham dinheiro (muito dinheiro) quando o mercado sobe, desce, fica à deriva ou permanece inalterado. Para eles, perder não é uma alternativa. Como um tsunami dos negócios, e com um patrimônio que somado chega a estonteantes US$ 2 trilhões, ou quatro vezes o PIB brasileiro, eles compram tudo que vêem, de montadoras a cadeias de supermercados, de petrolíferas a aéreas. O que poucos sabem é quanto de dinheiro os administradores destes fundos, fechados aos simples mortais, pouco regulados pelas autoridades e geralmente com endereços nas Ilhas Cayman ou nas Bahamas, ganham ao final de cada ano. A publicação Alpha Magazine encarregou-se de revelar os números: James Simons, do Renaissance Technologies, fundo de US$ 12 bilhões fechado a novos investidores há 14 anos, ganhou US$ 1,7 bilhão em 2006. Não precisa ser gênio para deduzir que Simons, recluso e misterioso septuagenário popular no meio acadêmico por ser criptoanalista, físico, matemático e filantropista, ganha cerca de US$ 12 mil por hora trabalhada, quando o salário mínimo por aqui não passa de US$ 5. De acordo com o Institutional Investor, James ganhou um pouco menos em 2005, só US$ 1,5 bilhão e, pior ainda, US$ 670 milhões em 2004. Os proventos fazem dele o 64.° homem mais rico dos EUA na mensuração da Forbes. Desde 1989 faz a alegria de seus investidores com retornos acima de 35% ao ano, colocando competidores, inclusive o lendário George Soros, no chinelo. James cobra as taxas de mercado para administrar o fundo (cerca de 5%), mas cobra taxa de sucesso de 44%, o que manda seu salário para níveis estratosférios. Fumando, com olhar de quem não precisa agradar a ninguém (já perdeu dois filhos e tem um autista), deu sua primeira entrevista em dez anos ao canal CNBC, e pareceu não muito preocupado em mostrar as intricadas fórmulas matemáticas que, com a ajuda de computadores e especialistas, usa para se enriquecer com os mercados futuros, swaps e derivativos em posições altamente alavancadas. "O que tenho é muita sorte", resumiu ele. James Simons não está sozinho na explosão salarial dos administradores de fundos de hedge. Segundo o Alpha Magazine, há outros. Ken Griffin (38 anos), da Cidadel Investments, com US$ 1,4 bilhão; Edward Lambert (você vai ouvir muito este nome), da ESL Investiment, que ganhou US$ 1,3 bilhão, boa parte transformando a Sears, da qual é chairman, em decadente loja de departamentos, mas fonte inesgotável de lucros. Há ainda o polêmico George Soros, ex-patrão de Armínio Fraga e inimigo número 1 de George W. Bush (é um dos grandes financiadores do Partido Democrata), que ganhou US$ 950 milhões; Steven Cohen, da SAC Capital (US$ 900 milhões) e Carl Icahn (US$ 600 milhões), que volta e meia aparece nas reuniões de diretoria das grandes empresas exigindo melhor administração e mais lucros, à custa de demissões. Todos os administradores, mesmo os mais pobrezinhos, defendem as lucrativas taxas de performance porque ficam "alinhados com os interesses dos investidores". Mas estas taxas, que fazem dos fundos de hedge aquilo que o capitalismo tem de mais selvagem, são criticadas por gente como Warren Buffet, o segundo homem mais rico do mundo, que as considera um empurrão para os altos riscos, em detrimento de uma estratégia de longo prazo. Mas o que fazem estes administradores com tanto dinheiro? Segundo o The Wall Street Journal, o patrimônio médio dos gestores é de US$ 61 milhões. São homens, em sua maioria, com menos dos 55 anos (mulher quase não entra). Gastam em obras de arte, iates, jóias, hotéis e resorts, relógios, roupas, spas, eletrônicos, amigos e vinhos da melhor qualidade. Afinal, como se diz, a vida é muito curta para se tomar vinho ruim.