segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Um mórmon no poder

Rico, bonito, empresário de sucesso, pai e marido exemplar, sem antecedentes criminais (nem multa por velocidade), republicano e mórmon. O ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney, 60 anos, o homem que salvou as Olimpíadas de Salt Lake City em 2002 e fez fortuna com a firma de investimentos Bain Capital, é um dos candidatos mais afluentes entre os republicanos para a sucessão de George Bush – a ponto de ter sido capa de praticamente todas as revistas de negócios desde que o ano começou.
Romney, no entanto, peca por ser mórmon. O país está cansado da mistura entre Igreja e Estado que os neoconservadores encabeçados por Bush promoveram nos últimos anos, a ponto de levarem o país a uma guerra fratricida e sem sentido no Iraque só para satisfazer ao complexo industrial militar. Os mórmons pertencem à religião que mais cresce nos Estados Unidos, embora seja mais conhecida entre outros credos por abrigar entre seus devotos os chamados casamentos múltiplos (um homem, às vezes com dezenas de esposas), especialmente em regiões remotas do país.
Em todos os debates que participa, Mitt é confrontado com perguntas sobre a influência da religião no poder, especialmente na tomada de decisões que apaixonam os Estados Unidos atualmente, como a liberação de fundos federais para a pesquisa de células-tronco, direito ao aborto, casamentos entre homossexuais e outras conquistas (ou atrasos, segundo os neoconservadores) da sociedade norte-americana no fim do século passado. Mitt, como bom político, escorrega-se dos petardos com a firmeza de um quiabo, mas no final do dia, como todos sabem, o que vale é uma boa administração.
É neste ponto que Mitt é fantástico. Ele é uma espécie de SWAT que chega com um time de craques para resolver qualquer problema do mundo dos negócios. Formado por Haward (entre os cinco melhores alunos), cresceu como consultor na Bain & Company, mas desiludiu-se ao notar que seus conselhos não eram seguidos. Propôs, e tornou-se sócio, da Bain Capital, que com apenas US$ 37 milhões para investir fez o sucesso de empresas como Brookstone, Sealy, Domino’s Pizza e Staples, na qual colocou US$ 600 mil e hoje fatura US$ 18 bilhões.
Como este formidável DNA de administrador, Mitt foi chamado às pressas para salvar as Olimpíadas da Inverno de 2002, em Salt Lake City (reduto dos mórmons). Em 1999, durante os preparativos, os jogos estavam a perigo, com escândalos de corrupção e US$ 379 milhões de saldo negativo. O homem chegou, cortou custos, arranjou novos patrocinadores e, ao final da competição (“trabalhar lá era como enfrentar um final de uma copa do mundo 17 vezes em 17 dias”) ainda obteve um lucro de US$ 100 milhões.
Foi o passe para lançar seu nome nacionalmente. Em 1994, já tinha tentado arrancar o democrata Ted Kennedy a quase centenária invencibilidade como senador de Massachusetts, mas foi dizimado como uma saraivada de anúncios na TV afirmando que sua atuação na Bain Capital, comprando e vendendo empresas, levou à demissão de milhares de funcionários (e eleitores). Perdeu a eleição para o Senado, mas foi eleito governador do Estado de 2002 a 2006. Lá, virou a mesa transformando um déficit de US$ 3 bilhões num superávit de US$ 1 bilhão, criou seguro saúde universal que hoje é referência nos Estados Unidos e ainda um arrojado plano para proteger a ecologia. Tornou-se, também, presidente da Associação dos Governadores Republicanos, outra plataforma para chegar à Casa Branca.
Como empresário, o forte do candidato Mitt Romney (apenas 11% de preferência nas pesquisas) é obter dinheiro, mas muito dinheiro para eleger-se presidente dos Estados Unidos. É o candidato republicano que mais arrecadou (US$ 23 milhões), embora não tenha superado a favorita dos democratas, Hillary Clinton, que conseguiu, com o apoio do marido, o ex-presidente Bill Clinton, cerca de US$ 26 milhões. O que mais está surpreendendo os analistas é como Romney está conseguindo levantar dinheiro através de pequenas doações no seu site na internet.
Romney poderia ser católico, protestante, judeu, muçulmano ou ateu, mas o fato de ser mórmon o joga numa zona de incerteza pelo próprio desconhecimento que a maioria das pessoas tem da igreja fundada nos Estados Unidos pelo visionário Joseph Smith em 1830 e que hoje conta com mais de 13 milhões de adeptos só nos Estados Unidos. Como é comum não gostarmos daquilo que não conhecemos, por insegurança ou medo, fica difícil saber o que um mórmon vai fazer na Casa Branca.

Um mórmon no poder

Rico, bonito, empresário de sucesso, pai e marido exemplar, sem antecedentes criminais (nem multa por velocidade), republicano e mórmon. O ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney, 60 anos, o homem que salvou as Olimpíadas de Salt Lake City em 2002 e fez fortuna com a firma de investimentos Bain Capital, é um dos candidatos mais afluentes entre os republicanos para a sucessão de George Bush – a ponto de ter sido capa de praticamente todas as revistas de negócios desde que o ano começou.
Romney, no entanto, peca por ser mórmon. O país está cansado da mistura entre Igreja e Estado que os neoconservadores encabeçados por Bush promoveram nos últimos anos, a ponto de levarem o país a uma guerra fratricida e sem sentido no Iraque só para satisfazer ao complexo industrial militar. Os mórmons pertencem à religião que mais cresce nos Estados Unidos, embora seja mais conhecida entre outros credos por abrigar entre seus devotos os chamados casamentos múltiplos (um homem, às vezes com dezenas de esposas), especialmente em regiões remotas do país.
Em todos os debates que participa, Mitt é confrontado com perguntas sobre a influência da religião no poder, especialmente na tomada de decisões que apaixonam os Estados Unidos atualmente, como a liberação de fundos federais para a pesquisa de células-tronco, direito ao aborto, casamentos entre homossexuais e outras conquistas (ou atrasos, segundo os neoconservadores) da sociedade norte-americana no fim do século passado. Mitt, como bom político, escorrega-se dos petardos com a firmeza de um quiabo, mas no final do dia, como todos sabem, o que vale é uma boa administração.
É neste ponto que Mitt é fantástico. Ele é uma espécie de SWAT que chega com um time de craques para resolver qualquer problema do mundo dos negócios. Formado por Haward (entre os cinco melhores alunos), cresceu como consultor na Bain & Company, mas desiludiu-se ao notar que seus conselhos não eram seguidos. Propôs, e tornou-se sócio, da Bain Capital, que com apenas US$ 37 milhões para investir fez o sucesso de empresas como Brookstone, Sealy, Domino’s Pizza e Staples, na qual colocou US$ 600 mil e hoje fatura US$ 18 bilhões.
Como este formidável DNA de administrador, Mitt foi chamado às pressas para salvar as Olimpíadas da Inverno de 2002, em Salt Lake City (reduto dos mórmons). Em 1999, durante os preparativos, os jogos estavam a perigo, com escândalos de corrupção e US$ 379 milhões de saldo negativo. O homem chegou, cortou custos, arranjou novos patrocinadores e, ao final da competição (“trabalhar lá era como enfrentar um final de uma copa do mundo 17 vezes em 17 dias”) ainda obteve um lucro de US$ 100 milhões.
Foi o passe para lançar seu nome nacionalmente. Em 1994, já tinha tentado arrancar o democrata Ted Kennedy a quase centenária invencibilidade como senador de Massachusetts, mas foi dizimado como uma saraivada de anúncios na TV afirmando que sua atuação na Bain Capital, comprando e vendendo empresas, levou à demissão de milhares de funcionários (e eleitores). Perdeu a eleição para o Senado, mas foi eleito governador do Estado de 2002 a 2006. Lá, virou a mesa transformando um déficit de US$ 3 bilhões num superávit de US$ 1 bilhão, criou seguro saúde universal que hoje é referência nos Estados Unidos e ainda um arrojado plano para proteger a ecologia. Tornou-se, também, presidente da Associação dos Governadores Republicanos, outra plataforma para chegar à Casa Branca.
Como empresário, o forte do candidato Mitt Romney (apenas 11% de preferência nas pesquisas) é obter dinheiro, mas muito dinheiro para eleger-se presidente dos Estados Unidos. É o candidato republicano que mais arrecadou (US$ 23 milhões), embora não tenha superado a favorita dos democratas, Hillary Clinton, que conseguiu, com o apoio do marido, o ex-presidente Bill Clinton, cerca de US$ 26 milhões. O que mais está surpreendendo os analistas é como Romney está conseguindo levantar dinheiro através de pequenas doações no seu site na internet.
Romney poderia ser católico, protestante, judeu, muçulmano ou ateu, mas o fato de ser mórmon o joga numa zona de incerteza pelo próprio desconhecimento que a maioria das pessoas tem da igreja fundada nos Estados Unidos pelo visionário Joseph Smith em 1830 e que hoje conta com mais de 13 milhões de adeptos só nos Estados Unidos. Como é comum não gostarmos daquilo que não conhecemos, por insegurança ou medo, fica difícil saber o que um mórmon vai fazer na Casa Branca.