segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Mulher é ruim para fazer conta?

Nada disso. Cada vez mais a ciência comprova que ser bom em matemática, ou no “alfabeto com o qual Deus construiu o Universo”, como dizia Galileu Galilei, independe do sexo.
Mas a atriz Danica McKellar, a doce Winnie Cooper do seriado Tempos Incríveis, exibido no Brasil pela Rede Cultura, a cada dia encanta os americanos com o livro “A Matemática Não é Chata”, escrito de princesa para princesas para convencê-las de que o reino dos números é também coisa de mulher.
McKellar, que já foi tão ruim em matemática como boa parte da humanidade, viveu tempos incríveis na sala de aula quando, de repente, dava branco na cabeça, o coração palpitava e rezava para que o sino do recreio acabasse com a tortura de uma, digamos, raiz quadrada.
Até que um professor apareceu e deu exemplos práticos de matemática no dia-a-dia para que ela aprendesse a lição. Foi a faísca para que explodisse sua genialidade numérica, a ponto de, mesmo com carreira de atriz, ter sido autora de um tal de Chayes-McKellar-Winn, um teorema impossível de descrever aqui, pois nem eu nem você, paciente leitor, entenderíamos bulhufas.
Muita gente pensa que, com o advento da calculadora de mão, a matemática poderia ser extinta dos currículos escolares, a exemplo da Química (já experimentou decorar a tabela periódica dos elementos?) ou da Física, cuja beleza estava na frase “a toda ação corresponde uma reação igual e contrária”, muito útil nos embates da vida.
Mas a matemática, que trabalha com conceitos de quantidade, estrutura, espaço e mudança, é cada vez mais utilizada numa miríade de profissões que envolvem o reconhecimento de padrões em números, computadores, abstrações ou qualquer coisa que exista.
Ou seja, como num jogo de xadrez, leva as pessoas a pensar adiante, lidar com possibilidades, reconhecer erros e corrigi-los imediatamente (“meu segredo de sucesso”, segundo Bill Gates), criar programas de computador que imitam o celebro humano ou simplesmente calcular a gorjeta na mesa de um bar.
Mais ainda, a matemática vem sendo lugar comum nas entrevistas de emprego aqui nos Estados Unidos, onde se pergunta para o candidato “(1) quantas bolinhas de golfe cabem num ônibus escolar”, “(2) quanto você cobraria para lavar todas as janelas de Seattle” ou a pegadinha criada pela Microsoft ainda nos anos 90: “(3) - quantos postos de gasolina existem no Brasil?”. A idéia é saber se o candidato consegue pensar e, em caso positivo, se o faz com um mínimo de racionalidade.
Danica McKellar, hoje aos 32 anos, devolve a dádiva que recebeu do professor talentoso distribuindo-a para milhões de meninas nos Estados Unidos, que estão naquela idade em que não sabem se a herdeira Paris Hilton é um modelo a ser seguido ou evitado. E que, vez por outra, se sentem pressionadas pela escola ou pelos pais para resolver, desculpem o trocadilho, esta equação.
Seu livro, que tem como subtítulo “Como sobreviver à matemática na escola sem perder a cabeça ou suas unhas”, está sendo consumido aos borbotões por meninas desesperadas e mães atribuladas. Recheado de rosa e rosas, traz dicas para o dever de casa, os testes bimensais e, melhor ainda, exemplos reais, como entender as percentagens para as garotas se darem bem no Shopping Center ou proporções, de forma a torná-las excelentes chefs de cozinha.
O resto é entremeado com horóscopos, truques, enigmas, charadas, testemunhos de outras garotas e, principalmente, os resultados certos, que podem ser encontrados no site www.danicamchellar.com.
Fazer com que as garotas amem a matemática pode mudar a realidade profissional dos Estados Unidos, diz a pesquisadora Patricia Campbell, que avalia programas de matemática e ciência para a National Science Foundation. Apesar de milhões de dólares que estão sendo gastos em programas educacionais, os homens ainda vencem as mulheres em profissões essencialmente “matemáticas”, como engenharia.
-Nós levamos as meninas a encararem a matemática. Depois a usá-la. Agora teremos que fazê-las a amarem, diz Campbell.
O primeiro passo, como se vê, é ler o livro de Danica McKellar e responder corretamente às perguntas.
*Respostas: 1- 500 mil, assumindo que o ônibus que o interior do ônibus mede 20 bolas de altura, 50 de largura e 200 de cumprimento. 2.- Assumindo que Seattle tem 10 mil quarteirões, 600 janelas por quarteirão, e a 20 dólares por hora, em torno de US$ 10 milhões. 3.- 43 189 postos.