segunda-feira, 19 de maio de 2008

CÉREBRO

Segundos depois de despertar numa fria manhã em 10 de dezembro de 1996, a neuroanotomista norte-americana Jill Bolte Taylor sentiu uma fisgada na cabeça, semelhante àquela sensação de quando tomamos sorvete rapidamente. Levantou-se e, já no banho, perplexa e intrigada, sentiu estar numa viagem alucinógena, onde os pingos do chuveiro pareciam brincar com as células do seu corpo. Aos 37 anos, uma das maiores especialistas do mundo em cérebro estava sofrendo um derrame cerebral provocado por uma hemorragia craniana do tamanho de uma bola de golfe. Nas quatro horas seguintes, foi médica e paciente, feitiço e feiticeira, atriz e espectadora: numa cronologia aterrorizante, assistiu de camarote à perda da fala, da capacidade de ler, de escrever e de reagir a estímulos externos, sentidos alojados na parte esquerda da sua cabeça. Virou uma criança num corpo de mulher. Depois de operada, extirpada a hemorragia, demorou nove anos para se recuperar.
Tanto no best seller “My Stroke of Insight” quanto no vídeo que faz sucesso na internet, Taylor mostra um cérebro (real) cortado ao meio, brinca com a massa marrom-clara e defende, como ninguém, a independência entre as partes esquerda e direita. A direita, diz ela, é a parte do nós, das intuições, das trocas de energias, da felicidade, da expansão da nossa consciência. A esquerda é a parte intelectual, do eu, introvertida, calculista, metódica, linear, é aquele diabinho que nos lembra as contas a pagar, nos põe medo na hora de enfrentar o mundo e que, por isto mesmo, nos faz sofrer. Quando acordou do pesadelo de quatro horas, Taylor, uma loira energética com voz de quem fala e é ouvida, sentiu uma extrema sensação de paz, euforia, como se não houvesse mais problemas no mundo. Humildemente, despediu-se da vida e preparou-se para o que ela chama de “transição”.
Esta transição realmente chegou para a cientista formada e treinada por Harvard, uma das melhores universidades do mundo, mas não através da morte. Como teve de aprender a conviver com apenas metade das 50 milhões de células que harmoniosamente viviam no nosso cérebro – precisamente as da parte direita-, a experiência a levou a mundos que pouca gente conhece. “Vivemos e lutamos entre nós nos ego-caixotes da parte esquerda do cérebro, nos recusando a pensar que um mundo diferente é possível”, diz ela. “A benção que recebi desta experiência é que a paz interior é acessível a qualquer pessoa, em qualquer momento: tudo que temos de fazer é silenciar a voz que domina a parte esquerda”.
Hoje Jill dá a volta ao mundo contanto sua experiência. Mesmo com o sucesso repentino – já chegou a dar entrevista para a apresentadora Oprah Winfrey na TV norte-americana - continua dando aulas na Escola de Medicina da Universidade de Indiana, seu estado natal, e especializou-se na investigação pós morte do cérebro humano. Ela ainda é porta voz da Harvard Brain Tissue Resource Center, e consultora da Midwest Proton Radiotherapy Institute. Agora em maio foi escolhida pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
Uma das partes mais fantásticas do vídeo é quando ela conta, em lágrimas, a briga entre partes direita e esquerda do seu cérebro durante as quatro horas de derrame. “Meu lado direito me dava fantásticas sensações de alegria e paz, enquanto que o esquerdo me chamava para a responsabilidade, me dizia: você está sofrendo um derrame, vá ao telefone e grite por socorro”. Após ter tido o seu cérebro danificado, e tendo de recorrer ao seu lado direito, ela pergunta à platéia se a deliberada escolha pelo lado direito pode ser feita por nós no dia-a-dia da vida.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O que vale é a experiência?

A Universidade de Washington, através do Centro de Estudos Brasileiros, ajudou a mandar mais uma turma de estudantes para o Brasil. Ficaram uma semana no Rio. Foram assaltados, covardemente espancados e proibidos de voltar para casa em que estavam hospedados, pois havia contantes tiroteios com metralhadoras. Agora estão refugiados numa casa de campo em Minas. O Brasil, segundo eles, está sendo uma experiência fantástica.

DE CASO COM A MÁFIA


            Seattle – Após assistir nas últimas semanas aos 86 episódios dos The Sopranos, da HBO, considerado o melhor seriado de todos os tempos da TV norte-americana, e também o que mais faturou, e ficar terrificado com o estilo de liderança do chefão Tony Soprano, dá vontade de jogar no lixo idéias holísticas, congruentes, participativas e outros modismos inventados pelos consultores em administração. O estilo “escreveu-não-leu-é-porrada-mesmo” de Tony, que faz análise e tem problemas com a mãe, mesmo depois dela ter morrido, obviamente tem seus exageros, como assassinatos e extorsões, mas é o que se vê, mutatis mutandis, no dia-a-dia das empresas nos Estados Unidos que freqüentam as primeiras posições da Fortune 500.

            O Soprano da América Corporativa é uma espécie de cowboy que, em tempos de crise (ou seja, sempre), corta a emenda do feriado, suspende o cafezinho e liga para o sub-chefe domingo de manhã para saber o que ele está achando das coisas. Fala pouco, não é amigo, aparece em horas incertas, não gosta de responder (e sim perguntar), não reage no calor dos acontecimentos e presta atenção a tudo que ouve. Sorrisos esparsos, abre o saco de pancadas de uma só vez, e dá a mão depois que o subordinado já roeu todas as unhas. É astuto, sortudo, charmoso, de bem com a vida, aceita ouvir desaforos sem estourar os miolos e parece ser teleguiado por um sentido de missão, do tipo “não sabia que era impossível, portanto fui lá e fiz”.  

            Tony é assim. É mais um bem-sucedido CEO da Cosa Nostra, organização criminosa que ao longo da sua história brindou o mundo empresarial com livros sobre eficiência e eficácia administrativa. O último que saiu é sobre Bernardo Provenzano, o chefão que, encarcerado, torna-se prolífico escritor de cartas. John Murray, que escreveu sua biografia Boss of Bosses, colheu dele sete regras essenciais para o mundo dos negócios: (1) Em tempos de crise, desapareça do radar. (2) Medite, seja calmo, correto e consistente, descubra o que há por trás das palavras e não confie em apenas uma fonte de informação. (3) “O chefão tem de aparecer como uma figura beneficente, tanto nos negócios como na vida pessoal, a fim de obter o consenso”. (4) Seja como um pastor, confiável e autoritário”. (5) Seja politicamente flexível. (6) Em caso de escândalo ou falência, distancie-se e não seja confundido com o caso em questão. (7) Seja modesto. Sempre.

            Tony mete tanto medo que seu motorista pede-lhe desculpas por ter apanhado dele num de seus freqüentes ataques de fúria (acompanhados de desmaios de ataques de pânico). Tortura e mata como quem toma um cafezinho na esquina, faz sexo com metade do mundo, mas recolhe-se todas as noites à sua sacrossanta mansão, onde é pai e marido exemplar. O mundo gira à sua volta: ele recolhe, processa, tira o melhor proveito (90% para ele, o resto para o grupo) e distribui os dividendos salomonicamente. Todo mundo que lhe presta um favor tem um preço, uma gorjeta de 50 ou 100 dólares. Não existem amizades, existem interesses. Beija e abraça os inimigos, para depois encomendar-lhes a morte.

            Os Sopranos são reprisados e alugados à exaustão na Blockbuster, principalmente por chefes que, no subconsciente, imaginam um mundo onde não têm que pedir tudo com delicadeza e carinho, para depois serem motivos de piada na rádio peão. Um mundo onde o bem e o mal surgem claramente, e não em zique-zague, um universo onde, infelizmente, alguns têm de ganhar, outros têm de perder. Os chefões é que decidem quem.

 

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Rica, famosa, adolescente. Mesada? US$ 300,00

            Seattle – Destiny Hope Cyrus, ou Miley Cyrus, a garota que está tão onipresente nos Estados Unidos feito a bandeira americana, foi eleita semana passada pela revista People a criança que mais fatura no show business: US$ 17,5 milhões pela recente temporada. A cantora, atriz, autora e guitarrista, que ao colocar uma peruca loura transforma-se em Hannah Montana, o seriado responsável pela recuperação dos estúdios Disney, põe apenas US$ 300,00 mensais no bolso. O resto vai para seu pai, Billy Ray Cyrus, que também faz o papel de seu pai em Hannah Montana.

            Miley, que é vista em 95 milhões de norte-americanos, envolveu-se numa trapalhada na semana passada, quando a revista Vanity Fair publicou suas fotos com as costas nuas, envolvida apenas com uma roupa de cama. As fotos, feitas pela lendária Annie Liebovitz, tiveram um efeito desastroso para sua carreira. Conhecida pela espontaneidade, simplicidade e principalmente por ser engraçada – sua marca registrada – Miley, ou Hannah Montana, teve que se desculpar com os fãs: “As fotos eram para ser artísticas, mas vendo o resultado na revista, me sinto totalmente sem graça “, disse. “Eu jamais quis que isto acontecesse – e por isto peço desculpas”.

            Apesar do tropeço, a carreira da Miley, que tem apenas 15 anos, vai de vento em popa. Somente no ano passado ela faturou US$ 3,5 milhões, o que a colocou no 17º lugar dos milionários com menos de 25 anos da revista Forbes. Seu programa roda quase que 24 horas por dia no Disney Channel, que não tem anúncios, só os do próprio canal. A garota já vendeu mais de oito milhões de CDs, três milhões de DVDs, 1,7 milhão de jogos interativos e 3,7 milhões de livros. Apresentou o Oscar deste ano (quase irreconhecível num vestido de Valentino) vai ganhar uma estátua no museu de cera da Madame Tussauds e já vende cerca de 400 produtos, o que a faz uma estrela do mercado de merchandising nos Estados Unidos, avaliado em US$ 200 bilhões anuais.

            Hannah tem duas vidas. Uma como Miley, a estabanada (e com problemas de auto-afirmação) garota que vive numa praia da Califórnia como seu pai (viúvo) e seu irmão. A outra, como a celebridade Hannah Montana, séria, profissional, sempre correndo do assédio dos fãs. O seriado, 26 capítulos por temporada, é divertidíssimo, o que soa como alívio para os pais que, vez por outra, são obrigados a acompanhá-lo.

Ao lado de High School Musical, e desde março de 2006, quando estreou, Hannah é programa obrigatório nos Estados Unidos. Já foi escolhido para receber o Emmy, o Oscar da TV, ao mesmo tempo em que já foi anunciada a terceira série, que começará a partir de abril do ano que vem. Tem gente que paga até US$ 1000,00 para vê-la mais de perto em seus shows (que faturou até agora US$ 65 milhões), coisa que o candidato Barack Obama, que tem duas filhas, se recusou a fazê-lo.

Nada mal para uma garota que nasceu na distante
Franklin, Tennessee, filha de um decadente músico de rock-in-rool que colocou o nome de Destiny Hope (Destino Esperança) porque acreditava que ela iria realizar grandes coisas. Sem namorado, sem ir à escola (tutores a acompanham nas temporadas), e principalmente longe do lugar comum que acompanha as celebridades infantis, Destiny Hope vai trocar de nome oficialmente. Para Miley Cyrus, não para Hannah Montana.