quarta-feira, 2 de abril de 2008

ENSINANDO A PESCAR

Seattle – Para o bilionário Ewing Marion Kauffman, morto em 1993 depois de fazer fortuna com a empresa que hoje faz parte do conglomerado farmacêutico Aventis, dar dinheiro para os necessitados assemelha-se, na maioria das vezes e infelizmente, a enxugar gelo. Antes de partir para o outro mundo depois de uma vida de sucesso em Kansas City, Missouri, fundou a Kauffman Foundation, que hoje não só patrocina os principais programas da PBS, a TV pública americana, como também distribui milhões de dólares para uma raça diferente que habita o planeta, os empreendedores.

            A Kauffman Fountation, com seus US$ 2 bilhões de dólares (hoje a 30a maior fundação nos Estados Unidos) mergulha profundamente nas origens, na realidade e nas tendências do empreendorismo norte-americano. Na semana passada, lançou o resultado de uma pesquisa que abrangeu cerca de cinco mil empreendedores nos Estados Unidos desde 2004. A conclusão, como era de se esperar, é que não existem negócios sem, parafraseando o ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill, “sangue, suor e lágrimas”, mas as recompensas são inigualáveis, para o bem (quando dá certo), ou para o mal (quando dá errado, como na maior parte das vezes).

            Além da maioria dos novos empresários não contar com a ajuda de nenhum empregado no primeiro ano, pelo menos um terço deles chega ao Natal sem faturar absolutamente nada. A metade consegue faturar algum, mas não mais do que US$ 100 mil nos 12 primeiros meses. O interessante, no entanto, é que pouca gente cria um negócio do nada. Cerca de 80% dos entrevistados investiram dinheiro do próprio bolso ou receberam financiamento no primeiro ano. Perto de 10% investiram cerca de US$ 100 mil, enquanto o restante nem isto. Cerca de 30% destes “loucos” começou a aventura com menos de US$ 5 mil.

            O dado que mais chama a atenção na pesquisa é como o empreendorismo ainda é coisa de macho , branco e anglo-saxão. Eles formam 70% da base de novos empreendedores aqui. Os negros são responsáveis por apenas 9% dos novos negócios, os asiáticos 4%, enquanto o restante é formado por índios (native americans), habitantes das ilhas do Pacífico e outros grupos étnicos. Só 6.6% dos novos negócios são iniciados por gente como nós, os latinos.

            Ao contrário da crença comum, de que a maioria dos empreendedores são como espermatozóides que morrem antes de chegar à praia, somente 9% das empresas abarcadas nas pesquisas fecharam as portas antes do primeiro ano. Entre os homens empreendedores a taxa de sucesso é de 92%, enquanto a de mulheres empreendedoras a taxa é de 89%.

            Seja como for, estes cinco mil entrevistados eram gente comum, que vivia atrás de uma mesa de um escritório qualquer, fazendo a riqueza de outro patrão qualquer, esperando um aumento qualquer ou uma aposentadoria qualquer. Levantaram da cadeira, rasparam as economias e se lançaram neste mundo fantástico, onde não existe dia igual ao outro, onde você e seus fantasmas são colocados à prova 24 horas por dia, sete dias por semana. Quando adolescente, disse ao meu pai que queria ser jornalista. E ele, empreendedor de sucesso, respondeu: “Mas por que você não se torna dono de um jornal?”.

*Dirige a The Information Company nos Estados Unidos (pedro@theinformationcompany.net)