quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Você chamaria Barak Obama para salvar a sua empresa?


Seattle - Carismático, pai exemplar, orador excepcional, o presidente-eleito Barack Obama nunca amanheceu com contas a pagar e dormiu com contas a receber. Até ficar rico com sua autobiografia, A Audácia da Esperança, vivia pendurado em cartões de crédito, a exemplo de seus mais de 100 milhões de eleitores. Em seu primeiro emprego, como pesquisador numa consultoria financeira, sentia-se um espião atrás das linhas inimigas. Obama sempre foi aquele cara que está mais para empregado insatisfeito do que patrão legal (se é que existe patrão legal). Agora, vai assumir o comando da locomotiva do mundo sem saber como ela roda, o que ela carrega e para onde ela vai. Os Estados Unidos e o mundo esperam que ele se saia bem, mas um rápido "reality check", como se diz aqui, leva a crer que só um milagre pode fazer com que ele recoloque o país nos trilhos.
Na Casa Branca a partir de 20 de Janeiro próximo, o presidente democrata vai descobrir todos os bilhões de dólares despejados pelo governo para salvar o mercado imobiliário foram por terra. Até o fim de 2008, outras 1,4 milhão de hipotecas não vão ser honradas. Ou seja, o que gerou a maior recessão econômica deste 1930, o escândalo das sub-primes, está longe de acabar. Obama será obrigado a intervir no mercado novamente para convencer os bancos a dar uma moratória nos pagamentos. Do começo deste ano até hoje as casas já perderam outros 17% do seu valor. O detalhe é que quanto mais o governo interfere, menos o mercado reage.
Como democrata, Obama adora sindicatos. E sindicatos, como se sabe, adoram proteger o trabalhador. De cada carro que sai das linhas de produção da General Motors (a empresa tem caixa para sobreviver até o final de Dezembro, e não pode mais pedir emprestado), dois mil dólares são separados para pagar benefícios de empregados. A conta simplesmente não fecha. Com este câncer na produtividade, mais de um milhão de empregos serão perdidos este ano. O desemprego vai chegar a 7% até Dezembro, maior índice desde 1993. Obama vai ter de cortar impostos para desempregados, emprestar dinheiro para as empresas contratarem mais e terá que convencer o Congresso a dar um segundo pacote de estímulo para a população. O primeiro, no início deste ano, quase chegou a US$ 300 bilhões e foi distribuído indiscriminadamente entre todos - isto mesmo, todos - cidadãos norte-americanos.
Menos impostos, mais gastos, e assim a vida continua. Mesmo com o petróleo barato, outra vítima da recessão, o presidente eleito terá de investir mais de US$ 150 bilhões em fontes alternativas de energia nos próximos dez anos, de forma que o país se veja livre da dependência do óleo do Oriente Médio. O progresso que está sendo feito em diversas áreas - energia solar, vento, ondas do mar etc - é excepcional, mas nada que sobrepasse o velho, e agora novamente barato, óleo dos cheiques árabes. Analistas já estão prevendo que o preço do petróleo vai voltar em breve aos níveis do início deste ano - mais de 100 dólares o barril.
Com tanto pepino pela frente, os Estados Unidos estão precisando de um líder carismático ou de um gerente eficaz e eficiente, que resolve tudo doa a quem doer? Se os Estados Unidos fossem uma empresa, a sua empresa, você chamaria Barack Obama para tomar conta do pedaço?