sábado, 31 de janeiro de 2009

Conversando a gente se entende....


Seattle - Você prefere ler aquele manual de 300 páginas ou perguntar para seu colega como se faz para instalar o seu programa de email? Já foi chamado de burro porque não suportava ficar boa parte da sua adolescência sentado numa cadeira ouvindo qualquer marciano falar o que você não entendia? Já caiu no sono - e sonhou com uma praia distante - durante um treinamento na sua empresa?
Se você disse sim a qualquer uma destas perguntas você não está sozinho. Especialistas em educação - presencial ou à distância - finalmente estão dando o braço a torcer e reconhecendo a chatice que é o processo de aprendizado, desde que algum insensível na antiga Grécia criou o professor, a sala de aula e um monte de alunos que estão ali como se estivessem no purgatório.
Para Jay Cross, o autor de Learning:Rediscovering the Natural Pathways that Inspire Innovation and Performance, o aprendizado já mudou - só que a maioria das pessoas, especialmente os empresários que precisam adequar suas empresas aos novos e mutantes tempos, ainda não percebeu.
A educação, como se sabe, continua sendo a grande e sustentável vantagem competitiva na idade do conhecimento, onde somos pagos para pensar, ao contrário de 100 anos atrás. Mas o problema é que hoje a velocidade das mudanças é tão grande que o mercado - empresas, alunos etc - não suporta mais pagar os custos da ineficiência do aprendizado tradicional. Por isto o ser humano aprende muito mais trocando mensagens on line, blogando, fazendo podcasts, escrevendo em wikis, jogando no Wii, trocando informações no Orkut ou simplesmente encostando no colega ao lado e perguntando. Em outras palavras, fazendo o que fomos feitos para fazer: comunicar, socializar, entreter e sermos entretidos.
O problema é que as gerações antigas, incluindo eu e você, leitor, não conseguimos imaginar uma escola sem professor, uma empresa sem prédios, um negócio sem chefe. Ainda somos viciados em conceitos que, já morreram ou estão fadados a morrer. Confundimos seriedade com trabalho duro. Não concebemos que as chamadas relações estruturadas - a escola, o govenro, a empresa - não estão seguindo mais a fantástica, confusa e inesperada capacidade do ser humano de criar conceitos, estabelecer conexões, ter os chamados insights, progredir independentemente de qualquer controle, de grande irmãos ou líderes.
"Por isto a chamada conversação é a mais poderosa tecnologia de aprendizado do planeta", disse Jay Cross numa recente entrevista ao web site da Adobe, uma empresa que está apostando tudo na colaboração on line. "O que os empregados fazem quanto tem uma dúvida? Perguntam para os colegas que estão mais próximos deles". É uma prática comum. Daí, segundo ele, a tendência de networking online (ou off line) não só nas empresas, mas em tudo quanto é lugar. A reboque, uma incrível troca instantânea de conhecimento que vai levar o progresso a níveis exponenciais, com boa parte dos seres humanos se comunicando 24 horas por dia, 7 dias por semana.

* Dirige a The Information Company nos Estados Unidos. www.vidaamericana.com.br

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A gente não quer só comida - a gente quer banda larga também


Seattle - Plugado num Blackberry, no Youtube e outras gusoleimas digitais, Barack Hussein Obama, o primeiro presidente on line dos Estados Unidos, pretende investir US$ 30 bilhões para levar a banda-larga a todos - isto mesmo, todos - os 303 milhões de americanos, estejam eles em Nova York ou em Boys Town, Nebraska, considerada a menor cidade do país, com apenas cinco honrosos habitantes. Obama entende que a chamada conexão de alta velocidade, assunto em que o país está em um humilhante 15° lugar no mundo, é tão importante quanto a paz, o pacote de estímulo de US$ 750 bilhões ou, simplesmente, comida na mesa do trabalhador.
Especialistas têm apenas um vaga idéia do que seria um país totalmente plugado, mas não conseguem imaginar a grandiosidade da revolução que tal estrutura vai provocar em termos de educação, entretenimento, informação e principalmente novos empregos, milhões de empregos. O consenso é que, hoje, a banda-larga é tão importante quanto os carros de Henry Ford nos anos 20, as estradas construídas por Dwight Eisenhower nos anos 50 e a própria infraestrutura de Internet que a dupla Clinton-Gore criou nos anos 90, as chamadas information highways. Só se sabe que a banda-larga é o passaporte para o futuro.
Boa parte dos US$ 30 bilhões que Obama pretende investir vai para incentivos fiscais. Empresas que levem a bandalarga a lugares inóspitos ou de pouco acesso vão ganhar até 60% de tax credits, como se diz por aqui. Outras que aumentarem a velocidade da atual banda podem receber até 40%. Os incentivos, segundo a revista Business Week, estarão disponíveis para qualquer empresa. Mas quem vai ganhar, como se prevê, é quem já está no ramo, como a AT&T, Verizon Communications, Comcast, ou até uma empresa de internet sem fio aqui da região de Seattle, a Clearwire. Pelas suas características, o setor é altamente monopolizado, e vai vencer a parada quem já estiver pronto para fazer o serviço. Depois de oito anos de George W. Bush, a pressa do novo governo, seja ela em qualquer setor, chega aos níveis da extrema ansiedade.
O homem chave de Obama nos setor é um tal de Blair Levin, que não dá entrevista para a imprensa nem sob tortura. Ele lidera um grupo que estuda a possibilidade de incentivos fiscais para quem também utiliza a conexão rápida, como escolas, livrarias e - o problemão de todo mundo comenta -, a redução de custos no setor de saúde. Afinal, durante a campanha, Obama bateu de frente neste setor, insistindo que sua informatização seria a chave para aumentar a produtividade e, desta forma, reduzir os custos para milhões de americanos que pagam US$ 150 dólares por uma consulta ou comprimidos para combater o colesterol. Fala-se também que até os Estados vão receber dinheiro para construir redes de banda-larga para regiões que nunca nem ouviram falar disto. Seria uma extensão do atual programa do Departamento de Agricultura, o Rural Development Broadband Program, que já conectou 600 mil casas em 40 estados desde 2002.
Esta empurrão na banda-larga é importante para a administração de Obama porque pretende resolver um monte de problemas. Além de criar empregos na construção destas redes e ampliar o uso da Internet, o esforço traria os Estados Unidos para um dos primeiros lugares do mundo neste setor, que hoje tem a Dinamarca, a Noruega e Holanda nos primeiros lugares. "A banda-larga é a chave para o nosso futuro", resumiu S. Derek Turner, diretor da Free Press, uma organização independente que estuda o assunto no momento.

Dirige a The Information Company nos Estados Unidos - www.vidaamericana.com.br

domingo, 18 de janeiro de 2009

Investir em crise abre a porta pula do avião


Seattle - Aterrorizado pelas perdas que provocou aos seus clientes no Heritage Wealth Management Inc., uma firma de Indiana, nos Estados Unidos, o gerente de investimentos Marcus Schrenker, 38 anos, abriu a porta no seu mono-motor e pulou para a eternidade num pântano no Estado de Alabama, no sul do país. Schrenker, rico, bonito, acrobata e esportista, um homem que ficou milionário sendo o que se chama aqui de "babá de milionário", cometeu sucessivos erros que, pelo que se viu até agora, deram um prejuízo de US$ 2 milhões aos seus clientes. Depois que ficou pobre, até a sua mulher o deixou entrando com um pedido milionário de divórcio. A saída foi a morte.
Tudo parecia ser mais um caso de suicídio nos recessivos tempos que estamos vivendo até que a Força Aérea americana relatou que foi chamada a socorrer um piloto que tinha quebrado do pára-brisa do avião e que, segundo o chamado, "estava sangrando profundamente". Ao chegarem perto do mono-motor Piper PA-46, ainda a dois mil pés de altitude, descobriram que a cabine estava vazia e que a porta lateral estava semiaberta. Seguiram o avião até que ele se espatifou num mangue ao sul do Alabama. Dentro, nenhum sinal de sangue.
Foi aí que descobriram que Marcus Schrenker queria mesmo é desaparecer e reaparecer, daqui a algum tempo, mas com outra identidade. Sem dívidas financeiras, aporrinhações da esposa e outras contrariedades que só quem está vivo sabe, ele queria uma segunda chance. No entanto, Polícia, FBI, Força Aérea e toda a mídia cheiraram a notícia e começaram a seguí-lo. Descobriram uma fita de vídeo de um motel onde ele aparece ainda carregando o pára-quedas e entrando no quarto. Entrevistado pela política, o gerente disse que Schrenker alegava que tinha tido um acidente de canoa no rio. Mais tarde, descobriu-se que ele tinha guardado uma motocicleta (uma Yamaha vermelha) num local próximo e, como no filme Easy Rider, já tinha colocado o pé na estrada.
Na quinta-feira passada, o xerife Frank Chiumento descobriu o moço escondido num acampamento em Quincy, na Flórida. Schrenker estava meio desacordado depois de cortar o pulso esquerdo numa nova tentativa - esta real - de suicídio para se livrar dos problemas. O problema é que, mais uma vez, ele não tinha morrido. Pego em flagrante num país onde o maior pecado é a mentira, o investidor agora vai seguir a Via Crucis dos tribunais. Um juiz já terminou o congelamento de todos os seus bens, de forma que os interesses dos investidores sejam no mínimo garantidos.
Quando viu todo o alvoroço na TV, sua mulher, Michelle, voltou atrás e disse que quer ajudar o pai de seus três filhos a voltar à vida normal. "Ele é apenas uma vítima das circunstâncias", disse através de seu advogado". Para quem está de fora, e pelas informações obtidas até agora pela imprensa, Schrenker não cometeu crime algum depois que recebeu um email um dia antes do vôo com um texto que o ameaçava (não se sabe como). Promotores entrevistados pela TV, no entanto, dizem que sua prisão é apenas uma questão de tempo. Atrás das grades, ele terá mais tempo para pensar no que fez e, como quer sua esposa, se reconciliar com a vida.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Recessão é a melhor hora para descriminalizar as drogas


Maconha, haxixe, cocaína, crack, anfetaminas - o presidente-eleito Barack Obama, ele mesmo um ex-usuário (hoje é só cigarro de vez em quando) terá que lidar com a possibilidade de descriminalização das drogas, a exemplo dos que os Estados Unidos fizeram há exatos 75 anos, quando uma emenda constitucional acabou com a Prohibition, que para nós ficou conhecida como Lei Seca. Em 1933, milhões de americanos voltaram a tomar seus dry martinis e, assim, deixaram de ser criminosos, esvaziaram as prisões e, o melhor, acabaram com a vida fácil de Al Capones e outros gângsters que infestavam Chicago oferecendo bebidas que muitas vezes simplesmente matavam quem as bebia.
Contraditoriamente, e diferentemente de muitos países, os Estados Unidos adotam desde então uma política semelhante à Prohibition em relação a outras drogas. O resultado é uma Chicago dos anos 30 em escala mundial. Aqui, mais de meio milhão de pessoas encarceradas por uso de entorpecentes (1,8 milhão de prisões por ano), bilhões investidos nas guerras contra o tráfego, desde a Colômbia até o Afeganistão, milhares de mortes por overdose, suporte a terroristas como a FARC, e por aí vai. Ao todo, 20 milhões de americanos tomam drogas, contra 127 milhões de pessoas que, talvez como você, leitor, são chegados num drinque no final do dia.
Como lembrou Ethan A. Nadelmann, diretor do Drug Policy Alliance, não faz sentido liberar o álcool e proibir a maconha, que faz menos mal, tem pouca associação com comportamentos violentos e não oferece risco de overdose (a não ser o sono). O problema maior, como muita gente sabe, são as drogas estimulantes - cocaína e metafetaminas -, mas que quando comparadas ao álcool representam menor número de mortes e outros prejuízos para a sociedade.
"A diferença real", disse ele num artigo do The Wall Street Journal, "é que o álcool é um diabo que a gente conhece, enquanto estes outros diabos a gente desconhece". Por isto mesmo, continua, nada melhor que uma recessão (ou será depressão?), como a que vemos agora, para sairmos da chamada zona de conforto e enfrentarmos nossos preconceitos de uma forma clara, eficiente e principalmente inteligentemente.
Trazendo o mundo das drogas à luz do dia, sendo vendidas e controladas pelo Estado (ou por organizações criadas para este fim), e a exemplo do que já acontece vários países, como no nosso vizinho Canadá e em países europeus, o custo para a sociedade seria menor. Milhões de dólares deixariam de ser gastos numa guerra subterrânea que a gente desconhece e, por isto mesmo, não sabe como lidar.
Em seu programa de governo, Barack Obama já sinalizou que vai acabar com as grandes sentenças para drogados, voltará a financiar programas educativos para evitar a AIDS (que tem uma relação íntima com as drogas), deixará que a maconha seja testada para fins medicinais e vai dar suporte a programas alternativos para pequenos usuários pegos pela polícia.
Como se sabe, a fonte de toda dor - qualquer dor - é a falta de informação. Muitos pais sofrem por não saber como os filhos compram drogas em favelas, injetam substâncias no corpo sem agulhas descartáveis ou desconhecem seus limites como usuários. Trazendo o problema à tona, os riscos cairiam tremendamente e a criminalidade deixaria de existir em grande parte. Mas este problema, se não for enfrentado, sempre existirá. Pois se droga realmente fosse uma "droga", uma substância utilizada desde Adão para esquecermos a realidade e vivermos sonhos impossíveis, ninguém a utilizaria.

O Rambo Pitbull de Barack Obama


Já ia escrevendo um artigo explicando porque Barack Obama pode ser um desastre como presidente - inexperiente, joguete nas mãos das elites, síndico de outro desastre, George W. Bush - quando surge uma esperança: a primeira escolha do eleito, o deputado Rahm Emanuel (para chefe de gabinete) , o político pitbull, mais conhecido como "Rahmbo", "algo intermediário entre as hemorróidas e uma terrível dor de dente" - como dizem seus detratores -, o homem que esteve por trás da fantástica vitória dos democratas em 2006 e que culminou com a eleição do primeiro presidente negro americano.

Se Obama representa o equilíbrio, a turma do deixa disso, nem negro, nem branco, nem asiático, nem africano, Rahm é o oposto: é o cowboy chamado para impor ordem no faroeste sem lei. Direto, brusco, é judeu praticante, já foi triatleta, tem 1m78cm de altura, nove dedos nas mãos (fruto de uma infecção que quase o matou), pele tostada (como a dos beduínos) e uma energia sem limites, que combina eficiência e eficácia. É um temido gerentão, CEO, executor ou, simplesmente, um trator.

Um dos principais fundraisers dos democratas e deputado pelo distrito de Chicago (mesmo de Barack), Rahm liga às quatro da tarde pedindo dinheiro, novamente às 4h15min para ver se o dinheiro já foi transferido e às 4h30min para agradecer - e pedir mais. Não é à toa que Obama teve o dinheiro que quis durante a campanha.

Amado e odiado, pela esquerda e pela direta, é um dos homens mais ricos do Congresso. Levantou (para si) US$ 18 milhões em bônus em dois anos e meio, quando trabalhou para o banco Dresdner Kleinwort Wasserstein, em Chicago.

Com seu estilo determinado, incansável e nervoso, impôs a eficiência e a disciplina empresarial à então confusa e difusa minoria democrata. Na Casa Branca, provavelmente trará a mesma disciplina a um governo que deve US$ 10,3 trilhões e tem um déficit anual perto dos US$ 500 bilhões.

Rahm tem a fé que remove montanhas não apenas por mérito. Parece que nasceu assim, como seus pais e irmãos. Filho de um médico israelita que imigrou para os Estados Unidos, já serviu no Exército israelense como mecânico na fronteira com o Líbano.

O irmão mais novo, Ari Emanuel, um dos mais proeminentes agentes artísticos de Hollywood, divide com ele o estilo "bateu-levou-deixa-que-eu-chuto". O mais velho, Ezekiel, é um famoso oncologista nos Estados Unidos e tido como um dos maiores apologistas na defesa da ética na Medicina.

Rahm formou-se em dança e tem diploma de Comunicação. Ganhou notoriedade quando, há dois anos, percorreu o país para lançar o livro "O Plano - Grande Idéias para a América".

Seu ídolo é Bill Clinton, com quem atuou seis anos na Casa Branca e chegou a substituir o ex-porta-voz George Stephanopoulos como conselheiro sênior na área de política e estratégia.

Para Rahm, política se faz com dinheiro - se tiver boas idéias e nobres ideais, melhor ainda. Se não tiver, azar de quem estiver pela frente. Sendo um pitbull de Barack Obama, a Casa Branca, enfim, vai funcionar.

Você chamaria Obama para salvar a empresa?


Carismático, pai exemplar, orador excepcional, o presidente-eleito Barack Obama nunca amanheceu com contas a pagar ou dormiu com contas a receber. Até ficar rico com sua autobiografia, vivia pendurado em cartões de crédito, a exemplo de seus mais de 100 milhões de eleitores. Em seu primeiro emprego, como pesquisador numa consultoria financeira, sentia-se um espião atrás das linhas inimigas. Obama sempre foi aquele cara que está mais para empregado insatisfeito do que patrão legal. É uma espécie de antítese empresarial. Agora, vai assumir o comando da locomotiva do mundo sem saber como ela roda, o que ela carrega e para onde ela vai. Os EUA e o mundo esperam que ele se saia bem, mas um rápido "reality check", como se diz aqui, leva a crer que só um milagre pode fazer com que ele recoloque o país nos trilhos.

Na Casa Branca a partir de 20 de janeiro, o presidente democrata vai descobrir que todos os bilhões de dólares despejados pelo governo para salvar o mercado imobiliário foram por terra. Até o fim de 2008, outras 1,4 milhão de hipotecas não vão ser pagas. O que gerou a maior recessão econômica desde 1930, o escândalo das sub-primes, está longe de acabar. Obama será obrigado a intervir no mercado novamente para convencer os bancos a dar uma moratória nos pagamentos.

Como democrata, Obama adora sindicatos. E sindicatos, como se sabe, adoram proteger o trabalhador. De cada carro que sai das linhas de produção da General Motors (a empresa tem caixa para sobreviver até o final de dezembro, e não pode mais pedir emprestado), US$ 2 mil são separados para pagar benefícios de empregados. A conta simplesmente não fecha. Com este câncer na produtividade, mais de um milhão de empregos serão perdidos este ano. O desemprego vai chegar a 7% até dezembro, maior índice desde 1993.

Obama vai ter de cortar impostos para desempregados, emprestar dinheiro para as empresas contratarem mais e terá que convencer o Congresso a dar um segundo pacote de estímulo para a população. O primeiro, no início deste ano, quase chegou a US$ 300 bilhões e foi distribuído indiscriminadamente entre todos - todos - cidadãos norte-americanos.

Menos impostos, mais gastos, e assim a vida continua. Mesmo com o petróleo barato, outra vítima da recessão, o presidente eleito terá de investir mais de US$ 150 bilhões em fontes alternativas de energia nos próximos dez anos, de forma que o país se veja livre da dependência do óleo do Oriente Médio. O progresso que está sendo feito em diversas áreas - energia solar, vento, etanol - é excepcional, mas nada que sobrepasse o velho, e agora novamente barato, óleo dos cheiques árabes. Analistas já estão prevendo que o preço do petróleo vai voltar em breve aos níveis do início deste ano - mais de US$ 100 o barril.

Com tanto pepino pela frente, os Estados Unidos precisam de um líder carismático ou de um gerente eficaz e eficiente, que resolve tudo doa a quem doer? Se os Estados Unidos fossem uma empresa, a sua empresa, você chamaria Barack Obama para tomar conta do pedaço?

kicker: O detalhe é que quanto mais o governo interfere, menos o mercado reage; de janeiro para cá, casas perderam 17% do valor

Sarah não sai do inconsciente coletivo


Derrotada nas eleições presidenciais, humilhada por sua ignorância (principalmente geográfica) e ridicularizada pelas posições políticas e religiosas, a governadora do Alasca Sarah Palin não sai do inconsciente coletivo norte-americano desde que juntou-se ao idoso John Mcain na derrotada chapa republicana. "Você pode odiá-la, mas não consegue tirar os olhos dela", resumiu um veterano jornalista da TV.

Desde a derrota, Palin vem sendo mais notícia de que o presidente-eleito Barack Obama. Deu entrevista para o Today, o Bom Dia Brasil daqui, para a sisuda Greta Von Susteren, da Fox News, e para o outro sisudo Wolf Blitzer, da CNN. Em todas, mostrou suas pernas, seu coque dos anos 60, o conjuntinho preto com o broche da bandeira americana e outros dotes, especialmente na cozinha, fazendo caçarola de salmão em sua casa no estado que de abundante só tem gelo.

O que os americanos não dizem, e nem poderiam dizer dado o grau de puritanismo (uma palavra branda para sexo mal resolvido) da sua população, principalmente a masculina, é que o país está tarado pela ex-miss Alasca que acidentalmente entrou na política, uma evangélica que acha que a África é um país ou que a Rússia é vizinha dos Estados Unidos (olhando de cima o globo terrestre, é ou não é?).
Mesmo formada em Comunicações, e sendo uma ex-jornalista de TV, Palin é uma mulher chucra, interiorana, inocente (mesmo do alto dos seus 44 anos), uma mãe de cinco filhos que agora vive seus momentos de glória enfrentando jornalistas marmanjões com olhares lânguidos na TV. Não acredita na evolução da espécie (e nem na fotossíntese, como brincou o comediante Bill Maher, da HBO), é contra o aborto (seu último filho é deficiente mental), é a favor da educação dos jovens para a utilização de armas, apóia a pena de morte e, contra tudo e contra todos, é a favor da exploração de petróleo nas reservas naturais do seu Estado natal.
Algumas feministas ainda tentam defender Sarah Palin, por ser a primeira governadora mulher do Alasca e a segunda candidata presidencial em mais de dois séculos de história norte-americana (a primeira foi a democrata Geraldine Ferraro., que também perdeu a eleição). Mas sua falta de conhecimento, e daí o despreparo para o cargo, é tão grande que, aos poucos, torna-se impossível defendê-la. Apenas assisti-la e torcer para mais uma gafe.
Agora ela aparece monótona e diariamente na TV, mostrando seu corpo bem torneado e suas idéias truncadas para um país sedento por um símbolo sexual na política, algum colírio no intervalo de um noticiário coberto por previsíveis homens de terno e gravata. O país reprimido sexualmente estremece-se agora da mesma forma que cansou de comentar o affair entre o ex-presidente John Kennedy e a atriz Marilyn Monroe. Ou mesmo entre Bill Clinton e a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. Ou até do coitado do ex-presidente Jimmy Carter, que confessou ter traído a mulher - mas só em pensamento. Isto mesmo, em pensamento.
Fora pelos seus atributos físicos ninguém entende seu estrondoso sucesso na política. Sexo, como se diz, anda de mãos dadas com o poder. Talvez, com o passar dos anos, esta senhora que saiu do nada reúna as mínimas condições para suceder Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos. Determinação e coragem ela já demonstrou ter.

Microsoft corre para a terceira idade


Há quatro anos a Microsoft, cujo quartel general e aqui, enrosca-se numa luta para destruir o Google e outras empresas que, com menos recursos mas com mais inteligência e juventude, dominam a Internet. Com 21 bilhões de dólares em caixa, provenientes da renda do paquidérmico Windows e do Office, a empresa criou o Online Services Business, que reúne o portal MSN, a agência de publicidade on line aQuantive, e o Live Search para enfrentar a concorrência. Resultado? Acaba de perder meio bilhão de dólares no último quadrimestre, 80% a mais comparado ao mesmo período no ano passado.
Sempre que visito o campus da empresa, uma espécie de Disneylândia da tecnologia, faço a óbvia pergunta: o que vai acontecer com vocês se continuarem a insistir em vender softwares embutidos em PCs e Laptops, e não mergulharem de vez na web? Todos se ajeitam na cadeira, pigarreiam e desconversam, como se eu estivesse vendendo apólice de seguro de vida.
A verdade é que a empresa que aprendemos a admirar, mas que hoje está para a Internet assim como a General Motors está para a indústria automobilística, degladia-se internamente para buscar o seu lugar no futuro. Tem dinheiro, cabeças pensantes, gente estimulada mas, como uma Venezuela que se deitou na piscina do petróleo, tenta mas não consegue dar um passo na Internet quando tem recursos entrando em caixa todos os dias - e por um bom tempo ainda.
A empresa nasceu com a idéia de "um computado em cada casa, rodando um software Microsoft", mas não contava com uma idéia mais genial, de que software é commodity que pode ser encontrado e utilizado na rede. Quando, como e onde você estiver. E de graça. Pior ainda, não contava (e ninguém contava) com outra novidade, a pesquisa (não basta aparecer, você tem de ser é achado) , que hoje é pedra fundamental não só da internet, mas de boa parte do marketing.
Sem saber para onde ir, especialmente desde que Bill Gates optou pela filantropia e deixou o Steve Ballmer gritando sozinho no salão, a Microsoft hoje é uma cidade dentro de Redmond, perto de Seattle, com interesses tão distintos que tentam abraçar o mundo de uma vez só, desde a saúde até a geologística, num premeditado projeto de onipresença. Está certo que ela ganha dinheiro em vários setores (US$ 9 bilhões de faturamento no ano passado), especialmente empresariais, compra dezenas de outras empresas, é uma fantástica usina de gênios, mas está certo também que a firma rasga dinheiro como nunca e, como qualquer um de nós, está envelhecendo.
Qualquer usuário hoje sabe que a simplicidade é o Deus nos negócios na Internet. O Google ("apenas uma firma de publicidade", segundo os funcionários da Microsoft) é assim. Seu logo, sua webpage, as novas facilidades que apresenta a cada dia (e que passam imediatamente a fazer parte das nossas vidas) são tão óbvios que fazem a gente pensar: por que eu não inventei isto antes? Tudo que sobe desce, diz o ditado. A Microsoft, a empresa que fez, faz e ainda fará por algum tempo parte das nossas vidas, tende a complicar-se ainda mais e perder o fio da história. Hoje é um gigante de cabelos brancos que, naturalmente, vai dar lugar em breve às próximas gerações.

Nada a temer, senão o próprio medo


Quando o democrata Franklin Delano Roosevelt, o FDR, o maior presidente americano, assumiu a Casa Branca em 1933, devolveu aos americanos a vontade de reagir e dar a volta por cima depois que o furacão de 1929 roubou 13 milhões de empregos, reduziu a produção industrial à metade, derrubou os preços das residências em 80% e ainda provocou a falência de cinco mil bancos.
Vendo o documentário FDR, que a TV pública americana (PBS ) acaba de distribuir gratuitamente pelo Itunes, dá para antever o que ocorrerá conosco nos próximos anos. Na crise de 29, no entanto, o maior problema não era a falta de emprego, a destruição de valor, a inflação ou a fome, mas sim a apatia. O povo estava cansado, desiludido, debilitado, sem forcas para reagir. No primeiro dia, na famosa Conversa ao Pé do Rádio, e com apenas um discurso, FDR trouxe a esperança de volta aos norte-americanos. "Não temos nada a temer, senão o próprio medo", disse.
O problema é que esperança não enchia e nem enche barriga. A depressão econômica durou ainda boa parte dos 12 anos dos quatro mandatos de Roosevelt, e só iria acabar depois que o governo despejasse meio trilhão de dólares em dezenas de programas sociais, regulasse a economia de tudo quanto é jeito, empregasse diretamente oito milhões de pessoas e, finalmente, entrasse na Segunda Guerra Mundial, mesmo contra a vontade da população e dos políticos.
Roosevelt teve que dobrar o Congresso para acabar com as seguidas moções que defendiam a neutralidade norte-americana. Sabia que nada melhor que guerras, conflitos ou batalhas para fomentar a economia, e bastou que a Marinha americana fosse destruída em Pearl Harbor para que convencesse a indústria do pais a produzir aviões, metralhadoras e granadas.
O esforço de guerra, que arrancou cerca de US$ 360 bilhões dos contribuintes, foi a coisa mais notável que se viu até então. As forças armadas americanas, dizem os historiadores, eram menores do que as da Suécia. Em apenas um ano, 1943, os Estados Unidos produziram cerca de 120 mil aviões de combate. A união em torno de um objetivo comum, acabar com Hitler, uniu de vez o país e construiu as bases do que viria a ser a maior potência militar (e econômica) do mundo.
Vitima da poliomielite e entrevado em cadeiras de rodas, condição que escondeu do povo durante todos os anos da Casa Branca, FDR é criticado até hoje por ter intervido na economia com mão de ferro. Keynesiano de carteirinha, sabia o custo da não intervenção. Mesmo nascido em berço de ouro, e extremamente à vontade na vida besta da alta sociedade de Nova York, era um esquerdista para os padrões norte-americanos. Governo-patrão, força para os sindicatos, salário mínimo e outras garantias para o povo trabalhador. Só não avançou mais ainda porque resistiu como pôde às exigências da mulher Eleonor Roosevelt, uma espécie de Lula que acreditava que o Estado, e não o mercado, resolve as diferenças sociais.
O legado de FDR, como as Nações Unidas e o Seguro Social norte-americano, persiste até hoje. Mesmo aleijado, mas dono de um irrefreável otimismo, simpatia e vigor politico, tirou os Estados Unidos da recessão, ganhou a Segunda Guerra e elevou o país à condição de superpotência. Ano passado, seu biógrafo Jean Eduard Smith escreveu: "FDR levantou-se da cadeira de rodas para erguer uma nação de joelhos".

A última flor da dinastia Kennedy


Para quem não a conhece, ela é aquela menininha que bate continência ante a passagem do túmulo do pai, o democrata John Kennedy, nos fazendo chorar nos repetitivos filmes que, há quarenta anos, passam na TV americana sobre o assassinato de um dos mais importantes presidentes norte-americanos, em 1963. Caroline Bouvier Kennedy, advogada (mas também ex-jornalista, ex-museóloga e autora de livros patrióticos), hoje uma respeitável e milionária mãe de família, quer ser agora Senadora pelo Estado de Nova York, vaga ocupada por Hillary Clinton, hoje futura secretária de Estado de Barack Obama.
Caroline, que levou seu trôpego tio Bob (está com câncer) a subir o pódio para apoiar Obama ("he's a lifetime candidate"), encantou-se pela política e agora parece ser imbatível para o cargo. Não só na preferência do atual governador de Nova York, David Paterson, o deficiente visual que substituiu Eliot Spitzer, pego em flagrante com uma prostituta e obrigado a renunciar - como também do Partido Democrata, da mídia e, principalmente, dos doadores da campanha.
Caroline passou por muitas tragédias. Viu, pela ordem, seu irmão Patrick não resistir a dois meses de vida, seu pai ser assassinado em Dallas, Texas, sua mãe sucumbir ao câncer, e o mais novo, John-John, morrer depois que seu Teco-Teco desabou no Atlântico. Aos 51 anos, mãe de três filhos, casada com um designer de museu, tímida, baixinha, voz raquítica, a moça é a ultima remanescente do que se convencionou chamar de "família real" norte-americana.
Sua grande tacada foi escrever um editorial no The New York Times , com o título "Um presidente como o meu pai", em Janeiro deste ano, ato que foi a gota dágua para os eleitores esquecerem Hillary Clinton e optarem pelo negro que viria ser o presidente do Estados Unidos. No jornal, ele pontificou: "Eu nunca tive um presidente que me inspirasse do mesmo jeito que as pessoas dizem que meu pai as inspirou - pela primeira vez, (...) encontrei um homem que poderia ser este tipo de presidente, não só para mim, mas para as novas gerações de norte-americanos". Seu endosso caiu como uma bomba nos comitês dos outros candidatos, pois o poder de fogo de um Kennedy é irresistível nas hostes do Partido Democrata.
Herdeira da fortuna dos Kennedy, que incluiu uma penthouse na East Side de Nova York e uma vila no balneário de Martha's Vineyard, Caroline, mineiramente, contribuiu com a campanha de Obama, mas também com a de Clinton durante as prévias do Partido Democrata. Sua candidatura ao Senado (nos Estados Unidos, quando o cargo fica vago, como agora, o substituto é apontado pelo governador do Estado), é apoiada pelo atual prefeito da cidade, Michael Bloomberg, como também pelo The New York Times.
Milhares de livros, documentários, séries e filmes já foram feitos para desvendar o mistério da morte do seu pai, e principalmente a atração que esta família irlandesa de católicos exerce sobre o eleitorado norte-americano. Se eleita, Caroline vai servir ainda dois anos do mandato de Hillary Clinton, e provavelmente fará campanha para ficar mais seis anos no cargo. Ao todo, e se ela for eleita, os Kennedy terão um representante no Senado durante contínuos 68 anos. E, quem sabe, uma futura presidente Kennedy na Casa Branca.

Montanha russa ou casa dos horrores?


2008 não ficará na história como o ano em que os investidores americanos perderam mais de 7 trilhões de dólares em ações, foram obrigados a devolver suas casas para os bancos ou assistiram à sua aposentadoria evaporar. Fora estes fatos, que irão direto para o Guiness, o livro dos recordes, 2008 irá se tornar o ano em que, pela primeira vez nas nossas vidas, foi bobagem fazer qualquer planejamento para 2009, simplesmente porque ainda não sabemos o que acontecerá com nós neste ano que se inicia.
Por que? Primeiro porque as coisas, contrariando a teoria do fundo do poço, não param de piorar. O barril de petróleo, que chegou a US$ 150 no último verão aqui, agora está abaixo de US$ 40 - trata-se de notícia ruim, já que significa falta de demanda. O valor de mercado da General Motors, já socorrida pelo governo norte-americano, está abaixo do que era em 1927. Instituições financeiras tradicionais, como Bear Stearns e Lehman Brothers, já não existem, e como lembrou o MarketWatch, do The Wall Street Journal, é normal agora a bolsa subir e descer 900 pontos num mesmo dia.
Em segundo lugar, nunca ninguém viu uma recessão como esta, onde a atividade econômica em todo o mundo parece desmoronar como num castelo de cartas. O S&P Broad-Market Index, que reúne mais de 11 mil ações de país em desenvolvimento e países emergentes, caiu US$ 17,7 trilhões do início do ano até agora. Em Novembro, o Banco Mundial disse que a economia da China vai diminuir seu crescimento para 7,5% ano que vem, o pior nível desde 1990. As ações na Rússia caíram 72%, Turquia 68% e Índia 67%. No Japão, o índice Nikkei registrou os menores índices em 26 anos, e o país já se declarou em recessão. A Islândia, país que ninguém sabia que existia até pouco tempo, perdeu 81% do valor de suas ações com investimentos em fundos de altíssimo risco. Até sobrou para o Brasil, que perdeu 25% do Bovespa, a maior perda em apenas um mês durante os últimos dez anos.
Além de muita gente boquiaberta, o que vimos até agora foram diferentes governos em todo o mundo despejando dinheiro no mercado e regulando-o a fim que não se cometam mais excessos, como se o capitalismo, por si só, fosse um excesso, e governos, pela sua própria natureza, fossem exemplos de lisura e competência. Só o governo norte-americano endividou-se ainda mais e imprimiu dinheiro (isto mesmo, rodou a maquininha) para injetar estes trilhões no mercado, inclusive em participações acionárias, e ainda reduziu a taxa de juros a zero. Está apenas devolvendo para o mercado o que o mercado lhe deu na forma de impostos durante todos estes anos.
Como disse Hugh Johnson, chairman of Hohnson Illington Advisors, que está de olho no mercado há 40 anos, o problema agora é que não existem palavras para descrever o que está acontecendo, se é recessão ou depressão, se trata-se de uma arranjo natural do capitalismo ou se é o que se convencionou chamar de fim de mundo. "Gostaria de usar a comparação com uma montanha russa", diz Paul Nolte, da Hinsdale Associates, "mas está sendo mais uma viagem de ida à casa dos horrores".