domingo, 17 de maio de 2009

O Poderoso Chefão


Salt Lake City - Como os mais bem guardados segredos da Máfia, pouca gente sabe que o diretor do melhor filme de todos os tempos, O Poderoso Chefão (ganhador do Oscar de 1974), Francis Ford Coppola, 70 anos, é também um poderoso chefão na vida real, estendendo seus tentáculos na produção de vinhos, resorts em lugares paradisíacos, restaurantes temáticos, macarrões, molhos, cafés, revistas literárias e, porque não, filmes, documentários, séries e qualquer coisa que caiba numa tela.
Coppola não é Don Corleone, que simplesmente matava concorrentes que ameaçavam seu negócio, mas do velho mafioso, interpretado magistralmente por Marlon Brando, herdou o nepotismo. Sua família ("a única coisa importante que existe") está envolvida em tudo: Eleonor, sua esposa desde os anos 60, cuida dos vinhedos. O filho Roman, que também é diretor e ator, o assessora em filmagens. Sofia, que ganhou um Oscar com "Lost in Translation", lançou um vinho espumante. E por aí vai.
Em todos os negócios do chefão Coppola está o charme de sua marca registrada, a Itália. "Defino minha vida pelas impressões de criança nascida numa família ítalo-americana cujo pai era um tocador de flauta na orquestra da NBC", a tv americana, diz ele. "Desde pequeno sou rodeado por tios, tias, primos e primas ao redor de uma grande mesa comendo pasta e bebendo vinho", completa.
O homem já faliu muitas vezes (afinal, qual o cineasta que jamais faliu?), mas aos 70 anos (que ele considera 50 mais 20) parece estar no auge na sua carreira empresarial. Em uma entrevista recente à revista Sky, ele revelou que não separa vinho (ou macarrão) dos filmes que faz. " Tudo faz parte do mesmo processo, tudo vem ao mesmo tempo e do mesmo jeito", diz. De onde ele tira tamanha energia?: "Se a sua mente não se tornar pequena, você permanece novo para sempre, pois você é tão jovem quanto sente que você é".
Coppola acaba de filmar Tetro, filme sobre uma família italiana que vive em Buenos Aires, fruto de um roteiro que escreveu quando tinha 17 anos. Já que elegeu a capital argentina como seu lar, também comprou um restaurante italiano por lá. Atualmente mora em San Francisco, na Califórnia, onde tem um restaurante em sociedade com Robert de Niro e Robin Willians, mas seu lugar favorito é sua vila em Napa Valley, Jardim Escondido, também na Califórnia, onde produz vinhos especiais. O criador do Poderoso Chefão, que também foi o responsável por filmes como Apocalypse Now, Conversação, American Grafitti e até um segmento do Histórias de Nova York, parece carregar o DNA do sucesso. Talia Shire, sua irmã, conhecida em Rocky, o Lutador, ficou também famosa por participar de vários filmes dele. Nicolas Cage, que na verdade é Nicolas Coppola, ganhou um Oscar, enquanto a filha Sofia parece seguir os passos do pai como diretora de filmes excepcionais.
Na base de todo o império Coppola, no entanto, está o estúdio que ele fundou em 1969 com George Lucas, o Zoetrope, que além de abrigar os filmes da dupla ainda foi a casa de Jean-Luc Godard, Akira Kurosawa e Wim Wenders. Pouca gente sabe também que este estúdio tornou-se um das mais importantes do mundo, tendo quatro dos 100 melhores filmes produzidos até hoje no país.

domingo, 3 de maio de 2009

Lugar de professor ruim é na rua


Seattle - Tias e mestras, boas ou más, preparadas ou não, professoras e professores sempre foram colocadas num pedestal, como se fossem ícones acima do bem ou do mal. O novo secretário da Educação nomeado por Barack Obama, Arne Duncan, um ex-jogador de basquete de Harvard, 44 anos e dois filhos, descobriu que uma professora ruim (ou professor ruim) tem a capacidade de destruir o futuro de centenas, muitas vezes milhares de alunos. O contrário, como todos sabem, é mais do que verdadeiro.

Como CEO do Chicago Board School desde 2001, o terceiro maior distrito escolar dos Estados Unidos, um país que atrás de lugares como o Kasaquistão no ranking educacional, não só demitiu professores que não correspondiam aos critérios de eficiência. Mandou embora até encarregados da limpeza e da merenda, e nos casos mais graves simplesmente fechou a escola e a abriu tempos depois, passando a borracha no passado e iniciando uma nova vida para os estudantes, especialmente pobres, negros, latinos e gays. Chamou sua ação de Projeto Renascença.

Expelindo gente ruim e ponto para dentro gente boa, treinada e motivada, Arne aumentou o número de estudantes que se apresentavam para estudar em Chicago de 76% para 89%. Em sete anos, cerca de 67% dos estudantes atingiriam os padrões nacionais, contra 38% anteriores à sua administração. O melhor é que os professores, temendo ser demitidos, começaram a se apresentar para obter melhores e mais rigorosas certificações. 1.200 professores, contra 11 no início.

Agora, em nível nacional, Arne tem a astronômica soma de US$ 100 bilhões para levar os parâmetros da iniciativa privada para os outros 50 estados da federação. Em um documentário na PBS, a tv pública norte-americana, Arne lembrou a importância do diálogo, da conversa com os sindicatos, da discussão aberta e de todo o blá-blá-blá de sempre, mas ele, um dos mais queridos secretários de Obama, é mesmo da teoria do escreveu-não-leu-o-pau-comeu.

Para ele, mais do que boas escolas, excelentes materiais instrutivos, lap tops, edifícios modernos ou programas comunitários, o que realmente faz a diferença na eduçação é o professor. Ele (ou ela) é o epicentro do sistema educacional, a pedra fundamental que, se polida, pode mudar a realidade de milhões de futuros adultos.

Uma das ações mais controversas do ex-jogador de basquete foi fazer com que os estudantes que desistissem de ir à escola assinassem um documento reconhecendo que eles "teriam menos chances de arranjar bons empregos, ou simplesmente empregos", e que estariam muito mais propensos "a viver da previdência social para o resto da vida". Em outras palavras, assinando a certidão de "perdedores", que nos Estados Unidos é pior do que xingar a mãe. Os que ficaram começaram a ganhar, desde o ano passado, até US$ 4 mil por ano caso consigam a nota "A", com dinheiro fornecido pela iniciativa privada.

A política linha dura com o sistema educacional de Barack Obama já está fazendo o poderoso National Education Association (NEA), o sindicato de professores que tem 3,2 milhões de afiliados e doou US$ 50 milhões para a sua campanha presidencial, começar a chiar. Mas quem leu A Audácia da Esperança, o livro que fez o presidente ficar rico (US$ 2 milhões só no ano passado), já podia pressentir que viria chumbo grosso por aí.

"Não há razão para um professor qualificado e experiente não ganhar US$ 100 mil por ano (cerca R$ 19 mil por mês) , escreveu ele. "Em troca desde dinheiro, professores deveria se tornar mais responsáveis por sua performance - ao mesmo tempo em que os distritos escolares deveriam ter mais habilidade para ficarem livres do chamados professores ineficientes".