sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A INFORMAÇÃO LIBERTA (NA PRISAO)


Paul Wright, um pacato soldado que matou um traficante para extorquir dinheiro em 1987, utiliza a informação como arma. Condenado a 25 anos de cadeia em Federal Way, aqui perto de Seattle, mofava no xadrez até ter a idéia de lançar um jornal, o Prison Legal News, com notícias que seu público cativo (em todos os sentidos) mais gosta de ler: como sair detrás das grades ou como se defender dos guardas prisionais.
O Prison News, fundado há 22 anos com 300 dólares que acumulou trabalhando atrás das grades, hoje é uma revista mensal de 56 páginas com assinantes em todos os 50 Estados norte-americanos e em diversos outros países. A revista é o epicentro de uma fundação, a Human Rights Defense Center, que ajuda os prisioneiros a voltar à sociedade através da informação - e de muitos advogados.
Mais ainda, é um libelo contra o maior e mais sofisticado sistema prisional do mundo, com 7,2 milhões (3.1% da população) de prisioneiros, incluindo regimes semi-aberto ou de liberdade condicional, quase US$ 100 bilhões em custos e muita reclamação contra maus tratos, estupros e violências de toda ordem.
Mas a birra de Wright é contra o envolvimento da chamada dos empresários no sistema, tanto no gerencimento das cadeias (US$ 36 mil por ano, para cada prisioneiro, em média), como na utilização de mão de obra prisional por muitas empresas americanas, muitas vezes às escondidas.
Microsoft e Starbucks, também de Seattle, empacotam produtos atrás das grades. Outra de Seattle, a Boeing, faz peças de aviões. Planet Holywwod, Eddie Bauer e Union Bay fabricam roupas baratas. Até a Nintendo utiliza os criminosos sexuais na prisão de Twin Rivers para empacotar vídeo games - para crianças.
Mas o pior mesmo foi quando Wright descobriu que um conservador republicano chamado Jack Metcalf estava utilizando prisioneiros para fazer campanha para o Congresso, e tendo como lema - acreditem - a pena de morte. Ou seja, muitos criminosos estavam fazendo campanha contra eles mesmos.
A vida do Prision News não é nada fácil. Durante mais de duas décadas de existência, foi censurado em várias prisões de Estados como Florieda e Nova York por, como era de se esperar, ensinar os prisioneiros a conhecer seus direitos, sair das jaulas e voltarem à sociedade.
A prisão, como se sabe, transborda de "inocentes", mas muitos deles já cumpriram as penas e ainda estão lá,  outros foram trancafiados por obra do destino (erros que o exames de DNA estão corrigindo), e muitos deles estão lá por falta de orientação e, principalmente, um bom advogado.
Ao voltar da Alemanha aos 21 anos, onde era um soldado da Polícia do Exército, tudo que Paul Wright queria fazer era seguir alguma carreira legal, especialmente fazer os outros cumprir as leis. O problema é que ele estava sem dinheiro e roubar um traficante, coisa não muito incomum no sistema policial, foi para ele a melhor oportunidade de fazer grana, e rápido. Previsivelmente, o traficante reagiu e ele o matou, sendo condenado a 25 anos na prisão de Federal Way, mesmo alegando legítima defesa.
Já dentro do presídio de segurança máxima, o que desencadeou sua carreira de jornalista e empresário foi, aparentemente, fútil. Um dia, durante o café da manhã,  o guarda entrou na sua cela e derramou no chão seu prato de cereal. Ele estava fazendo 42 centavos por hora e uma caixa de cereais custava US$ 3. "Então eu comecei a pesquisar por soluções jurídicas para me livrar daquele abuso, e assim comecei a me interessar pela legislação e pela defesa dos direitos dos prisioneiros".
Numa era em que se anuncia o fim dos jornais, tal qual os conhecemos, bem como a indústria das relações públicas, no Brasil conhecida como assessoria de imprensa, Wright utilizou ambas as técnicas para criar um veículo de comunicação de nicho, os milhões de prisioneiros nos Estados Unidos, como uma audiência literalmente cativa, e ainda disparar press releases para toda a mídia quando seus colegas sofriam qualquer abuso, ou mesmo quando a circulação do Prision News era ameaçada. Foi assim que conseguiu matérias no Seattle Times e em boa parte dos jornalões americanos.
Para Wright, que teve sua história contada no Columbia Journalism Review, o problema da mídia é que os órgãos de comunicação estão mais interessados no crime para aumentar sua circulação e audiência, mantendo boas relações com as fontes da Polícia e os Procuradores, deixando de lado a crítica ao sistema. "Eles fazem poucas análises, muito menos pesquisas ou inquisições éticas", diz ele.