Quem conhece Jorio Dauster sabe das suas virtudes como diplomata, negociador da dívida externa brasileira e ex-presidente da Vale do Rio Doce, além do excelente papo, da pele queimada de sol e do joie de vivre carioca.
O que pouca gente lembra é que Dauster teve a felicidade de, ainda nos anos 60, traduzir para o português, com a ajuda de dois amigos do Itamaraty, a obra prima de J. D. Salinger, O Apanhador no Campo de Centeio.
The Catcher in the Rye, no seu original em inglês, uma espécie de Bíblia dos pós adolescentes, ou “o romance que inventou uma geração”, já vendeu mais de 60 milhões de exemplares em praticamente todas as línguas e, ninguém sabe porquê, é consumido à razão de 240 mil exemplares todos os anos.
Aqui em Los Angeles, depois de uma palestra sobre biodiesel sob o patrocínio do Consulado Brasileiro e do Instituto Milken, perguntei ao embaixador o que faz um livro escrito em 1951 provocar tanto sucesso quase 60 anos depois.
O Apanhador, explica, toca as pessoas porque fala de conceitos filosóficos numa linguagem que qualquer um entende, se identifica e, portanto, gosta. Nada mais é do que uma acurada e sensível crônica da juventude.
O embaixador ainda traduziu mais 17 livros, inclusive outra obra-prima de Salinger, “Raise high the roof beam, Carpenters” (“acho que sou um neurótico ao contrário... sinto que o mundo está conspirando para que eu seja feliz”), ao qual ele deu o título de “Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira”.
De uns anos para cá Dauster traduziu outros autores, em especial Vladimir Nabokov, mas o “Apanhador” continua sendo um dos seus papos favoritos, mesmo porque o mistério que envolve o livro e seu autor, recluso há pelo menos meio século num sítio no Estado de New Hampshire, é também o papo favorito dos fãs de Salinger.
O escritor, que nasceu em Nova York e hoje celebra 88 anos, escreveu a maioria de suas obras entre 1940 e 1965, mas segundo a lenda continua escrevendo todas as manhãs. Seu contato com o mundo exterior é através de seu agente literário, um escudo em várias batalhas para garantir a integridade de sua obra.
O “Apanhador”, escrito na primeira pessoa, é uma viagem ao labirinto do cérebro de Holden Caulfield, de 16 anos, que detalha suas experiências em Nova York depois de ter sido expulso de um colégio interno. O livro expõe a falsidade da vida adulta, a alienação do rapaz e a inevitável perda da inocência. “Minha adolescência foi praticamente a mesma do rapaz, e foi um grande alívio contar esta história para as pessoas”, disse o autor em 1953.
Quando foi lançado, o “Apanhador” ficou na lista dos mais vendidos do The New York Times durante 30 semanas, mas, depois, foi-se tornando um culto entre os adolescentes, a ponto de, devido ao seu poder de influência, ter sido banido ou censurado em vários distritos escolares por trazer 332 palavras chulas, coisas que naquela época não ficavam bem em letra de imprensa.
Muitos professores foram despedidos ou forçados a sair das escolas por recomendar sua leitura aos estudantes, o que só provocou a curiosidade e as cópias piratas passadas de mão em mão. Salinger recebeu propostas milionárias para transformá-lo em filme, entre elas a de Steven Spielberg. O autor, escaldado com a adaptação hollywoodiana de um de seus contos, recusou.
No Brasil, Rubem Braga e Fernando Sabino decidiram editar o livro traduzido por Dauster e seus amigos diplomatas Álvaro Alencar e Antônio Rocha após uma conversa regada a uísque na cobertura de Braga em Ipanema, no Rio.
Num recente artigo sobre a epopéia de achar um título adequado à versão para o português do The Catcher in the Rye, Dauster citou um parágrafo que diz tudo a respeito do livro que ainda hoje encanta milhões de pessoas.
“.... fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto; quer dizer, ninguém grande; a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.”
O que pouca gente lembra é que Dauster teve a felicidade de, ainda nos anos 60, traduzir para o português, com a ajuda de dois amigos do Itamaraty, a obra prima de J. D. Salinger, O Apanhador no Campo de Centeio.
The Catcher in the Rye, no seu original em inglês, uma espécie de Bíblia dos pós adolescentes, ou “o romance que inventou uma geração”, já vendeu mais de 60 milhões de exemplares em praticamente todas as línguas e, ninguém sabe porquê, é consumido à razão de 240 mil exemplares todos os anos.
Aqui em Los Angeles, depois de uma palestra sobre biodiesel sob o patrocínio do Consulado Brasileiro e do Instituto Milken, perguntei ao embaixador o que faz um livro escrito em 1951 provocar tanto sucesso quase 60 anos depois.
O Apanhador, explica, toca as pessoas porque fala de conceitos filosóficos numa linguagem que qualquer um entende, se identifica e, portanto, gosta. Nada mais é do que uma acurada e sensível crônica da juventude.
O embaixador ainda traduziu mais 17 livros, inclusive outra obra-prima de Salinger, “Raise high the roof beam, Carpenters” (“acho que sou um neurótico ao contrário... sinto que o mundo está conspirando para que eu seja feliz”), ao qual ele deu o título de “Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira”.
De uns anos para cá Dauster traduziu outros autores, em especial Vladimir Nabokov, mas o “Apanhador” continua sendo um dos seus papos favoritos, mesmo porque o mistério que envolve o livro e seu autor, recluso há pelo menos meio século num sítio no Estado de New Hampshire, é também o papo favorito dos fãs de Salinger.
O escritor, que nasceu em Nova York e hoje celebra 88 anos, escreveu a maioria de suas obras entre 1940 e 1965, mas segundo a lenda continua escrevendo todas as manhãs. Seu contato com o mundo exterior é através de seu agente literário, um escudo em várias batalhas para garantir a integridade de sua obra.
O “Apanhador”, escrito na primeira pessoa, é uma viagem ao labirinto do cérebro de Holden Caulfield, de 16 anos, que detalha suas experiências em Nova York depois de ter sido expulso de um colégio interno. O livro expõe a falsidade da vida adulta, a alienação do rapaz e a inevitável perda da inocência. “Minha adolescência foi praticamente a mesma do rapaz, e foi um grande alívio contar esta história para as pessoas”, disse o autor em 1953.
Quando foi lançado, o “Apanhador” ficou na lista dos mais vendidos do The New York Times durante 30 semanas, mas, depois, foi-se tornando um culto entre os adolescentes, a ponto de, devido ao seu poder de influência, ter sido banido ou censurado em vários distritos escolares por trazer 332 palavras chulas, coisas que naquela época não ficavam bem em letra de imprensa.
Muitos professores foram despedidos ou forçados a sair das escolas por recomendar sua leitura aos estudantes, o que só provocou a curiosidade e as cópias piratas passadas de mão em mão. Salinger recebeu propostas milionárias para transformá-lo em filme, entre elas a de Steven Spielberg. O autor, escaldado com a adaptação hollywoodiana de um de seus contos, recusou.
No Brasil, Rubem Braga e Fernando Sabino decidiram editar o livro traduzido por Dauster e seus amigos diplomatas Álvaro Alencar e Antônio Rocha após uma conversa regada a uísque na cobertura de Braga em Ipanema, no Rio.
Num recente artigo sobre a epopéia de achar um título adequado à versão para o português do The Catcher in the Rye, Dauster citou um parágrafo que diz tudo a respeito do livro que ainda hoje encanta milhões de pessoas.
“.... fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto; quer dizer, ninguém grande; a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.”