sexta-feira, 24 de abril de 2009

Pedir perdão, limpar o passado...


Nova York - Além de trocar dry martinis por suco de laranja nas recepções da Casa Branca, o ex-presidente democrata Jimmy Carter (1977-81) também proibiu algumas liturgias do cargo, como o hino "Hail to the Chief", durante sua presidência. A idéia era de que o presidente, depois de tantos anos de abusos dos republicanos, capitaneados por Richard Nixon, passasse a imagem de homem comum para os norte-americanos. Desnecessário dizer que deu errado. Passando a imagem de fraco, mortal e humilde, Carter foi defenestrado do cargo pelo falcão republicano Ronald Reagan, que voltou com a arrogância, as bombas e o poderio da Presidência, inclusive os dry martinis das recepções da Casa Branca.
Barack Obama parece não ser tão ingênuo quanto Carter, mas hoje segue caminho semelhante - e para muita gente perigoso - pedindo perdão pelos pecados americanos em três continentes, e em menos de 100 dias. Na França, como lembrou o novo porta voz dos Republicanos, Karl Rove (o mágico que elegeu George W. Bush) no The Wall Street Journal, disse que os Estados Unidos têm sido arrogantes e desdenhosos, "e logo com os franceses". Em Praga, lembrou Rove, disse que a América tem a responsabilidade moral de agir no controle de armas porque foi o único país a usar a arma nuclear. Em Londres, disse que as decisões sobre o sistema financeiro mundial não são feitas mais como no tempo em que Roosevelt e Churchill sentavam-se numa sala tomando brandy. E, na América Latina, disse que o país não tem perseguido um engajamento sustentável com seus vizinhos.
Obama, negro e filho de imigrantes, parece ser mais sábio que o branquelo e ex-fazendeiro de amendoins Jimmy Carter, que embora morto politicamente depois da Casa Branca ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Ao levantar-se da cadeira para ganhar um livro de presente do venezuelano Hugo Chavez (o antiquado "Veias Abertas da América Latina") , durante uma recente reunião de cúpula, mostra elegância e respeito com o ditador venezuelano, roubando-lhe um inimigo imaginário, os Estados Unidos, sobre o qual Chaves conclama seu povo a lutar contra. Ao abrir as portas para Cuba, pode matar de vez a ditadura castrista (se é que jela já não está morta) instalando McDonald's e Starbucks na ilha proibida. Ao gravar mensagens de paz no YouTube para o mundo muçulmano, também subtrai dos terroristas a justificativa para que novos ataques sejam deflagrados contra os Estados Unidos.
Nestes primeiros 100 dias de Presidência, Obama causou da ira dos republicanos porque, sendo um estadista ou um super-star, como reclamam eles, cria novos parâmetros de eficiência para a Presidência, reinagura a diplomacia do diálogo e cooperação entre os Estados Unidos, que respondem por um terço do Produto Interno do Bruto do mundo, e outras centenas de países que vivem em torno ou em função deste chamado império da era moderna.
Por isto mesmo o novo presidente norte-americano parece ter saído por encomenda de um sonho coletivo não só do país que governa, como também de todo o mundo. Expõe com delicadeza e paciência o ridículo das guerras, da destruição da natureza, das religiões misturadas ao poder, ou das bravatas que se tornaram lugar comum nos anos Bush. Acalma os ânimos, abre possibilidades, desenha portas para o entendimento. Coisa que o mundo nunca viu. Nem mesmo com Jimmy Carter.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Obama, a Rainha, o Ipod e a pedra da Lua


Seattle - Barack Obama teria dado presente melhor à octagenária rainha Elizabeth II, durante visita ao Palácio de Buckingham semana passada? O Ipod , este minúsculo tocador de música (e de muitas outras coisas) inventado em 2001 por Steve Jobs já vendeu mais de 173 milhões de aparelhos em todo o mundo. Mais do que um milagre do design, é o melhor exemplo do empreendorismo e inovação dos Estados Unidos desde que, em 1969, Neil Armstrong trouxe de volta para Terra uma pedra da Lua. Dentro do Ipod, Obama, que gosta tanto de tecnologia quanto de Michelle, colocou 200 fotos da visita da nobre britânica aos Estados Unidos em 2007, durante visita oficial. A rainha agradeceu, retribuiu com uma foto do casal real autografada, e até hoje deve estar sem dormir tentando descobrir as nuances do seu novo brinquedo.
Os Estados Unidos podem estar dando adeus a mais de meio século de domínio mundial, tanto econômico como tecnológico, mas é pródigo em chocar o resto do mundo com simplicidade e elegância. Durante uma das maiores feiras mundiais de todos os tempos, em Osaka, Japão, em 1970, visitada por 64 milhões de pessoas, levou apenas uma imensa abóbada de alumínio. Outros países encharcaram seus pavilhões com milhares de produtos, fotos, expositores e tudo mais. No pavilhão americano, apenas a pedra da Lua, obtida um ano antes durante a viagem da Apolo 11. Desnecessário dizer que foi o país mais visitado.
Agora, quase 40 anos depois, o Ipod parece conquistar todo o mundo como a pedra da Lua. Só nos Estados Unidos, o aparelhinho responde por 90% do mercado de players, sendo responsável por quase 50% das vendas da Apple, atingindo mais de US$ 10 bilhões a cada trimestre. Explica-se que a base do seu sucesso esteja na falta de teclados, um monte de teclas incompreensivelmente juntas que existe desde que Gutenberg inventou a impressão, mas que tem sido objeto de revolta de Jobs desde quando começou a ler e escrever. Ao invés de teclar, Jobs sugeriu tocar - e todo mundo adorou.
Mais do que um simples player, o Ipod também carrega fotos, vídeos, games, agendas, e-mails, marcadores da Internet, calendários e muito mais. Seu sucesso não está apenas entre adolescentes alienados. Está no ouvido de empresários e alunos de MBA em universidades, que têm em mãos uma 'memória adicional' com tudo que eles precisam ter durante lapsos de tempo durante uma ou outra atividade.
O nome Ipod foi sugerido por Vinnie Chieco, um escritor free lancer, que foi chamado pela Apple para ajudar no marketing do produto. Chieco, ao ver o protótipo, lembrou do filme 2001, Uma Odisséia no Espaço, onde se fala para o computador-comandante 'Open de pod bay door, Hal', numa referência ao veículo espacial.
Desde que nasceu, o Ipod tem ganho prêmios de excelência em tecnologia, de produto mais inovador, de melhor produto computadorizado do mundo, melhor design, facilidade de uso, e por aí vai. Revolucionou a forma como interagimos com diversos conteúdos, roubando mercado de cds, dvds, livros e, assim, mudando completamente os modelos de negócios de empresas que pensavam que o mundo não ia mudar. Mais do que tudo, foi o responsável por trazer Jobs, o homem que criou o computador pessoal, ao centro do espetáculo da tecnologia. Agora também no Palácio de Buckingham."