segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O que você faria se soubesse quando será?

Como a certeza da morte, e como dizia o jurista Saulo Ramos em sua recente biografia Código da Vida, carregamos conosco a incômoda pergunta: mas quando? O professor Randolf Frederick Pausch, 43 anos, casado e três filhos pequenos, PhD em ciência da computação na Universidade Carnegie Mellon, morrerá dentro de três a seis meses de câncer no pâncreas.
Randolf, ou Randy, foi aplaudido de pé por 400 alunos e professores da universidade quando, no início de setembro, entrou no auditório para dar a última aula, uma tradição das universidades – mas para mestres que estão se aposentando ou abandonando a cátedra.
Ele agradece os aplausos, pede que parem de aplaudir (“me deixem merecer, primeiro”, e a platéia responde “você já merece”) e depois inicia um fantástico show de vida, esperança e gratidão, tema de reportagens de duas grandes redes de TV dos Estados Unidos, a ABC e a CBS.
A aula, gravada em vídeo para que seus filhos pequenos (5, 2 e 1 ano) assistam quando entenderem que todos nós vamos para o céu (ou o inferno), recebeu o título de “Realizando Os Sonhos da Infância”. Tornou-se também um dos vídeos mais vistos na Internet.
Durante 30 minutos, em tom otimista, fazendo às vezes a platéia gargalhar (e chorar), ele discorre sobre a ciência da computação (ele é um dos inventores da realidade virtual, um programa chamado Sofia), dá dicas para a melhoria do ensino e, na melhor tradição, faz profundas reflexões sobre sua área de conhecimento.
Depois começa a parte mais impressionante. Randy avisa que, se alguém quiser chorar, que suba até o auditório e o faça para que ele, então, consiga ter pena de si mesmo. Mostra, como um cientista, diversos raios-x de órgãos do seu corpo contendo 10 tumores malignos que o levarão à morte com data anunciada.
Quando criança, Randy era do tipo que trocava qualquer diversão por experimentos de física, matemática ou astrologia. Aos oito anos, quando atravessou os Estados Unidos para visitar a Disneylândia em companhia dos pais, decidiu que não queria somente ver o Pato Donald ou Mickey, mas sim criar parques de diversões futuristas.
Logo que recebeu seu PhD pela universidade, enviou uma carta para a Disney falando de suas habilidades e, tempos depois, recebeu outra carta com um polido não. Randy não se deu por vencido. Batalhou até criar, depois de formado e com um time de cientistas, um novo parque de atrações para a Disney.
Dos sonhos de infância, o professor ainda fez outra proeza: praticar experimentos a zero grau de gravidade, dentro daqueles aviões que sobem a grandes altitudes e caem centenas de metros repentinamente. “Quando você faz as coisas certas”, disse ele, “o carma se encarrega de trazer as coisas boas para você”.
Randy também fala de seus pais. Quando adolescente, ao invés de pregar pôsteres de garotas ou de heróis nas paredes do quarto, rabiscou fórmulas matemáticas, ditados famosos e até uma “portinha” para chegar a outros planetas. “Se você é pai ou mãe, deixe seus filhos rabiscarem as paredes do quarto – tenho certeza de que isto não vai diminuir o valor sua casa”, recomenda.
Embora doente terminal, Randy demonstra boa aparência e, mais ainda, excelente preparo físico. Durante a aula, faz contínuas flexões de braços, às vezes com um braço só, para demonstrar sua saúde. A platéia vem abaixo.
Um dos slides projetados é um muro de tijolos. Randy diz que muros existem por uma simples razão: eles estão lá para testarem o quão importante é para você conseguir o que deseja – ou melhor, “eles estão lá para frear as pessoas que não desejam tanto assim conseguir os objetivos”.
Enquanto projeta os slides de seus professores e chefes durante os anos, Randy conclui que ajudar os outros a realizarem os sonhos é muito mais divertido do que realizar os próprios sonhos.
Ao final, dá um conselho: “quando você se sente magoado ou chateado com alguém, é porque você não deu ainda o devido tempo para que esta mágoa se dissipe”. Novamente aplaudido de pé, o professor recebe um abraço e um beijo de sua esposa, que chorava na audiência.
A platéia, então, descobre que naquele dia Randy estava fazendo aniversário. Comemorava 46 anos muito bem vividos.