San Francisco – Sou um dos felizes passageiros (poltrona 23B) da mais nova (e surpreendente) companhia aérea norte-americana, a Virgin America, que acaba de inaugurar o vôo entre Seattle e San Francisco, sobrevoando a maravilhosa Costa Oeste dos Estados Unidos. Seu dono, o bilionário britânico Richard Branson, um louco que semana passada deu entrevista sentado na privada de sua mansão numa ilha do Pacífico, não estava à bordo – mas tudo aqui em cima, como de resto em todos os seus negócios, faz lembrar o homem que, por onde passou, revolucionou o mundo empresarial.
Para começar, Sir Branson, hoje o 236º homem mais rico do mundo, com quase US$ 7,9 bilhões no bolso, criou uma linha aérea num país onde é vetada aos estrangeiros a propriedade de linhas aéreas. Enfrentou reguladores, bateu de frente com os sindicatos, defendeu-se do lobby das concorrentes, criou uma intrincada estrutura societária, ganhou o apoio do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, e... pimba: eis que a Virgin America está competindo com a Delta, America, Jet Blue, United e está ganhando. Por quê? A razão é simples: com o capitalismo de cabeça para baixo, não existem mais monstros sagrados. “Qualquer um pode colocar um avião no ar”, reflete Samantha, a aeromoça da Virgin, “o que faz a diferença é oferecer um serviço melhor, mais bonito e barato”
Os aviões Airbus 320 da Virgin têm asas pintadas com a bandeira americana (suprema humilhação para os gringos), os pilotos se vestem de preto e as aeromoças, de vermelho, são prá lá de charmosas. As luzes da cabine lembram as luminárias roxas e azuis das discotecas da década de 70, mas causam uma incrível sensação de paz e conforto. O sistema de som é tão bom que dá para entender o inglês do piloto. As poltronas são de couro e há espaço para as pernas e para os cotovelos. As mesinhas de trás das cadeiras são de acrílico, possuem um compartimento só para copos e têm espaço suficiente para um laptop (com tomada e tudo) e o pratinho de tira-gostos.
Mas o surpreendente mesmo é a TV. Existem canais ao vivo para todos os gostos (pelo menos 25 filmes), ao lado de um detalhado mapa fornecido pela Google (via satélite), trezentas músicas em MP3, e um sistema de compras onde você insere o cartão de crédito (e de débito) e a aeromoça parece adivinhar seu pedido segundos depois. Ali, você pode escolher uma formidável seleção de vinhos, comidas exóticas de vários países, refrigerantes para os abstêmios, snacks, doces, chicles e muita coisa mais. De graça, só água. Por isto uma passagem entre Seattle e San Francisco custa somente cerca de 200 dólares.
A aviação, como se diz aqui, é o negócio mais sexy já inventado pelo homem, mas não se sabe porque é tão mal administrada, complicada e cheia de coisas sem sentido, congestionando aeroportos, cometendo erros grosseiros, gerando prejuízos em série e torturando a vida daqueles que ainda não tiveram sorte de ir de business ou de primeira classe. Branson, que ficou rico vendendo discos de vinil na década de 70, sabe disto e não se conformou. Invadiu o país na inovação com um serviço inovador, metade marketing metade eficiência, que ainda vai dar muito trabalho para quem está sentado nos louros.