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terça-feira, 31 de março de 2009
NPR: do povo, pelo povo, para o povo
Fairfield, Connecticut - Nestes tempos de fim de mundo, onde tudo que é sólido está se desmanchando no ar, a NPR, a adorada rádio pública norte-americana, está se arrebentando em rios de dinheiro e sucesso. Está certo que a autarquia, fundada pelo ex-presidente Lyndon Johnson em 1970, ganhou há cinco anos a maior doação já recebida por uma instituição norte-americana, US$ 200 milhões da viúva de Jay Kroc, o fundador do McDonald's, mas parece inexplicável que a NPR tenha dobrado de ouvintes de 1999 para cá, chegando a 26,4 milhões, bem à frente do jornal de maior circulação nos Estados Unidos (USA Today, com 2,3 milhões de leitores), e os telespectadores do horário nobre de uma emissora como a Fox News (2,8 milhões).
Mas onde a NPR está se revelando mesmo é na chamada nova mídia. A rádio é a campeã de downloads (14 milhões diários) no Itunes. Sua página na internet, npr.org, é visitada por oito milhões de pessoas diariamente, e a redes sociais que se alimentam de sua programação costumam ficar, no mínimo, "congestionadas". A revista Fast Company, uma espécie de bíblia do empreendedorismo americano, acaba de fazer uma reportagem investigativa sobre o sucesso da NPR entre os gringos, e o mistério só aumentou. Diante da falta de razões, só sobrou uma justificativa: um caso de amor do público por uma rádio criada do povo, pelo povo e para o povo.
O faturamento da NPR hoje chega a US$ 159 milhões, com um lucro (isto mesmo, lucro) líquido de US$ 18.9 milhões. O dinheiro vem em grande parte (43%) das 860 estações-membro espalhadas por todos os Estados Unidos. Em segundo lugar (29%), vem o patrocínio de corporações (especialmente fundações), concebidos na forma de apoio à sua programação (mais fundação Roberto Marinho do que Casas Bahia, digamos assim). 15% originam-se de doações de empresas e principalmente do público, que anualmente participa de campanhas de arrecadação de fundos durante um dia da programação. Apenas 2% vem do governo, através de um fundo chamado Corporation for Public Broadcasting.
Ou seja, a rádio é pública, mas dinheiro do governo quase não existe. É a própria sociedade organizada que mantém e faz o sucesso da NPR. Com a crise econômica, a rádio também não ficou impune. Prevê-se que, a continuar a seca de doações e patrocínios institucionais, vai ter um déficit de US$ 23 milhões no ano fiscal de 2009. Neste ambiente, foi cortado 7% da força de trabalho e cancelados dois shows (News and Notes e Day to Day). É a pior crise desde o início dos anos 80.
Mesmo assim, os executivos e repórteres da NPR estão confiantes que passarão estes tempos medonhos de uma forma menos drástica, já que a organização não depende somente dos patrocínios, pode utilizar US$ 15 milhões anuais das suas reservas e, acima de tudo, confia que sua audiência não vai diminuir. Mais ainda, os salários da NPR são irrisórios quando comparados aos de estrelas da mídia de TV, por exemplo. "O salário de um âncora de TV dá para pegar três vezes o orçamento de um dos programas de maior audiência, o Morning Edition ", diz um dos vice-presidentes da rádio. Não fosse este caso de amor com a NPR, a audiência será para sempre cativa. Afinal, dizem eles, pouca gente hoje tem tempo para ler jornal, mas é capaz de ficar horas no trânsito, voluntária ou involuntariamente, ouvindo sua programação.
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