Seattle – Embasbacados com um cheque de US$ 1.200,00 do presidente George W. Bush para qualquer habitante que pague impostos, a fim de soerguer a economia, os americanos assistem ao jornalista Fareed Zakaria, da Newsweek, anunciar que os Estados Unidos deixarão de ser potência hegemônica mais cedo que se pensa. Em seu novo livro, The Post American World, Zakaria, indiano nascido em Mumbai e que também faz sucesso na CNN como comentarista internacional, avisa que o país não está em declínio – o problema é que pelo menos outros 25 países, entre eles o Brasil, estão crescendo absurdamente.
Com seu PIB de US$ 14 trilhões, quase a metade de todo o mundo, os Estados Unidos reinam num mundo sem competidores há pelo menos duas décadas, desde que o Muro de Berlim caiu e não deixou saudade. Agora, “isolado por dois oceanos e dois vizinhos benignos”, como diz Zakaria, está levando um susto ao perceber que a maior empresa do mundo com ações em bolsa está na China, que o homem mais rico está no México, o maior edifício em Dubai, a maior indústria cinematográfica na Índia e o maior cassino em Macau. Sem concorrência, “ficamos gordos e preguiçosos, envolvidos por um sistema político “desfuncional”, polarizado, que não honra compromissos e que está deixando sem educação pelo menos um terço do país”, diz ele.
Como bom imigrante (quem está aqui não quer sair), Zakaria, numa entrevista à TV pública norte-americana, a PBS, não deixa dúvidas quanto ao poderio dos Estados Unidos. “Somos o primeiro país universal da história, uma conjunção de imigrantes que faz uma economia inovadora, flexível e dinâmica, mas estamos entrando numa era em que vamos ter de aprender a cooperar com outros povos e países – aí está o nosso futuro”, diz ele. Este “crescimento do resto”, como ele se refere ao desenvolvimento de países como China, Índia, Brasil, Rússia e outros, é “a grande história do nosso tempo, é aquela que vai redefinir o Planeta”, acrescenta.
Num artigo na Newsweek, Zakaria lembra que o pânico no sistema financeiro, a recessão econômica, a guerra sem fim no Iraque e a ameaça do terrorismo, entremeados por aumento do desemprego e a crise das hipotecas - estão levando o país do otimismo a ficar pessimista. Em Abril, diz ele, uma nova pesquisa revelou que 81 por cento dos americanos acreditam que o país está no caminho errado, a resposta mais negativa em 25 anos em que a pesquisa é feita.
“Mas isto não explica a presente atmosfera de fraqueza”, explica. Esta ansiedade tem razões mais profundas, continua. “É um sentimento de que grandes e descomunais forças estão correndo pelo mundo”. Em quase todas as indústrias, em todos os aspectos da vida, os padrões estão sendo mudados, misturados, remexidos. “E, pela primeira vez na memória recente, os Estados Unidos não estão liderando a mudança. Os americanos vêem que este novo mundo está surgindo, mas têm medo que ele seja moldado numa terra distante e por povos estrangeiros”.