sexta-feira, 22 de agosto de 2008

OBAMA ON LINE JÁ GANHOU A ELEIÇÃO

Nova York – Nesta semana o candidato democrata Barack Obama aceitará a indicação do partido para concorrer à Presidência dos Estados Unidos na convenção de Denver, capital do Colorado, iniciando o round final no embate com o candidato republicano, John McCain. ` Seja qual for o resultado, a campanha virtual do americano-queniano-hawaiano à presidência dos Estados Unidos, que vai custar mais de US$ 1 bilhão até outubro, tornou-se um oráculo para todos os outros candidatos que, de tempos em tempos, aventuram-se a cargos eletivos em qualquer país do mundo.
Seu website funciona como um alçapão para capturar eleitores que hoje passam boa parte do dia na frente de uma tela de computador, seja no trabalho ou no lar. O objetivo principal, como era de ser esperar, é arrecadar dinheiro num país de bolsos fartos onde 90% das casas estão plugadas na rede.
Há dias, por exemplo, o site exibe uma pegadinha: “seja o primeiro a saber quem vai ser o vice-presidente de Obama”, um segredo tão bem guardado feito a fórmula da Coca-Cola. Basta registrar seu nome e email e você saberá instantaneamente (talvez até antes da imprensa....) quem vai compor a chapa do candidato democrata.
Outra? Doe dez dólares e concorra a uma jantar com Obama. Uma significativa parte das doações (30%) ao candidato é deste valor. Na internet, e com cartão de crédito, milhões de americanos estão contribuindo um pouquinho para eleger o candidato do povo, como geralmente se fala dos candidatos do partido Democrata nos Estados Unidos.
Participação, debate, organização. Além de um mergulho na biografia e nas propostas de campanha, o site tornou-se um imenso espaço colaborativo. Estimula os eleitores, ensina os fundamentos da liderança, fornece material de campanha, vende camisetas, logotipos e DVDs, mergulha na realidade de cada um dos 50 estados americanos e, principalmente, utiliza todas as ferramentas atuais para agregar pessoas: FaceBook, Myspace, Youtube, Flick, Linkedin ...e por aí vai. De quebra, você pode registrar o número do seu celular para receber mensagens do candidato.
Melhor, impossível.
No futuro, a história registrará esta campanha on line como um marco que transformou e aprimorou a democracia, trazendo o eleitor para o centro real do espetáculo, coisa que jamais se imaginava quando este modelo político foi inventado na antiga Grécia.
Nesta nova posição, o eleitor vai se apegar ao poder que nunca teve. Vai querer que as decisões não esperem quatro ou oito anos para serem efetivadas. Ou, quem sabe, não vai querer mais a intermediação de políticos para proteger o seu status quo, melhorar de vida ou ajudar quem precisa.
Com Barack, abre-se uma janela para adivinharmos o futuro de nós enquanto seres políticos. Deseja mudança? Quer uma escola no seu bairro? Eleger ou depor um governante? Abra a tela do computador e simplesmente dê um clique.

A CORAGEM VEM COM A PRÁTICA

Atlanta, Georgia – Depois de seu irmão mais velho ter morrido num acidente quando ela tinha quatro anos, a vida da médica Theresa MacPhail deixou de ser um parque de diversões para se transformar num campo cheio de perigos. Super protegida pela mãe, cresceu presa a regras e restrições impostas para pretensamente protegê-la. Não podia voltar da escola sozinha, dormir na casa das amigas ou viajar no verão. “E se algo te acontecer? ”, perguntava a mãe. Quando cresceu, a lista de medos aumentou ainda mais, fazendo-a uma medrosa por excelência. Começou a ter medo de sofrer de câncer, de perder a carteira, acidentes de carro, terremotos, ter um aneurisma cerebral, perder o emprego ou morrer num acidente aéreo... desastres grandes e pequenos, reais ou imaginários, conforme contou num emocionante depoimento ao programa “Nisto Eu Acredito”, da NPR, a rádio pública norte-americana (e com todo respeito às outras, a melhor do mundo).
O medo pode ser uma reação irracional, nascer do nada ou pode ser justificado. Mas é um sentimento difícil de ser enfrentado, às vezes até de falar sobre ele. Mas Theresa, que hoje vive nos confundós da China tentando controlar epidemias, desenvolveu uma inusitada defesa para suplantá-lo. Ela simplesmente se obriga a fazer coisas que a ameaçam ou a assustam ou a amedrontam– pelo menos uma vez. Especialmente coisas que aterrorizariam sua mãe, (fosse ela viva – pois ela também morreu num acidente de carro quando Theresa tinha apenas 14 anos): viver na China, andar de motocicleta, contar piadas diante de platéias e até casar de novo, e pela segunda vez. No depoimento, ela confessou que foi criada para viver o resto da sua vida de maneira segura, de preferência entre quatro paredes. Mas o que ela fez foi o contrário: ser corajosa o suficiente para viver uma vida completa, excitante e, porque não, perigosa de vez em quanto.
Ela tem medo de que, falando da sua mãe e fazendo justamente o oposto que recomendava, que ela volte do além e a puxe pelo dedo do pé enquanto estiver dormindo. “Mas mamãe é força básica da minha vida, e no fim eu acho que ela ficaria orgulhosa de mim”, diz. Coragem, segundo ela, não é um atributo natural dos seres humanos. Ela acredita que nós devemos praticá-la, como se fizéssemos exercício para fortalecer um músculo. “Quanto mais eu faço coisas que me botam medo, ou mesmo coisas que me deixam numa posição inconfortável, mais eu descubro que eu posso fazer muito mais coisas do que eu penso que sou capaz”, conclui. A médica reconhece que herdou da mãe uma natureza cautelosa, mas também ela acredita que o medo pode ser um excelente sentimento, desde que o enfrentemos de frente. Acreditar nisto, segundo ela, faz do mundo um lugar menos assustador.
Theresa MacPhail formou-se pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, uma das mais famosas do mundo. Ela também se tornou escritora e jornalista; acabou de escrever “O Olho Do Vírus”, uma obra de ficção sobre a epidemia de gripe asiática. Segundo ela, sua vida daria um filme emocionante que pouca gente acreditaria. Na verdade, seu pai acaba de morrer – também numa morte acidental. Mas ela acredita que um raio não cai no mesmo lugar quatro vezes – e se recusa a viver com medo.

O PODER DE CADEIRA DE RODAS


New York – Quem assiste Warm Springs, da HBO, a história da pólio que atacou o nova-iorquino Franklin Delano Roosevelt, descobre o lado fraco, medroso e incongruente do homem que viria a ser o maior presidente norte-americano de todos os tempos, reeleito quatro vezes até morrer de hemorragia cerebral em 1945.
Roosevelt, um ex-secretário assistente da Marinha e favorito do Partido Democrata para a sucessão do governo do Estado de Nova York, acordou com febre e paralisado da cintura para baixo aos 39 anos enquanto passava férias em Campobello Island, New Brunswick.
A depressão e a vontade de recuperar a força nas pernas o leva a um balneário na Geórgia, Warm Springs, onde mantém contato não só com a pobreza do Sul, mas também com gente como ele, atacada pela paralisia infantil, naquela época uma espécie de Aids sem possibilidade de cura – a não remediar com águas magnesianas do local.
Representando pelo inglês Kenneth Branagh, Roosevelt bebe em doses cavalares, fuma a todo instante, trai a mulher (Eleonor Roosevelt, vivida por Cynthia Nixon, do seriado Sex in the City, que como Eleonor é também é homosexual na vida real), mas já mostra, por outro lado, o político gigantesco que viria a idealizar o New Deal, que salvou os Estados Unidos da Grande Depressão.
Roosevelt não tinha nada para ser do Partido Democrata. Nascido numa das mais aristocráticas famílias nova-iorquinas, viveu num ambiente de luxo e riqueza, com pai ausente (quando ele nasceu seu pai já tinha 54 anos) e mãe repressora, que a todo o momento (mesmo na idade adulta) ameaçava cortar-lhe a mesada.
A viagem para o pobre e rural ambiente do Sul foi o que os americanos chamam de “turning point”, uma surpreendente sucessão de acontecimentos que moldaria sua liderança e visão de mundo. O futuro presidente dos Estados Unidos chega à Geórgia enojado com a pobreza e as condições do balneário que iria se “curar” e, no futuro, comprar e administrar.
Aos poucos, toma amor pelo lugar e, milagrosamente, segundo ele, consegue andar, mesmo que trôpego, com os pés tocando o fundo da piscina. Uma entrevista a um jornal local é distribuída para toda a mídia americana da época e Warm Springs, do dia para a noite, torna-se a Meca de centenas de pessoas atacadas pela paralisia.
Roosevelt escreve para mãe e pede que adiante o dinheiro da herança para comprar Warm Springs do seu amigo, o banqueiro George Foster Peabody. Com o socorro materno, transforma-o num centro de milagres, onde crianças começam a andar com botinhas ortopédicas e adultos arriscam alguns passos.
Pressionado pelas chamadas bases, no entanto, Roosevelt volta a Nova York e, pelos braços do Partido Democrata, o partido do povo, como é chamado até hoje, prossegue a carreira que o levaria à capital Albany e, depois à Casa Branca.
Warm Springs mostra um homem amedrontado pela possibilidade dos eleitores descobrirem que era um aleijado – jamais se deixou fotografar de cadeira de rodas -, ou de cair quando subisse em qualquer púlpito para discursar. “Se eu cair será o meu fim na política”, repetia. Só o convencem a continuar na luta quando dizem que existiria um punhado de gente para socorrê-lo, entre eles sua mulher, Eleonor. Mesmo traída pelo marido, que a partir daí dá-lhe a liberdade para fazer o que quiser, ela resiste e diz: “Não quero a liberdade. Quero é ser sua esposa para sempre”.