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sexta-feira, 22 de agosto de 2008
O PODER DE CADEIRA DE RODAS
New York – Quem assiste Warm Springs, da HBO, a história da pólio que atacou o nova-iorquino Franklin Delano Roosevelt, descobre o lado fraco, medroso e incongruente do homem que viria a ser o maior presidente norte-americano de todos os tempos, reeleito quatro vezes até morrer de hemorragia cerebral em 1945.
Roosevelt, um ex-secretário assistente da Marinha e favorito do Partido Democrata para a sucessão do governo do Estado de Nova York, acordou com febre e paralisado da cintura para baixo aos 39 anos enquanto passava férias em Campobello Island, New Brunswick.
A depressão e a vontade de recuperar a força nas pernas o leva a um balneário na Geórgia, Warm Springs, onde mantém contato não só com a pobreza do Sul, mas também com gente como ele, atacada pela paralisia infantil, naquela época uma espécie de Aids sem possibilidade de cura – a não remediar com águas magnesianas do local.
Representando pelo inglês Kenneth Branagh, Roosevelt bebe em doses cavalares, fuma a todo instante, trai a mulher (Eleonor Roosevelt, vivida por Cynthia Nixon, do seriado Sex in the City, que como Eleonor é também é homosexual na vida real), mas já mostra, por outro lado, o político gigantesco que viria a idealizar o New Deal, que salvou os Estados Unidos da Grande Depressão.
Roosevelt não tinha nada para ser do Partido Democrata. Nascido numa das mais aristocráticas famílias nova-iorquinas, viveu num ambiente de luxo e riqueza, com pai ausente (quando ele nasceu seu pai já tinha 54 anos) e mãe repressora, que a todo o momento (mesmo na idade adulta) ameaçava cortar-lhe a mesada.
A viagem para o pobre e rural ambiente do Sul foi o que os americanos chamam de “turning point”, uma surpreendente sucessão de acontecimentos que moldaria sua liderança e visão de mundo. O futuro presidente dos Estados Unidos chega à Geórgia enojado com a pobreza e as condições do balneário que iria se “curar” e, no futuro, comprar e administrar.
Aos poucos, toma amor pelo lugar e, milagrosamente, segundo ele, consegue andar, mesmo que trôpego, com os pés tocando o fundo da piscina. Uma entrevista a um jornal local é distribuída para toda a mídia americana da época e Warm Springs, do dia para a noite, torna-se a Meca de centenas de pessoas atacadas pela paralisia.
Roosevelt escreve para mãe e pede que adiante o dinheiro da herança para comprar Warm Springs do seu amigo, o banqueiro George Foster Peabody. Com o socorro materno, transforma-o num centro de milagres, onde crianças começam a andar com botinhas ortopédicas e adultos arriscam alguns passos.
Pressionado pelas chamadas bases, no entanto, Roosevelt volta a Nova York e, pelos braços do Partido Democrata, o partido do povo, como é chamado até hoje, prossegue a carreira que o levaria à capital Albany e, depois à Casa Branca.
Warm Springs mostra um homem amedrontado pela possibilidade dos eleitores descobrirem que era um aleijado – jamais se deixou fotografar de cadeira de rodas -, ou de cair quando subisse em qualquer púlpito para discursar. “Se eu cair será o meu fim na política”, repetia. Só o convencem a continuar na luta quando dizem que existiria um punhado de gente para socorrê-lo, entre eles sua mulher, Eleonor. Mesmo traída pelo marido, que a partir daí dá-lhe a liberdade para fazer o que quiser, ela resiste e diz: “Não quero a liberdade. Quero é ser sua esposa para sempre”.
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