A escola das minhas filhas convida o 9º Leilão Anual, agora em benefício da reforma do playground, um dos mais bem equipados que já vi na minha vida. Os pais estão sendo solicitados a doar milhas aéreas, time-share dos hotéis, um fim de semana na cabana nas montanhas, ou emprestar o barco (mais as varas e minhocas) para pescar.
Podem também doar parte do seu tempo para dividir seu talento (consertar um computador, cozinhar um prato especial, desentupir uma pia, etc.). Mas o importante mesmo é que visitem restaurantes, lojas e supermercados pedindo dinheiro, cartões de presente ou outros serviços para apoiar o leilão. Objetivo: arrecadar mais de US$ 100 mil para a reforma.
Da mesma forma que os Estados Unidos são viciados em petróleo, como disse George Bush, no trabalho barato de imigrantes (como lembrou o editorial do The New York Times), ou em guerras (há forma mais rápida de estimular a economia?), o país possui uma equiparável determinação para resolver os problemas. Sejam quais forem. Pode ser o novo playground, estancar milhões de mortes por malária na África, perseguir (e prender) pedófilos ou diminuir a exclusão digital na Polinésia.
Ninguém espera um santo salvador ou mesmo um novo presidente. Junto a essa determinação, doutrinada implacavelmente desde que a pessoa nasce em solo americano, soma-se dinheiro. Muito dinheiro. Com quase 60% dos bilionários da Terra, muitos dos quais entre 30 e 40 anos, os EUA doaram em 2005 quase 2% de seu PIB, que é de US$ 13,7 trilhões.
Primeiro da lista? Errou. Não é o casal Bill e Melinda Gates, da Microsoft, e sim Gordon e Betty Moore, da Intel. Doaram US$ 7 bilhões no ano passado, seguidos pelo casal Gates (US$ 5,4 bilhões), o bilionário Waren Buffet (US$ 2,6 bilhões) e o polêmico George Soros (US$ 2,3 bilhões). Em termos institucionais, Bill e Melinda Gates Foundation estão em primeiríssimo lugar, com US$ 28,8 bilhões, seguidos pelo Wellcome Trust, da Grã-Bretanha, com US$ 18,8 bilhões e pela Ford Foundation (US$ 10,6 bilhões).
Quer se candidatar a pegar uma lasquinha desse dinheiro para sua instituição filantrópica? Difícil. A não ser quer você procure, antes, uma entidade americana que sirva de guarda-chuva para que a doação seja deduzida do imposto de renda deles, como a Brasil Foundation, da nossa Leona Forman, ou a Awish (aqui perto de Seattle), do formidável Michael Karp.
Mas essas doações bilionárias são apenas reflexo do grande negócio das doações, uma onda que, sob as boas graças do fisco, se espalhou não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil. Descobriu-se, de repente, que o mundo estava ficando inviável. E que os governos, incluindo a ONU e milhares dos órgãos públicos, jamais resolveriam essas questões simplesmente porque são, por definição, governos. Ou seja, sem iniciativa, lerdos, perdulários, reclamões e cobradores de impostos.
Caridade (dar o peixe a quem tem fome) e filantropia (doar a vara, o anzol e ensinar a pescar) existem aqui desde que foi construída a Casa Branca, mas pode-se dizer que a era do “doar com eficiência” foi inaugurada em 1980, por iniciativa de Bill Drayton, antigo consultor da Mckinsey, que resolveu levar os padrões de efetividade da iniciativa privada ao Terceiro Setor, fundando a Ashoka.
Drayton descobriu que o Brasil já era um líder em responsabilidade social, seja por meio de trabalhos como o de Vera Cordeiro à frente da Associação Saúde Criança Renascer, ou mesmo de atividades pioneiras, já que na década de 1970, como a Fundamar, do advogado Túlio Vieira da Costa, em Minas Gerais. Muitas dessas iniciativas estão descritas no livro “Como Mudar o Mundo”, do jornalista David Bornstein, recém-lançado nos Estados Unidos e no Brasil.
O problema aqui , tal como aí, é que muitos bilhões de dólares em filantropia (ou em caridade) estão sendo jogados fora por má administração. Por isso é que está surgindo a onda de novos filantropistas, que não apenas doam dólares, mas também mobilizam recurso privados, tempo, capital social e expertise para mudar o planeta. No fundo, no fundo, todos seguem a regra franciscana: é dando que se recebe.
Podem também doar parte do seu tempo para dividir seu talento (consertar um computador, cozinhar um prato especial, desentupir uma pia, etc.). Mas o importante mesmo é que visitem restaurantes, lojas e supermercados pedindo dinheiro, cartões de presente ou outros serviços para apoiar o leilão. Objetivo: arrecadar mais de US$ 100 mil para a reforma.
Da mesma forma que os Estados Unidos são viciados em petróleo, como disse George Bush, no trabalho barato de imigrantes (como lembrou o editorial do The New York Times), ou em guerras (há forma mais rápida de estimular a economia?), o país possui uma equiparável determinação para resolver os problemas. Sejam quais forem. Pode ser o novo playground, estancar milhões de mortes por malária na África, perseguir (e prender) pedófilos ou diminuir a exclusão digital na Polinésia.
Ninguém espera um santo salvador ou mesmo um novo presidente. Junto a essa determinação, doutrinada implacavelmente desde que a pessoa nasce em solo americano, soma-se dinheiro. Muito dinheiro. Com quase 60% dos bilionários da Terra, muitos dos quais entre 30 e 40 anos, os EUA doaram em 2005 quase 2% de seu PIB, que é de US$ 13,7 trilhões.
Primeiro da lista? Errou. Não é o casal Bill e Melinda Gates, da Microsoft, e sim Gordon e Betty Moore, da Intel. Doaram US$ 7 bilhões no ano passado, seguidos pelo casal Gates (US$ 5,4 bilhões), o bilionário Waren Buffet (US$ 2,6 bilhões) e o polêmico George Soros (US$ 2,3 bilhões). Em termos institucionais, Bill e Melinda Gates Foundation estão em primeiríssimo lugar, com US$ 28,8 bilhões, seguidos pelo Wellcome Trust, da Grã-Bretanha, com US$ 18,8 bilhões e pela Ford Foundation (US$ 10,6 bilhões).
Quer se candidatar a pegar uma lasquinha desse dinheiro para sua instituição filantrópica? Difícil. A não ser quer você procure, antes, uma entidade americana que sirva de guarda-chuva para que a doação seja deduzida do imposto de renda deles, como a Brasil Foundation, da nossa Leona Forman, ou a Awish (aqui perto de Seattle), do formidável Michael Karp.
Mas essas doações bilionárias são apenas reflexo do grande negócio das doações, uma onda que, sob as boas graças do fisco, se espalhou não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil. Descobriu-se, de repente, que o mundo estava ficando inviável. E que os governos, incluindo a ONU e milhares dos órgãos públicos, jamais resolveriam essas questões simplesmente porque são, por definição, governos. Ou seja, sem iniciativa, lerdos, perdulários, reclamões e cobradores de impostos.
Caridade (dar o peixe a quem tem fome) e filantropia (doar a vara, o anzol e ensinar a pescar) existem aqui desde que foi construída a Casa Branca, mas pode-se dizer que a era do “doar com eficiência” foi inaugurada em 1980, por iniciativa de Bill Drayton, antigo consultor da Mckinsey, que resolveu levar os padrões de efetividade da iniciativa privada ao Terceiro Setor, fundando a Ashoka.
Drayton descobriu que o Brasil já era um líder em responsabilidade social, seja por meio de trabalhos como o de Vera Cordeiro à frente da Associação Saúde Criança Renascer, ou mesmo de atividades pioneiras, já que na década de 1970, como a Fundamar, do advogado Túlio Vieira da Costa, em Minas Gerais. Muitas dessas iniciativas estão descritas no livro “Como Mudar o Mundo”, do jornalista David Bornstein, recém-lançado nos Estados Unidos e no Brasil.
O problema aqui , tal como aí, é que muitos bilhões de dólares em filantropia (ou em caridade) estão sendo jogados fora por má administração. Por isso é que está surgindo a onda de novos filantropistas, que não apenas doam dólares, mas também mobilizam recurso privados, tempo, capital social e expertise para mudar o planeta. No fundo, no fundo, todos seguem a regra franciscana: é dando que se recebe.