San Juan Islands – Para muita gente (inclusive eu) a coisa mais interessante que aconteceu na Terra desde Adão e Eva foi a chegada do homem à Lua, numa fria noite de julho de 1969. Até hoje nada foi mais extraordinário que o astronauta Neil Armstrong (“um pequeno passo para mim, um grande passo para a Humanidade”) descer titubeante a escada do módulo da Apolo 11, pisar na Lua e fincar a bandeira dos Estados Unidos antes dos soviéticos, naquela época chamada de carrascos de Moscou, agentes da mal, devoradores de criancinhas e assim era o mundo de então.
A Nasa (pronuncia-se naasssa), a agência espacial norte-americana que mandou os astronautas para a Lua sem a ajuda de nenhum computador (mesmo porque naquela época eles não existiam), comemorou na semana passada 50 anos. Ela nasceu pelas mãos do republicado Dwight Eisenhower, que quase morreu de inveja (como todos os americanos) do soviético Yuri Gagarin tornar-se o primeiro homem a dar uma volta pela órbita da Terra, mas foi John F. Kennedy quem lançou a corrida espacial: “queremos descer na Lua até o final da década”, disse ele num discurso. O que pouca gente sabe é que, depois deste discurso, os Estados Unidos dedicaram quase um 1% do seu Produto Interno Bruto à Nasa.
A agência, que já fez mais de 150 missões tripuladas até hoje, recebe anualmente cerca de US$ 17 bilhões para brincar de ir à Lua novamente, manipular jipinhos no solo de Marte ou visitar aquela estação espacial lá em cima que ninguém sabe porque existe. O problema é que, agora, ela sofre de dois males: não há uma meta específica em torno da qual todo mundo se une (ir à Marte para que?), ao mesmo tempo em que dezenas de milionários ou pagam absurdos para uma vaga de turista nas viagens espaciais, ou jogam milhões numa corrida espacial privada. Tome-se os exemplos de Jeff Bezos, o dono da Amazon, ou de Richard Branson, da Virgin. Ambos, nascidos vendo Super Homem e os Jetsons na TV, estão brigando para ver quem chega primeiro lá em cima, e por um preço razoável, capaz de atrair milhares de consumidores.
A Nasa já errou muito: os astronautas da Apolo 1 morreram carbonizados num teste, a Apolo 13 não conseguiu aterrissar na Lua e os ônibus espaciais Columbia e Challenger explodiram lá em cima. Por gastarem bilhões de dólares dos contribuintes (só o programa dos ônibus espaciais já custou mais de US$ 100 bilhões) e por atraírem a atenção de todo o mundo, qualquer desastre com a Nasa parece ser de grandes proporções, que significam protestos, debates e principalmente redução de verba para os programas. Quando a poeira abaixa, voltam os planos, as verbas e as vitórias, como por exemplo, as recentes e surpreendentes informações sobre o solo de Marte, que tem água e, conseqüentemente, vida.
Entre a Nasa de John F. Kennedy e a Nasa de George W. Bush (ou de Obama, ou de Mccain) existem muito mais de 50 anos. O mundo de hoje não é tão vidrado no espaço – tanto é que a missão há alguns anos mudou para “entender e proteger o planeta em que vivemos” . Parece que o mundo hoje prefere (ou precisa) arrumar a casa, diminuir o aquecimento global, proteger a natureza e ter uma vida saudável. Hoje também não existem soviéticos para competir com os americanos. Sem competidores, não é competição. O espírito competitivo é tudo eles. Quando Armstrong, Collins (o segundo homem a pisar na Lua) e Aldrin voltaram à Terra, ficaram alguns dias de quarentena dentro de uma bolha especial (tinha-se receio de que eles trouxessem alguma praga maldita lá de cima). Foram recebidos como heróis, mas quando Aldrin foi abraçar sua família, seu pai lhe perguntou:
- Por que você não foi o primeiro a pisar na Lua?
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