San Francisco – Uma das primeiras lições que aprendemos no jornalismo é jamais falar ou escrever através da mídia aquilo que você, como cavalheiro, não faria pessoalmente. O mesmo pode ser aplicado aos bilhões de internautas que, freneticamente, não medem palavras ou sentimentos quando se dirigem a outras pessoas, especialmente crianças. Esta lei, apesar de não escrita, nada mais é que bom senso (ou senso comum) para quem vive em sociedade.
Só que a turma da internet, armada de emails, mensagens instantâneas, sites de relacionamento etc. não está nem aí para estes limites e está mandando ver. O resultado é que hoje, nos Estados Unidos, 42% das crianças e adolescentes já foram ou são vítimas de um engraçadinho (ou, na maioria das vezes, engraçadinhas) que escrevem coisas horríveis para amigos, amigos dos amigos, namorados, casos e, o que era de se esperar, inimigos.
Pode parecer coisa menor, “coisa de criança” , mas tem gente nem experimentou a puberdade e já se matou depois de receber emails ofensivos ou sofrer campanhas on line maliciosas, desde críticas à quantidade de espinhas no rosto, o tamanho do nariz, uma roupa considerada ridícula, intolerância racial e até rejeições amorosas. Pais, educadores e gente preocupada com o assunto vêm criando sites educacionais, como o www.cyberbullyng.com, para abrigar denúncias e fazer algo sobre o assunto. Até um filme, Adina's Deck, já foi feito sobre a questão.
Quem tem filho sabe que crianças (e adolescentes) falam e escrevem coisas horríveis, não porque são maus ou futuros criminosos. Mas, por não terem sofrido as agruras da vida, não conseguem avaliar os resultados de suas ações. Com o tempo, e depois de levar umas pancadas, pensam duas vezes antes de falar o que vem à cabeça. Palavras são poderosas. Elas encantam ou destroem, na maioria das vezes muito mais pela forma do que pelo conteúdo.
Defronte à tela de um lap top ou um celular, no entanto, fica mais fácil soltar as rédeas das emoções e destruir pessoas. Sem a presença física, ou mesmo travestido de outra pessoa, a tela do computador funciona como um escudo, um objeto eletrônico que te impede de levar um soco ou ouvir o que não quer. É um veículo ideal para gente ruim, que gasta tempo e palavras para o mal. Na enquete americana, 58% das crianças e adolescentes entrevistados não revelaram aos seus pais, ou a qualquer adulto, que foram ou estão sendo vítimas de ameaças, campanhas difamatórias, fofocas etc.
O que fazer? Segundo o site www.stopbullyingnow.com, coloque o computador que os filhos utilizam em lugares freqüentados pelos pais. O segundo passo é conversar com os filhos sobre o assunto, e encorajá-los a revelar quando há alguma ameaça. É importante frisar que jamais a vítima deve responder às ameaças on line, e sim procurar amparo nos responsáveis ou, em última instancia, na Justiça. É recomendável manter as provas deste crime, jamais apagando os emails, mensagens de texto ou fotos e ilustrações enviadas. E, por último, instalar softwares de controles nos computadores dos filhos, muitos deles já incorporados aos navegadores quando são instalados.
Não só nos Estados Unidos, como em todos os países, o cyberbullying é uma atividade repugnante e inaceitável, e que merece a intromissão de pais ou responsáveis mesmo à custa da perda de parte da privacidade dos filhos. Deste Adão e Eva, nunca tivemos uma ferramenta como a internet para colaborarmos em escala global rumo à paz e a felicidade. Pena que tem gente no mundo que acha justamente o contrário.
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