Atlanta, Georgia – Depois de seu irmão mais velho ter morrido num acidente quando ela tinha quatro anos, a vida da médica Theresa MacPhail deixou de ser um parque de diversões para se transformar num campo cheio de perigos. Super protegida pela mãe, cresceu presa a regras e restrições impostas para pretensamente protegê-la. Não podia voltar da escola sozinha, dormir na casa das amigas ou viajar no verão. “E se algo te acontecer? ”, perguntava a mãe. Quando cresceu, a lista de medos aumentou ainda mais, fazendo-a uma medrosa por excelência. Começou a ter medo de sofrer de câncer, de perder a carteira, acidentes de carro, terremotos, ter um aneurisma cerebral, perder o emprego ou morrer num acidente aéreo... desastres grandes e pequenos, reais ou imaginários, conforme contou num emocionante depoimento ao programa “Nisto Eu Acredito”, da NPR, a rádio pública norte-americana (e com todo respeito às outras, a melhor do mundo).
O medo pode ser uma reação irracional, nascer do nada ou pode ser justificado. Mas é um sentimento difícil de ser enfrentado, às vezes até de falar sobre ele. Mas Theresa, que hoje vive nos confundós da China tentando controlar epidemias, desenvolveu uma inusitada defesa para suplantá-lo. Ela simplesmente se obriga a fazer coisas que a ameaçam ou a assustam ou a amedrontam– pelo menos uma vez. Especialmente coisas que aterrorizariam sua mãe, (fosse ela viva – pois ela também morreu num acidente de carro quando Theresa tinha apenas 14 anos): viver na China, andar de motocicleta, contar piadas diante de platéias e até casar de novo, e pela segunda vez. No depoimento, ela confessou que foi criada para viver o resto da sua vida de maneira segura, de preferência entre quatro paredes. Mas o que ela fez foi o contrário: ser corajosa o suficiente para viver uma vida completa, excitante e, porque não, perigosa de vez em quanto.
Ela tem medo de que, falando da sua mãe e fazendo justamente o oposto que recomendava, que ela volte do além e a puxe pelo dedo do pé enquanto estiver dormindo. “Mas mamãe é força básica da minha vida, e no fim eu acho que ela ficaria orgulhosa de mim”, diz. Coragem, segundo ela, não é um atributo natural dos seres humanos. Ela acredita que nós devemos praticá-la, como se fizéssemos exercício para fortalecer um músculo. “Quanto mais eu faço coisas que me botam medo, ou mesmo coisas que me deixam numa posição inconfortável, mais eu descubro que eu posso fazer muito mais coisas do que eu penso que sou capaz”, conclui. A médica reconhece que herdou da mãe uma natureza cautelosa, mas também ela acredita que o medo pode ser um excelente sentimento, desde que o enfrentemos de frente. Acreditar nisto, segundo ela, faz do mundo um lugar menos assustador.
Theresa MacPhail formou-se pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, uma das mais famosas do mundo. Ela também se tornou escritora e jornalista; acabou de escrever “O Olho Do Vírus”, uma obra de ficção sobre a epidemia de gripe asiática. Segundo ela, sua vida daria um filme emocionante que pouca gente acreditaria. Na verdade, seu pai acaba de morrer – também numa morte acidental. Mas ela acredita que um raio não cai no mesmo lugar quatro vezes – e se recusa a viver com medo.
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