Notas, impressões, informações, dicas, tendências e análises sobre os Estados Unidos a partir de Seattle, na Costa Oeste norte-americana.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
REDONDO
Que Thomas Friedman (para mim, o melhor jornalista que já apareceu por aqui) nos perdoe, mas o mundo, ao contrário de seu best seller de 400 páginas, está deixando de ser plano. Bastou o petróleo chegar a 140 dólares o barril, esvaziando as esperanças de que volte a preços civilizados no futuro, para o fenômeno da globalização ir por água abaixo. A conta é simples: tirando os serviços da indústria da informação, todos os outros produtos - desde bananas a computadores - precisam ser transportados em navios, aviões, caminhões e automóveis. Ou seja, está ficando inviável carregar mercadorias de um ponto A para um ponto B, até que um doido invente um combustível mais barato - e viável - do que a gasolina ou o óleo diesel. Todo mundo está tentando, tem muito blá-blá-blá, mas esta mudança ainda está difícil. Agora, aqui em Seattle, onde há oito anos cerca de 150 mil enfurecidos anti globalizantes transformaram a cidade num campo de guerra durante a reunião da Organização Mundial do Comércio, começa-se a discutir se consumir e produzir localmente é o melhor para o planeta Terra e, assim, para seus habitantes. Hortas caseiras estão florescendo. Empresas de energia estão alugando tetos solares para as residências. Empresas como Zipcar.com estão estimulando o compatilharmento de veículos. Até as vinícolas estampam nos rótulos o orgulho de ter seus vinhos produzidos no Estado de Washington. Na cidade que dita as tendências do mundo a ordem é: consuma menos, localmente, e, de preferência, não deixe rastros na natureza, como o lixo doméstico. O problema é que o mundo, e particularmente os Estados Unidos, ficou tão encantado com a globalização que esqueceu como são feitos muitos produtos. Ficou famoso o caso de Christina Lampe-Onnerud, que depois de criar uma bateria mais durável e recarregável para computadores, rodou os Estados Unidos à procura de possível fabricantes. Ninguém se interessou. Bastou aterrissar em Shenzhen, na China, para que dezenas de fabricantes, de terno e gravata, munidos de lap tops e powerpoints, fazerem fila de manhã no seu hotel para oferecer serviços, disse ela à revista Business Week. Além da bolha do petróleo, outras mãos invisíveis (ou bastante visíveis) do mercado contribuem para esta corrida anti globalizante. Desde 2002 o dólar caiu 30% em relação às mais importantes moedas, especialmente o yuan chinês. Os salários na China estão subindo à uma taxa de 10 a 15% ao ano. O custo de mandar um container de Xangai a San Diego, nos Estados Unidos, subiu 150%, ou para US$ 5.500, desde 2000. Segundo a CIBC WorldMarkets , de Toronto, se o petróleo chegar a US$ 200, coisa bastante provável, este mesmo container chegaria a US$ 10 mil. Em outras palavras, os Estados Unidos - ou outros países centrais - vão ter de aprender a fabricar tudo que foi terceirizado na China, Vietnã, Japão ou até no Brasil. Quando isto acontecer, todas as brilhantes - e bastante atraentes - teorias sobre o livre mercado terão de ser refeitas, reescritas, repensadas.Como a história da humanidade é a história do combustível que roda a humanidade, um barril de petróleo a US$ 200 pode mudar todas as nossas concepções sobre o mundo. Sem torrar óleo diesel e gasolina, e assim proteger o ar que respiramos, um petróleo a este preço pode ser uma oportunidade para que, globalizados ou não, iniciarmos a construção de um mundo melhor.
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