sexta-feira, 17 de junho de 2011

ELE NÃO ESPERA ACONTECER


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A deliciosa biografia de Jerry Weintraub, um dos maiores executivos do show business americano, é uma aula de negócios na qual se aprende sorrindo.
Ele não espera acontecer

Pedro A.L. Costa | Para o Valor, de Seattle

Um dos agentes mais influentes de Hollywood, Weintraub teve Elvis Presley, Frank Sinatra, Bob Dylan, Led Zepellin, Carpenters e Neil Diamond em sua carteira de clientes
Jerry Weintraub costuma dormir com papel e caneta no criado-mudo. No meio da noite, acorda e anota ideias, por mais loucas que sejam. Em 1969, acordou desejando ser empresário de Elvis Presley, naquele tempo uma espécie de deus cujo papa respondia pelo nome de Coronel Tom Sanders, seu agente. No dia seguinte, ligou para Coronel, falou do seu sonho e levou um sonoro não. No outro, continuou ligando, e assim o faria nos 364 dias seguintes. À véspera do Natal, ligou de novo para o Coronel.
- Você quer mesmo fazer um show com meu rapaz?

- Sim, Coronel, essa é a ideia.

- Venha amanhã no meu hotel em Las Vegas e traga US$ 1 milhão.

Weintraub, judeu do Bronx, Nova York, que, naquela época, vendia o almoço para comprar o jantar, quase desmaiou. Como iria arranjar US$ 1 milhão em menos de 24 horas? Começou a ligar para todo mundo, aproveitando o fuso horário com a Costa Oeste. Foi ridicularizado por muita gente - afinal, só a sua palavra de iniciante estava valendo -, mas, por sorte, chegou a um fã de Elvis que era dono uma rede de estações de rádio em Seattle, naquele tempo uma esquecida cidade no noroeste americano onde ainda se ganhava dinheiro com rádio. Acabou convencendo o empresário a lhe dar US$ 1 milhão sem mesmo tê-lo conhecido pessoalmente.

No dia seguinte, já em Las Vegas, recebeu o dinheiro numa agência bancária. Quando soube que o dinheiro era para Elvis, o gerente tentou entrar na empreitada, como contador, mas também levou um não. Weintraub levantou-se, pôs o cheque de US$ 1 milhão no bolso do colete, pegou um táxi para o hotel, entregou o dinheiro ao Coronel, que, ainda incrédulo, passou seu protegido, Elvis Aron Presley, às mãos de Weintraub.

Naquele momento, começaria uma das mais lucrativas histórias de negócios dos Estados Unidos: a volta do Imortal ao circuito de shows, depois de quase naufragar no ostracismo num mar de barbitúricos. Elvis ficou mais rico, o Coronel ficou mais rico e Weintraub viu a cor do seu primeiro milhão de dólares.

Embora truculento, grosseiro, cara de mafioso, mas impecavelmente bem-vestido, Weintraub é adorado entre os artistas

A notícia do renascimento de Elvis estourou nos Estados Unidos. Com o sucesso do Imortal, outro Imortal, Frank Sinatra ("por favor, me chame de Francis", disse ele) convocou Weintraub para ser seu agente. Foram programados dezenas de shows nos Estados Unidos, casa cheia o tempo todo, até um dia em que Sinatra falou que não mais faria shows, simplesmente porque não tinha paciência de cantar "My Way" ou "Flying to the Moon" todas as noites desde que se entendia por gente.

Weintraub quase caiu de costas quando soube que Sinatra o estava demitindo, mas ali mesmo, entre um Dry Martini e um charuto na mansão do cantor em Bel Air, Los Angeles, começou a improvisar e convencer Sinatra da sua "nova e grande ideia". "Mas qual ideia, Jerry?", indagou.

Sem saber o que fazer ou falar, Weintraub tomou um gole e inventou uma história de Sinatra cantar ao vivo, do alto de um ringue no Madison Square Garden, em Nova York, sem ensaios, para todas as TVs do mundo, naquele tempo uma missão (quase) impossível.

Sinatra, para surpresa de Weintraub, topou, e em oito dias ("os oito dias mais intensos da minha vida") estava cantando para milhões de espectadores de diversos países. Seu único pedido foi que cinco pizzas ficassem à sua disposição no jatinho que o levaria de volta à Costa Oeste.

Hoje, embora já na terceira idade, Weintraub é um dos mais glorificados agentes artísticos dos Estados Unidos. Além de Elvis e Sinatra, tinha Bob Dylan, Led Zepellin e John Denver (que ele mesmo descobriu e formou), Carpenters e Neil Diamond na sua carteira de clientes. Além de lançar sua biografia, "When I Stop Talking, You'll Know I'm Dead: Useful Stories from a Persuasive Man", um documentário da PBS (a TV pública americana) chamado "His Way", em contraposição ao sucesso de Sinatra "My Way", bateu recordes de audiência recentemente.

Embora truculento, grosseiro, cara de mafioso, mas impecavelmente bem-vestido, é adorado entre os artistas, especialmente Brad Pitt, George Clooney, Andy Garcia e Matt Damon, seus clientes ("Treze Homens e um Novo Segredo") que toparam dar depoimentos no documentário, filmado a maior parte em sua mansão em Beverly Hills, na Califórnia. Trata-se do primeiro produtor a ter suas mãos gravadas na Hollywood Walk of Fame.

Mas o mais peculiar da história é sua vida amorosa. Um dia, já rico, famoso e casado com a cantora Jane Morgan, 17 anos mais velha, Weintraub se envolveu com uma atriz e convidou-a para fazer sexo em sua mansão. Avisou seu motorista para que avisasse caso sua mulher chegasse. Sem saber como e por quê, sua mulher chegou sem avisar e encontrou Weintraub com outra na cama. Impávida, disse que teria de pagar a ela US$ 1 milhão caso quisesse evitar um dispendioso, problemático e por que não famoso divórcio. Weintraub não só topou o negócio como mais tarde se casaria com uma amiga, Susie Ekins, e manteria sob o mesmo teto duas mulheres, hoje amicíssimas.

Ele adora mulheres, a começar pela sua mãe judia, Rose. Ela adorava Weintraub, Gary Grant e cavalos, nessa ordem. O agente artístico não só a pôs em filmes como figurante quando se tornou um dos maiores produtores executivos dos Estados Unidos ("produzir é resolver problemas"), mas fez que Grant aparecesse à frente dela e a levasse ao Jóquei Clube. Promessa feita, promessa cumprida.

Weintraub nasceu embalado pela sorte: quando foi recusado num clube de golfe por ser judeu, em Kennebunkport, Maine, ficou extremamente chateado e contou o caso a um amigo. Uma hora depois, um tal de George W.H. Bush, naquela época um desconhecido empresário, mas depois presidente dos Estados Unidos, ligou pedindo desculpas. Tornaram-se grandes amigos para o resto da vida. "Quando ia a Washington DC", diz ele, "não ficava hospedado em hotéis: ficava na Casa Branca."

"When I Stop Talking, You'll Know I'm Dead: Useful Stories from a Persuasive Man"

Jerry Weintraub e Rich Cohen. Twelve, 304 págs., US$ 13,99