Quer arrancar US$ 1 bilhão de Rupert Murdoch, o magnata mundial da mídia? Fale com Roger Ailes, o homem mais poderoso dos Estados Unidos, na opinião do presidente Barack Obama. Ailes revolucionou o jornalismo americano com uma fórmula simples: dar voz aos conservadores republicanos, metade da população do país, até então órfãos de uma TV que os representasse.
Em 1996, ainda no comando do canal de finanças CNBC, Ailes foi chorar as pitangas com Murdoch. Ambos, almas gêmeas conservadoras, lamentavam a falta de uma TV que não seguisse a retórica da esquerda democrata, mas que glorificasse o patriotismo, os conservadores, a "verdadeira América" e, acima de tudo, não desse a mínima para a onda do "politicamente correto" que ocupou o país no início da década de 1990. A resposta seria a Fox News.
- Quanto isso vai me custar?, indagou Murdoch.
- De US$ 900 a US$ 1 bilhão..... e você ainda poderá perder tudo, chutou Ailes.
- Pode fazer isso?, replicou.
- Sim.
- Então vá em frente e faça, comandou Murdoch.
Hoje, a Fox News é a sede do império do magnata. Criticada por ser tudo, menos "justa e equilibrada", como diz seu slogan - a audiência da Fox é maior que todos os outros canais a cabo somados. Além da máquina de fazer dinheiro, e de ter ambiente tão hostil para a esquerda quanto Teerã é para os infiéis, o canal é o filho favorito de Ailes, que anualmente ganha US$ 21 milhões (metade em bônus por performance), e recentemente virou tema de biografia do jornalista Zev Chafets, com o título "Off Camera".
Ailes, que já foi comparado pelo concorrente Ted Turner da CNN a Joseph Goebbels, o gênio da propaganda de Adolf Hitler (no caso, Murdoch), não é chegado a jornalistas, embora seja afável no trato pessoal. É o que se chama nos EUA de "operador" político. Baixo, calvo, barriga saliente, é o instrumento dos republicanos para, segundo eles, calar os democratas e trazer de volta a América idealizada pelos "pais fundadores": governo limitado (se possível, sem poder nenhum), império da iniciativa privada, nada de almoço grátis para os pobres (senão eles acostumam), redução drástica dos impostos e todo mundo armado até os dentes, pois os inimigos da América estão na próxima esquina.
Embora homem de bastidores, é herói entre os republicanos. Recuperou Richard Nixon da derrota para John F. Kennedy em 1960 com anúncios que devastaram Michael Dukakis, seu oponente democrata em 1968. Estimulou Ronald Reagan a não dar a mínima para os detalhes e fixar-se nas grandes ideias e, por fim, também ajudou George Bush (pai) a se eleger presidente, também com propaganda devastadora. Ensina os candidatos a bater nos oponentes e, em seguida, alisar o coração da audiência falando de crianças perdidas, aborto, serviços de saúde.
Um de seus melhores conselhos foi na eleição de Reagan. Já estava com 74 anos, tinha lapsos de memória e não conhecia detalhes de muitos assuntos, especialmente os que envolvessem números. Ailes é autor da frase pronunciada por Reagan quanto debatia com Walter Mondale, o candidato democrata bem mais novo: "Não vou fazer da idade um assunto para esta campanha - não vou explorar para fins políticos a juventude e a falta de experiência do meu oponente." Todo mundo riu, inclusive Mondale. Reagan ganhou a eleição e, radicalmente, trouxe de volta a América aos trilhos republicanos.
Para manter seu público cativo, os conservadores, a direita evangélica e os chamados falcões - gente que prefere a guerra à diplomacia -, a Fox News vende o medo: dos terroristas, dos homossexuais, dos estrangeiros, das bombas atômicas (de outros países) e dos liberais. O ataque às Torres Gêmeas foi o gatilho para a Fox revelar a que veio para dominar o mercado. Radicais foram convidados a dar entrevistas, a bandeira americana permaneceu tremulando no canto direito do vídeo, e sinais de "alerta ao terror" graduados por cor foram fixados na tela 24 h por dia. A audiência chega a cerca de 125 milhões de lares americanos num país de 311 milhões de habitantes.
Acima de tudo, Ailes colocou expoentes do jornalismo reacionário no ar, como Bill O'Reilly, leão de chácara que diariamente, às 20h - o horário nobre - caça e ameaça os "inimigos da América", manda os entrevistados se calarem e quase já foi às vias de fato com dezenas. O'Reilly, assim como Ailes e a Fox News, já estão há quase duas décadas no ar e seu sucesso ainda não foi entendido pelo resto da mídia, dominada pelos liberais. Criou-se até um canal para combatê-los, a MSNBC, que tem baixa audiência e faz o mesmo papel da Fox, só do que lado contrário.
A quem o acusa de destruir o jornalismo, Ailes diz que a Fox trouxe de volta a objetividade à profissão: "Não favorecemos os conservadores", diz, "apenas não eliminamos seus pontos de vista".
"Off Camera"
De Zev Chafets. Sentinel Books, 272 págs., US$ 26,95
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