Tão americana feito a calça jeans e os óculos ray-ban, a Coca-Cola, este líquido insípido e inodoro que até hoje ninguém descobriu porque faz tanto sucesso entre mais de 200 países e bilhões de consumidores, voltou nesta semana a fazer a alegria dos acionistas, depois de quase uma década de letargia. Para desespero de seus adoradores, a empresa chegou até a valer menos que a arqui-rival Pepsi. Suas ações, reconhecidas pelas letras KO, foram negociadas na Bolsa de Nova York a US$ 51 cada, elevando o valor da empresa para US$ 119 bilhões, ainda longe (mas um pouco mais perto) do pique daquele 1998, quando chegou a US$ 88. Esta reviravolta, capa da seção de investimentos do The Wall Street Journal, está fazendo revolver o túmulo do cubano- americano Roberto Goizueta, o lendário ex-CEO responsável pelo que a Coca é hoje. O motivo não é a diversificação de bebidas que a Coca mergulhou-se nos últimos anos, com águas engarrafadas, sucos e energizantes, mas sim a velha e querida bebida cinza-preta, embora sem qualquer adição de açúcar (ou nenhuma caloria), a Coke Zero. Introduzida há dois anos, ela é resultado de uma fórmula secreta (também guardada no SunTrust Bank, em Atlanta, Georgia, sede da empresa) que combina vários adoçantes, mas sem aquele gosto que fica grudado na boca. A Coke Zero é a alegria dos diabéticos, dos gordinhos e das beldades que não querem ter os desconfortáveis quilinhos a mais e são fiéis ao sabor original da Coca, inventada em 1885 por John S. Pemberton para curar uma miríade de problemas de saúde, como indigestão, "fraqueza nervosa", dores-de-cabeça e até impotência, embora muita gente também use para desentupir pias ou abrilhantar espetáculos pirotécnicos, como o show de fontes luminosas visto no programa de David Letterman, o Jô Soares magro daqui. Desde que foi lançada a nova bebida já vendeu mais de 100 milhões de caixas (caixa de 24 garrafas é a referência deste setor). Embora a Zero tenha conquistado apenas uma fração do mercado da velha Coca, está sendo considerada pela empresa como "o lançamento de maior sucesso de qualquer marca nos últimos 20 anos". Até para os brasileiros que querem investir em ações nos Estados Unidos (sites como o www.etrade.com estão aceitando investimentos de estrangeiros), a ação da Coca tem futuro. Analistas da Reuters, Standard & Poor's, Rochdale e Sabriet não só recomendam segurá-las agora, mas consideram que seu preço ainda está abaixo do que ela virá a valer. A Coca, que tem US$ 2,3 bilhões em ações nas mãos dos investidores, ressurgiu das cinzas esta semana quando E. Neville Isdell, atual chairman e CEO, revelou os números do primeiro trimestre do ano: um aumento de 14% no rendimento líquido, superando as expectativas de Wall Street pelo décimo-sexto período consecutivo. A exemplo de outras empresas norte-americanas, a estratégia vencedora de Neville tem endereço certo: o mercado externo. Países como China, Rússia, África do Sul, Nigéria e Europa Oriental estão bebendo mais Coca-Coca, enquanto as vendas da Coke Zero estão estourando na França, Holanda, Argentina, Irlanda e, como não poderia deixar de ser, nos Estados Unidos. Aqui, segundo quem acompanha de perto a indústria, as vendas não estão lá estas coisas porque os baby boomers, gente que nasceu depois da Segunda Grande Guerra, estão ficando velhos e optando, ou precisando mesmo, de bebidas mais saudáveis, que não desçam pelo esôfago e caiam como uma bomba no estômago. Em uma conferência on-line para investidores, a gigante de Atlanta, que detém marcas como Sprite, Minute Maid e Dasani, reportou lucros de US$ 1,26 bilhão, ou 54 centavos de dólar por ação. A reação da Coca passa também pelo aumento de sua participação no mercado com o lançamento da Diet Coke Plus, com vitaminas e minerais. Segundo chefe de Operações, Muhtar Kent, a empresa também espera aumentar as vendas de bebidas com base em frutas, chás e cafés depois de ter comprado a Fuze Beverage. A Coca equipara-se à bandeira americana porque é o símbolo da influência dos Estados Unidos nos rincões mais distantes do universo. Pode ser bebida no Himalaia ou na Sibéria, na Terra do Fogo ou nas Ilhas Fiji - invariavelmente com o mesmo e desbotado sabor. É também a melhor representação da capacidade do país de se reinventar e manter a hegemonia de seus produtos em todo o mundo.
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