A não ser pelo homem de Neanderthal, que deve ter vivido e morrido sem abandonar as proximidades da caverna em que nasceu, todos nós somos imigrantes. Nossos antepassados (ou nós mesmos) singraram mares, cruzaram territórios no dorso de mulas ou foram para o aeroporto e pegaram o avião para um novo país, em busca do que todo mundo quer: segurança, dinheiro e felicidade, não necessariamente nesta ordem.
Nos Estados Unidos, o problema é que quem chegou antes – descendentes de ingleses, alemães e holandeses – está achando que os quase 20 milhões de imigrantes ilegais que aportaram aqui nos últimos anos são uma ameaça ao estilo de vida norte-americano e, particularmente, ao inglês como linguagem comum. Esquecem que, como na história do ovo e da galinha, o país só ainda cresce porque tem gente disposta a trabalhar por cinco dólares a hora – o que, em bom economês, significa ganhos de produtividade.
Morar aqui é ter um vizinho de Taiwan, um encanador da Ucrânia, um taxista do Punjabi, uma babá do Camboja, um garçom mexicano e um xerife da Etiópia. Todos tentam falar a língua de Shakespeare com exóticos sotaques, mas, ao mesmo tempo, celebram o Quatro de Julho, Dia da Independência, hasteando a bandeira nas janelas de suas casas. Sem eles, diz o vinicultor Terry Harrison, proprietário da vinícola Steppe Cellars aqui no deserto de Washington, “eu não poderia vender este Chardonnay a menos de 10 dólares a garrafa”.
É com este espírito que o presidente George W. Bush está empurrando goela abaixo dos congressistas novo pacote para os imigrantes, que os legaliza desde que entrem, novamente, mas pela porta da frente: documentados, com dinheiro, dentro dos prazos e trâmites legais. O povo está contra: acha que o pacote, que voltou a renascer semana passada no Congresso, sob o alento do democrata Bob Kennedy, premia quem atravessou ilegalmente a fronteira do Rio Grande fugindo dos coiotes e das milícias.
Bush está com uma batata quente nas mãos. Rodeado por babás e serviçais mexicanos desde a infância no Texas, o presidente sabe da importância imigrantes do México nos Estados Unidos. Iletrados, cheios de filhos que às vezes só falam espanhol e obrigam o sistema educacional público a ser bilíngüe, brotam aqui (já são oito milhões de mexicanos ilegais) para dar uma banana à história e recuperar um território – o sudoeste dos Estados Unidos – tomado deles em diferentes guerras.
Embora a imagem dos Estados Unidos não esteja lá estas coisas hoje em dia, todo mundo quer vir para cá. Por vontade própria ou refugiando-se das guerras ao redor do globo. Só em 2006, o país aceitou mais imigrantes como residentes permanentes do que todos os outros países do mundo combinados. Ao mesmo tempo, mesmo construindo um muro de duas mil milhas na fronteira com o México ou criando programas de trabalhadores temporários, não consegue deter a leva de ilegais que chega a quase um milhão de pessoas por ano.
Receber este povo, que pouco depois que chegam aqui arranjam emprego, casa própria, escola para os filhos e carro na garagem – coisas que muitos deles não tiveram em seus países– gera controvérsia em torno de racismo, etnia, benefícios econômicos, criminalidade, valores morais e até hábitos de trabalho. Programas jornalísticos da TV, como o de Lou Dubbs na CNN, só tratam deste tema, e na maioria das vezes com raiva.
A Califórnia, que tem um governador austríaco, Arnold Schwarzenegger, e um prefeito de Los Angeles descendente de mexicanos, Antonio Villaraigosa, já tem 65% de sua população latina. Um dos candidatos democratas à presidência, Bill Richardson, tem mãe mexicana. Os latinos estão caminhando para se tornar maioria no Texas, Arizona, Flórida e outros estados do Sul. Dados do Censo demonstram que estão invadindo os estados centrais à procura de trabalho que os americanos não querem mais fazer.
Vendo o copo metade cheio, ou invés de metade vazio, como é comum, a forma mais apropriada de enxergar os Estados Unidos não é considerá-lo, como se supõe, um país ameaçado pelos estrangeiros. Ao contrário, seu território virou uma imensa ONU com gente de todo o mundo que celebra, aqui, a antes improvável convivência de praticamente todas as raças da Terra.
A ironia desta história é que justamente esta fusão é que faz a grandeza o país.
Nos Estados Unidos, o problema é que quem chegou antes – descendentes de ingleses, alemães e holandeses – está achando que os quase 20 milhões de imigrantes ilegais que aportaram aqui nos últimos anos são uma ameaça ao estilo de vida norte-americano e, particularmente, ao inglês como linguagem comum. Esquecem que, como na história do ovo e da galinha, o país só ainda cresce porque tem gente disposta a trabalhar por cinco dólares a hora – o que, em bom economês, significa ganhos de produtividade.
Morar aqui é ter um vizinho de Taiwan, um encanador da Ucrânia, um taxista do Punjabi, uma babá do Camboja, um garçom mexicano e um xerife da Etiópia. Todos tentam falar a língua de Shakespeare com exóticos sotaques, mas, ao mesmo tempo, celebram o Quatro de Julho, Dia da Independência, hasteando a bandeira nas janelas de suas casas. Sem eles, diz o vinicultor Terry Harrison, proprietário da vinícola Steppe Cellars aqui no deserto de Washington, “eu não poderia vender este Chardonnay a menos de 10 dólares a garrafa”.
É com este espírito que o presidente George W. Bush está empurrando goela abaixo dos congressistas novo pacote para os imigrantes, que os legaliza desde que entrem, novamente, mas pela porta da frente: documentados, com dinheiro, dentro dos prazos e trâmites legais. O povo está contra: acha que o pacote, que voltou a renascer semana passada no Congresso, sob o alento do democrata Bob Kennedy, premia quem atravessou ilegalmente a fronteira do Rio Grande fugindo dos coiotes e das milícias.
Bush está com uma batata quente nas mãos. Rodeado por babás e serviçais mexicanos desde a infância no Texas, o presidente sabe da importância imigrantes do México nos Estados Unidos. Iletrados, cheios de filhos que às vezes só falam espanhol e obrigam o sistema educacional público a ser bilíngüe, brotam aqui (já são oito milhões de mexicanos ilegais) para dar uma banana à história e recuperar um território – o sudoeste dos Estados Unidos – tomado deles em diferentes guerras.
Embora a imagem dos Estados Unidos não esteja lá estas coisas hoje em dia, todo mundo quer vir para cá. Por vontade própria ou refugiando-se das guerras ao redor do globo. Só em 2006, o país aceitou mais imigrantes como residentes permanentes do que todos os outros países do mundo combinados. Ao mesmo tempo, mesmo construindo um muro de duas mil milhas na fronteira com o México ou criando programas de trabalhadores temporários, não consegue deter a leva de ilegais que chega a quase um milhão de pessoas por ano.
Receber este povo, que pouco depois que chegam aqui arranjam emprego, casa própria, escola para os filhos e carro na garagem – coisas que muitos deles não tiveram em seus países– gera controvérsia em torno de racismo, etnia, benefícios econômicos, criminalidade, valores morais e até hábitos de trabalho. Programas jornalísticos da TV, como o de Lou Dubbs na CNN, só tratam deste tema, e na maioria das vezes com raiva.
A Califórnia, que tem um governador austríaco, Arnold Schwarzenegger, e um prefeito de Los Angeles descendente de mexicanos, Antonio Villaraigosa, já tem 65% de sua população latina. Um dos candidatos democratas à presidência, Bill Richardson, tem mãe mexicana. Os latinos estão caminhando para se tornar maioria no Texas, Arizona, Flórida e outros estados do Sul. Dados do Censo demonstram que estão invadindo os estados centrais à procura de trabalho que os americanos não querem mais fazer.
Vendo o copo metade cheio, ou invés de metade vazio, como é comum, a forma mais apropriada de enxergar os Estados Unidos não é considerá-lo, como se supõe, um país ameaçado pelos estrangeiros. Ao contrário, seu território virou uma imensa ONU com gente de todo o mundo que celebra, aqui, a antes improvável convivência de praticamente todas as raças da Terra.
A ironia desta história é que justamente esta fusão é que faz a grandeza o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário