terça-feira, 28 de agosto de 2007

Advogados de US$ 1 mil a hora

A eleição na semana passada do advogado de Seattle William Neukom como presidente da poderosa American Bar Association, uma espécie de OAB dos Estados Unidos, está sendo vista aqui como o coroamento de uma profissão que, embora cercada de criticismo, está fazendo a fortuna de muita gente e hoje é uma das carreiras mais desejadas no mundo ocidental.
Gravata borboleta e cabelos grisalhos, o novo presidente da ABA, sócio do pai de Bill Gates (
K&L Gates) e filantropo, fez fortuna trabalhando como advogado da Microsoft durante 25 anos. Neste quarto de século, construiu as trincheiras para que a empresa resistisse às acusações de monopólio, plágio ou qualquer destes petardos contra quem lidera (ou monopoliza) o mercado.
Com discurso tranqüilo e infalível de quem está ao lado da lei (vale à pena ver a posse na
internet) Newkom não falou das fortunas que os advogados estão embolsando. Político, criticou as recentes leis que limitam a privacidade dos americanos e a demissão de nove procuradores que não rezavam na mesma cartilha republicana do presidente.
Newkom representa uma associação de mais de 400 mil advogados norte-americanos, a maior de todo o mundo, que, nos últimos tempos, tornou-se (mesmo a contragosto, pois advogado gosta de ser conhecido como homem das leis e não como empresário) óleo da engrenagem capitalista. Aqui, advogado é tão fundamental quanto médico, embora as receitas por vezes não garantam ficar livre do encarceramento e da perda dos bens.
País do litígio, onde a maioria dos filmes termina em julgamento e onde se assina contrato até para serviços de encanador, os Estados Unidos possuem um exército de meio milhão de advogados que brotam do chão ao mínimo sinal de que você, sua empresa ou seu animal de estimação provocou dano em alguém – ou vice-versa.
Aqui não existem rígidos limites impostos pelas ordens dos advogados para o marketing da profissão. As sociedades de advogados investem milhões de dólares em anúncios de 30 segundos em rede nacionais de TV (“você tem alguma doença relacionada com telhas de amianto?) ou em outdoors nas auto-entradas ( “se você se sente lesado em qualquer coisa que seja ligue para 0800-LAWYER”). A própria American Bar Association coloca em seu site
manuais de marketing para advogados.
Boa parte deste exército, no entanto, é composta de soldados rasos – advogados que ganham cerca de US$ 54 por hora, ou em média US$ 113,6 mil por ano, segundo o Department of Labour, o equivalente ao nosso Ministério do Trabalho. Mas se você trabalhar duro, seguir as regras e pagar os impostos, como diz o mantra do capitalismo norte-americano, pode cobrar bem mais.
Na semana passada, por exemplo, foi quebrado um tabu que rondava esta profissão abraçada por 25 dos 43 presidentes norte-americanos até hoje: a hora dos advogados top ultrapassou US$ 1 mil, o que garantiu a primeira página do The Wall Street Journal para uma turma de profissionais relutantes em confirmar as faturas de quatro dígitos. Mesmo a contragosto, pelo menos três sociedades de advogados confirmaram os números:
Simpson Thacher & Barlett, Cadwalader, Wickersham & Taft, e Fried , Frank, Harris, Shriver & Jacobson LLP, as três de Nova York.
Nos Estados Unidos ganhar bem não é motivo de vergonha – pelo contrário, se você ganha bem é porque vale quanto pesa. Mesmo assim, o mais famoso advogado americano, David Boies, da
Boies, Schiller & Flexner LLP, (“a litigation powerhouse”) ponderou: “É um pouco difícil imaginar qualquer pessoa que não salve vidas valer este dinheiro”. Outro advogado novaiorquinho, que preferiu não se identificar, foi mais direto: “nós advogados relutamos muito tempo em ultrapassar a barreira dos mil dólares porque achamos que nossos clientes simplesmente vomitariam”.
Entre os grandes escritórios de advocacia, a hora trabalhada pelos advogados vinha subindo em média de 6 a 7% anualmente desde o ano 2000 até chegar ao máximo de mil dólares atuais, embora às vezes possam ser incluídas “taxas de sucesso” que elevam os rendimentos dos attorneys a níveis estratosféricos.
“Mil dólares por hora tem um significado simbólico”, diz Robert Rosenberg, da
Latham & Watkins LLP. “Como o ano 2000, é apenas um número”. E é mesmo. Quem acompanha a economia americana se assusta com aquisições (ou prejuízos) de dezenas de bilhões de dólares. “Se um jogador de beisebol chega a ganhar 15 mil dólares por hora, é razoável que advogados de renome que resolvem problemas complexos cheguem a ganhar mil dólares por hora”, diz Mike Dillon, advogado da Sun Microsystems.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Como conquistar o investidor americano

Atenção empresários, empreendedores, sonhadores e aventureiros. Mesmo com os mercados financeiros degringolando mundo afora, calcula-se que os Estados Unidos investirão este ano cerca de US$ 60 bilhões em novos negócios ou em projetos que precisam de um empurrãozinho para fazer sucesso.
Desde a bolha da Internet, no fim do século passado, nunca houve tanto dinheiro disponível para fazer um website que vai revolucionar a interação entre as pessoas, uma usina que vai transformar lixo em energia ou um remédio que vai curar os nossos males, entre outras idéias que, por vezes, podem torná-lo bilionário.
Os gringos, como vocês sabem, quando se lembram de nós, nos vêem como uma ilha longínqua e paradisíaca, abatida por violência e corrupção e presidida por um ex-operário.
Quem nos conhece mais de perto nos considera desorganizados, não confiáveis (chegar na hora, terno-e-gravata, planejar com antecedência etc.) e não entendem o português ou muito menos o inglês que pensamos que falamos. Em resumo, têm tolerância zero para desculpas esfarrapadas.
Portanto, antes de conquistar os corações (e os bolsos) dos investidores, aqui vão algumas recomendações para seu projeto brilhar no coração do capitalismo.
- Faça o plano de negócios. O business plan é a bíblia do mundo empresarial americano. Descreva o problema, a solução, o tamanho do mercado, prováveis clientes, a estratégia de vendas, parceiros, o modelo de negócios, os competidores (se não houver competidores é porque o negócio não presta) e quem vai administrar. Depois adicione uma planilha Excel com números que façam sentido (e que impressionem) e, por último, apresente a proposta, de preferência irrecusável. Faça a versão para o inglês, edite de uma forma elegante e revise dezenas de vezes. Um errinho (principalmente de inglês) é fatal. Não se esqueça de fazer um resumo que fisgue o investidor em não mais de 10 minutos (veja gráfico).
- Tenha um representante nos Estados Unidos. Mesmo com o advento do Skype, MSN, videoconferência ou algo que o valha, investidor quer ver o olho de quem ele vai apostar o seu rico dinheirinho. Pode ser uma empresa especializada, um consultor ou até aquele primo de terceiro grau do seu cunhado que se mudou para cá há dez anos, desde que ele (ou ela) fale inglês como português, entenda de números e conheça o estranho palavreado do mundo dos investimentos (uma boa dica é começar pela palavra “equity”). Grande parte dos prováveis negócios entre os dois países falha porque, devido à distância, uma das partes esquece, se desinteressa ou tem preguiça de fazer o follow up. Pague o justo (existem todos os tipos de preços) e, no máximo, ofereça bônus caso o negócio dê certo. Os consultores daqui costumam fazer dos Estados Unidos um bicho de sete cabeças, mas eles estão blefando a maior parte do tempo. Os americanos são como nós, só que fazem o dever de casa.
- O ideal é ter um pé aqui. O melhor dos mundos, no entanto, é que você tenha uma filial aqui que possa servir de interlocutora. Hoje em dia, o investidor não quer apenas depositar o dinheiro na conta, mas sim participar ativamente do processo, colocando a mão na massa ou metendo o bedelho através dos chamados conselhos de administração, ou boards. Como estar longe dos olhos é estar longe do coração, os empreendedores daqui, mesmo que não tenham idéias tão geniais quanto a sua, acabam levando vantagem e comendo o maior pedaço do bolo.
- Em Roma, como os romanos. Notícias sobre corrupção, violência, caos aéreo etc. deixam o investidor americano, que tem medo até da sombra, inseguro. Pode parecer conversa de Polyana, mas eles acham que fazer negócios corretamente não é apenas a melhor maneira de fazer negócios, mas a única forma. Por que aqui, caso você não jogue sob as regras, como eles dizem, há uma grande chance de você ir para a cadeia ou simplesmente ser expulso e nunca mais voltar ao mercado. Portanto, seja transparente. Mostre que você acorda cedo e dorme tarde, que os funcionários estão unidos e entusiasmados e que os clientes estão batendo à porta. Planeje e execute a longuíssimo prazo. Planilhas Excel semanais e coloridas com todos os números do negócio são recomendáveis. Ao contrário de nós, os americanos detestam surpresas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Produtos Chineses? Não, Obrigado

Está certo que um entre cada cinco seres humanos seja chinês, que precisa comer, se vestir, ganhar dinheiro e criar filhos. Mas é injusto que o progresso da China esteja sendo feito à custa da estagnação econômica e social em países pobres como o Brasil, México e outros que também possuem mão de obra iletrada, barata e disponível.
Os Estados Unidos ainda não se mexeram porque boa parte do seu débito, cerca de US$ 4,9 trilhões, está nas mãos dos chineses, que por não possuírem proteção do Estado poupam em média 45% do que ganham. E, também, porque podem rodar a maquininha de fazer dólar e são criativos para criarem novas necessidades e novos empregos, como se viu nos últimos anos com o advento da Internet.
Aqui, no entanto, está fazendo sucesso um livro da jornalista Sara Bongiorni,
A Year Without "Made in China": One Family's True Life Adventure in the Global Economy, relato da experiência de uma família que ficou um ano sem consumir qualquer produto (ou ingrediente, ou peça ou qualquer coisa) chinês. Bongiorni não chegou a passar fome, mas de repente ficou sem cafeteira, sem televisor e sem muitas outras coisas porque simplesmente, como se sabe, a China virou a fábrica do mundo.
Só que esta fábrica está vendendo produtos que podem trazer grandes riscos para a saúde e, até, matar consumidores de pastas de dente, bicicletas, pneus, tiragostos e até comida para animais de estimação. Pelo menos seis agências federais norte-americanas estão lutando para avisar os desavisados (
www.recalls.gov). Além de produtos envenenados , aqui vão outras razões para evitarmos artigos chineses.
- A China é uma ditadura. É mesmo, e das piores. É impossível calcular o número de dissidentes que mofam em suas prisões porque ousaram ser livres. Não há direito de expressão, organização, religião, voto, trabalho etc. É um comunismo hipócrita onde nove entre cada dez milionários são dirigentes da camarilha que se instalou no poder desde Mao Tse Tung. Há fatos que soam bem aos ouvidos de muita gente, como corruptos levando balas na cabeça em estádios (e a família tem de pagar pela bala) mas, para quem viveu sob ditaduras, liberdade (com justiça) é tudo.
- A China destrói a natureza. Segundo a Organização Mundial da Saúde, sete em cada dez cidades mais poluídas do mundo estão na China. Vários estudos estimam que a poluição custe à economia chinesa cerca de 10% do Produto Interno Bruto. Desde 2002, o número de reclamações às autoridades do meio ambiente aumenta 30% ao ano, chegando a 600 mil em 2004. Com uma economia baseada na queima de carvão, há cidades onde é difícil respirar.
- A China utiliza mão de obra escrava. Um empresário de Seattle fabricava artigos aqui pagando mil dólares para o trabalhador norte-americano. Mudou-se para o México nos anos 90 pagando 125 dólares para cada empregado. Agora, paga 25 dólares por mês aos chineses. Está achando caro e por isto está procurando uma forma de se estabelecer no Vietnã. Com esta exploração da mão de obra, Karl Marx deve estar se revirando no túmulo.
- A China é a rainha da pirataria – Chegam a cúmulo de copiar carros, como o Chevy, da General Motors. A principal atração turística de Pequim não é a Cidade Proibida, mas um mercado de quinquilharias chamado Pearl Market, um prédio de seis andares onde se pode comprar todas as “marcas” famosas. O governo se gaba de ter reduzido a pirataria de softwares de 92 para 82%. Está certo que os piratas e contrabandistas, como dizia o finado Roberto Campos, são os heróis do capitalismo, mas sem direitos autorais não há invenções.
- A China é corrupta – Somente em 2006 cerca de 60 mil funcionários do governo foram presos por corrupção. Há pouco tempo, o diretor do FDA chinês, Zheng Xiaoyu, foi executado por aceitar propinas no valor de US$ 850 mil de oito companhias farmacêuticas para aprovar remédios que levaram à morte mais de 10 pessoas. Em 2007 chineses já foram obrigados a fazer recall de vários produtos nos Estados Unidos, especialmente na área de comidas de animais e brinquedos infantis.
É certo que a China está demonstrando ao mundo que os produtos e serviços podem ser feitos ou ofertados por um preço ínfimo, criando um novo paradigma que muita gente chama de leilão reverso. Se países que respeitam as regras do livre mercado não reagirem, a China vai acabar com as possibilidades de sermos, um dia, uma nação desenvolvida – e democrática.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Um mórmon no poder

Rico, bonito, empresário de sucesso, pai e marido exemplar, sem antecedentes criminais (nem multa por velocidade), republicano e mórmon. O ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney, 60 anos, o homem que salvou as Olimpíadas de Salt Lake City em 2002 e fez fortuna com a firma de investimentos Bain Capital, é um dos candidatos mais afluentes entre os republicanos para a sucessão de George Bush – a ponto de ter sido capa de praticamente todas as revistas de negócios desde que o ano começou.
Romney, no entanto, peca por ser mórmon. O país está cansado da mistura entre Igreja e Estado que os neoconservadores encabeçados por Bush promoveram nos últimos anos, a ponto de levarem o país a uma guerra fratricida e sem sentido no Iraque só para satisfazer ao complexo industrial militar. Os mórmons pertencem à religião que mais cresce nos Estados Unidos, embora seja mais conhecida entre outros credos por abrigar entre seus devotos os chamados casamentos múltiplos (um homem, às vezes com dezenas de esposas), especialmente em regiões remotas do país.
Em todos os debates que participa, Mitt é confrontado com perguntas sobre a influência da religião no poder, especialmente na tomada de decisões que apaixonam os Estados Unidos atualmente, como a liberação de fundos federais para a pesquisa de células-tronco, direito ao aborto, casamentos entre homossexuais e outras conquistas (ou atrasos, segundo os neoconservadores) da sociedade norte-americana no fim do século passado. Mitt, como bom político, escorrega-se dos petardos com a firmeza de um quiabo, mas no final do dia, como todos sabem, o que vale é uma boa administração.
É neste ponto que Mitt é fantástico. Ele é uma espécie de SWAT que chega com um time de craques para resolver qualquer problema do mundo dos negócios. Formado por Haward (entre os cinco melhores alunos), cresceu como consultor na Bain & Company, mas desiludiu-se ao notar que seus conselhos não eram seguidos. Propôs, e tornou-se sócio, da Bain Capital, que com apenas US$ 37 milhões para investir fez o sucesso de empresas como Brookstone, Sealy, Domino’s Pizza e Staples, na qual colocou US$ 600 mil e hoje fatura US$ 18 bilhões.
Como este formidável DNA de administrador, Mitt foi chamado às pressas para salvar as Olimpíadas da Inverno de 2002, em Salt Lake City (reduto dos mórmons). Em 1999, durante os preparativos, os jogos estavam a perigo, com escândalos de corrupção e US$ 379 milhões de saldo negativo. O homem chegou, cortou custos, arranjou novos patrocinadores e, ao final da competição (“trabalhar lá era como enfrentar um final de uma copa do mundo 17 vezes em 17 dias”) ainda obteve um lucro de US$ 100 milhões.
Foi o passe para lançar seu nome nacionalmente. Em 1994, já tinha tentado arrancar o democrata Ted Kennedy a quase centenária invencibilidade como senador de Massachusetts, mas foi dizimado como uma saraivada de anúncios na TV afirmando que sua atuação na Bain Capital, comprando e vendendo empresas, levou à demissão de milhares de funcionários (e eleitores). Perdeu a eleição para o Senado, mas foi eleito governador do Estado de 2002 a 2006. Lá, virou a mesa transformando um déficit de US$ 3 bilhões num superávit de US$ 1 bilhão, criou seguro saúde universal que hoje é referência nos Estados Unidos e ainda um arrojado plano para proteger a ecologia. Tornou-se, também, presidente da Associação dos Governadores Republicanos, outra plataforma para chegar à Casa Branca.
Como empresário, o forte do candidato Mitt Romney (apenas 11% de preferência nas pesquisas) é obter dinheiro, mas muito dinheiro para eleger-se presidente dos Estados Unidos. É o candidato republicano que mais arrecadou (US$ 23 milhões), embora não tenha superado a favorita dos democratas, Hillary Clinton, que conseguiu, com o apoio do marido, o ex-presidente Bill Clinton, cerca de US$ 26 milhões. O que mais está surpreendendo os analistas é como Romney está conseguindo levantar dinheiro através de pequenas doações no seu site na internet.
Romney poderia ser católico, protestante, judeu, muçulmano ou ateu, mas o fato de ser mórmon o joga numa zona de incerteza pelo próprio desconhecimento que a maioria das pessoas tem da igreja fundada nos Estados Unidos pelo visionário Joseph Smith em 1830 e que hoje conta com mais de 13 milhões de adeptos só nos Estados Unidos. Como é comum não gostarmos daquilo que não conhecemos, por insegurança ou medo, fica difícil saber o que um mórmon vai fazer na Casa Branca.

Um mórmon no poder

Rico, bonito, empresário de sucesso, pai e marido exemplar, sem antecedentes criminais (nem multa por velocidade), republicano e mórmon. O ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney, 60 anos, o homem que salvou as Olimpíadas de Salt Lake City em 2002 e fez fortuna com a firma de investimentos Bain Capital, é um dos candidatos mais afluentes entre os republicanos para a sucessão de George Bush – a ponto de ter sido capa de praticamente todas as revistas de negócios desde que o ano começou.
Romney, no entanto, peca por ser mórmon. O país está cansado da mistura entre Igreja e Estado que os neoconservadores encabeçados por Bush promoveram nos últimos anos, a ponto de levarem o país a uma guerra fratricida e sem sentido no Iraque só para satisfazer ao complexo industrial militar. Os mórmons pertencem à religião que mais cresce nos Estados Unidos, embora seja mais conhecida entre outros credos por abrigar entre seus devotos os chamados casamentos múltiplos (um homem, às vezes com dezenas de esposas), especialmente em regiões remotas do país.
Em todos os debates que participa, Mitt é confrontado com perguntas sobre a influência da religião no poder, especialmente na tomada de decisões que apaixonam os Estados Unidos atualmente, como a liberação de fundos federais para a pesquisa de células-tronco, direito ao aborto, casamentos entre homossexuais e outras conquistas (ou atrasos, segundo os neoconservadores) da sociedade norte-americana no fim do século passado. Mitt, como bom político, escorrega-se dos petardos com a firmeza de um quiabo, mas no final do dia, como todos sabem, o que vale é uma boa administração.
É neste ponto que Mitt é fantástico. Ele é uma espécie de SWAT que chega com um time de craques para resolver qualquer problema do mundo dos negócios. Formado por Haward (entre os cinco melhores alunos), cresceu como consultor na Bain & Company, mas desiludiu-se ao notar que seus conselhos não eram seguidos. Propôs, e tornou-se sócio, da Bain Capital, que com apenas US$ 37 milhões para investir fez o sucesso de empresas como Brookstone, Sealy, Domino’s Pizza e Staples, na qual colocou US$ 600 mil e hoje fatura US$ 18 bilhões.
Como este formidável DNA de administrador, Mitt foi chamado às pressas para salvar as Olimpíadas da Inverno de 2002, em Salt Lake City (reduto dos mórmons). Em 1999, durante os preparativos, os jogos estavam a perigo, com escândalos de corrupção e US$ 379 milhões de saldo negativo. O homem chegou, cortou custos, arranjou novos patrocinadores e, ao final da competição (“trabalhar lá era como enfrentar um final de uma copa do mundo 17 vezes em 17 dias”) ainda obteve um lucro de US$ 100 milhões.
Foi o passe para lançar seu nome nacionalmente. Em 1994, já tinha tentado arrancar o democrata Ted Kennedy a quase centenária invencibilidade como senador de Massachusetts, mas foi dizimado como uma saraivada de anúncios na TV afirmando que sua atuação na Bain Capital, comprando e vendendo empresas, levou à demissão de milhares de funcionários (e eleitores). Perdeu a eleição para o Senado, mas foi eleito governador do Estado de 2002 a 2006. Lá, virou a mesa transformando um déficit de US$ 3 bilhões num superávit de US$ 1 bilhão, criou seguro saúde universal que hoje é referência nos Estados Unidos e ainda um arrojado plano para proteger a ecologia. Tornou-se, também, presidente da Associação dos Governadores Republicanos, outra plataforma para chegar à Casa Branca.
Como empresário, o forte do candidato Mitt Romney (apenas 11% de preferência nas pesquisas) é obter dinheiro, mas muito dinheiro para eleger-se presidente dos Estados Unidos. É o candidato republicano que mais arrecadou (US$ 23 milhões), embora não tenha superado a favorita dos democratas, Hillary Clinton, que conseguiu, com o apoio do marido, o ex-presidente Bill Clinton, cerca de US$ 26 milhões. O que mais está surpreendendo os analistas é como Romney está conseguindo levantar dinheiro através de pequenas doações no seu site na internet.
Romney poderia ser católico, protestante, judeu, muçulmano ou ateu, mas o fato de ser mórmon o joga numa zona de incerteza pelo próprio desconhecimento que a maioria das pessoas tem da igreja fundada nos Estados Unidos pelo visionário Joseph Smith em 1830 e que hoje conta com mais de 13 milhões de adeptos só nos Estados Unidos. Como é comum não gostarmos daquilo que não conhecemos, por insegurança ou medo, fica difícil saber o que um mórmon vai fazer na Casa Branca.