segunda-feira, 28 de abril de 2008

Esta Marx não previu

Seattle - Todo mundo pensa que os Estados Unidos, que mandam no mundo, são controlados pelas corporações. Pouca gente lembra, no entanto, que a maioria das corporações é propriedade de milhões de americanos que compram ações, participam de fundos de investimento, jogam na bolsa ou simplesmente contribuem para o famoso IRA, acrônimo para Individual Retirement Account, a aposentadoria do setor privado abençoada pelo Governo. Exemplo? As empresas petrolíferas norte-americanas são controladas por cerca de 100 milhões de americanos, que ganham em média US$ 70 mil por ano. Como podemos chamar este fenômeno? Capitalismo socialista? Socialismo do capitalismo? Marx, socorro!!!.

sábado, 26 de abril de 2008

Universidade de Washington cria Centro de Estudos Brasileiros

           Seattle – A Jackson School of International Studies, da Universidade de Washington, anunciou ontem a criação de seu Centro de Estudos Brasileiros. O centro, que pretende ser a melhor e mais completa instituição do gênero em todo os Estados Unidos, será o elo que reunirá a cultura, a iniciativa privada e a mídia brasileira em toda a Costa Oeste norte-americana, desde a Califórnia até o Estado de Washington. Além da própria reitoria da Universidade, Fiesp, Boeing, Microsoft e Starbucks – as maiores empresas da região - estão entre os primeiros apoiadores da iniciativa.

Através da oficialização, o Centro já pode receber doações dedutíveis do imposto de renda de empresas, governos, associações e outras instituições, tanto brasileiras e norte-americanas. “O Centro nasce da necessidade de aumentarmos o entendimento do Brasil na região, a fim de que os empresários, formadores de opinião e outros líderes se dêem conta das potencialidades culturais e econômicas de uma das maiores potências mundiais, o Brasil”, disse o professor Jonathan Warren, um dos fundadores.

O Centro foi criado depois da visita da missão brasileira da Fiesp à Costa Oeste dos Estados Unidos, em outubro do ano passado, liderada pelo empresário Roberto Giannetti da Fonseca. “Os Estados Unidos são os maiores parceiros comerciais do Brasil, mas as possibilidades desta região estão sendo pouquíssimo exploradas pelos empresários brasileiros”, diz ele. “Daí a razão de criarmos um Centro que, mais do que cultura e educação, provenha informações negociais para os empresários brasileiros a partir de Seattle”.

Depois da oficialização, representantes do Comitê Organizador do Centro receberão na semana que vem um plano de negócios, as propostas de nomes para a criação do conselho diretor e as necessidades iniciais de fundos, calculadas entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão. Os recursos virão de empresas apoiadoras, do governo do Estado de Washington e ainda de programas federais de incentivos ao comércio externo norte-americano, bem como de empresas e instituições brasileiras que desejam fazer ou aumentar seus negócios na Costa Oeste dos Estados Unidos.

A instituição já conta com uma sala e computadores na Jackson School da Universidade de Washington, bem como com o trabalho integral de coordenador, o economista Jay Freistadt, especialista em economia brasileira. O desenvolvimento dos trabalhos já pode ser visto no site http://jsis.washington.edu/brazil/about.shtml.  Dois dos primeiros projetos, o envio de estagiários norte-americanos para empresas brasileiras, bem como um curso virtual para a formação de empreendedores, já estão em andamento.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Os gringos estão ficando verdes


            Seattle – Ao longo da sua existência, os Estados Unidos caíram, levantaram e sacudiram a poeira dezenas de vezes, transformando-se não só no país do futuro, mas no país que inventa o futuro. Agora que a gasolina beira os quatro dólares, o que faz o americano tirar do bolso às vezes mais de 100 dólares para encher o tanque, a nação responsável por quase metade do PIB da Terra – e por isto mesmo a maior poluidora do mundo – mobiliza-se para reduzir o seu rastro de destruição na natureza.

            A edição do The New York Times Magazine da semana passada, chamada de Low Carbon Catalog, numa alusão às dietas de baixa caloria, traz quase uma centena de lucrativas inovações verdes made-in-America. A melhor delas? Três empresas californianas que estão alugando caros e super-eficientes (US$ 40 mil em média por casa) painéis solares que podem ser instalados nas residências sem a ajuda de técnicos. O modelo de negócio é comparado ao que aconteceu com o setor de telefones celulares, cujos proprietários hoje “não precisam pagar 10 mil dólares pelo aparelho, ou mesmo construir, manter e reparar a rede de telecomunicações”.

            O país hoje funciona à base de um termômetro chamado preço de petróleo. Quanto mais sob o preço do barril (já chegou a mais de 120 dólares), mais a corrida verde se intensifica. No melhor estilo “a necessidade é a mãe da inovação”, dezenas de venture capitalists que ganharam as burras na virada do século hoje investem em carros que fazem 300 milhas com um galão de gasolina, ou em academias de ginástica que literalmente tiram energia dos próprios atletas que utilizam as bicicletas ergométricas gerando iluminação ou calefação.

            O mais interessante, no entanto, são as iniciativas do poder público. Reynolds, uma sonolenta cidade de Indiana, estava destinada a sumir do mapa, mas descobriu que poderia aproveitar a energia do cocô de mais de 150 mil porcos criados num raio de 15 milhas do centro do município. Com a ajuda da empresa Biotown, foram investidos cerca de 15 milhões num digestor que hoje provê metano, gás sintético e biodiesel. Em outras palavras, toda a energia que a cidade precisa vem da “porcaria”, gerando empregos e atraindo empresas.

            Pode-se duvidar da viabilidade dos milhares de projetos verdes que nascem em todas as direções no país da inovação, mas quando se vê os grandes se mexerem a coisa muda de figura. Acredita-se, por exemplo, que o mercado de troca de carbono, no qual muita gente já está ganhando dinheiro, vá chegar a US$ 1 trilhão daqui a poucos anos. Daí a razão de bancos de investimento, empresas de energia, e até os chamados fundos de hedge, nomes de peso como GE, Goldman Sachs. JP Morgan e Chase, estarem lutando por este mercado.

            Após entrarem numa guerra fratricida, exportarem empregos para países de mão-de-obra barata, passarem pelo furacão do governo George W. Bush, ainda ameaçados pelo poderia chinês, os Estados Unidos olharam para os lados de descobriram que, através do verde, tentarão de todas as formas se manterem como a maior potência mundial. 

sexta-feira, 11 de abril de 2008

VOANDO COM RICHARD BRANSON

San Francisco – Sou um dos felizes passageiros (poltrona 23B) da mais nova (e surpreendente) companhia aérea norte-americana, a Virgin America, que acaba de inaugurar o vôo entre Seattle e San Francisco, sobrevoando a maravilhosa Costa Oeste dos Estados Unidos.  Seu dono, o bilionário britânico Richard Branson, um louco que semana passada deu entrevista sentado na privada de sua mansão numa ilha do Pacífico, não estava à bordo – mas tudo aqui em cima, como de resto em todos os seus negócios, faz lembrar o homem que, por onde passou, revolucionou o mundo empresarial.

            Para começar, Sir Branson, hoje o 236º  homem mais rico do mundo, com quase US$ 7,9 bilhões no bolso, criou uma linha aérea num país onde é vetada aos estrangeiros a propriedade de linhas aéreas. Enfrentou reguladores, bateu de frente com os sindicatos, defendeu-se do lobby das concorrentes, criou uma intrincada estrutura societária, ganhou o apoio do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, e... pimba: eis que a Virgin America está competindo com a Delta, America, Jet Blue, United e está ganhando. Por quê? A razão é simples: com o capitalismo de cabeça para baixo, não existem mais monstros sagrados. “Qualquer um pode colocar um avião no ar”,  reflete Samantha, a aeromoça da Virgin, “o que faz a diferença é oferecer um serviço melhor, mais bonito e barato”

            Os aviões Airbus 320 da Virgin têm asas pintadas com a bandeira americana (suprema humilhação para os gringos), os pilotos se vestem de preto e as aeromoças, de vermelho, são prá lá de charmosas. As luzes da cabine lembram as luminárias roxas e azuis das discotecas da década de 70, mas causam uma incrível sensação de paz e conforto. O sistema de som é tão bom que dá para entender o inglês do piloto. As poltronas são de couro e há espaço para as pernas e para os cotovelos. As mesinhas de trás das cadeiras são de acrílico, possuem um compartimento só para copos e têm espaço suficiente para um laptop (com tomada e tudo) e o pratinho de tira-gostos.

            Mas o surpreendente mesmo é a TV. Existem canais ao vivo para todos os gostos (pelo menos 25 filmes), ao lado de um detalhado mapa fornecido pela Google (via satélite), trezentas músicas em MP3, e um sistema de compras onde você insere o cartão de crédito (e de débito) e a aeromoça parece adivinhar seu pedido segundos depois. Ali, você pode escolher uma formidável seleção de vinhos, comidas exóticas de vários países, refrigerantes para os abstêmios, snacks, doces, chicles e muita coisa mais. De graça, só água. Por isto uma passagem entre Seattle e San Francisco custa somente cerca de 200 dólares.

            A aviação, como se diz aqui, é o negócio mais sexy já inventado pelo homem, mas não se sabe porque é tão mal administrada, complicada e cheia de coisas sem sentido, congestionando aeroportos, cometendo erros grosseiros, gerando prejuízos em série e torturando a vida daqueles que ainda não tiveram sorte de ir de business ou de primeira classe. Branson, que ficou rico vendendo discos de vinil na década de 70, sabe disto e não se conformou. Invadiu o país na inovação com um serviço inovador, metade marketing metade eficiência, que ainda vai dar muito trabalho para quem está sentado nos louros.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O BRASIL QUE COMPRAR A AMÉRICA (A COMEÇAR PELOS BRASILEIROS)

Seattle – Sabe-se que desde que Carmem Miranda, a pequena notável, aportou em Hollywood, os brasileiros tentam ganhar a América. Muita gente se deu bem, outros nem tanto, mas todos têm a certeza de que, por pior que seja os Estados Unidos, aqui existem inigualáveis condições para que você trabalhe, ganhe dinheiro, compre uma casa no subúrbio, um carrão na garagem e, o principal, proporcione aos filhos educação.

            A novidade é que esta população de quase 1,2 milhões de habitantes está sendo alvo, agora, da cobiça de empresas brasileiras. Instituições financeiras, como o Banco do Brasil, fizeram pesquisas para conhecer os brazucas. Resultado: criaram um banco só para esta população. A Brex  estudou também onde eles estão aqui e vende Bis, guaraná e outras delícias no chamado mercado étnico. A exemplo de outros países, que estão se aproveitando do dólar baixo e a crise financeira deste império de 14 trilhões de dólares de PIB, o Brasil também está comprando os Estados Unidos, a começar pelos brasileiros.

            A Embaixada aqui, como toda a rede de consulados, já detecta uma elevação da renda deles, bem como uma melhora na auto-estima, mesmo entre os "indocumentados, um eufemismo diplomático para os ilegais (afinal, eles não violaram lei brasileira alguma). Os brazucas não chegam apenas fugindo dos coiotes no deserto do Arizona, mas aportam com visto de entrada, cabeça erguida, para estudar ou trabalhar, e depois vão ficando. Se a imigração pega, não deixam nem recuperar a escova de dentes. Ficam até três meses detidos e depois são expelidos para o Brasil, com passagem paga pelo governo americano.

            Não existem mais pólos migratórios tradicionais, como Governador Valadares na região de Boston. Agora chega gente de Rondônia e Paraná (Ohio) Goiás (Seattle),  e Vale do Paraíba (Utah). A maioria é gente jovem, bem disposta (a quase tudo), sem curso universitário, que enchem as construções, os restaurantes, os salões de beleza, os serviços de acompanhantes ou a velha e tradicional faxina caseira (uma faxina boa mesmo está custando US$ 300,00 por dia). O mais interessante é que, quanto mais ilegal, maior é a vontade de ter filhos. É uma forma dizer “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.

            O maior interesse do empresário brasileiro é nas remessas para o Brasil. Outro interesse é no poder empreendedor dos brazucas aqui, que fluentes na língua e adequados à realidade norte-americana, servem de ponte para as empresas brasileiras expandirem negócios. Outro ainda é o mercado com o belo poder aquisitivo que eles representam.  Se ganham pelo menos R$ 4 mil mensais, já estão chegando perto da classe A/B brasileira. Já imaginou isto multiplicado por quase 1,2 milhão de habitantes?

            Por isto é torna-se necessária uma pesquisa sobre os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos. Estes dados são preciosos, não só em termos de políticas públicas, através da Embaixada e de outras redes de apoio, mas também para ganhar dinheiro, a saudável prática onde os americanos são imbatíveis.

            Os jornais dizem que muita gente está voltando para o Brasil, desesperançada com a queda do dólar e as condições aqui. Mas sabe-se que os brasileiros ainda chegam aos borbotões, comprando a Direct TV para assistir a Rede Globo, mandando Skypes 24 horas por dia, fazendo churrasco e batucada domingo e, mais do que tudo, sentindo saudades do melhor país do mundo.

 

quarta-feira, 2 de abril de 2008

ENSINANDO A PESCAR

Seattle – Para o bilionário Ewing Marion Kauffman, morto em 1993 depois de fazer fortuna com a empresa que hoje faz parte do conglomerado farmacêutico Aventis, dar dinheiro para os necessitados assemelha-se, na maioria das vezes e infelizmente, a enxugar gelo. Antes de partir para o outro mundo depois de uma vida de sucesso em Kansas City, Missouri, fundou a Kauffman Foundation, que hoje não só patrocina os principais programas da PBS, a TV pública americana, como também distribui milhões de dólares para uma raça diferente que habita o planeta, os empreendedores.

            A Kauffman Fountation, com seus US$ 2 bilhões de dólares (hoje a 30a maior fundação nos Estados Unidos) mergulha profundamente nas origens, na realidade e nas tendências do empreendorismo norte-americano. Na semana passada, lançou o resultado de uma pesquisa que abrangeu cerca de cinco mil empreendedores nos Estados Unidos desde 2004. A conclusão, como era de se esperar, é que não existem negócios sem, parafraseando o ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill, “sangue, suor e lágrimas”, mas as recompensas são inigualáveis, para o bem (quando dá certo), ou para o mal (quando dá errado, como na maior parte das vezes).

            Além da maioria dos novos empresários não contar com a ajuda de nenhum empregado no primeiro ano, pelo menos um terço deles chega ao Natal sem faturar absolutamente nada. A metade consegue faturar algum, mas não mais do que US$ 100 mil nos 12 primeiros meses. O interessante, no entanto, é que pouca gente cria um negócio do nada. Cerca de 80% dos entrevistados investiram dinheiro do próprio bolso ou receberam financiamento no primeiro ano. Perto de 10% investiram cerca de US$ 100 mil, enquanto o restante nem isto. Cerca de 30% destes “loucos” começou a aventura com menos de US$ 5 mil.

            O dado que mais chama a atenção na pesquisa é como o empreendorismo ainda é coisa de macho , branco e anglo-saxão. Eles formam 70% da base de novos empreendedores aqui. Os negros são responsáveis por apenas 9% dos novos negócios, os asiáticos 4%, enquanto o restante é formado por índios (native americans), habitantes das ilhas do Pacífico e outros grupos étnicos. Só 6.6% dos novos negócios são iniciados por gente como nós, os latinos.

            Ao contrário da crença comum, de que a maioria dos empreendedores são como espermatozóides que morrem antes de chegar à praia, somente 9% das empresas abarcadas nas pesquisas fecharam as portas antes do primeiro ano. Entre os homens empreendedores a taxa de sucesso é de 92%, enquanto a de mulheres empreendedoras a taxa é de 89%.

            Seja como for, estes cinco mil entrevistados eram gente comum, que vivia atrás de uma mesa de um escritório qualquer, fazendo a riqueza de outro patrão qualquer, esperando um aumento qualquer ou uma aposentadoria qualquer. Levantaram da cadeira, rasparam as economias e se lançaram neste mundo fantástico, onde não existe dia igual ao outro, onde você e seus fantasmas são colocados à prova 24 horas por dia, sete dias por semana. Quando adolescente, disse ao meu pai que queria ser jornalista. E ele, empreendedor de sucesso, respondeu: “Mas por que você não se torna dono de um jornal?”.

*Dirige a The Information Company nos Estados Unidos (pedro@theinformationcompany.net)