terça-feira, 17 de abril de 2007

Não é Deus, mas está quase lá

Não existe marca mais poderosa no mundo do que a presidência dos Estados Unidos. Embora o ex-presidente Bill Clinton comparasse o cargo a um cemitério (“você dá ordens e ninguém ouve”), comandar o país mais poderoso do mundo significa ter influência sobre o destino de bilhões de pessoas, o meio ambiente, a economia global e o futuro do mundo. O presidente não é um Deus, como Antônio Carlos Magalhães na Bahia, mas está quase lá.
Esta marca é tratada com imenso carinho e referência pelos americanos, não importa quem esteja no cargo. O que pouca gente leva em conta é que, por trás deste culto à Presidência, existe um fantástico sistema de marketing que só o dinheiro e o poder podem comprar, uma verdadeira máquina de propaganda descrita no livro “All The President’s Spin”, recém-lançado nos Estados Unidos.
O presidente não dá um passo, não aparece em público ou fala uma frase sequer sem o apoio de um exército de assessores de imprensa, pesquisadores de opinião, assessores políticos, gente de cerimonial e seguranças, o chamado Serviço Secreto.
Mas a história parece ser ingrata. Por mais que tentem mudar o mundo quando estão no poder, quando deixam o cargo são lembrados apenas por frases que disseram, sejam boas ou más. Como Kennedy, (“não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país”), Nixon (“eu não sou um escroque”), Reagan (“derrubem o Muro de Berlim”) ou Clinton (“nunca tive relações sexuais com esta senhora”) referindo-se à estagiária Monica Lewinsky.
O presidente ganha US$ 400 mil por ano, com todas as despesas pagas. É o salário mais alto de um funcionário público nos Estados Unidos. É um trabalho difícil, arriscado (até hoje quatro presidentes já foram assassinados, quatro morreram durante o mandato de causas naturais, um renunciou e dois sofreram processos de impeachment) e estressante. O nível de pressão a que é submetido um presidente pode ser visualizado ano a ano pelos fotos publicadas nos jornais.
Para ser eleito, o candidato precisa ter nascido nos Estados Unidos (o que impediria uma eventual eleição de Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia) e ter mais de 35 anos. As mordomias incluem morar num endereço exclusivo de Washington e glamurosos deslocamentos. Não há nada que signifique mais poder do que voar no Air Force One (um Jumbo 747 de onde pode exerce a Presidência de qualquer ponto da Terra) ou no Marine One (um super-helicóptero).
Mas como o ex-presidente Fernando Henrique gosta de lembrar, bom mesmo é ser ex-presidente. Jimmy Carter (81 anos) já ganhou o Prêmio Nobel da Paz, escreveu 12 livros e dirige uma bem-sucedida fundação de direitos humanos. Gerald Ford (92), um antigo jogador de futebol americano e único presidente até hoje não eleito (foi indicado pelo Congresso com a renúncia do vice-presidente de Nixon), joga golfe diariamente. George Bush, o pai, é o que mais viaja. Gastou US$ 54 mil em passagens de primeira classe no ano passado – todo ex-presidente tem direito, também, a US$ 96 mil por ano para pagar assessores.
Bill Clinton é o que mais gasta. O Governo paga US$ 460 mil de aluguel da sua mansão perto de Nova York, US$ 54 mil de contas telefônicas e US$ 146 mil na rubrica e “outras despesas”. O que ele ganha com conferências dá inveja em Fernando Henrique (ambos têm os mesmos agentes): US$ 850 mil por ano, fora o adiantamento de US$ 10 milhões para escrever sua biografia publicada no ano passado, talvez o livro mais chato que já existiu sobre a face da Terra.
Mas uma das histórias mais fantásticas da vida pós-presidência é de Theodore Roosevelt, que construiu o Canal do Panamá. Depois de deixar a Casa Branca, fez sucesso escrevendo livros e aventurou-se numa expedição à Amazônia onde descobriu um rio chamado de, coincidentemente, Roosevelt. Tentou eleger-se novamente, era o candidato favorito, mas morreu pouco antes da eleição. Uma história parecida comum caso de um recente presidente brasileiro que iria inaugurar um novo período democrático no País.

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