segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A espiã traída pela Casa Branca

Depois de tomar café com os filhos, na manhã de 14 de julho de 2003 num subúrbio de Washington, a agente da CIA Valerie Plame Wilson lia o Washington Post quando levou o maior susto da sua vida. Um dos mais famosos colunistas da capital americana, o conservador Robert Novak, revelava que a espiã, há 18 anos trabalhando na agência, era a mulher do ex-embaixador Joseph C. Wilson IV.
Wilson, ex-diplomata com cara de galã, tinha chegado da África e revelado no New York Times que o enriquecimento de urânio em Níger para servir aos propósitos bélicos do ditador do Iraque, Saddam Hussein - principal razão alegada por George Bush para invadir o país - não passava de lorota.
Revelar a identidade de um agente secreto, segundo a lei americana, é crime que prevê multa de US$ 50 mil e 10 anos de cadeia. A agente deduziu que, a partir dali, seus filhos, seu marido e a sua rede de relações estavam em perigo. Tornavam-se alvos da Al Qaeda e de Osama bin Laden.
Até domingo passado, cinco anos depois, Valerie - uma loira estonteante nascida no Alasca em 1963 que poderia ser a versão feminina do 007 James Bond, filha e irmã de militares - foi obrigada, por força do cargo, a ficar calada. Qualquer manifestação poderia aguçar a ira da própria CIA.
A agente secreta, treinada para ser submetida a interrogatórios com torturas físicas e psicológicas, escolheu Katie Couric, do 60 Minutes, da CBS, para botar a boca no trombone. Mas o que se esperava ser uma cartada para desmascarar Bush virou blefe, conversa de madames em rede nacional.
Ela acabou de lançar sua biografia, Jogo justo - Minha vida como espiã, traída pela Casa Branca (Simon & Shuster), numa alusão ao ex-assessor político de Bush, Karl Rove, que considerou a revelação de sua identidade um jogo justo de retaliação contra seu marido.
Metade do livro foi rabiscada pelos seus ex-chefes, a pretexto de proteger a segurança nacional. E, assim, pela primeira vez na história, um livro de US$ 26 dólares foi publicado pela metade, o que gerou uma ação judicial contra a CIA. Numa entrevista do tipo "de mulher para mulher", Valerie revelou o que é ter uma vida tranqüila - mesmo como agente, trabalhava só meio expediente para cuidar dos filhos - e ser devassada para justificar uma guerra que ceifou a vida de 4 mil americanos e provocou gastos de quase US$ 1 trilhão.
A revelação da identidade de Valerie gerou pressões do Poder Judiciário, que quis saber de onde saiu a informação publicada nos jornais, traindo um preceito em voga desde que a imprensa existe: o direito de não revelar as fontes.
Robert Novak, que deu o furo no Washington Post, fez acordo com a Justiça e livrou-se da cadeia para não ter que revelar quem falou. Judith Miller, do NYT, passou 85 dias no xadrez por se recusar a fazer o mesmo. Os patrões dos jornalistas gastaram pelo menos US$ 5 milhões com advogados.
A exemplo do Watergate, revelou-se que a fonte da informação era a Casa Branca, do gabinete do vice-presidente Dick Cheney. Para proteger a instituição da Presidência, o assessor I.ewis "Scooter" Libby, pagou o pato.
Foi condenado a multa de US$ 250 mil e 30 meses de prisão, comutada pelo presidente Bush, em julho deste ano. Valerie, que se mudou para o Novo México, aposentou-se da CIA e hoje vive para o marido - que se tornou consultor internacional - e os filhos.
A maior vítima foi a verdade. Como não foi comprovado que Sadam tinha armas de destruição em massa em seu quintal, ou qualquer relação com o Al Qaeda, Bush e Cheney estão devendo explicação para a guerra, mais longa que a Segunda Guerra Mundial, e no meio de facções que duelam há séculos.

Brasil, atrção na terra de Clinton e Sam Walton

Distante, despovoado e empoeirado dos filmes de cowboy, o Estado de Arkansas, ao sul do rio Mississipi, no coração do chamado cinturão bíblico dos Estados Unidos, sempre foi conhecido como o reino dos frangos, porcos e bois por ser, há muitos anos, o maior fabricante de proteína animal no mundo.
Há um pouco mais duas décadas, no entanto, o Estado ganhou celebridade por abrigar a maior empresa mundial, o Wal Mart, criado por Sam Walton, de Bentonwille, e William Jefferson "Bill" Clinton, o 42º presidente norte-americano, da cidade de Hope. Clinton está tão onipresente no Arkansas quanto sua mulher, Hillary, está na liderança das pesquisas de opinião para a sucessão de George W. Bush.
O que pouca gente sabe é que o Brasil é a maior estrela no radar de negócios do Arkansas. Sentado em bilhões de dólares dos Rockfeller, que se mudaram para cá no século passado, ou na riqueza trazida por empresas como a Tyson Foods, processadora de carnes, ou da transportadora de caminhões J. B. Hunt, ambas gigantes globais, governo, universidade e a iniciativa privada se uniram para conquistar o Brasil.
Por quê? A primeira resposta é o etanol, mas a partir daí as possibilidades são infindáveis. “Por sermos uns dos estados mais centrais dos Estados Unidos, termos um eficiente sistema de transporte e estarmos próximos aos portos de Houston, no Texas, e Nova Orleans, na Louisiana, nos consideramos candidatos naturais para receber e distribuir o notável combustível brasileiro”, diz John Kadyszewski, da Winrock International, uma fundação mantida pelos Rockfeller e sediada no Estado.
Aqui vão algumas oportunidades para as empresas brasileiras no Arkansas (pronuncia-se arcanssá, com o “r” bem puxado, e significa na linguagem indígena “povo do rio abaixo”):
- Aeronáutica – O estado tem fábricas da francesa Dassault Falcon Jet e das americanas Lockheed Martin e Raytheon. A ênfase é na finalização da produção de aviões. Para quem produz ou transforma peças para a indústria aeroespacial, como o cluster de São José dos Campos ao redor da brasileira Embraer, é uma excelente oportunidade para diversificar o portfólio de clientes.
- Logística – Com 100 aeroportos, 26 ferrovias e recentes investimentos de US$ 1 bilhão em suas estradas, Arkansas não só tem as duas maiores empresas transportadoras do mundo, como a J. B. Hunt, mas também 2,4 mil quilômetros de rios que levam aos principais portos norte-americanos. Para o pessoal de logística no Brasil, um lugar na metade do caminho entre o México e o Canadá, ou entre as Carolinas e a Califórnia, é um paraíso ainda a ser explorado.
- Educação - Energizada como doações de bilhões de dólares dos acionistas da Wal Mart e da Tyson Foods, a Universidade do Arkansas é líder em setores tão díspares quanto realidade virtual e nanotecnologia. Com anuidades que não passam de US$ 5 mil dólares, ínfimas se comparadas a outras instituições norte-americanas, a instituição quer atrair suas congêneres brasileiras com programas de intercâmbio de estudantes e professores. Uma das grandes atrações da Universidade é o Clinton School of Public Service, que oferece MBA para líderes que queiram fazer o bem.
- Wal Mart – A maior empresa do mundo, com 1,9 de funcionários, vendas de US$ 349 bilhões e presente em 14 países, é um país em si. Tornar-se fornecedor do Wal Mart, embora tenha de se passar pelo calvário das negociações ditadas pelo mantra “economizando para os clientes, e assim melhorando suas vidas”, é um passaporte para o sucesso. Só nos arredores de Bentonville, cerca de 12.500 fornecedores disputam os espaços para ficar mais perto da maior compradora de produtos do mundo.
- Biotecnologia – Criada por incubar empresas de biotecnologia com o dinheiro das patentes científicas, a Bioventures já tem no currículo sucessos das descobertas no tratamento do mieloma (câncer no plasma sanguíneo), prolongamento da vida de pacientes com câncer, recuperação de tecidos e outras maravilhas da genética. Já criou 19 empresas e detém hoje 165 patentes.
“O Brasil é candidato natural a ser um dos nossos grandes parceiros”, diz W. Dan Hendrix, CEO do World Trade Center de Arkansas, o centro de uma máquina unida, abastada e eficiente que trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, para atrair investimentos e outros negócios para o Estado. Hendrix é também um fundraiser profissional. Já conseguiu um bilhão de dólares para a Universidade do Arkansas.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A quem interessa o fim da imprensa?

Se a imprensa acabasse, ou perdesse sua independência, George Bush transformaria o mundo num quintal dos Estados Unidos, Lula e sua camarilha jamais sairiam do Palácio do Planalto e Hugo Chávez... bem, o ditador venezuelano já deu uma mostra do que seria o mundo sem jornais, TVs, rádios que exerçam a liberdade de expressão.
Desde a bolha da internet, o modelo de negócios da imprensa está a perigo porque os anunciantes dispõem de outras dezenas de meios para atingir seu público. Emails, outdoors, TVs, blogs e sites de relacionamento estão drenando o dinheiro que ia para os jornais. Assim, o jornalismo investigativo, o mesmo que extirpou Richard Nixon ou Fernando Collor da presidência, ou descobriu o roubo da Enron ou o escândalo do mensalão, está a perigo.
Mas a sociedade está reagindo. Nos Estados Unidos, anunciou-se na semana passada mais uma organização sem fins lucrativos que, fundada por doações milionárias, tentará suprir a partir de janeiro de 2008 a falta de recursos dos jornais para colocar repórteres nas ruas que descubram as malversações de dinheiro público ou privado.
A Pro Publica, com orçamento de US$ 10 milhões anuais, começará contratando 24 jornalistas em Nova York (e mais dezenas de administradores) para, através de matérias investigativas, distribuir gratuitamente o material entre os grandes jornais, como o The New York Times e o Los Angeles Times.
Depois do Center for Investigative Reporting em San Francisco, e do Pulitzer Center on Crisis Reporting em Washington, é a terceira organização do tipo nos Estados Unidos.
No caso do ProPublica, os financiadores são o casal Herbert M. e Marion O. Sandler, ex-executivos do Golden West Financial Corporation, baseados na Califórnia, que ficaram ricos vendendo o negócio de hipotecas para o Wachovia Corporation por US$ 26 bilhões recentemente. Ficaram com US$ 2.4 bilhões no bolso. Outras fundações também participam do projeto com doações menores.
O casal, já na casa dos 70 anos, é conhecido como os segundos maiores filantropistas dos Estados Unidos em 2006, doando cerca de 1,3 bilhão de dólares ao Sandler Family Suporting Foundation. No passado, eles financiaram pesquisas na área de asma e malária, bem como o tratamento da Doença de Chagas na América do Sul. Os Sandler também doaram recursos para grupos de diretos humanos como o American Civil Liberties Union e o Human Rights Watch.
Eles também são apoiadores do Partido Democrata, o que levanta suspeitas sobre a imparcialidade do novo serviço de notícias. “Mas a página editorial do The Wall Street Journal é também um porta voz da direita nos Estados Unidos”, disse o presidente e editor chefe do novo serviço, Paul E. Steiger, ele mesmo ex-editor do WSJ por dezesseis anos, onde fez a redação ganhar 16 prêmios Pulitzer, o Prêmio Esso dos norte-americanos.
Em entrevista à PBS, a rádio pública norte americana, Steiger adiantou que o sucesso do Pro Publica será medido pelo número de funcionários públicos defenestrados do poder ou de empresas privadas indo para o limbo por escolherem as chamadas práticas não republicanas. O conselho será ocupado por gente de peso, como Henry Louis Gates Jr., professor de Harvard especializada em estudos africanos, Alberto Ibarguen, ex-editor do the Miami Herald, James A. Leach, um ex-congressista do Iowa que dirige o Harvard’s Institute of Politics, e Rebecca Rimel, presidente do CEO do Pew Charitable Trust.
Estes serviços terão que se sobrepor a uma antiga prática dos grandes jornais, que é somente assinar serviços de agências de notícias, ou, nos Estados Unidos, trocar materiais especiais entre si. Mas os especialistas dizem que, com a crise financeira que assola os jornais, o serviço será benvindo.
“Eles estão de olho em alternativas de suporte para um jornalismo ambicioso”, disse Stephen b. Shepard, diretor da Escola de Jornalismo da City University, em Nova York, ao jornal The New York Times. “Paul E. Steiger tem a credibilidade e o discernimento para ter sucesso e, se eles fizerem um bom trabalho, obviamente os jornais aceitarão publicar as matérias”.
A situação ideal, no entanto, é que as três partes envolvidas nesta revolução que atinge a imprensa – público, mídia e anunciantes – cheguem a uma fórmula que garanta a perenidade dos jornais, que muito mais do que as outras mídias servem de fórum para a discussão de novas (e antigas) idéias, uma espécie de hiper ventilação dos canais democráticos que são a base das sociedades mais adiantadas em todo o mundo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O que você faria se soubesse quando será?

Como a certeza da morte, e como dizia o jurista Saulo Ramos em sua recente biografia Código da Vida, carregamos conosco a incômoda pergunta: mas quando? O professor Randolf Frederick Pausch, 43 anos, casado e três filhos pequenos, PhD em ciência da computação na Universidade Carnegie Mellon, morrerá dentro de três a seis meses de câncer no pâncreas.
Randolf, ou Randy, foi aplaudido de pé por 400 alunos e professores da universidade quando, no início de setembro, entrou no auditório para dar a última aula, uma tradição das universidades – mas para mestres que estão se aposentando ou abandonando a cátedra.
Ele agradece os aplausos, pede que parem de aplaudir (“me deixem merecer, primeiro”, e a platéia responde “você já merece”) e depois inicia um fantástico show de vida, esperança e gratidão, tema de reportagens de duas grandes redes de TV dos Estados Unidos, a ABC e a CBS.
A aula, gravada em vídeo para que seus filhos pequenos (5, 2 e 1 ano) assistam quando entenderem que todos nós vamos para o céu (ou o inferno), recebeu o título de “Realizando Os Sonhos da Infância”. Tornou-se também um dos vídeos mais vistos na Internet.
Durante 30 minutos, em tom otimista, fazendo às vezes a platéia gargalhar (e chorar), ele discorre sobre a ciência da computação (ele é um dos inventores da realidade virtual, um programa chamado Sofia), dá dicas para a melhoria do ensino e, na melhor tradição, faz profundas reflexões sobre sua área de conhecimento.
Depois começa a parte mais impressionante. Randy avisa que, se alguém quiser chorar, que suba até o auditório e o faça para que ele, então, consiga ter pena de si mesmo. Mostra, como um cientista, diversos raios-x de órgãos do seu corpo contendo 10 tumores malignos que o levarão à morte com data anunciada.
Quando criança, Randy era do tipo que trocava qualquer diversão por experimentos de física, matemática ou astrologia. Aos oito anos, quando atravessou os Estados Unidos para visitar a Disneylândia em companhia dos pais, decidiu que não queria somente ver o Pato Donald ou Mickey, mas sim criar parques de diversões futuristas.
Logo que recebeu seu PhD pela universidade, enviou uma carta para a Disney falando de suas habilidades e, tempos depois, recebeu outra carta com um polido não. Randy não se deu por vencido. Batalhou até criar, depois de formado e com um time de cientistas, um novo parque de atrações para a Disney.
Dos sonhos de infância, o professor ainda fez outra proeza: praticar experimentos a zero grau de gravidade, dentro daqueles aviões que sobem a grandes altitudes e caem centenas de metros repentinamente. “Quando você faz as coisas certas”, disse ele, “o carma se encarrega de trazer as coisas boas para você”.
Randy também fala de seus pais. Quando adolescente, ao invés de pregar pôsteres de garotas ou de heróis nas paredes do quarto, rabiscou fórmulas matemáticas, ditados famosos e até uma “portinha” para chegar a outros planetas. “Se você é pai ou mãe, deixe seus filhos rabiscarem as paredes do quarto – tenho certeza de que isto não vai diminuir o valor sua casa”, recomenda.
Embora doente terminal, Randy demonstra boa aparência e, mais ainda, excelente preparo físico. Durante a aula, faz contínuas flexões de braços, às vezes com um braço só, para demonstrar sua saúde. A platéia vem abaixo.
Um dos slides projetados é um muro de tijolos. Randy diz que muros existem por uma simples razão: eles estão lá para testarem o quão importante é para você conseguir o que deseja – ou melhor, “eles estão lá para frear as pessoas que não desejam tanto assim conseguir os objetivos”.
Enquanto projeta os slides de seus professores e chefes durante os anos, Randy conclui que ajudar os outros a realizarem os sonhos é muito mais divertido do que realizar os próprios sonhos.
Ao final, dá um conselho: “quando você se sente magoado ou chateado com alguém, é porque você não deu ainda o devido tempo para que esta mágoa se dissipe”. Novamente aplaudido de pé, o professor recebe um abraço e um beijo de sua esposa, que chorava na audiência.
A platéia, então, descobre que naquele dia Randy estava fazendo aniversário. Comemorava 46 anos muito bem vividos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Varig, volete para Los Angeles!

Agora que o Brasil acordou e inaugura hoje uma missão de 50 empresários à Costa Oeste americana, sob o comando do empresário Roberto Giannetti da Fonseca, da Fiesp, é chegada a hora de lutarmos para que a Varig ou outra companhia aérea de bandeira brasileira volte a fazer um vôo que fez sucesso de 1968 a 2001.
O Varig São Paulo-Los Angeles-Tóquio, primeiro através do DC-10, depois com o Jumbo 747 e finalmente com o MD-11, levou milhões de brasileiros para a capital japonesa, com uma providencial escala em Los Angeles. O vôo, que durava cerca de 12 horas, dependendo do vento, gastava muito combustível e exigia duas tripulações de cabine se revezando.
Começando no final da noite em São Paulo, a viagem atravessava a Amazônia, percorria o árido território mexicano e aterrissava em Los Angeles. Para nós a Varig era uma espécie de embaixada brasileira na Costa Oeste americana. “Estamos aqui, queremos fazer negócios, estamos trazendo empresários e turistas”, era a mensagem subliminar.
Um pouco diferente de hoje, as aeromoças eram jovens e bonitas, os pilotos velhos e experientes, o serviço de bordo era reconhecidamente o melhor do mundo: talheres de prata, uma variada seleção de vinhos, patê de foie gras na entrada e bombons na sobremesa. Até o pessoal da classe econômica era tratado como ser humano.
Dava prejuízo? Dava. No início não, mas com o tempo o Brasil fez um dos seus maiores erros históricos: esquecer aos poucos a Costa Oeste norte-americana, uma potência formada da Califórnia até o Alaska que vale pelo menos cinco vezes o PIB brasileiro. A corrida se dirigiu para a Costa Leste, onde quase dois milhões de brasileiros, grande parte ilegais, se amontoou.
Agora é diferente. Com a ajuda dos consulados brasileiros em Los Angeles e San Francisco, os empresários brasileiros estão fazendo de tudo para reconquistar a Costa Oeste, e daqui conquistar os países asiáticos, pois estas cidades, além de Seattle, são a porta para o Pacífico.
Nosso empresários pagam, no entanto, pela tortura da viagem de São Paulo até aqui, passando por Dallas ou Houston no Texas, ou Atlanta, na Geórgia, o que em outras palavras significa duplicar as horas de vôo entre os dois países.
Sai-se à noite do Brasil, chega-se no meio dos Estados Unidos nas primeiras horas da madrugada e pousa-se aqui quase cinco horas depois, enfrentando às vezes seis horas de fuso horário. Os brasileiros surgem aqui tresnoitados, atordoados e muitas vezes perdidos, sem energia para fazer negócios com Bill Gates ou passear na Disneylândia.
O pior é o transporte de carga. Sabe-se que o forte do tráfego aéreo é pago pela carga, acondicionada em imensos vãos um andar abaixo dos passageiros, ou em aviões especialmente desenhados para isto, os chamados cargos. Muitos dos produtos que estados como Califórnia, Oregon e Washington compram do Brasil são perecíveis, e não resistem às escalas atuais.
Por não ter linhas diretas regulares de passageiros ou de carga, ou mesmo por ser bem distante do Brasil, o frete vai ficando caro para a Costa Oeste, quando comparado a portos mais próximos. Mas os Estados Unidos, é só olhar no mapa, estão ainda mais perto do que a China, o Japão, a Europa e a África, e são os maiores compradores do planeta, inclusive do Brasil.
Só no ano passado compraram US$ 24,4 bilhões de nós, dos quais US$ 3,5 bilhões beneficiados pela isenção de impostos de importação. Muito pouco para um país que compra US$ 1,72 trilhão (isto mesmo, quase dois trilhões) de produtos e serviços de todo o mundo, dos quais apenas 1,3% originários do Brasil. Pagam em dólar, são organizados e eficientes e sempre demandam inovação e preços baixos, as bases do capitalismo eficiente.
Hoje em dia muitos brasileiros criticam os Estados Unidos por diferentes razões, desde o Governo Bush, a guerra no Iraque ou mesmo pela arrogância no trato dos negócios estrangeiros. Apesar das idas e vindas, Brasil e Estados Unidos têm histórias parecidas, com diferentes níveis de sucesso. De Carmem Miranda a Sônia Braga, de Pelé a Gisele Bündchen, somos queridos pelos nossos irmãos do norte.
Nossa língua portuguesa soa como música nos ouvidos dos gringos, nossas belezas naturais são reconhecidas e celebradas aqui. Fazemos etanol e aviões. Somos um povo afável, bonito, brincalhão, bom de fazer negócios. Só falta um avião.

Varig, volete para Los Angeles!

Agora que o Brasil acordou e inaugura hoje uma missão de 50 empresários à Costa Oeste americana, sob o comando do empresário Roberto Giannetti da Fonseca, da Fiesp, é chegada a hora de lutarmos para que a Varig ou outra companhia aérea de bandeira brasileira volte a fazer um vôo que fez sucesso de 1968 a 2001.
O Varig São Paulo-Los Angeles-Tóquio, primeiro através do DC-10, depois com o Jumbo 747 e finalmente com o MD-11, levou milhões de brasileiros para a capital japonesa, com uma providencial escala em Los Angeles. O vôo, que durava cerca de 12 horas, dependendo do vento, gastava muito combustível e exigia duas tripulações de cabine se revezando.
Começando no final da noite em São Paulo, a viagem atravessava a Amazônia, percorria o árido território mexicano e aterrissava em Los Angeles. Para nós a Varig era uma espécie de embaixada brasileira na Costa Oeste americana. “Estamos aqui, queremos fazer negócios, estamos trazendo empresários e turistas”, era a mensagem subliminar.
Um pouco diferente de hoje, as aeromoças eram jovens e bonitas, os pilotos velhos e experientes, o serviço de bordo era reconhecidamente o melhor do mundo: talheres de prata, uma variada seleção de vinhos, patê de foie gras na entrada e bombons na sobremesa. Até o pessoal da classe econômica era tratado como ser humano.
Dava prejuízo? Dava. No início não, mas com o tempo o Brasil fez um dos seus maiores erros históricos: esquecer aos poucos a Costa Oeste norte-americana, uma potência formada da Califórnia até o Alaska que vale pelo menos cinco vezes o PIB brasileiro. A corrida se dirigiu para a Costa Leste, onde quase dois milhões de brasileiros, grande parte ilegais, se amontoou.
Agora é diferente. Com a ajuda dos consulados brasileiros em Los Angeles e San Francisco, os empresários brasileiros estão fazendo de tudo para reconquistar a Costa Oeste, e daqui conquistar os países asiáticos, pois estas cidades, além de Seattle, são a porta para o Pacífico.
Nosso empresários pagam, no entanto, pela tortura da viagem de São Paulo até aqui, passando por Dallas ou Houston no Texas, ou Atlanta, na Geórgia, o que em outras palavras significa duplicar as horas de vôo entre os dois países.
Sai-se à noite do Brasil, chega-se no meio dos Estados Unidos nas primeiras horas da madrugada e pousa-se aqui quase cinco horas depois, enfrentando às vezes seis horas de fuso horário. Os brasileiros surgem aqui tresnoitados, atordoados e muitas vezes perdidos, sem energia para fazer negócios com Bill Gates ou passear na Disneylândia.
O pior é o transporte de carga. Sabe-se que o forte do tráfego aéreo é pago pela carga, acondicionada em imensos vãos um andar abaixo dos passageiros, ou em aviões especialmente desenhados para isto, os chamados cargos. Muitos dos produtos que estados como Califórnia, Oregon e Washington compram do Brasil são perecíveis, e não resistem às escalas atuais.
Por não ter linhas diretas regulares de passageiros ou de carga, ou mesmo por ser bem distante do Brasil, o frete vai ficando caro para a Costa Oeste, quando comparado a portos mais próximos. Mas os Estados Unidos, é só olhar no mapa, estão ainda mais perto do que a China, o Japão, a Europa e a África, e são os maiores compradores do planeta, inclusive do Brasil.
Só no ano passado compraram US$ 24,4 bilhões de nós, dos quais US$ 3,5 bilhões beneficiados pela isenção de impostos de importação. Muito pouco para um país que compra US$ 1,72 trilhão (isto mesmo, quase dois trilhões) de produtos e serviços de todo o mundo, dos quais apenas 1,3% originários do Brasil. Pagam em dólar, são organizados e eficientes e sempre demandam inovação e preços baixos, as bases do capitalismo eficiente.
Hoje em dia muitos brasileiros criticam os Estados Unidos por diferentes razões, desde o Governo Bush, a guerra no Iraque ou mesmo pela arrogância no trato dos negócios estrangeiros. Apesar das idas e vindas, Brasil e Estados Unidos têm histórias parecidas, com diferentes níveis de sucesso. De Carmem Miranda a Sônia Braga, de Pelé a Gisele Bündchen, somos queridos pelos nossos irmãos do norte.
Nossa língua portuguesa soa como música nos ouvidos dos gringos, nossas belezas naturais são reconhecidas e celebradas aqui. Fazemos etanol e aviões. Somos um povo afável, bonito, brincalhão, bom de fazer negócios. Só falta um avião.