Notas, impressões, informações, dicas, tendências e análises sobre os Estados Unidos a partir de Seattle, na Costa Oeste norte-americana.
terça-feira, 31 de março de 2009
NPR: do povo, pelo povo, para o povo
Fairfield, Connecticut - Nestes tempos de fim de mundo, onde tudo que é sólido está se desmanchando no ar, a NPR, a adorada rádio pública norte-americana, está se arrebentando em rios de dinheiro e sucesso. Está certo que a autarquia, fundada pelo ex-presidente Lyndon Johnson em 1970, ganhou há cinco anos a maior doação já recebida por uma instituição norte-americana, US$ 200 milhões da viúva de Jay Kroc, o fundador do McDonald's, mas parece inexplicável que a NPR tenha dobrado de ouvintes de 1999 para cá, chegando a 26,4 milhões, bem à frente do jornal de maior circulação nos Estados Unidos (USA Today, com 2,3 milhões de leitores), e os telespectadores do horário nobre de uma emissora como a Fox News (2,8 milhões).
Mas onde a NPR está se revelando mesmo é na chamada nova mídia. A rádio é a campeã de downloads (14 milhões diários) no Itunes. Sua página na internet, npr.org, é visitada por oito milhões de pessoas diariamente, e a redes sociais que se alimentam de sua programação costumam ficar, no mínimo, "congestionadas". A revista Fast Company, uma espécie de bíblia do empreendedorismo americano, acaba de fazer uma reportagem investigativa sobre o sucesso da NPR entre os gringos, e o mistério só aumentou. Diante da falta de razões, só sobrou uma justificativa: um caso de amor do público por uma rádio criada do povo, pelo povo e para o povo.
O faturamento da NPR hoje chega a US$ 159 milhões, com um lucro (isto mesmo, lucro) líquido de US$ 18.9 milhões. O dinheiro vem em grande parte (43%) das 860 estações-membro espalhadas por todos os Estados Unidos. Em segundo lugar (29%), vem o patrocínio de corporações (especialmente fundações), concebidos na forma de apoio à sua programação (mais fundação Roberto Marinho do que Casas Bahia, digamos assim). 15% originam-se de doações de empresas e principalmente do público, que anualmente participa de campanhas de arrecadação de fundos durante um dia da programação. Apenas 2% vem do governo, através de um fundo chamado Corporation for Public Broadcasting.
Ou seja, a rádio é pública, mas dinheiro do governo quase não existe. É a própria sociedade organizada que mantém e faz o sucesso da NPR. Com a crise econômica, a rádio também não ficou impune. Prevê-se que, a continuar a seca de doações e patrocínios institucionais, vai ter um déficit de US$ 23 milhões no ano fiscal de 2009. Neste ambiente, foi cortado 7% da força de trabalho e cancelados dois shows (News and Notes e Day to Day). É a pior crise desde o início dos anos 80.
Mesmo assim, os executivos e repórteres da NPR estão confiantes que passarão estes tempos medonhos de uma forma menos drástica, já que a organização não depende somente dos patrocínios, pode utilizar US$ 15 milhões anuais das suas reservas e, acima de tudo, confia que sua audiência não vai diminuir. Mais ainda, os salários da NPR são irrisórios quando comparados aos de estrelas da mídia de TV, por exemplo. "O salário de um âncora de TV dá para pegar três vezes o orçamento de um dos programas de maior audiência, o Morning Edition ", diz um dos vice-presidentes da rádio. Não fosse este caso de amor com a NPR, a audiência será para sempre cativa. Afinal, dizem eles, pouca gente hoje tem tempo para ler jornal, mas é capaz de ficar horas no trânsito, voluntária ou involuntariamente, ouvindo sua programação.
terça-feira, 24 de março de 2009
Dinheiro, prá que dinheiro?
New York - Para o quinto website mais visitado do mundo, a Wikipedia , a enciclopédia colaborativa que busca reunir todos os conhecimentos do ser humano, dinheiro não é tudo na vida. Seu fundador, Jimmy Wales, um ex-trader de opções de Chicago, bem que tentou atrair patrocinadores no início da operação, mas foi rechaçado pelos hoje milhares de colaboradores que nutrem cerca de 12 milhões de páginas sobre tudo - ou quase tudo - que existe na Terra, em mais de 250 línguas. Por que? A verdade é que a Wikipedia não é apenas resultado de um sonho coletivo de conhecimentos livres para nós, terráqueos, mas é também uma amostra do movimento que nasce neste terceiro milênio: sem chefes ou empregados, sem prédios ou telefones, mas onipresente 24 horas por dia, 7 dias por semana, onde o cliente é o centro do universo e a mercadoria não é propriedade de um único dono.
Só tem um probleminha. Sem dinheiro, como esta conta fecha? Esta é a pergunta que não quer calar. Todos os projetos em volta desta nunca vista base de conhecimento, que inclui o Wikibooks, Wikiquote ou Wikinews, são sustentados por uma fundação, a Wikimedia Foundation , que está em San Francisco, mas que por motivos de segurança pouca gente sabe onde está. A Fundação recebe doações que dão para pagar a infraestrutura de rede e seus 25 funcionários, mas está pesquisando formas de rentabilizar a base de dados com projetos empresariais. Este mergulho no mercado é feito com extrema discrição e ética, mas o objetivo da organização é um mundo onde qualquer pessoa terá livre acesso à soma do conhecimento humano. O dinheiro, assim, tornou-se uma barreira que foi transposta com trabalho colaborativo e voluntário.
No documentário Join Us , da Tv Ideal, do Grupo Abril, a Wikipedia é mostrada como o centro do mundo colaborativo, que só surgiu com o advento da Internet. Andrew Lih, um ex funcionário da organização que acaba de lançar o livro "The Wikipedia Revolution ", explica seu sucesso como um "resultado natural" das forças do mercado. "O website tornou-se um fenômeno instantâneo por causa da oferta e demanda - conteúdo equilibrado e confiável é uma commodity rara, e com alta demanda", diz ele. E mais: "a Internet tem gente ansiosa para dividir conhecimentos profundos sobre qualquer coisa, mas até então este povo estava disperso geográfica e logisticamente - A Wikipedia simplesmente apareceu como um espaço para abrigar todo este conhecimento".
Pouca gente fala, no entanto, de outro fenômeno: A Wikipedia, reunindo conhecimento de forma prática e ágil, está tomando o lugar dos jornais. O jornalista Jonathan Dee, do The New York Times, comentou o fato de que o site não é apenas uma enciclopédia on line, mas também fonte de notícias sempre atualizada. Já tornou-se lenda o fato de que a Wikipedia furou a mídia tradicional dando em primeira mão a notícia de morte de gente famosa, como o apresentador da NBC Tim Russell, que sofreu um ataque de coração fulminante.
Quem está contra a Wikipedia? Algumas pessoas que criticam certas distorções ou mentiras em determinadas páginas - como o fato da cantora Britney Spears ter o mesmo espaço que o filósofo Sócrates, ou muitos professores que identificam pesquisas e deveres-de-casa dos estudantes copiados literalmente do site, sem nenhuma outra fonte. Mesmo a cópia sendo permitida pela licença da enciclopédia, a própria comunidade não aconselha essa atitude, pois eles não consideram a Wikipedia como fonte primária. Quanto a revista Time elegeu VOCÊ como a pessoa do ano em 2006, citou o sucesso da colaboração online e a interação de milhões de pessoas ao redor do mundo. É o que a Wikipedia representa.
Só tem um probleminha. Sem dinheiro, como esta conta fecha? Esta é a pergunta que não quer calar. Todos os projetos em volta desta nunca vista base de conhecimento, que inclui o Wikibooks, Wikiquote ou Wikinews, são sustentados por uma fundação, a Wikimedia Foundation , que está em San Francisco, mas que por motivos de segurança pouca gente sabe onde está. A Fundação recebe doações que dão para pagar a infraestrutura de rede e seus 25 funcionários, mas está pesquisando formas de rentabilizar a base de dados com projetos empresariais. Este mergulho no mercado é feito com extrema discrição e ética, mas o objetivo da organização é um mundo onde qualquer pessoa terá livre acesso à soma do conhecimento humano. O dinheiro, assim, tornou-se uma barreira que foi transposta com trabalho colaborativo e voluntário.
No documentário Join Us , da Tv Ideal, do Grupo Abril, a Wikipedia é mostrada como o centro do mundo colaborativo, que só surgiu com o advento da Internet. Andrew Lih, um ex funcionário da organização que acaba de lançar o livro "The Wikipedia Revolution ", explica seu sucesso como um "resultado natural" das forças do mercado. "O website tornou-se um fenômeno instantâneo por causa da oferta e demanda - conteúdo equilibrado e confiável é uma commodity rara, e com alta demanda", diz ele. E mais: "a Internet tem gente ansiosa para dividir conhecimentos profundos sobre qualquer coisa, mas até então este povo estava disperso geográfica e logisticamente - A Wikipedia simplesmente apareceu como um espaço para abrigar todo este conhecimento".
Pouca gente fala, no entanto, de outro fenômeno: A Wikipedia, reunindo conhecimento de forma prática e ágil, está tomando o lugar dos jornais. O jornalista Jonathan Dee, do The New York Times, comentou o fato de que o site não é apenas uma enciclopédia on line, mas também fonte de notícias sempre atualizada. Já tornou-se lenda o fato de que a Wikipedia furou a mídia tradicional dando em primeira mão a notícia de morte de gente famosa, como o apresentador da NBC Tim Russell, que sofreu um ataque de coração fulminante.
Quem está contra a Wikipedia? Algumas pessoas que criticam certas distorções ou mentiras em determinadas páginas - como o fato da cantora Britney Spears ter o mesmo espaço que o filósofo Sócrates, ou muitos professores que identificam pesquisas e deveres-de-casa dos estudantes copiados literalmente do site, sem nenhuma outra fonte. Mesmo a cópia sendo permitida pela licença da enciclopédia, a própria comunidade não aconselha essa atitude, pois eles não consideram a Wikipedia como fonte primária. Quanto a revista Time elegeu VOCÊ como a pessoa do ano em 2006, citou o sucesso da colaboração online e a interação de milhões de pessoas ao redor do mundo. É o que a Wikipedia representa.
quinta-feira, 19 de março de 2009
A classe média chega ao paraíso
Além da Casa Branca, da Disneyworld e de Estátua da Liberdade, outro ponto que deve ser conhecido nos Estados Unidos é a rede de supermercados Costco, uma idéia inovadora que, aqui, está sendo chamada de porta do paraíso da classe média. Embora tenha sido também afetada pela crise, com "apenas" US$ 5 bilhões a menos em faturamento, a rede que tem sede em Seattle e se espalha por todo o país parece ter sido criada na medida certa para a dona de casa e, melhor ainda, é um modelo de sucesso para o empreendedor (ou para a empreendedora).
A primeira vista, o Costco é apenas um imenso barracão com produtos amontoados no chão, televisores de plasma de 200 dólares, roupas chinesas a preço de banana e banana a preço de chicletes. Depois da segunda ou terceira visita, você começa a tomar gosto pelo lugar - e descobre que ali é existe uma laboratório para paladares requintados e curiosos a procura de novidades. Com a crise, é um bom lugar para comer e beber de graça. Em cada esquina, por exemplo, há aposentados (de preferência imigrantes) oferecendo pedacinhos de tortelone feitos na hora, ou uma tostada francesa com queijo de cabra. Para a criançada, oferece-se pizza a US$ 1,50 e Coca Cola com direito a refil gratuito.
Com o tempo, descobre-se outra razão do sucesso: o fator surpresa. Embora jogados em prateleiras que lembram o Makro, no Brasil, os produtos são de excelente qualidade e sempre vêem em doses generosas com preços ainda mais generosos. E, o melhor, coisas que você jamais viu. Dez pedaços de frango em um só pacote por US$ 5, espinafre orgânico para abastecer uma casa por dois meses, caixas de vinho argentino a US$ 6 a garrafa, etc. Não é loja de pobre, mas de uma classe média americana cada vez mais esprimida pela não só pela crise, mas pelo fato de que a classe média vem sendo espremida em qualquer lugar.
Perguntei ao diretor comercial Jim Donald, numa visita a Issaquah, na região de Seattle, onde está a sede da empresa, porque o Costco não vai para o Brasil. "Temos que responder positivamente a 25 questões antes de chegar a qualquer país, mas não vamos para o Brasil simplesmente porque lá (aí) não existe uma classe média ligeiramente alta (não sabia que existia isto) que compra os nossos produtos", disse ele.
Fundado em 1983, o Costco conta hoje com 123 mil empregados e é a maior rede de atacado do mundo em volume de vendas. É o quarta maior varejista do país, e a única empresa do mundo que subiu de zero a US$ 3 bilhões de faturamento em apenas seis anos. Tem em sua carteira mais de 51 milhões de membros, representando 28,3 milhões de lares norte-americanos. Em 2007, faturou US$ 64,4 bilhões, com mais de US$ 1 bilhão em lucros. É a 29a maior empresa dos Estados Unidos, e também uma das mais adoradas.
O foco do Costco é vender produtos a preço baixo e em grande volume. Até aí nada demais. O supermercado, entretanto, não oferece centenas de marcas, e prefere vender a maioria dos produtos debaixo da sua marca própria, a Kirkland. O resultado, segundo os especialistas, é que o Costco economiza para o consumidor trabalhando com poucos fornecedores e investindo muito pouco no marketing. Aliás, como se diz aqui, o supermercado é o rei do chamado marketing de experiência. O Costco sabe que, se você for lá, vai voltar sempre.
A primeira vista, o Costco é apenas um imenso barracão com produtos amontoados no chão, televisores de plasma de 200 dólares, roupas chinesas a preço de banana e banana a preço de chicletes. Depois da segunda ou terceira visita, você começa a tomar gosto pelo lugar - e descobre que ali é existe uma laboratório para paladares requintados e curiosos a procura de novidades. Com a crise, é um bom lugar para comer e beber de graça. Em cada esquina, por exemplo, há aposentados (de preferência imigrantes) oferecendo pedacinhos de tortelone feitos na hora, ou uma tostada francesa com queijo de cabra. Para a criançada, oferece-se pizza a US$ 1,50 e Coca Cola com direito a refil gratuito.
Com o tempo, descobre-se outra razão do sucesso: o fator surpresa. Embora jogados em prateleiras que lembram o Makro, no Brasil, os produtos são de excelente qualidade e sempre vêem em doses generosas com preços ainda mais generosos. E, o melhor, coisas que você jamais viu. Dez pedaços de frango em um só pacote por US$ 5, espinafre orgânico para abastecer uma casa por dois meses, caixas de vinho argentino a US$ 6 a garrafa, etc. Não é loja de pobre, mas de uma classe média americana cada vez mais esprimida pela não só pela crise, mas pelo fato de que a classe média vem sendo espremida em qualquer lugar.
Perguntei ao diretor comercial Jim Donald, numa visita a Issaquah, na região de Seattle, onde está a sede da empresa, porque o Costco não vai para o Brasil. "Temos que responder positivamente a 25 questões antes de chegar a qualquer país, mas não vamos para o Brasil simplesmente porque lá (aí) não existe uma classe média ligeiramente alta (não sabia que existia isto) que compra os nossos produtos", disse ele.
Fundado em 1983, o Costco conta hoje com 123 mil empregados e é a maior rede de atacado do mundo em volume de vendas. É o quarta maior varejista do país, e a única empresa do mundo que subiu de zero a US$ 3 bilhões de faturamento em apenas seis anos. Tem em sua carteira mais de 51 milhões de membros, representando 28,3 milhões de lares norte-americanos. Em 2007, faturou US$ 64,4 bilhões, com mais de US$ 1 bilhão em lucros. É a 29a maior empresa dos Estados Unidos, e também uma das mais adoradas.
O foco do Costco é vender produtos a preço baixo e em grande volume. Até aí nada demais. O supermercado, entretanto, não oferece centenas de marcas, e prefere vender a maioria dos produtos debaixo da sua marca própria, a Kirkland. O resultado, segundo os especialistas, é que o Costco economiza para o consumidor trabalhando com poucos fornecedores e investindo muito pouco no marketing. Aliás, como se diz aqui, o supermercado é o rei do chamado marketing de experiência. O Costco sabe que, se você for lá, vai voltar sempre.
O jeito é perguntar ao Google
Se o Google fosse uma fábrica de automóveis, não fabricaria carros. Deixaria que um bando de chineses fabricasse veículos simples, elétricos, eficientes, fáceis de dirigir, disponíveis em qualquer lugar e.... de graça. O GoogleMobile seria o resultado da colaboração de milhões de internautas, que poderiam sugerir qualquer acessório, como um plug para Ipod ou Blackberry, e rodariam sob o patrocínio de um anunciante qualquer. Melhor ainda, sairiam sempre numa versão beta, de forma que possam ser melhorados infinitamente - e a qualquer momento.
No livro "What Would Google Do", o jornalista Jeff Jarvis, também professor da City University of New York Graduate School of Journalism, faz esta e outras incômodas perguntas cujas respostas sugerem um mapa para atravessarmos a pior crise desde 1929, o grande desastre econômico de todos os tempos, a implosão da economia mundial tal qual a conhecemos ou, simplesmente, o início de uma nova era para a humanidade.
Jarvis chegou até a sentar-se com o pessoal de Detroit (Ford, GM, Chrysler) para dizer que os fabricantes de automóveis, hoje falidos, são mais desconectados dos seus consumidores do que funcionário público exigindo reconhecimento de firma. Quase apanhou. No mundo de hoje, diz, deixe o consumidor trabalhar. Ele quer influir, colaborar, conversar, participar, inovar, enfim (já repararam como todo mundo hoje está dizendo "enfim"?) - ser parte integrante do produto ou serviço.
No livro "What Would Google Do", o jornalista Jeff Jarvis, também professor da City University of New York Graduate School of Journalism, faz esta e outras incômodas perguntas cujas respostas sugerem um mapa para atravessarmos a pior crise desde 1929, o grande desastre econômico de todos os tempos, a implosão da economia mundial tal qual a conhecemos ou, simplesmente, o início de uma nova era para a humanidade.
Jarvis chegou até a sentar-se com o pessoal de Detroit (Ford, GM, Chrysler) para dizer que os fabricantes de automóveis, hoje falidos, são mais desconectados dos seus consumidores do que funcionário público exigindo reconhecimento de firma. Quase apanhou. No mundo de hoje, diz, deixe o consumidor trabalhar. Ele quer influir, colaborar, conversar, participar, inovar, enfim (já repararam como todo mundo hoje está dizendo "enfim"?) - ser parte integrante do produto ou serviço.
Jorra dinheiro no Vale do Silício
O mundo, se você não reparou, está acabando, mas o Vale do Silício, uma área erguida no deserto californiano ao redor da Universidade de Stanford, está mais do que nunca open for business. Só no ano passado, segundo uma das mais conceituadas consultoras da região, a holandesa Anne Donker, foram investidos US$ 28,3 bilhões, perfazendo quase quatro mil negócios. Em qualquer momento, segundo ela, pelo menos 20 mil empreendedores estão pensando em abrir alguma empresa aqui, sendo que quase metade deles está precisando de dinheiro para tocar o negócio (embora calcula-se que só 1% deles o consiga).
Aqui está pelo menos metade de todas as firmas de investimento em novas empresas (venture capitalists, ou VCs) dos Estados Unidos, administrando cerca de US$ 257 bilhões. E, nesta crise, os VCs estão mais afoitos que nunca para financiar ideias que justamente tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com a tecnologia da informação, biotecnologia e energias limpas, como baterias de alta durabilidade e paineis solares que tenham preços acessíveis à maioria das pessoas.
O bom é que para 2009 a coisa piora, mas só um pouquinho. O Vale não está se desgrenhando, como a indústria automobilística ou a mídia tradicional, por exemplo. A maioria dos VCs diz que este é um excelente momento para investir em novas empresas, já que estes ativos estão bastante depreciados de uma forma geral devido à crise mundial. "Jamais haverá recessão quando se tratar de inovação", diz Anne.
Nas pesquisas que promove no setor, ela descobriu que 48% dos investidores estão prevendo aumento de investimentos em 2009. Para onde o dinheiro está indo? Se forem seguidos os padrões do ano passado, estes bilhões de dólares irão para software, que no ano passado foi o centro de 881 negócios, energia limpa (277) e ciências da vida - biotecnologia, medicina e instrumentação (853). Na parte de específica de tecnologia da informação, os favoritos são e-commerce, componentes e subsistemas, segurança, entretenimento e redes sociais, nesta ordem.
Como se sabe, o que mais o investidor quer é ajudar a montar a empresa, criar valor e, no menor tempo possível, cair fora do negócio vendendo-o por um preço exorbitante, várias vezes o preço que pagou para entrar. É a chamada estratégia de saída. Com a crise, sair bem está ficando mais difícil, daí o VC pensar duas vezes antes de entrar financiando qualquer oferta, diz Anne. "Só falta uma lupa para que eles esquadrinhem cada pedaço do negócio, a fim de examinar detidamente se vale a pena ou não investir", diz ela.
Para chegar até estes investidores, o empreendedor tem de passar pela via crucis de uma fantástica indústria que se criou para apoiá-los antes que eles apresentem seus negócios aos VCs. No Vale, há associações de apoio a empreendedores em cada esquina, consultores caros e baratos em outras, empresas de recursos humanos que acham toda a equipe que você precisa e ainda a convence a trabalhar de graça por 90 dias em troca de uma possível futura participação, e até bancos que emprestam dinheiro em troca de um business plan que faça sentido, e a juros de 4% ao ano.
O americano comum, ao contrário do que está fazendo o presidente Barack Obama, sabe que a solução tem de vir do mercado, e não do governo. Daí surgirem ilhas de prosperidade como o Vale do Silício num mundo que, a cada dia, se desmorona.
kicker: Firmas de investimento querem financiar ideias que tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com TI
Aqui está pelo menos metade de todas as firmas de investimento em novas empresas (venture capitalists, ou VCs) dos Estados Unidos, administrando cerca de US$ 257 bilhões. E, nesta crise, os VCs estão mais afoitos que nunca para financiar ideias que justamente tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com a tecnologia da informação, biotecnologia e energias limpas, como baterias de alta durabilidade e paineis solares que tenham preços acessíveis à maioria das pessoas.
O bom é que para 2009 a coisa piora, mas só um pouquinho. O Vale não está se desgrenhando, como a indústria automobilística ou a mídia tradicional, por exemplo. A maioria dos VCs diz que este é um excelente momento para investir em novas empresas, já que estes ativos estão bastante depreciados de uma forma geral devido à crise mundial. "Jamais haverá recessão quando se tratar de inovação", diz Anne.
Nas pesquisas que promove no setor, ela descobriu que 48% dos investidores estão prevendo aumento de investimentos em 2009. Para onde o dinheiro está indo? Se forem seguidos os padrões do ano passado, estes bilhões de dólares irão para software, que no ano passado foi o centro de 881 negócios, energia limpa (277) e ciências da vida - biotecnologia, medicina e instrumentação (853). Na parte de específica de tecnologia da informação, os favoritos são e-commerce, componentes e subsistemas, segurança, entretenimento e redes sociais, nesta ordem.
Como se sabe, o que mais o investidor quer é ajudar a montar a empresa, criar valor e, no menor tempo possível, cair fora do negócio vendendo-o por um preço exorbitante, várias vezes o preço que pagou para entrar. É a chamada estratégia de saída. Com a crise, sair bem está ficando mais difícil, daí o VC pensar duas vezes antes de entrar financiando qualquer oferta, diz Anne. "Só falta uma lupa para que eles esquadrinhem cada pedaço do negócio, a fim de examinar detidamente se vale a pena ou não investir", diz ela.
Para chegar até estes investidores, o empreendedor tem de passar pela via crucis de uma fantástica indústria que se criou para apoiá-los antes que eles apresentem seus negócios aos VCs. No Vale, há associações de apoio a empreendedores em cada esquina, consultores caros e baratos em outras, empresas de recursos humanos que acham toda a equipe que você precisa e ainda a convence a trabalhar de graça por 90 dias em troca de uma possível futura participação, e até bancos que emprestam dinheiro em troca de um business plan que faça sentido, e a juros de 4% ao ano.
O americano comum, ao contrário do que está fazendo o presidente Barack Obama, sabe que a solução tem de vir do mercado, e não do governo. Daí surgirem ilhas de prosperidade como o Vale do Silício num mundo que, a cada dia, se desmorona.
kicker: Firmas de investimento querem financiar ideias que tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com TI
O capitalismo morreu. Viva o capitalismo!
Eu já tinha ouvido falar de Chris Anderson, por intermédio do Juliano Spyer , o maior especialista brasileiro em colaboração. Sabia que o editor chefe da Wired - a bíblia dos novos tempos da internet -, o homem que tão bem identificou a nova era que estamos vivendo com o livro "The Long Tail", tinha lá suas impenetrabilidades, vivendo na reclusão de quem é submergido por pedidos de palestras, viagens ou autógrafos.
Bastou entrarmos na redação da revista em San Francisco, acompanhando um grupo de brasileiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que queria conhecer as empresas do Vale do Silício, para ele aparecer todo sorridente e, melhor ainda, interessado no Brasil, onde seu novo livro, "Free", será lançado em breve. Não deu outra: autógrafos, fotos e, melhor ainda, promessas de fazer palestras no Brasil.
Como a maioria das pessoas, gosto de conhecer celebridades (qualquer uma) só pelo fato de serem celebridades. No mínimo, vira assunto de mesa de bar. Mas com Anderson é diferente. "The Long Tail" foi publicado em 2004 em forma de artigo, e até hoje é o assunto mais reverenciado numa das mais reverenciadas revistas do mundo.
Nascido em 1961, Anderson cresceu vendo Batman, lendo o The New York Times e ouvindo a NPR, a rádio pública norte-americana. Como editor da revista, e mergulhado nos meios digitais, começou a comparar a sua adolescência com o dia-a-dia dos garotos (ou garotas) que hoje têm, por exemplo, 16 anos.
Nesta imersão, descobriu um mundo totalmente novo, construído sobre a internet. O fenômeno do Long Tail, que já era estudado entre os demógrafos, baseia-se no fato de que a rede de computadores reduziu o custo de distribuição a quase zero, fazendo com que empresas como a Amazon e Netflix vendam um grande número de itens em pequenas quantidades. Outro excelente exemplo é o iTunes da Apple, que não tem nenhuma - isto mesmo, nenhuma - das bilhões de músicas no seu catálogo que não tenha sido vendida, fazendo o sucesso não só se celebridades, mas também de ilustres desconhecidos.
Na conversa, perguntamos o que vai nascer depois do que está sendo chamado de o fim do capitalismo. Para ele, emergirão empresas horizontalizadas, sem chefes, transparentes, éticas, sustentáveis e ecológicas. Um exemplo é o que está acontecendo na mídia. Com o fim dos jornais impressos, da TV ou do rádio, nascem milhões de mídias, como blogs, twiters, ou sites de notícias para hackers, adoradores do diabo ou esportes radicais. Ao invés de TV, surgem o Youtube ou o Hulu, sem comerciais e com conteúdos exclusivos ou copiados da TV. Ao invés de rádio, o Itunes - músicas on-line, a US$ 0,99 cada.
Pelo menos nos Estados Unidos, uma espécie de avant première do que vai acontecer no mundo, a tendência é o que ele chama de "marketing massivo de nichos". Uma mídia para cada gosto. Este é um intrincado labirinto de tribos, gangs, gostos, seja lá o que for, uma parafernália de conteúdos totalmente diferente do que estamos acostumados, dirigida para cada ser humano, em uma onda gigantesca, indetectável e incompreensível.
O interessante disto tudo é que a conta não fecha. Excetuando o Google, que vive de pequenos anúncios na Internet e distribui gratuitamente softwares para as massas, e outras poucas empresas, não foi descoberto ainda um modelo de negócios rentável que possa abarcar as iniciativas dos empreendedores do mundo inteiro.
Chris Anderson, no entanto, faz muito dinheiro com esta nova era. Já ganhou milhões na Wired, nos livros que escreve e nas palestras que dá. Coube a ele identificar e descrever pela primeira vez a nova era. Agora, já prenuncia outra era (vai ser tudo free, como dizia Raul Seixas) de conteúdo, produtos, serviços - o que for - para todo mundo. Quem vai pagar a conta?
Bastou entrarmos na redação da revista em San Francisco, acompanhando um grupo de brasileiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que queria conhecer as empresas do Vale do Silício, para ele aparecer todo sorridente e, melhor ainda, interessado no Brasil, onde seu novo livro, "Free", será lançado em breve. Não deu outra: autógrafos, fotos e, melhor ainda, promessas de fazer palestras no Brasil.
Como a maioria das pessoas, gosto de conhecer celebridades (qualquer uma) só pelo fato de serem celebridades. No mínimo, vira assunto de mesa de bar. Mas com Anderson é diferente. "The Long Tail" foi publicado em 2004 em forma de artigo, e até hoje é o assunto mais reverenciado numa das mais reverenciadas revistas do mundo.
Nascido em 1961, Anderson cresceu vendo Batman, lendo o The New York Times e ouvindo a NPR, a rádio pública norte-americana. Como editor da revista, e mergulhado nos meios digitais, começou a comparar a sua adolescência com o dia-a-dia dos garotos (ou garotas) que hoje têm, por exemplo, 16 anos.
Nesta imersão, descobriu um mundo totalmente novo, construído sobre a internet. O fenômeno do Long Tail, que já era estudado entre os demógrafos, baseia-se no fato de que a rede de computadores reduziu o custo de distribuição a quase zero, fazendo com que empresas como a Amazon e Netflix vendam um grande número de itens em pequenas quantidades. Outro excelente exemplo é o iTunes da Apple, que não tem nenhuma - isto mesmo, nenhuma - das bilhões de músicas no seu catálogo que não tenha sido vendida, fazendo o sucesso não só se celebridades, mas também de ilustres desconhecidos.
Na conversa, perguntamos o que vai nascer depois do que está sendo chamado de o fim do capitalismo. Para ele, emergirão empresas horizontalizadas, sem chefes, transparentes, éticas, sustentáveis e ecológicas. Um exemplo é o que está acontecendo na mídia. Com o fim dos jornais impressos, da TV ou do rádio, nascem milhões de mídias, como blogs, twiters, ou sites de notícias para hackers, adoradores do diabo ou esportes radicais. Ao invés de TV, surgem o Youtube ou o Hulu, sem comerciais e com conteúdos exclusivos ou copiados da TV. Ao invés de rádio, o Itunes - músicas on-line, a US$ 0,99 cada.
Pelo menos nos Estados Unidos, uma espécie de avant première do que vai acontecer no mundo, a tendência é o que ele chama de "marketing massivo de nichos". Uma mídia para cada gosto. Este é um intrincado labirinto de tribos, gangs, gostos, seja lá o que for, uma parafernália de conteúdos totalmente diferente do que estamos acostumados, dirigida para cada ser humano, em uma onda gigantesca, indetectável e incompreensível.
O interessante disto tudo é que a conta não fecha. Excetuando o Google, que vive de pequenos anúncios na Internet e distribui gratuitamente softwares para as massas, e outras poucas empresas, não foi descoberto ainda um modelo de negócios rentável que possa abarcar as iniciativas dos empreendedores do mundo inteiro.
Chris Anderson, no entanto, faz muito dinheiro com esta nova era. Já ganhou milhões na Wired, nos livros que escreve e nas palestras que dá. Coube a ele identificar e descrever pela primeira vez a nova era. Agora, já prenuncia outra era (vai ser tudo free, como dizia Raul Seixas) de conteúdo, produtos, serviços - o que for - para todo mundo. Quem vai pagar a conta?
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