Eu já tinha ouvido falar de Chris Anderson, por intermédio do Juliano Spyer , o maior especialista brasileiro em colaboração. Sabia que o editor chefe da Wired - a bíblia dos novos tempos da internet -, o homem que tão bem identificou a nova era que estamos vivendo com o livro "The Long Tail", tinha lá suas impenetrabilidades, vivendo na reclusão de quem é submergido por pedidos de palestras, viagens ou autógrafos.
Bastou entrarmos na redação da revista em San Francisco, acompanhando um grupo de brasileiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que queria conhecer as empresas do Vale do Silício, para ele aparecer todo sorridente e, melhor ainda, interessado no Brasil, onde seu novo livro, "Free", será lançado em breve. Não deu outra: autógrafos, fotos e, melhor ainda, promessas de fazer palestras no Brasil.
Como a maioria das pessoas, gosto de conhecer celebridades (qualquer uma) só pelo fato de serem celebridades. No mínimo, vira assunto de mesa de bar. Mas com Anderson é diferente. "The Long Tail" foi publicado em 2004 em forma de artigo, e até hoje é o assunto mais reverenciado numa das mais reverenciadas revistas do mundo.
Nascido em 1961, Anderson cresceu vendo Batman, lendo o The New York Times e ouvindo a NPR, a rádio pública norte-americana. Como editor da revista, e mergulhado nos meios digitais, começou a comparar a sua adolescência com o dia-a-dia dos garotos (ou garotas) que hoje têm, por exemplo, 16 anos.
Nesta imersão, descobriu um mundo totalmente novo, construído sobre a internet. O fenômeno do Long Tail, que já era estudado entre os demógrafos, baseia-se no fato de que a rede de computadores reduziu o custo de distribuição a quase zero, fazendo com que empresas como a Amazon e Netflix vendam um grande número de itens em pequenas quantidades. Outro excelente exemplo é o iTunes da Apple, que não tem nenhuma - isto mesmo, nenhuma - das bilhões de músicas no seu catálogo que não tenha sido vendida, fazendo o sucesso não só se celebridades, mas também de ilustres desconhecidos.
Na conversa, perguntamos o que vai nascer depois do que está sendo chamado de o fim do capitalismo. Para ele, emergirão empresas horizontalizadas, sem chefes, transparentes, éticas, sustentáveis e ecológicas. Um exemplo é o que está acontecendo na mídia. Com o fim dos jornais impressos, da TV ou do rádio, nascem milhões de mídias, como blogs, twiters, ou sites de notícias para hackers, adoradores do diabo ou esportes radicais. Ao invés de TV, surgem o Youtube ou o Hulu, sem comerciais e com conteúdos exclusivos ou copiados da TV. Ao invés de rádio, o Itunes - músicas on-line, a US$ 0,99 cada.
Pelo menos nos Estados Unidos, uma espécie de avant première do que vai acontecer no mundo, a tendência é o que ele chama de "marketing massivo de nichos". Uma mídia para cada gosto. Este é um intrincado labirinto de tribos, gangs, gostos, seja lá o que for, uma parafernália de conteúdos totalmente diferente do que estamos acostumados, dirigida para cada ser humano, em uma onda gigantesca, indetectável e incompreensível.
O interessante disto tudo é que a conta não fecha. Excetuando o Google, que vive de pequenos anúncios na Internet e distribui gratuitamente softwares para as massas, e outras poucas empresas, não foi descoberto ainda um modelo de negócios rentável que possa abarcar as iniciativas dos empreendedores do mundo inteiro.
Chris Anderson, no entanto, faz muito dinheiro com esta nova era. Já ganhou milhões na Wired, nos livros que escreve e nas palestras que dá. Coube a ele identificar e descrever pela primeira vez a nova era. Agora, já prenuncia outra era (vai ser tudo free, como dizia Raul Seixas) de conteúdo, produtos, serviços - o que for - para todo mundo. Quem vai pagar a conta?
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