Pedro Augusto Costa
Artigo publicado no blog 50&Mais, de Maya Santana.
Eu já estava obcecado por esta enorme revolução que está invadindo a nossa vida, entrevistando gente aqui nos Estados Unidos, testando aplicativos (não sou especialista em nada, só em generalidades) e procurando tudo quanto é jeito de terceirizar a minha mente curiosa e juvenil.
Sim, caro leitor e leitora, às vezes não consigo acompanhar o desenrolar dos acontecimentos ou a linha de pensamento de alguns seres humanos. É o que chamam de dissonância cognitiva, doença que primeiro se dá nos trumpistas, depois nos balsonaristas, nos lulistas, nos palmeirenses e depois no restante de nós, seres que ainda teimam em pensar.
Pois bem. Eis que chega o tal do ChatGPT, da OpenAI, machine learning, uma espécie de robõ digital que continua escrevendo o que você começou a escrever, tal como os colegas no imortal Nelson Rodrigues, quando ele escrevia as crônicas no Diário Carioca – dizem que quando ele ia ao banheiro o pessoal escrevia alguns parágrafos e depois, quando ele voltava, Nelson continuava escrevendo a crônica como nada tivesse acontecido
.
O ChatGpt é a cara mais visível desta revolução. Corrige o que você escreveu, sugere as próximas palavras e, se você estiver com sono ou vontade de ir ao banheiro ou sei lá o que – ele continua o trabalho, colocando uma palavra depois da outra e depois um ponto no final. É um parceiro fantástico.
Exemplo: estou escrevendo um email para um importador da Tailândia mostrando como o Brasil é fenomenal e os nossos produtos são os melhores do mundo. Já escrevi isto um monte de vezes e não aguento mais repetir a lorota. Basta escrever algumas poucas palavras e um segundo depois o texto está lá, perfeito, profissional, elegante, sem erros de lógica ou erros de portugues ou, no meu caso, inglês.
O que a inteligência artificial pode fazer é verdadeiramente espantoso. Foto: Reprodução/Internet
Ou também para aquela tia que você não aguenta se desculpando por não ter telefonado pela octogésima pelo seu aniversário, ou uma reclamação sobre como você foi maltratado no balcão de uma determinada loja ou na fila do cinema. Em segundos, vem aquela pérola, cheia de detalhes, argumentos, memórias e outras cositas mas.
A inteligência artificial foi feita para nós da mesma forma que foram feitas as cirurgias de catarata, a reposição do quadril, os joelhos artificiais, o marca passo e as palavras cruzadas. Ajudam, protegem, chamam sua atenção, dão uma empurradinha para que você se saia bem. É uma bengala high tech.
Muita gente está criticando o ChatGpt, pois tem medo da inteligência artificial substituir a gente. E daí? Olha o que a inteligência chamada natural fez deste mundo que estamos vivendo. Olha como somos seres imperfeitos, que erram (no meu caso mais do que a média dos seres humanos), fazem decisões erradas (como este tal de Putin invadir a Ucrânia)
.
Alega-se que os alunos passarão de ano sem o professor perceber. Pois hoje é simples escrever um artigo bacana, que na nossa época era redação. E já não percebem? Que milhares de profissões, como a de jornalista, serão varridas do mapa. Mas os jornalistas já não foram substituídos por estes bilhões de loucos nas redes sociais? Que o crime cibernético vai piorar ainda mais. E daí? No meu caso, ladrão que me roubar vai chorar junto comigo.
Desde que nasci existe esta recusa de abraçar o novo. As pessoas não pensam duas vezes antes de acatar a novidade, de olhar com otimismo e coragem, aceitando a beleza e dor da vida. É um bando de nhen nhen nhen, alertando para um perigo que não vai se materializar, virar realidade etc etc etc.
Na nossa idade a gente já viu de tudo, vivemos num museu de grandes novidades, nas palavras de Cazuza. A inteligência artificial vai nos salvar da nossa (combalida) inteligência natural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário