Espremidos entre a crise econômica e as eleições presidenciais, os americanos estão vidrados num documentário de quatro horas produzido pela PBS, a TV pública, sobre os Mórmons. Suave, elegante, imparcial e extremamente bem feito, o programa conta a história da religião fundada pelo profeta Joseph Smith Jr. em 1830 numa fazenda de Nova York, mostra os trabalho dos missionários (aqueles rapazes de gravata em camisas de mangas curtas que vagam pelas cidades), dá voz aos dissidentes, lembra seu poderio político (como, por exemplo, o ex-candidato presidencial republicano Mitt Romney), mas capta a atenção do público pela poligamia, justamente o assunto pelo qual eles não querem ser conhecidos – e nem lembrados.
Os adeptos da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, a religião que mais cresce no mundo, hoje com 13 milhões de seguidores, abdicaram da poligamia – ter duas, três, ou sabe-se lá quantas esposas – em troca da liberdade de credo já em 1890, quase 60 anos depois da sua fundação. Quando a praticaram, seguindo os preceitos de Joseph Smith Jr., foram mortos, humilhados, perseguidos, roubados, presos e tiveram que fazer uma façanha de proporções literalmente bíblicas: atravessar em carroças, enfrentando a neve, a fome e os índios, os milhares de quilômetros que separam Illinois, à beira dos Grandes Lagos, até a desértica Utah, no Oeste americano, onde fundaram Salt Lake City. Desde lá, seus dirigentes engolfam-se numa monótona panfletagem de relações públicas para separar o joio do trigo, no caso, a poligamia do mormonismo, sem sucesso.
No documentário, a poligamia (ainda praticada por uma minoria de mórmons fundamentalistas, não oficialmente reconhecida como mórmons), é atribuída, entre outras explicações, ao próprio Joseph Smith Jr. (32 esposas), que a criou para satisfazer seus próprios instintos sexuais, inclusive em relação às esposas dos irmãos de fé. Brigham Young (52 esposas), seguidor de Joseph e tido como o gênio estrategista que liderou a travessia até Utah, era contra no início, mas, mesmo a contragosto, acabou adequando-se à norma.
Mas o que surpreende é a versão das historiadoras convidadas para debulhar o sentido da poligamia no programa. Segundo elas, o fato de um homem ter várias mulheres servia também como diferenciação entre os mórmons e não mórmons – especialmente os protestantes. Na medida de suas possibilidades financeiras, os mórmons, que fazem da família (e da obediência) a mola mestra do seu culto, abrigaram em suas casas mulheres que, em outros cultos ou fora deles, teriam se perdido na prostituição, no abandono ou simplesmente na solidão depois de verem seus maridos morrerem, principalmente em guerras.
Seja para satisfazer Joseph Smith Jr., seja para seguir os exemplos do Velho Testamento, “onde Abraão e outros personagens tiveram muitas esposas por mandamentos de Deus”, a poligamia está tão associada ao mormonismo como o radicalismo ao islamismo. Ela incendeia o imaginário coletivo, faz repensar os conceitos civilizatórios, a instituição do casamento e a relação entre os homens e as mulheres. Por mais que se digam coisas boas a respeito dos mórmons – e existem milhares delas, como em qualquer religião – as imagens que a mídia mostra – geralmente um homem mais velho, de chapéu e barbudo, ao lado de diferentes mulheres, de diferentes idades, carregando bebes em profusão– formam a percepção retida em nossas memórias.
Os adeptos da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, a religião que mais cresce no mundo, hoje com 13 milhões de seguidores, abdicaram da poligamia – ter duas, três, ou sabe-se lá quantas esposas – em troca da liberdade de credo já em 1890, quase 60 anos depois da sua fundação. Quando a praticaram, seguindo os preceitos de Joseph Smith Jr., foram mortos, humilhados, perseguidos, roubados, presos e tiveram que fazer uma façanha de proporções literalmente bíblicas: atravessar em carroças, enfrentando a neve, a fome e os índios, os milhares de quilômetros que separam Illinois, à beira dos Grandes Lagos, até a desértica Utah, no Oeste americano, onde fundaram Salt Lake City. Desde lá, seus dirigentes engolfam-se numa monótona panfletagem de relações públicas para separar o joio do trigo, no caso, a poligamia do mormonismo, sem sucesso.
No documentário, a poligamia (ainda praticada por uma minoria de mórmons fundamentalistas, não oficialmente reconhecida como mórmons), é atribuída, entre outras explicações, ao próprio Joseph Smith Jr. (32 esposas), que a criou para satisfazer seus próprios instintos sexuais, inclusive em relação às esposas dos irmãos de fé. Brigham Young (52 esposas), seguidor de Joseph e tido como o gênio estrategista que liderou a travessia até Utah, era contra no início, mas, mesmo a contragosto, acabou adequando-se à norma.
Mas o que surpreende é a versão das historiadoras convidadas para debulhar o sentido da poligamia no programa. Segundo elas, o fato de um homem ter várias mulheres servia também como diferenciação entre os mórmons e não mórmons – especialmente os protestantes. Na medida de suas possibilidades financeiras, os mórmons, que fazem da família (e da obediência) a mola mestra do seu culto, abrigaram em suas casas mulheres que, em outros cultos ou fora deles, teriam se perdido na prostituição, no abandono ou simplesmente na solidão depois de verem seus maridos morrerem, principalmente em guerras.
Seja para satisfazer Joseph Smith Jr., seja para seguir os exemplos do Velho Testamento, “onde Abraão e outros personagens tiveram muitas esposas por mandamentos de Deus”, a poligamia está tão associada ao mormonismo como o radicalismo ao islamismo. Ela incendeia o imaginário coletivo, faz repensar os conceitos civilizatórios, a instituição do casamento e a relação entre os homens e as mulheres. Por mais que se digam coisas boas a respeito dos mórmons – e existem milhares delas, como em qualquer religião – as imagens que a mídia mostra – geralmente um homem mais velho, de chapéu e barbudo, ao lado de diferentes mulheres, de diferentes idades, carregando bebes em profusão– formam a percepção retida em nossas memórias.
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