quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Recessão é a melhor hora para descriminalizar as drogas


Maconha, haxixe, cocaína, crack, anfetaminas - o presidente-eleito Barack Obama, ele mesmo um ex-usuário (hoje é só cigarro de vez em quando) terá que lidar com a possibilidade de descriminalização das drogas, a exemplo dos que os Estados Unidos fizeram há exatos 75 anos, quando uma emenda constitucional acabou com a Prohibition, que para nós ficou conhecida como Lei Seca. Em 1933, milhões de americanos voltaram a tomar seus dry martinis e, assim, deixaram de ser criminosos, esvaziaram as prisões e, o melhor, acabaram com a vida fácil de Al Capones e outros gângsters que infestavam Chicago oferecendo bebidas que muitas vezes simplesmente matavam quem as bebia.
Contraditoriamente, e diferentemente de muitos países, os Estados Unidos adotam desde então uma política semelhante à Prohibition em relação a outras drogas. O resultado é uma Chicago dos anos 30 em escala mundial. Aqui, mais de meio milhão de pessoas encarceradas por uso de entorpecentes (1,8 milhão de prisões por ano), bilhões investidos nas guerras contra o tráfego, desde a Colômbia até o Afeganistão, milhares de mortes por overdose, suporte a terroristas como a FARC, e por aí vai. Ao todo, 20 milhões de americanos tomam drogas, contra 127 milhões de pessoas que, talvez como você, leitor, são chegados num drinque no final do dia.
Como lembrou Ethan A. Nadelmann, diretor do Drug Policy Alliance, não faz sentido liberar o álcool e proibir a maconha, que faz menos mal, tem pouca associação com comportamentos violentos e não oferece risco de overdose (a não ser o sono). O problema maior, como muita gente sabe, são as drogas estimulantes - cocaína e metafetaminas -, mas que quando comparadas ao álcool representam menor número de mortes e outros prejuízos para a sociedade.
"A diferença real", disse ele num artigo do The Wall Street Journal, "é que o álcool é um diabo que a gente conhece, enquanto estes outros diabos a gente desconhece". Por isto mesmo, continua, nada melhor que uma recessão (ou será depressão?), como a que vemos agora, para sairmos da chamada zona de conforto e enfrentarmos nossos preconceitos de uma forma clara, eficiente e principalmente inteligentemente.
Trazendo o mundo das drogas à luz do dia, sendo vendidas e controladas pelo Estado (ou por organizações criadas para este fim), e a exemplo do que já acontece vários países, como no nosso vizinho Canadá e em países europeus, o custo para a sociedade seria menor. Milhões de dólares deixariam de ser gastos numa guerra subterrânea que a gente desconhece e, por isto mesmo, não sabe como lidar.
Em seu programa de governo, Barack Obama já sinalizou que vai acabar com as grandes sentenças para drogados, voltará a financiar programas educativos para evitar a AIDS (que tem uma relação íntima com as drogas), deixará que a maconha seja testada para fins medicinais e vai dar suporte a programas alternativos para pequenos usuários pegos pela polícia.
Como se sabe, a fonte de toda dor - qualquer dor - é a falta de informação. Muitos pais sofrem por não saber como os filhos compram drogas em favelas, injetam substâncias no corpo sem agulhas descartáveis ou desconhecem seus limites como usuários. Trazendo o problema à tona, os riscos cairiam tremendamente e a criminalidade deixaria de existir em grande parte. Mas este problema, se não for enfrentado, sempre existirá. Pois se droga realmente fosse uma "droga", uma substância utilizada desde Adão para esquecermos a realidade e vivermos sonhos impossíveis, ninguém a utilizaria.

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