terça-feira, 26 de agosto de 2008

O velho tema

O Brasil quer abrir até CPI para investir porque os milhões investidos pelo governo nos atletas (US$ 100 milhões) foram para o ralo nas Olimpíadas, denegrindo a imagem do nosso país.
Os Estados Unidos gastaram, mais uma vez, cerca de meio bilhão de dólares. E perderam a liderança do esporte mundial. Aqui também a xiadeira está alta. Não vai ter CPI, mas aguardem profundas mudanças na política esportiva dos gringos.
Os Estados Unidos, como diz Bill Gates, erram. Mas são fantásticos na hora de reconhecer o erro e corrigi-lo. Ninguem, muito menos os Estados Unidos, gosta de perder.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

OBAMA ON LINE JÁ GANHOU A ELEIÇÃO

Nova York – Nesta semana o candidato democrata Barack Obama aceitará a indicação do partido para concorrer à Presidência dos Estados Unidos na convenção de Denver, capital do Colorado, iniciando o round final no embate com o candidato republicano, John McCain. ` Seja qual for o resultado, a campanha virtual do americano-queniano-hawaiano à presidência dos Estados Unidos, que vai custar mais de US$ 1 bilhão até outubro, tornou-se um oráculo para todos os outros candidatos que, de tempos em tempos, aventuram-se a cargos eletivos em qualquer país do mundo.
Seu website funciona como um alçapão para capturar eleitores que hoje passam boa parte do dia na frente de uma tela de computador, seja no trabalho ou no lar. O objetivo principal, como era de ser esperar, é arrecadar dinheiro num país de bolsos fartos onde 90% das casas estão plugadas na rede.
Há dias, por exemplo, o site exibe uma pegadinha: “seja o primeiro a saber quem vai ser o vice-presidente de Obama”, um segredo tão bem guardado feito a fórmula da Coca-Cola. Basta registrar seu nome e email e você saberá instantaneamente (talvez até antes da imprensa....) quem vai compor a chapa do candidato democrata.
Outra? Doe dez dólares e concorra a uma jantar com Obama. Uma significativa parte das doações (30%) ao candidato é deste valor. Na internet, e com cartão de crédito, milhões de americanos estão contribuindo um pouquinho para eleger o candidato do povo, como geralmente se fala dos candidatos do partido Democrata nos Estados Unidos.
Participação, debate, organização. Além de um mergulho na biografia e nas propostas de campanha, o site tornou-se um imenso espaço colaborativo. Estimula os eleitores, ensina os fundamentos da liderança, fornece material de campanha, vende camisetas, logotipos e DVDs, mergulha na realidade de cada um dos 50 estados americanos e, principalmente, utiliza todas as ferramentas atuais para agregar pessoas: FaceBook, Myspace, Youtube, Flick, Linkedin ...e por aí vai. De quebra, você pode registrar o número do seu celular para receber mensagens do candidato.
Melhor, impossível.
No futuro, a história registrará esta campanha on line como um marco que transformou e aprimorou a democracia, trazendo o eleitor para o centro real do espetáculo, coisa que jamais se imaginava quando este modelo político foi inventado na antiga Grécia.
Nesta nova posição, o eleitor vai se apegar ao poder que nunca teve. Vai querer que as decisões não esperem quatro ou oito anos para serem efetivadas. Ou, quem sabe, não vai querer mais a intermediação de políticos para proteger o seu status quo, melhorar de vida ou ajudar quem precisa.
Com Barack, abre-se uma janela para adivinharmos o futuro de nós enquanto seres políticos. Deseja mudança? Quer uma escola no seu bairro? Eleger ou depor um governante? Abra a tela do computador e simplesmente dê um clique.

A CORAGEM VEM COM A PRÁTICA

Atlanta, Georgia – Depois de seu irmão mais velho ter morrido num acidente quando ela tinha quatro anos, a vida da médica Theresa MacPhail deixou de ser um parque de diversões para se transformar num campo cheio de perigos. Super protegida pela mãe, cresceu presa a regras e restrições impostas para pretensamente protegê-la. Não podia voltar da escola sozinha, dormir na casa das amigas ou viajar no verão. “E se algo te acontecer? ”, perguntava a mãe. Quando cresceu, a lista de medos aumentou ainda mais, fazendo-a uma medrosa por excelência. Começou a ter medo de sofrer de câncer, de perder a carteira, acidentes de carro, terremotos, ter um aneurisma cerebral, perder o emprego ou morrer num acidente aéreo... desastres grandes e pequenos, reais ou imaginários, conforme contou num emocionante depoimento ao programa “Nisto Eu Acredito”, da NPR, a rádio pública norte-americana (e com todo respeito às outras, a melhor do mundo).
O medo pode ser uma reação irracional, nascer do nada ou pode ser justificado. Mas é um sentimento difícil de ser enfrentado, às vezes até de falar sobre ele. Mas Theresa, que hoje vive nos confundós da China tentando controlar epidemias, desenvolveu uma inusitada defesa para suplantá-lo. Ela simplesmente se obriga a fazer coisas que a ameaçam ou a assustam ou a amedrontam– pelo menos uma vez. Especialmente coisas que aterrorizariam sua mãe, (fosse ela viva – pois ela também morreu num acidente de carro quando Theresa tinha apenas 14 anos): viver na China, andar de motocicleta, contar piadas diante de platéias e até casar de novo, e pela segunda vez. No depoimento, ela confessou que foi criada para viver o resto da sua vida de maneira segura, de preferência entre quatro paredes. Mas o que ela fez foi o contrário: ser corajosa o suficiente para viver uma vida completa, excitante e, porque não, perigosa de vez em quanto.
Ela tem medo de que, falando da sua mãe e fazendo justamente o oposto que recomendava, que ela volte do além e a puxe pelo dedo do pé enquanto estiver dormindo. “Mas mamãe é força básica da minha vida, e no fim eu acho que ela ficaria orgulhosa de mim”, diz. Coragem, segundo ela, não é um atributo natural dos seres humanos. Ela acredita que nós devemos praticá-la, como se fizéssemos exercício para fortalecer um músculo. “Quanto mais eu faço coisas que me botam medo, ou mesmo coisas que me deixam numa posição inconfortável, mais eu descubro que eu posso fazer muito mais coisas do que eu penso que sou capaz”, conclui. A médica reconhece que herdou da mãe uma natureza cautelosa, mas também ela acredita que o medo pode ser um excelente sentimento, desde que o enfrentemos de frente. Acreditar nisto, segundo ela, faz do mundo um lugar menos assustador.
Theresa MacPhail formou-se pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, uma das mais famosas do mundo. Ela também se tornou escritora e jornalista; acabou de escrever “O Olho Do Vírus”, uma obra de ficção sobre a epidemia de gripe asiática. Segundo ela, sua vida daria um filme emocionante que pouca gente acreditaria. Na verdade, seu pai acaba de morrer – também numa morte acidental. Mas ela acredita que um raio não cai no mesmo lugar quatro vezes – e se recusa a viver com medo.

O PODER DE CADEIRA DE RODAS


New York – Quem assiste Warm Springs, da HBO, a história da pólio que atacou o nova-iorquino Franklin Delano Roosevelt, descobre o lado fraco, medroso e incongruente do homem que viria a ser o maior presidente norte-americano de todos os tempos, reeleito quatro vezes até morrer de hemorragia cerebral em 1945.
Roosevelt, um ex-secretário assistente da Marinha e favorito do Partido Democrata para a sucessão do governo do Estado de Nova York, acordou com febre e paralisado da cintura para baixo aos 39 anos enquanto passava férias em Campobello Island, New Brunswick.
A depressão e a vontade de recuperar a força nas pernas o leva a um balneário na Geórgia, Warm Springs, onde mantém contato não só com a pobreza do Sul, mas também com gente como ele, atacada pela paralisia infantil, naquela época uma espécie de Aids sem possibilidade de cura – a não remediar com águas magnesianas do local.
Representando pelo inglês Kenneth Branagh, Roosevelt bebe em doses cavalares, fuma a todo instante, trai a mulher (Eleonor Roosevelt, vivida por Cynthia Nixon, do seriado Sex in the City, que como Eleonor é também é homosexual na vida real), mas já mostra, por outro lado, o político gigantesco que viria a idealizar o New Deal, que salvou os Estados Unidos da Grande Depressão.
Roosevelt não tinha nada para ser do Partido Democrata. Nascido numa das mais aristocráticas famílias nova-iorquinas, viveu num ambiente de luxo e riqueza, com pai ausente (quando ele nasceu seu pai já tinha 54 anos) e mãe repressora, que a todo o momento (mesmo na idade adulta) ameaçava cortar-lhe a mesada.
A viagem para o pobre e rural ambiente do Sul foi o que os americanos chamam de “turning point”, uma surpreendente sucessão de acontecimentos que moldaria sua liderança e visão de mundo. O futuro presidente dos Estados Unidos chega à Geórgia enojado com a pobreza e as condições do balneário que iria se “curar” e, no futuro, comprar e administrar.
Aos poucos, toma amor pelo lugar e, milagrosamente, segundo ele, consegue andar, mesmo que trôpego, com os pés tocando o fundo da piscina. Uma entrevista a um jornal local é distribuída para toda a mídia americana da época e Warm Springs, do dia para a noite, torna-se a Meca de centenas de pessoas atacadas pela paralisia.
Roosevelt escreve para mãe e pede que adiante o dinheiro da herança para comprar Warm Springs do seu amigo, o banqueiro George Foster Peabody. Com o socorro materno, transforma-o num centro de milagres, onde crianças começam a andar com botinhas ortopédicas e adultos arriscam alguns passos.
Pressionado pelas chamadas bases, no entanto, Roosevelt volta a Nova York e, pelos braços do Partido Democrata, o partido do povo, como é chamado até hoje, prossegue a carreira que o levaria à capital Albany e, depois à Casa Branca.
Warm Springs mostra um homem amedrontado pela possibilidade dos eleitores descobrirem que era um aleijado – jamais se deixou fotografar de cadeira de rodas -, ou de cair quando subisse em qualquer púlpito para discursar. “Se eu cair será o meu fim na política”, repetia. Só o convencem a continuar na luta quando dizem que existiria um punhado de gente para socorrê-lo, entre eles sua mulher, Eleonor. Mesmo traída pelo marido, que a partir daí dá-lhe a liberdade para fazer o que quiser, ela resiste e diz: “Não quero a liberdade. Quero é ser sua esposa para sempre”.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

TERRÁQUEOS, LUNÁTICOS E MARCIANOS

San Juan Islands – Para muita gente (inclusive eu) a coisa mais interessante que aconteceu na Terra desde Adão e Eva foi a chegada do homem à Lua, numa fria noite de julho de 1969. Até hoje nada foi mais extraordinário que o astronauta Neil Armstrong (“um pequeno passo para mim, um grande passo para a Humanidade”) descer titubeante a escada do módulo da Apolo 11, pisar na Lua e fincar a bandeira dos Estados Unidos antes dos soviéticos, naquela época chamada de carrascos de Moscou, agentes da mal, devoradores de criancinhas e assim era o mundo de então.
A Nasa (pronuncia-se naasssa), a agência espacial norte-americana que mandou os astronautas para a Lua sem a ajuda de nenhum computador (mesmo porque naquela época eles não existiam), comemorou na semana passada 50 anos. Ela nasceu pelas mãos do republicado Dwight Eisenhower, que quase morreu de inveja (como todos os americanos) do soviético Yuri Gagarin tornar-se o primeiro homem a dar uma volta pela órbita da Terra, mas foi John F. Kennedy quem lançou a corrida espacial: “queremos descer na Lua até o final da década”, disse ele num discurso. O que pouca gente sabe é que, depois deste discurso, os Estados Unidos dedicaram quase um 1% do seu Produto Interno Bruto à Nasa.
A agência, que já fez mais de 150 missões tripuladas até hoje, recebe anualmente cerca de US$ 17 bilhões para brincar de ir à Lua novamente, manipular jipinhos no solo de Marte ou visitar aquela estação espacial lá em cima que ninguém sabe porque existe. O problema é que, agora, ela sofre de dois males: não há uma meta específica em torno da qual todo mundo se une (ir à Marte para que?), ao mesmo tempo em que dezenas de milionários ou pagam absurdos para uma vaga de turista nas viagens espaciais, ou jogam milhões numa corrida espacial privada. Tome-se os exemplos de Jeff Bezos, o dono da Amazon, ou de Richard Branson, da Virgin. Ambos, nascidos vendo Super Homem e os Jetsons na TV, estão brigando para ver quem chega primeiro lá em cima, e por um preço razoável, capaz de atrair milhares de consumidores.
A Nasa já errou muito: os astronautas da Apolo 1 morreram carbonizados num teste, a Apolo 13 não conseguiu aterrissar na Lua e os ônibus espaciais Columbia e Challenger explodiram lá em cima. Por gastarem bilhões de dólares dos contribuintes (só o programa dos ônibus espaciais já custou mais de US$ 100 bilhões) e por atraírem a atenção de todo o mundo, qualquer desastre com a Nasa parece ser de grandes proporções, que significam protestos, debates e principalmente redução de verba para os programas. Quando a poeira abaixa, voltam os planos, as verbas e as vitórias, como por exemplo, as recentes e surpreendentes informações sobre o solo de Marte, que tem água e, conseqüentemente, vida.
Entre a Nasa de John F. Kennedy e a Nasa de George W. Bush (ou de Obama, ou de Mccain) existem muito mais de 50 anos. O mundo de hoje não é tão vidrado no espaço – tanto é que a missão há alguns anos mudou para “entender e proteger o planeta em que vivemos” . Parece que o mundo hoje prefere (ou precisa) arrumar a casa, diminuir o aquecimento global, proteger a natureza e ter uma vida saudável. Hoje também não existem soviéticos para competir com os americanos. Sem competidores, não é competição. O espírito competitivo é tudo eles. Quando Armstrong, Collins (o segundo homem a pisar na Lua) e Aldrin voltaram à Terra, ficaram alguns dias de quarentena dentro de uma bolha especial (tinha-se receio de que eles trouxessem alguma praga maldita lá de cima). Foram recebidos como heróis, mas quando Aldrin foi abraçar sua família, seu pai lhe perguntou:
- Por que você não foi o primeiro a pisar na Lua?

NOSSO DESTINO É CRIAR

San Francisco – Não é café, nem petróleo ou avião. Enfim, depois de tortuosos 508 anos de vida, descobrimos nossa vocação: é criar, formar conceitos, conectar pontos, inventar, abrir as portas do inusitado. Os brasileiros, que desde 2006 investem mais no mundo que o mundo no Brasil (US$ 152 bilhões em ativos, segundo a KPMG), estão em vias de dominar a criação nos Estados Unidos, desde publicitários, designers, músicos, gente da moda e até empresários. Agora, temos um produto, a criatividade, um projeto, espalhar nossa criação nos quatro cantos do mundo, e um objetivo para esta revolução criativa: gerar dividendos para nós.
Mergulhados num prato de frango ao curry, regado a água de coco, num barulhento restaurante asiático aqui, na capital da inovação, PJ Pereira (sócio de Nizan Guanaes nos Estados Unidos), Bruno Ewald, cineasta e sobrinho do Rubens, e eu vamos resolvendo os problemas nacionais e citando nomes que, hoje em dia, são mais falados nos Estados Unidos que no Brasil: Ícaro Dória, da Saatchi & Saatchi New York; Ricardo Figueira, da Isobar; Fernanda Romano, da JWT. O próprio PJ já é um dos criativos mais festejados aqui em San Francisco, através da Pereira & O’Dell.
Por sermos uma festejada mescla de branco-indio-negro, uma Itália dos trópicos rebatizada a cada ano como o país do futuro, aprendemos a criar do nada, sem organização ou planejamento, em cima da hora ou, como celebramos, por acaso. Veja este povo da Imbev, o Carlos Brito comprando a Anheuser-Bush na maior transação da história dos Estados Unidos. Ou Carlos Ghosn, colocando a Nissan/Renault nos trilhos e reinventando a indústria automobilística. Rogê Agnelli, o ser mais competitivo que o Brasil já produziu, dia desses faz a Vale dona de todas as minerações aqui, repetindo o sucesso de Alain Belda, da Alcoa.
Sem ufanismo, é tudo gente que fala português, bebe caipirinha, já chorou na novela das oito e cresceu jogando futebol. Ou também gente que cansou de falar mal do Brasil ou que não entende porque a nossa auto estima já nasceu lá embaixo. Daí este Manifesto Bossa Nova pela Criatividade Brasileira, um documento nascido pelas mãos do baiano Nizan Guanaes (que como todo bom baiano não nasceu, estreou), e que deu o que falar durante um recente congresso de propaganda no Brasil.
O conceito de criatividade, como se sabe, não é novo, mas a conscientização de seu poder ecônomico é. Ela desafia formas, estruturas, hierarquias, parece ser espontânea, mas na maioria das vezes surge da fórmula 90% transpiração e 10% inspiração. Esta indústria – que pode ser encontrada em setores tão distintos como softwares ou artesanato, costura ou vídeos, televisão ou móveis –, e cujo valor de exportação hoje é calculado em mais de US$ 445,2 bilhões em todo o mundo, segundo o consultor Supachai Panitchpakdi, é a nossa redenção, aquilo que fazemos de melhor, a arma que precisamos utilizar intensamente para não naufragar num mundo dominado pelas formigas chinesas, pelos PHDs em série da Índia ou pelos petrodólares da Rússia.
Falta agora bater no peito, reconhecer nosso potencial, trabalhar duro e correr para o abraço. Pouca gente consegue ver a relação entre criatividade e desenvolvimento político, social e econômico. Criatividade é o amálgama que pode nos unir para sobreviver num mundo globalizado, instantaneamente mutável, mudando (para melhor) o nosso destino. A melhor forma de prever o futuro, como se sabe, é criá-lo.

ESTÃO FALANDO MAL DE VOCÊ

San Francisco – Uma das primeiras lições que aprendemos no jornalismo é jamais falar ou escrever através da mídia aquilo que você, como cavalheiro, não faria pessoalmente. O mesmo pode ser aplicado aos bilhões de internautas que, freneticamente, não medem palavras ou sentimentos quando se dirigem a outras pessoas, especialmente crianças. Esta lei, apesar de não escrita, nada mais é que bom senso (ou senso comum) para quem vive em sociedade.
Só que a turma da internet, armada de emails, mensagens instantâneas, sites de relacionamento etc. não está nem aí para estes limites e está mandando ver. O resultado é que hoje, nos Estados Unidos, 42% das crianças e adolescentes já foram ou são vítimas de um engraçadinho (ou, na maioria das vezes, engraçadinhas) que escrevem coisas horríveis para amigos, amigos dos amigos, namorados, casos e, o que era de se esperar, inimigos.
Pode parecer coisa menor, “coisa de criança” , mas tem gente nem experimentou a puberdade e já se matou depois de receber emails ofensivos ou sofrer campanhas on line maliciosas, desde críticas à quantidade de espinhas no rosto, o tamanho do nariz, uma roupa considerada ridícula, intolerância racial e até rejeições amorosas. Pais, educadores e gente preocupada com o assunto vêm criando sites educacionais, como o www.cyberbullyng.com, para abrigar denúncias e fazer algo sobre o assunto. Até um filme, Adina's Deck, já foi feito sobre a questão.
Quem tem filho sabe que crianças (e adolescentes) falam e escrevem coisas horríveis, não porque são maus ou futuros criminosos. Mas, por não terem sofrido as agruras da vida, não conseguem avaliar os resultados de suas ações. Com o tempo, e depois de levar umas pancadas, pensam duas vezes antes de falar o que vem à cabeça. Palavras são poderosas. Elas encantam ou destroem, na maioria das vezes muito mais pela forma do que pelo conteúdo.
Defronte à tela de um lap top ou um celular, no entanto, fica mais fácil soltar as rédeas das emoções e destruir pessoas. Sem a presença física, ou mesmo travestido de outra pessoa, a tela do computador funciona como um escudo, um objeto eletrônico que te impede de levar um soco ou ouvir o que não quer. É um veículo ideal para gente ruim, que gasta tempo e palavras para o mal. Na enquete americana, 58% das crianças e adolescentes entrevistados não revelaram aos seus pais, ou a qualquer adulto, que foram ou estão sendo vítimas de ameaças, campanhas difamatórias, fofocas etc.
O que fazer? Segundo o site www.stopbullyingnow.com, coloque o computador que os filhos utilizam em lugares freqüentados pelos pais. O segundo passo é conversar com os filhos sobre o assunto, e encorajá-los a revelar quando há alguma ameaça. É importante frisar que jamais a vítima deve responder às ameaças on line, e sim procurar amparo nos responsáveis ou, em última instancia, na Justiça. É recomendável manter as provas deste crime, jamais apagando os emails, mensagens de texto ou fotos e ilustrações enviadas. E, por último, instalar softwares de controles nos computadores dos filhos, muitos deles já incorporados aos navegadores quando são instalados.
Não só nos Estados Unidos, como em todos os países, o cyberbullying é uma atividade repugnante e inaceitável, e que merece a intromissão de pais ou responsáveis mesmo à custa da perda de parte da privacidade dos filhos. Deste Adão e Eva, nunca tivemos uma ferramenta como a internet para colaborarmos em escala global rumo à paz e a felicidade. Pena que tem gente no mundo que acha justamente o contrário.

“ALÔ? PRECISO DA SUA AJUDA PARA SALVAR O MUNDO”

Seattle – Quando tomava seu último drinque num restaurante de Nova York na noite em que comemorou seu 52º aniversário, dia 13 de março deste ano, Jamie Dimon, CEO e chairman do JP Morgan Chase, recebeu um chamado dos diretores do Bear Stearns, a venerável casa bancária nova-iorquina, àquela altura vítima de uma corrida sem precedentes. “Precisamos de US$ 30 bilhões para fechar o caixa esta noite”, imploraram. Dimon deu dois goles, pensou alguns segundos já ia respondendo um sonoro não quando avaliou que ali estava o início de uma catástrofe de proporções globais. A festa de aniversário não só tinha acabado para ele. Naquela noite e nas 72 horas seguintes, em frenéticas negociações, Dimon mobilizou o presidente do Banco Central, o secretário do Tesouro e toda uma cadeia de milhares de contadores, advogados, consultores, e gerentes ao redor do mundo para salvar o Bear. Acabou comprando o banco por uma ninharia (“uma coisa você é comprar uma casa, a outra é comprar uma casa em chamas”, disse ele) por dez dólares a ação, com o aval do BC americano.
Dimon é hoje a maior sensação do sistema financeiro dos Estados Unidos. Bem nascido, formado por Harvard, cara de menino, obcecado por cortar custos, desde bônus até contas de celulares, deu semana passada uma entrevista de quase duas horas para a TV pública norte-americana, a PBS, durante o Festival de Novas Idéias, em Aspen, Colorado. Ali, diante do jornalista Charlie Rose, descreveu com o humor os delicados dias em que, segundo ele, o mundo foi salvo de uma hecatombe financeira. “Naquela noite, avaliamos que havia um risco de 30% de haver uma quebra sucessiva de bancos e outras instituições financeiras – mesmo assim, assumir este risco seria uma grande falta de responsabilidade - tudo poderia acontecer”. Dimon, que já foi protegido e braço direito de Sandy Weill, o obscuro banqueiro que através de fusões e aquisições chegou a chairman do então maior conglomerado financeiro mundial, o Citicorp, sendo depois demitido por seu protetor, diz que Wall Street não pode ser responsabilizada pela crise econômica americana. “Wall Street somos todos nós”, disse ele. Qualquer cidadão americano (ou de muitos países) possui investimentos ou aposentadorias negociadas lá, explica. “No entanto, há muita alavancagem, liquidez e ambições desmedidas, mas Wall Street apenas reflete o que se passa na economia”.
Dimon, casado e pai de três filhas, já poderia estar descansando em cima dos seus quase um bilhão de dólares, principalmente em ações do JPMorgan, mas parece um gênio jovial quando fala do sistema financeiro, dos Estados Unidos e dos problemas a serem enfrentados por Barack Obama ou John Mccain, candidatos dos democratas e dos republicanos. O principal deles, diz Dimon, é o que ele considera uma “esclerose” das instituições norte-americanas. Para o chairman do JPMorgan, os Estados Unidos perderam a capacidade de reagir e resolver seus problemas, habilidade que, há quase um século, tem levado o país a ser a maior potência do mundo. Por exemplo, “desde 1974 sabíamos da crise de petróleo, e mesmo fizemos muito pouco para solucioná-la”. Mais ainda, os Estados Unidos não têm um plano para resolver o decadente sistema educacional e os estratosféricos custos da saúde, reclama. “Apesar de democrata, tenho muitos amigos republicanos e milionários que pensam que eles fizeram este país – penso o contrário: eles são beneficiários das oportunidades que os Estados Unidos lhes ofereceram e agora está na hora deles ajudarem o país a resolver estas importantes questões”.

ABAIXO OS POLÍTICOS (E VIVA A POLÍTICA)

San Francisco, Califórnia – Quando no poder, ou próximos a ele, os políticos roubam (ou deixam roubar), favorecem interesses (mesmo os bons) ou simplesmente embolsam gordos salários e não fazem nada. A culpa não é deles. Como os gregos descobriram ao inventar a democracia, é próprio do ser humano querer agradar a todos, mentir ou acomodar-se às benesses da Corte. E, mais ainda, fazer de tudo para não perder esta boquinha.
Mas a possibilidade de extirpar os políticos – e preservar a política – está chegando. Depois de uma semana fazendo um documentário para a TV brasileira sobre a revolução da colaboração aqui no Vale do Silício, fica fácil entender porque a era do intermediário – políticos, vendedores de seguros, consultores, advogados e até jornalistas – está chegando ao fim.
O fenômeno da internet – e da colaboração – democratiza a informação e, conseqüentemente, o poder. Mais do que a TV, a Internet hoje é, por exemplo, o banco dos réus dos representantes que dizem nos representar. Os internautas, libertários por natureza e gregários no cotidiano, quase elegeram o obstetra Ron Paul (“fim do imposto de renda e das forças armadas”) candidato republicano à presidência dos Estados Unidos.
Agora, numa virada surpreendente, podem destruir a candidatura de Barack Obama, o democrata escolhido pela blogosfera para a Casa Branca. O afro-asiático-americano está indo para o centro para agradar outros eleitores, com posições direitistas sobre a pena de morte para estupradores de crianças, o porte de armas e aí por diante.
A mudança está enfurecendo o mundo virtual. Ao mesmo tempo em que Obama vira a folha, 12 mil internautas criaram um grupo on line no site do candidato, exigindo que ele mantenha-se fiel aos princípios de campanha. “Quando um candidato decide se mover para o centro, ele deveria ficar longe de nós”, disse Mike Stark, estudante de direito da Universidade de Virgínia.
Ou seja, a opinião do eleitor que está detrás da tela do computador agora não é apenas importante, mas pode definir o futuro dos políticos – e da política. O ambiente virtual tem todas as condições não só de deliberar sobre qualquer assunto que rege nossas vidas, mas também acabar com a intermediação, que hoje sobrevive porque os intermediários sempre vão arranjar um jeito de sobreviver.
Calcula-se que hoje existam 1,2 bilhão de internautas no mundo, que de uma forma muito mais fácil, segura e instantânea podem votar on line sobre qualquer tema, dispensando exaustivos processos de campanha, financiamentos, lobby, corrupção... Enfim, toda esta embromação que muita gente já está cansada de acompanhar no nosso dia-a-dia.
Tome-se o exemplo de George W. Bush. Um homem só, eleito pelo voto dos delegados, e não pelo voto do povo, fez um estrago de proporções maremóticas em oito anos de governo. Ou mesmo Lula, no Brasil, que está dando certo porque, incompetente e complacente com a corja que tomou o poder, não conseguiu fazer o estrago de proporções maremóticas pelo qual foi eleito.
Todo poder ao povo, dizia John Lennon. Fosse vivo, hoje estaria cantando: todo poder a você. Agora, a liberdade, a paz e a democracia estão na frente de qualquer tela de computador.

CONVERSA ANTES DA DECOLAGEM

Seattle - Não sei se tenho cara de confessionário, mas basta um ser humano sentar-se ao meu lado para a história começar. A última foi num banco do aeroporto de Atlanta, o maior do mundo, quando esperava a conexão para Seattle. Uma mulher na casa dos 50 anos, vestida de preto, chapéu de caubói e sapatos de lã, me disse que, num intervalo de seis meses, teve de mandar a filha autista para um hospício em Utah, perdeu 65 quilos, separou-se do marido depois que ele revelou que era gay e, como se não bastasse, começou a perder a força nas pernas, a ponto de não poder mais andar sem a ajuda de um andador.

Antes que tentasse balbuciar algum comentário ("escutar é um ato de amor", diz o ditado), emendou: “adoro mudanças (e como, pensei eu), mas o fato de não poder mais andar está surpreendendo não só a mim como aos médicos”. "Fiz testes de sangue, ressonância, cutucaram minha coluna e não descobriram nada". Mórmon (“da sétima geração”), filha de professores que rodavam o mundo ensinando inglês, a mulher não citou Deus nem o destino para explicar os mistérios que a estavam rondando. Pele pálida, cabelos desarranjados, olhos reluzentes, estava encantada, isto sim, com mistérios da medicina.

Antes da chamada para o embarque, ela retirou da bolsa um laptop e continuou falando. "Ganho a vida escrevendo (é redatora de publicidade) e ensinando os outros a escrever - meu último livro, não sei se você leu, chama-se "Como Escrever num Mundo Onde Ninguém Lê". Balancei a cabeça e coloquei a mão no queixo em sinal de concordância. "É um livro fácil de se ler porque é extremamente pequeno (imagino), tem poucas páginas (não diga) e letras extremamente grandes (melhor assim)".

Continuei em silêncio quando revelou que, apesar de norte-americana, era nascida no Irã, criada na Rússia, crescida no Afeganistão e, ainda adolescente, mudou-se para a Birmânia (ou outro país distante) junto com os pais e seis irmãos. Já em Seattle, apaixonou-se com um professor que dava aulas em Atlanta, para onde se mudou. Agora, estava voltando para Seattle, pois fora chamada para trabalhar num projeto legal.

Em Atlanta, teve dois filhos, o mais velho faixa preta de caratê, especialista em explosivos e que trabalha como double de cinema. A outra filha foi diagnosticada aos três meses de idade com autismo. "Não há nenhuma relação entre autismo e vacinas, como se diz por aí, tampouco que o autismo esteja crescendo como uma epidemia", diz ela. "O que está crescendo é a percepção entre as pessoas sobre a doença que ataca as ligações entre os neurônios do cérebro - entre dois e 3% da população do mundo é autista", explica.

Antes da decolagem, vi de longe a mulher ser acomodada no primeiro assento do avião. Num espaço de seis meses a vida tinha lhe dado diferentes e estupendas pancadas. O marido, a filha, o trabalho, a perda de 65 quilos e, agora as pernas. Durante o nosso encontro, e na única vez que falei, ousei perguntar-lhe se o problema nas pernas não seria uma somatizaçao de tudo que ela está passando. "Não existe relação", argumentou com voz forte e um pouco brava. "Amo meus filhos, adoro meu ex-marido, apesar de separados, adoro viver e sou extremamente feliz".

*Dirige a Cia. da Informação em Seattle, Estados Unidos (pedro@theinformationcompany.net)