segunda-feira, 24 de março de 2008

Carl Icahn, o Robin Hood de Nova York

Se você anda desanimado com a vida, pensando que não nasceu para o mundo dos negócios ou para ficar rico, assista ao bilionário norte-americano Carl Icahn sendo entrevistado por Lesley Stahl no programa 60 Minutes, da CBS, (www.cbsnews.com/stories/2008/03/06/60minutes/main3915473.shtml), agora já disponível na internet.
O judeu nova-iorquino, hoje considerado o 46º homem mais rico do mundo, com US$ 14 bilhões no bolso (e nas bolsas) e um estonteante escritório com vista para o Central Park, em Nova York, está se tornando um Robin Hood dos pequenos acionistas insatisfeitos com as empresas nas quais depositaram suas poupanças.
Icahn vai lá, compra a empresa, ou parte dela, faz o pessoal levantar o traseiro da cadeira, acordar cedo, dormir tarde e, melhor ainda, gerar lucros. Depois, vende e embolsa a diferença. Na venda da BEA para a Oracle, levou US$ 300 milhões. Para os acionistas, US$ 3 bilhões.
“Vou ser direto: estou aqui para ganhar dinheiro – é o que eu gosto de fazer”, confessa ele, sem mudar o semblante, ao 60 Minutes. Obsessivo, viciado em trabalho, cabelo tapando a careca, Icahn tem uma equipe de 40 pessoas que, para não dizer o tempo todo, passam boa parte do dia e da noite pensando em empresas-alvo para seus negócios.
Geralmente são algumas jóias da coroa, como a Motorola, ou o conglomerado Time Warner, ou a Blockbuster, que têm CEOs bonzinhos, que agradam a todo o mundo, e pensam nos negócios de uma forma, digamos, holística, familiar, sustentável e outras ondas do momento, mas que geralmente não conseguem fazer dinheiro. Icahn costuma chamá-los de morons, que significa pessoa idiota, estúpida, cujo retardo mensal equivale a uma criança de 8 a 12 anos.
Icahn aprendeu a ser cruel com o próprio pai, que não via nenhum futuro nele e o desprezava. Por exemplo, sem apoio algum, pagou seus estudos em Princenton (uma das melhores e mais caras universidades do mundo) com seu próprio dinheiro, proveniente em grande parte das rodadas de pôquer no campus.
Numa história pessoal única, só possível nos Estados Unidos, Icahn faz mais pelos acionistas (e são milhões deles aqui) do que muitos Bill Gates da vida já fizeram pelos necessitados. No entanto, muita gente, especialmente os CEOs e milhares de empregados demitidos em suas “faxinas” empresariais, o odeiam.
Na tarde em que deu entrevista para o 60 Minutes, os mercados financeiros estavam, como quase sempre nos últimos meses, derretendo. Icahn perdeu Us$ 150 milhões naquela tarde. No dia seguinte, recuperou tudo e ganhou mais um pouco.
No programa, o bilionário confessou possuir iates e casas que raramente usa. Seu maior divertimento é chacoalhar as empresas e dar uma injeção de ânimo no capitalismo americano.
Carl Icahn é também um dos maiores filantropistas do país, um construtor serial de escolas para os habitantes pobres de Nova York, cidade onde nasceu há 72 anos e fez sua fortuna. O trabalho assistencial é feito por sua segunda e atual mulher, bem mais nova que ele. Por sinal, sua ex-assistente pessoal.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ser rico, aqui, está ficando constrangedor

Estréia esta semana nos Estados Unidos o segundo – e mais polêmico ainda – documentário de Jamie Johnson, 29 anos, o premiado herdeiro da Johnson & Johnson que está fazendo da sua vida uma luta para denunciar a única coisa que tanto os ricos quanto os pobres gostam: dinheiro.
“The One Percent”, apresentado sob aplausos no TriBeCa Film Festival, é um documentário de 80 minutos sobre os desafios que os Estados Unidos enfrentam ao ter apenas um por cento da sua população controlando a metade da riqueza nacional.
O filme apresenta o comentarista Robert Reich, Bill Gates Sr., Milton Friedman (que acusou Johnson de socialista e abandonou as filmagens) e alguns bilionários, contrabalanceando com cenas que mostram efeito do furacão Katrina sobre a população pobre do Sul dos Estados Unidos.
Em 2003, Jamie, uma espécie de Michael Moore dos ricos, já tinha irritado seus amigos (e a própria família) ao lançar Born Rich, transmitido pela rede HBO. Na apresentação, frisou-se que documentário era “sobre os filhos dos ricos e dirigido por um deles”.
O herdeiro entrevista seus amigos e conhecidos sobre a experiência de viver sem restrições financeiras de nenhuma espécie. Fez tanto sucesso com a iniciativa que ganhou dois prêmios Emmy, incluindo melhor direção para não ficção, e uma aparição no programa de Oprah Winfrey na TV, onde foi entrevistado ao lado da neta do bilionário Warren Buffet, hoje o homem mais rico do mundo.
Depois de lançar “The One Percent”, Jamie sofreu ainda mais ameaças e acusações dos entrevistados e citados, inclusive da J&J e de seu pai James Loring Johnson, que o acusaram de tê-los retratado injustamente. O cineasta, no entanto, descobriu, durante as filmagens, que seu pai tinha ajudado a custear um documentário sobre o apartheid e outras injustiças na África do Sul. À época, a reprimenda da família foi tão forte que seu pai jamais voltou a fazer filmes, preferindo pintar paisagens e ler o dia inteiro.
Numa entrevista ontem na NPR, Jamie Johnson revelou que o dinheiro, ou o excesso dele, sempre foi um tabu nas reuniões familiares. Seu pai costumava dizer: “Porque você está falando sobre dinheiro? Se alguém te perguntar sobre isto, diga que não é verdade, diga que não temos parentesco com a família que fundou a Johnson & Johnson”.
Pessoas ricas, diz Jamie na NPR, geralmente relutam em falar sobre dinheiro, particularmente antigos milionários, aqui chamados Old Money, e WASPs (abreviatura em inglês para branco, anglo saxão e protestante). Mesmo assim, ele diz que este tabu nunca o intimidou.
“A fortuna da minha família está aumentado mais rápido do que nunca – somos parte de um pequeno número de famílias que tem a maioria da riqueza nacional -, mas ter-se tanto na mão de tão poucos não pode ser bom para a América”, diz.
O documentário contrapõe cenas de country clubes, seminários para se evitar a alta taxação do governo ou cursos de como ter acesso a presidentes da República, e cenas de deprivação, como Nova Orleans sendo inundada durante o furacão katrina.
Uma das melhores cenas é Jamie, com um microfone escondido, perseguindo seu pai num country clube e perguntando sobre o que ele achava da riqueza. Ele, perdendo a paciência, responde: “Eu não posso te dar todas as soluções para os problemas do mundo”.

Por que a mulher deve comandar o mundo

Com a vitória da senadora Hillary Clinton nas primárias do Texas e de Ohio, renovam-se as esperanças de que a primeira candidata à Presidente da história dos Estados Unidos dê a volta por cima e vença Barack Obama na indicação do Partido Democrata para a Casa Branca.
Hillary, 60 anos, milionária e esposa do homem mais influente do mundo segundo a revista Time, Bill Clinton, está sofrendo o maior revés de sua vida – talvez pior do que o escândalo da estagiária Monica Lewinsky- ao se deparar, no próprio seio democrata, com o candidato Obama, uma espécie de Moisés moderno liderando as massas cansadas do desastre republicano.
Mas Hillary, embora não bata este martelo – “não acho justo inserir a questão de gênero sexual nesta campanha”- é mulher. E, como tal, é um ser mais completo para gerir o destino da nação mais potente da Terra e, conseqüentemente, do mundo. Não que as mulheres sejam melhores que os homens, explica a jornalista Dee Dee Myers no livro “Por que as Mulheres Deveriam Mandar no Mundo”, mais um best seller que está dando o que falar aqui. “Mas com uma mulher no comando tudo poderia mudar”, alfineta.
Poderia mesmo? “A política, por exemplo, seria mais colegiada. As empresas seriam mais produtivas. As comunidades seriam mais saudáveis”, continua. “Dar mais poder as mulheres faria do mundo um lugar melhor para se viver, não porque as mulheres se igualam os homens, mas justamente porque elas são diferentes”.
Em seu livro, a ex-assessora de imprensa do Bill Clinton, que ficou famosa não só por causa do seu interessante apelido, mas também por se tornar a primeira – e mais nova – porta voz da Casa Branca, numa época em defender o ex-presidente era semelhante a defender um porco chovinista incapaz de controlar seus instintos sexuais, defende como ninguém Hillary na Presidência.
Dee Dee hoje é uma bem sucedida mãe de família que faz questão de dizer que adora os homens (“até meu pai era um homem”, brinca ela) e divide seu tempo como editora contribuinte da revista Vanity Fair e comentarista política das redes NBC e MSNBC. Na entrevista que deu semana passada ao melhor jornalista americano da atualidade, Tim Russert, do programa Meet the Press, Dee Dee diz que “as mulheres tendem a ser melhor comunicadoras, melhores ouvintes e melhores para formar consensos”.
Dee Dee, eu também sou fã das mulheres.

Para Buckley, ser de direita não era pecado

Tem gente que acha que, depois da queda do Muro de Berlim, ser de direita ou de esquerda perdeu relevância no mundo. Mas não para William F. Buckley Jr., o jornalista, empresário, pintor, escritor, tocador de espineta, velejador, ou, na falta de outros adjetivos, padrinho do novo conservadorismo americano. Este polêmico (e bem nascido) renascentista foi encontrado morto em seu escritório semana passada, em Connecticut, vítima de complicações com enfisema e diabetes, aos 82 anos.
Buckley tinha muitos defeitos, menos o medo de ser de direita. À frente da National Review, a revista fundada em 1951 e favorita dos republicanos, especialmente do ex-presidente Ronald Reagan, o jornalista, que assinava WFB ao final dos artigos, tornou-se uma espécie de reserva moral, ideólogo e porta voz dos conservadores, um tipo de gente discreta e abastada que prefere o silêncio dos subúrbios às luzes da mídia.
Ele não só defendia os pilares republicanos, como a responsabilidade fiscal, o respeito à propriedade privada, o império da lei e o respeito às tradições, mas também ultrapassou as barricadas e começou a atacar a esquerda, ou os liberais, como se diz por aqui, segundo ele um bando de indulgentes preguiçosos que sofrem de uma disjunção histórica.
Filho de um barão do petróleo, Buckley revelou outros defeitos ao longo de seus artigos, 55 livros e dezenas de novelas de espionagem, entre eles um incompreensível anti-semitismo e uma recomendação para que os aidéticos fossem tatuados a fim de que fossem reconhecidos e não transmitissem o vírus a pessoas sãs. Escrevia de maneira complicada, cheio de hipérboles e palavras que ninguém conhece, e falava sempre em tom ácido, aristocrático, com algum sotaque britânico – só para irritar a audiência.
Ou não só a audiência: durante um debate transmitido pela TV em 1968, durante a convenção do Partido Democrata, em Chicago, o escritor Gore Vidal o chamou de “pro-crypto nazista”, no que Buckley revidou: “escute, seu veado, pare de me chamar de crypto-nazista ou eu vou te dar uma porrada na cara”. Tempos depois, na Esquire Magazine, ambos trocaram artigos sobre a briga. O de Buckley se chamava “Experimentando Gore Vidal”, enquanto o de Gore Vidal era “Um Encontro Detestável com Willian Buckley Jr.”.
A julgar pela cobertura da imprensa durante sua morte, páginas inteiras no The New York Times e no The Wall Street Journal, bem como reportagens nas grandes redes de TV, Buckley ficou famoso por levar o conservadorismo às massas através dos programas de entrevistas que participou, Firing Line, transmitido pela PBS. Mostrava-se impecavelmente de terno e gravada, com fleuma, erudição, reunidos num conservadorismo inteligente que às vezes caía para o lado do fino humor. Mesmo sem entender muitas das palavras, o publico gostava de ver suas expressões faciais, gestos e perguntas indiscretas aos entrevistados. Chegou a bater o Ibope do 60 Minutes, uma espécie de Fantástico aqui.
Com sua morte, os conservadores, já debilitados pelo desastre do governo George W. Bush, ficam ainda mais desamparados. John Mccain, o herói do Vietnã candidato presidencial dos republicanos, não passa em nenhum teste para testar seu alegado DNA da direta.

Voar é mesmo com os pássaros?

Voar é com os pássaros, era o título do filme de Robert Altman em 1970, mas de uns tempos para cá cada vez mais seres humanos infestam os céus. Segundo a IATA, a associação que monitora e regula o setor, cerca de 4,7 bilhões de passageiros deverão voar até o final de 2008, formando uma indústria que gera cerca de meio trilhão de dólares em faturamento e, melhor ainda, 31,9 milhões de empregos.
Além do mau tempo, do congestionamento dos aeroportos, dos preços dos combustíveis (que engolem cerca de US$ 150 bilhões das empresas aéreas) e das rígidas imposições da segurança, apenas um porém ainda amarra o desenvolvimento desta indústria: governo demais, regulamentos demais e outras mazelas oriundas da época da Segunda Grande Guerra. Obviamente, a título de proteger as chamadas empresas nacionais.
Por isto que a luta agora é por uma injeção de capitalismo no setor, o que geraria mais 24 milhões de empregos e um aumento do Produto Interno Bruto dos países em cerca de US$ 490 bilhões, algo semelhante a tudo que o Brazil produz. Conclusão: há uma intensa (e benéfica) relação entre a liberalização do tráfego aéreo e os benefícios para a economia, como defende o estudo da consultoria Intervistas, um catatau de dezenas de páginas patrocinado pela Boeing, a GE e outras organizações que formam a liderança do setor e que já está disponível na internet (
http://www.iata.org/whatwedo/economics/liberalization-study.htm).
Uma vez liberado, o tráfego tente a aumentar em até 100% em alguns países, promovendo uma reação em cadeia que beneficia toda a população, e não só um bando de executivos cujas empresas pagam pelo transporte aéreo, como era de se supor.
Mesmo à custa do nosso conforto (e dos nossos joelhos), atrasos e cancelamentos muitas vezes sem nenhuma explicação, as 2.092 companhias aéreas já fizeram seu dever de casa: aumentaram a taxa média de ocupação dos assentos para 76%, estão utilizando aeronaves mais eficientes, emitindo bilhetes eletrônicos e cobrando até por café e água lá em cima, o que vem gerando uma economia de US$ 6 bilhões anuais, segundo o que chefão da IATA, Giovanni Bisignani, disse através da PrNewswire.
Mesmo assim, a indústria continua vulnerável, disse ele. “Estamos obtendo um lucro de US$ 5 bilhões este ano, mas ainda carregamos mais de US$ 150 bilhões em débitos, o que significa mais vulnerabilidade do que em 2001, depois do ataque às Torres Gêmeas”. Segundo ele, a aviação comercial já saiu da UTI, mas ainda está doente.
Agora que a economia americana está dando uma freada, Bisgnani está mais preocupado, já que o bem-estar da aviação comercial é apenas um reflexo das economias ao redor do mundo. Daí a nova onda de fusão entre as companhias aéreas, como a provável união entre a Delta (quem já passou pelo aeroporto de Atlanta, na Geórgia, o maior do mundo, tem uma idéia do tamanho desta empresa) e a Northwest.
O setor aeroespacial é o mais atrativo que existe, ou como se diz aqui, é o mais “sexy”, mas esta indústria, que por décadas ficou estacionada em monopólios protegidos por governos, ainda não se acostumou aos ares da livre concorrência. Já não é sem tempo.

Um homem, duas, três, ou mais esposas

Espremidos entre a crise econômica e as eleições presidenciais, os americanos estão vidrados num documentário de quatro horas produzido pela PBS, a TV pública, sobre os Mórmons. Suave, elegante, imparcial e extremamente bem feito, o programa conta a história da religião fundada pelo profeta Joseph Smith Jr. em 1830 numa fazenda de Nova York, mostra os trabalho dos missionários (aqueles rapazes de gravata em camisas de mangas curtas que vagam pelas cidades), dá voz aos dissidentes, lembra seu poderio político (como, por exemplo, o ex-candidato presidencial republicano Mitt Romney), mas capta a atenção do público pela poligamia, justamente o assunto pelo qual eles não querem ser conhecidos – e nem lembrados.
Os adeptos da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, a religião que mais cresce no mundo, hoje com 13 milhões de seguidores, abdicaram da poligamia – ter duas, três, ou sabe-se lá quantas esposas – em troca da liberdade de credo já em 1890, quase 60 anos depois da sua fundação. Quando a praticaram, seguindo os preceitos de Joseph Smith Jr., foram mortos, humilhados, perseguidos, roubados, presos e tiveram que fazer uma façanha de proporções literalmente bíblicas: atravessar em carroças, enfrentando a neve, a fome e os índios, os milhares de quilômetros que separam Illinois, à beira dos Grandes Lagos, até a desértica Utah, no Oeste americano, onde fundaram Salt Lake City. Desde lá, seus dirigentes engolfam-se numa monótona panfletagem de relações públicas para separar o joio do trigo, no caso, a poligamia do mormonismo, sem sucesso.
No documentário, a poligamia (ainda praticada por uma minoria de mórmons fundamentalistas, não oficialmente reconhecida como mórmons), é atribuída, entre outras explicações, ao próprio Joseph Smith Jr. (32 esposas), que a criou para satisfazer seus próprios instintos sexuais, inclusive em relação às esposas dos irmãos de fé.
Brigham Young (52 esposas), seguidor de Joseph e tido como o gênio estrategista que liderou a travessia até Utah, era contra no início, mas, mesmo a contragosto, acabou adequando-se à norma.
Mas o que surpreende é a versão das historiadoras convidadas para debulhar o sentido da poligamia no programa. Segundo elas, o fato de um homem ter várias mulheres servia também como diferenciação entre os mórmons e não mórmons – especialmente os protestantes. Na medida de suas possibilidades financeiras, os mórmons, que fazem da família (e da obediência) a mola mestra do seu culto, abrigaram em suas casas mulheres que, em outros cultos ou fora deles, teriam se perdido na prostituição, no abandono ou simplesmente na solidão depois de verem seus maridos morrerem, principalmente em guerras.
Seja para satisfazer Joseph Smith Jr., seja para seguir os exemplos do Velho Testamento, “onde Abraão e outros personagens tiveram muitas esposas por mandamentos de Deus”, a poligamia está tão associada ao mormonismo como o radicalismo ao islamismo. Ela incendeia o imaginário coletivo, faz repensar os conceitos civilizatórios, a instituição do casamento e a relação entre os homens e as mulheres. Por mais que se digam coisas boas a respeito dos mórmons – e existem milhares delas, como em qualquer religião – as imagens que a mídia mostra – geralmente um homem mais velho, de chapéu e barbudo, ao lado de diferentes mulheres, de diferentes idades, carregando bebes em profusão– formam a percepção retida em nossas memórias.

Só o capitalismo acaba com a pobreza?

Para quem, como boa parte dos norte-americanos, acredita que o capitalismo é a solução para tudo, mas tudo mesmo, um livro está provocando no berço do livre mercado a ira da esquerda e até dos próprios capitalistas. A começar pelo mais ilustre deles, Bill Gates, um dos maiores filantropos de todos os tempos, que está distribuindo sua fortuna de mão em mão em remotas aldeias africanas.
Willian R. Easterly, um ex-funcionário do Banco Mundial, defende que os 2,7 trilhões de dólares destinados à caridade pelo mundo ocidental nos últimos cinqüenta anos tiveram um efeito semelhante a, digamos, enxugar gelo. O ato de tirar de quem tem e doar a quem não tem “é fantástico, mas os pobres não são pobres por falta de caridade”, diz ele em seu livro “Why the West’s Efforts to Aid the Rest Have Done So Much Ill and So Little Good”
A pobreza existe por “falta de capitalismo”, defende ele. Será? Caso recebessem injeções de livre mercado, não existiriam, segundo o autor, mais de três bilhões de seres humanos que vivem com menos de dois dólares por dia. Um bilhão deles sem ter o suficiente para comer.
Easterly, numa visão completamente oposta à de Gates e à do vocalista da banda U2, Bono, (que faturou mais de 22 milhões de dólares com sua linha de produtos “Red”, que destina porcentagem dos ganhos para programas sociais) está reinventando o preceito bíblico “ao invés de dar o peixe, ensine o homem a pescar”.
Pelas propostas de seu livro, todo o Terceiro Setor – incluindo aí Banco Mundial e outros organismos que tentam mitigar as injustiças globais – iria para o espaço diante dos irrefutáveis argumentos da própria história. Para começar, a explosão do capitalismo desde 1950 fez com que a renda média anual das pessoas subisse de US$ 2 mil para US$ 7 mil. “Ao contrário do senso comum, países pobres cresceram à mesma taxa que os ricos – e este crescimento salvou bilhões de habitantes da miséria”.
Para Easterly, o capitalismo adapta-se como água morro abaixo, descobrindo seus próprios – e imponderáveis – caminhos. Quem diria que a onipresente China se tornaria a fábrica do mundo, competindo pela supremacia com os Estados Unidos, depois de lançar seus habitantes às garras do capitalismo? Pois é, lá quase meio bilhão de chineses saíram da pobreza para a classe média, coisa que deve fazer Karl Marx revirar-se no túmulo.
Num artigo recente no conservador The Wall Street Journal, ele aponta outros fatos que, à revelia de qualquer previsão dos economistas ou planejadores de plantão, também surpreenderam: o Egito é responsável hoje por 94% das importações italianas de cerâmica. A Índia, embora semi-alfabetizada e adormecida por milênios, é hoje a grande fonte mundial de terceirização de tecnologia. O Quênia domina o mercado de flores na Europa, enquanto Lesoto tornou-se o maior exportador de têxteis para os Estados Unidos. Sem falar nas Filipinas, responsável por 72% do mercado mundial de circuitos eletrônicos.
E o Brasil?