Seattle - A Virgin Galactic já está batendo recordes de vendas de
passagens para viagens de turismo espacial a partir de 2012. Cada
passagem está custando US$ 200 mil, mas para garantir o lugar basta
pagar US$ 20 mil. O vôo sub-orbital, que no início será realizado
apenas uma vez por semana, sairá do Aeroporto Espacial no deserto do
Novo México, atingirá uma altitude de 50 mil pés e, lá em cima, sob o
impulso de um foguete, a espaçonave (SpaceShip II) se desprenderá da
nave mãe (VMS Eve) e chegará em 90 segundos na estratosfera (360 mil
pés), onde os seis astronautas-passageiros e mais dois pilotos poderão
brincar sob a gravidade zero viajando a três vezes a velocidade do
som.
Depois de vagar lá em cima por alguns minutos, a nave recolherá
suas asas verticalmente na preparação para entrar na atmosfera sem
qualquer atrito ou calor. Quando descer a 60 mil pés, suas asas
voltarão à posição original, de forma a pousar no Aeroporto Espacial.
Até agora, 300 passagens foram vendidas desde 2005, arrecadando mais
de US$ 60 milhões. A empresa não revela os nomes dos passageiros. A
passagem é considerada barata, "cem vezes menos cara do que a paga
pelo último turista espacial" na Rússia, argumenta a Virgin Galatic.
A empresa, do bilionário britânico Sir Richard Branson, é a
primeira linha aérea espacial do mundo. Surgiu a partir da bem
sucedida experiência da Virgin Atlantic na Europa e nos Estados Unidos
e do sonho do empreendedor norte-americano Burt Rutan, da Scaled
Composites, que com a sua SpaceShip I ganhou o prêmio de US$ 10
milhões da X Prize Foundation por fazer dois vôos orbitais privados
com naves reutilizáveis num espaço de 14 dias. A fundação, bancada por
bilionários como Paul Allen, sócio de Bill Gates que sofre de câncer,
também oferece prêmios na área de genoma humano, automóveis
alternativos e vôos lunares.
As viagens orbitais da Virgin pretendem mostrar a eficiência da
iniciativa privada no setor, hoje dominado pela estatal Nasa e pelos
governos da Rússia e China, ambos consumindo bilhões de dólares dos
contribuintes. "Estas viagens não serão o início da colonização de
Marte", diz o piloto de testes Peter Siebold, "mas os irmãos Wright
(pais da aviação aqui nos Estados Unidos) também não tinham o Boeing
747 Jumbo em seus planos quando voaram pela primeira vez seu avião" -
Tudo se originou daquele grande passo, disse ela à revista Wired. Um
dia, completa, viajar pelo espaço será tão natural quando andar de
roda gigante.
Se dá medo de viajar de avião, imagina dar uma volta no espaço.
"Segurança é a coração do design e será o centro da operação da Virgin
Galactic", diz a empresa. "A SpaceShip II terá múltiplos níveis de
redundância em todos os sistemas-chave de forma a atingir robustez em
cada fase do vôo", adianta. "A experiência da Virgin em aviação,
aventura, turismo de luxo e design moderno (...) farão do vôo uma
operação tranquila e uma experiência única de vida". Até agora, pelo
menos 82 mil pessoas já se registraram no website da empresa.
Tanto a nave mãe quanto a nave espacial são uma maravilha
tecnológica. A VMS Eve é a maior nave do mundo construída totalmente
de materiais compostos, com cabos de fibra de carbono que não se
expandem ou contraem em diferentes e extremas temperaturas. Suas
turbinas, "leves e potentes", são capazes de voar quase 20 mil pés
acima dos jatos comerciais. As cabines são maiores, mais confortáveis
e robustas (7,5 pés de diâmetro) com diversas janelas para os turistas
astronautas aproveitarem a vista e rolarem no ar na gravidade zero. O
custo de fabricação chegará a US$ 400 milhões.
Para viajar, os astronautas turistas terão que passar por diversos
obstáculos: cursos, checkup médico, sessões no simulador e na
centrifugadora, aprender a apertar ou soltar os cintos de segurança lá
em cima etc. A idéia, segundo a empresa, é certificar de que o
passageiro, além do dinheiro, tenha também condições físicas e mentais
de aguentar a experiência.
Lá em cima, sob o intenso silêncio, como diz a empresa, os
felizardos terráqueos terão a experiência que até agora poucos seres
humanos tiveram: ver a Terra de cima e se certificarem de que ela é
mesmo azul.
Notas, impressões, informações, dicas, tendências e análises sobre os Estados Unidos a partir de Seattle, na Costa Oeste norte-americana.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Pensando Midias Sociais
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Pensando Midias Sociais
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sábado, 19 de setembro de 2009
A morte do intermediário, do vendedor, do atravessador,
Seattle - Aos poucos, lentamente, quase imperceptivelmente, está morrendo uma legião de profissões centenárias com as quais a gente se acostumou a conviver: jornalistas, professores, agentes, lambe lambe, amoladores de facas, sapateiros e costureiros sob medida. Com a revolução da internet descobrimos que, em primeiro lugar, não precisamos deles. Podemos acessar notícias, por exemplo, direto das fontes. Os professores, por outro lado, descobriram que seus alunos não se interessam pelo conteúdo das aulas porque podem interagir com conteúdos fantásticos na internet, e sem a ajuda do professor. Estou lendo um dos melhores livros que já saíram sobre o fenômeno da internet, o Trust Agents, escrito por dois blogueiros, Julian e Chris, com os quais tive oportunidade de tomar uma cerveja (belga) aqui em Seattle. Muito bem escrito, o livro descreve como a rede está mudando a nossa forma de nos relacionarmos com o mundo e, principalmente, como vamos ganhar dinheiro daqui para frente - se é que dinheiro também não vai deixar de existir.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
MENOS JORNALISMO, MAIS CONVERSA
*Daniel Agrela e Mariane Pinho
Embora muita gente não aceite, o jornalismo – tal qual conhecemos – está morrendo. De fato, para quem sempre viveu a adrenalina de um fechamento de jornal fica difícil acreditar que a figura romântica do repórter, o nobre intermediário da notícia, esteja próxima do fim. Com a popularização da Internet, todo mundo está convidado a ser jornalista. As pessoas não precisam mais de alguém para selecionar suas notícias.
Negar essa realidade é sempre a primeira reação. É natural. Mas não há como refutar que o crescimento do meio online e a importância exercida atualmente pelas redes sociais trouxeram mais agilidade às informações e, é claro, atingiram em cheio as empresas de mídia, especialmente jornais e revistas. Nem mesmo os cortes de pessoal, intensificados ao longo da última década para amenizar essa inevitável crise, possibilitaram a recuperação dos veículos impressos, que perdem leitores a cada dia.
Para fugir dessa tendência e abocanhar novos assinantes, os maiores impressos de São Paulo prepararam recentemente uma série de propagandas no horário nobre da TV. A Folha convocou os principais jornalistas da casa para participar de sua propaganda. Já o Estadão faz a seguinte pergunta: “quanto vale o seu conhecimento?”, dando ao leitor a opção de pagar o quanto quiser pela assinatura no primeiro mês. Ambos os periódicos tentam valorizar seus produtos, oferecendo conteúdo exclusivo, analítico e mais aprofundado.
Na verdade, os jornais sempre sofreram com a falta de instantaneidade das informações, prerrogativa do rádio, da TV e, mais recentemente, da internet – que vem tomando o espaço não só da mídia impressa, mas de todos os meios de comunicação tradicionais.
Enquanto os jornais investem em matérias analíticas, as revistas nas investigativas e a televisão no poder da imagem, a internet faz de tudo: podcast, vídeo e texto informativo e reflexivo. Ela cresce 21% ao ano, enquanto a taxa de crescimento dos outros meios se estabiliza ou cai. Cada vez mais, a Web se consolida como o centro do conhecimento descentralizado, um espaço da conversa multidirecional em que todos falam de tudo.
Talvez por isso a figura do jornalista como intermediário entre a informação e o público esteja em declínio. A força exercida pelas redes sociais como blogs, Orkut, LinkedIn, Facebook e Twitter já pôde ser percebida em diversos acontecimentos, como os relatos enviados por cidadãos iranianos no auge dos últimos conflitos, em um país com sérias restrições à cobertura jornalística tradicional. Isso prova que para uma notícia vir à tona não é preciso que haja um jornalista in loco para relatar os fatos. Eles podem vir diretamente da fonte, por meio de um blog, por exemplo.
O fato é que o jornalismo passa por um momento de transição, em que os veículos tentam se adequar à nova realidade digital. A internet caminha para abranger todas as áreas das nossas vidas e isso inclui a forma com que informamos e somos informados. É por isso que o futuro do jornalismo está na conversa. A notícia não estará mais nas mãos apenas dos jornalistas: ela está nas redes sociais, onde todos podem informar e debater. Quem estiver fora dessa discussão, também vai morrer. Precisamos nos adaptar.
* Daniel Agrela e Mariane Pinho são jornalistas e atuam como PR Digital na Cia da Informação.
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domingo, 17 de maio de 2009
O Poderoso Chefão
Salt Lake City - Como os mais bem guardados segredos da Máfia, pouca gente sabe que o diretor do melhor filme de todos os tempos, O Poderoso Chefão (ganhador do Oscar de 1974), Francis Ford Coppola, 70 anos, é também um poderoso chefão na vida real, estendendo seus tentáculos na produção de vinhos, resorts em lugares paradisíacos, restaurantes temáticos, macarrões, molhos, cafés, revistas literárias e, porque não, filmes, documentários, séries e qualquer coisa que caiba numa tela.
Coppola não é Don Corleone, que simplesmente matava concorrentes que ameaçavam seu negócio, mas do velho mafioso, interpretado magistralmente por Marlon Brando, herdou o nepotismo. Sua família ("a única coisa importante que existe") está envolvida em tudo: Eleonor, sua esposa desde os anos 60, cuida dos vinhedos. O filho Roman, que também é diretor e ator, o assessora em filmagens. Sofia, que ganhou um Oscar com "Lost in Translation", lançou um vinho espumante. E por aí vai.
Em todos os negócios do chefão Coppola está o charme de sua marca registrada, a Itália. "Defino minha vida pelas impressões de criança nascida numa família ítalo-americana cujo pai era um tocador de flauta na orquestra da NBC", a tv americana, diz ele. "Desde pequeno sou rodeado por tios, tias, primos e primas ao redor de uma grande mesa comendo pasta e bebendo vinho", completa.
O homem já faliu muitas vezes (afinal, qual o cineasta que jamais faliu?), mas aos 70 anos (que ele considera 50 mais 20) parece estar no auge na sua carreira empresarial. Em uma entrevista recente à revista Sky, ele revelou que não separa vinho (ou macarrão) dos filmes que faz. " Tudo faz parte do mesmo processo, tudo vem ao mesmo tempo e do mesmo jeito", diz. De onde ele tira tamanha energia?: "Se a sua mente não se tornar pequena, você permanece novo para sempre, pois você é tão jovem quanto sente que você é".
Coppola acaba de filmar Tetro, filme sobre uma família italiana que vive em Buenos Aires, fruto de um roteiro que escreveu quando tinha 17 anos. Já que elegeu a capital argentina como seu lar, também comprou um restaurante italiano por lá. Atualmente mora em San Francisco, na Califórnia, onde tem um restaurante em sociedade com Robert de Niro e Robin Willians, mas seu lugar favorito é sua vila em Napa Valley, Jardim Escondido, também na Califórnia, onde produz vinhos especiais. O criador do Poderoso Chefão, que também foi o responsável por filmes como Apocalypse Now, Conversação, American Grafitti e até um segmento do Histórias de Nova York, parece carregar o DNA do sucesso. Talia Shire, sua irmã, conhecida em Rocky, o Lutador, ficou também famosa por participar de vários filmes dele. Nicolas Cage, que na verdade é Nicolas Coppola, ganhou um Oscar, enquanto a filha Sofia parece seguir os passos do pai como diretora de filmes excepcionais.
Na base de todo o império Coppola, no entanto, está o estúdio que ele fundou em 1969 com George Lucas, o Zoetrope, que além de abrigar os filmes da dupla ainda foi a casa de Jean-Luc Godard, Akira Kurosawa e Wim Wenders. Pouca gente sabe também que este estúdio tornou-se um das mais importantes do mundo, tendo quatro dos 100 melhores filmes produzidos até hoje no país.
domingo, 3 de maio de 2009
Lugar de professor ruim é na rua
Seattle - Tias e mestras, boas ou más, preparadas ou não, professoras e professores sempre foram colocadas num pedestal, como se fossem ícones acima do bem ou do mal. O novo secretário da Educação nomeado por Barack Obama, Arne Duncan, um ex-jogador de basquete de Harvard, 44 anos e dois filhos, descobriu que uma professora ruim (ou professor ruim) tem a capacidade de destruir o futuro de centenas, muitas vezes milhares de alunos. O contrário, como todos sabem, é mais do que verdadeiro.
Como CEO do Chicago Board School desde 2001, o terceiro maior distrito escolar dos Estados Unidos, um país que atrás de lugares como o Kasaquistão no ranking educacional, não só demitiu professores que não correspondiam aos critérios de eficiência. Mandou embora até encarregados da limpeza e da merenda, e nos casos mais graves simplesmente fechou a escola e a abriu tempos depois, passando a borracha no passado e iniciando uma nova vida para os estudantes, especialmente pobres, negros, latinos e gays. Chamou sua ação de Projeto Renascença.
Expelindo gente ruim e ponto para dentro gente boa, treinada e motivada, Arne aumentou o número de estudantes que se apresentavam para estudar em Chicago de 76% para 89%. Em sete anos, cerca de 67% dos estudantes atingiriam os padrões nacionais, contra 38% anteriores à sua administração. O melhor é que os professores, temendo ser demitidos, começaram a se apresentar para obter melhores e mais rigorosas certificações. 1.200 professores, contra 11 no início.
Agora, em nível nacional, Arne tem a astronômica soma de US$ 100 bilhões para levar os parâmetros da iniciativa privada para os outros 50 estados da federação. Em um documentário na PBS, a tv pública norte-americana, Arne lembrou a importância do diálogo, da conversa com os sindicatos, da discussão aberta e de todo o blá-blá-blá de sempre, mas ele, um dos mais queridos secretários de Obama, é mesmo da teoria do escreveu-não-leu-o-pau-comeu.
Para ele, mais do que boas escolas, excelentes materiais instrutivos, lap tops, edifícios modernos ou programas comunitários, o que realmente faz a diferença na eduçação é o professor. Ele (ou ela) é o epicentro do sistema educacional, a pedra fundamental que, se polida, pode mudar a realidade de milhões de futuros adultos.
Uma das ações mais controversas do ex-jogador de basquete foi fazer com que os estudantes que desistissem de ir à escola assinassem um documento reconhecendo que eles "teriam menos chances de arranjar bons empregos, ou simplesmente empregos", e que estariam muito mais propensos "a viver da previdência social para o resto da vida". Em outras palavras, assinando a certidão de "perdedores", que nos Estados Unidos é pior do que xingar a mãe. Os que ficaram começaram a ganhar, desde o ano passado, até US$ 4 mil por ano caso consigam a nota "A", com dinheiro fornecido pela iniciativa privada.
A política linha dura com o sistema educacional de Barack Obama já está fazendo o poderoso National Education Association (NEA), o sindicato de professores que tem 3,2 milhões de afiliados e doou US$ 50 milhões para a sua campanha presidencial, começar a chiar. Mas quem leu A Audácia da Esperança, o livro que fez o presidente ficar rico (US$ 2 milhões só no ano passado), já podia pressentir que viria chumbo grosso por aí.
"Não há razão para um professor qualificado e experiente não ganhar US$ 100 mil por ano (cerca R$ 19 mil por mês) , escreveu ele. "Em troca desde dinheiro, professores deveria se tornar mais responsáveis por sua performance - ao mesmo tempo em que os distritos escolares deveriam ter mais habilidade para ficarem livres do chamados professores ineficientes".
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Pedir perdão, limpar o passado...
Nova York - Além de trocar dry martinis por suco de laranja nas recepções da Casa Branca, o ex-presidente democrata Jimmy Carter (1977-81) também proibiu algumas liturgias do cargo, como o hino "Hail to the Chief", durante sua presidência. A idéia era de que o presidente, depois de tantos anos de abusos dos republicanos, capitaneados por Richard Nixon, passasse a imagem de homem comum para os norte-americanos. Desnecessário dizer que deu errado. Passando a imagem de fraco, mortal e humilde, Carter foi defenestrado do cargo pelo falcão republicano Ronald Reagan, que voltou com a arrogância, as bombas e o poderio da Presidência, inclusive os dry martinis das recepções da Casa Branca.
Barack Obama parece não ser tão ingênuo quanto Carter, mas hoje segue caminho semelhante - e para muita gente perigoso - pedindo perdão pelos pecados americanos em três continentes, e em menos de 100 dias. Na França, como lembrou o novo porta voz dos Republicanos, Karl Rove (o mágico que elegeu George W. Bush) no The Wall Street Journal, disse que os Estados Unidos têm sido arrogantes e desdenhosos, "e logo com os franceses". Em Praga, lembrou Rove, disse que a América tem a responsabilidade moral de agir no controle de armas porque foi o único país a usar a arma nuclear. Em Londres, disse que as decisões sobre o sistema financeiro mundial não são feitas mais como no tempo em que Roosevelt e Churchill sentavam-se numa sala tomando brandy. E, na América Latina, disse que o país não tem perseguido um engajamento sustentável com seus vizinhos.
Obama, negro e filho de imigrantes, parece ser mais sábio que o branquelo e ex-fazendeiro de amendoins Jimmy Carter, que embora morto politicamente depois da Casa Branca ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Ao levantar-se da cadeira para ganhar um livro de presente do venezuelano Hugo Chavez (o antiquado "Veias Abertas da América Latina") , durante uma recente reunião de cúpula, mostra elegância e respeito com o ditador venezuelano, roubando-lhe um inimigo imaginário, os Estados Unidos, sobre o qual Chaves conclama seu povo a lutar contra. Ao abrir as portas para Cuba, pode matar de vez a ditadura castrista (se é que jela já não está morta) instalando McDonald's e Starbucks na ilha proibida. Ao gravar mensagens de paz no YouTube para o mundo muçulmano, também subtrai dos terroristas a justificativa para que novos ataques sejam deflagrados contra os Estados Unidos.
Nestes primeiros 100 dias de Presidência, Obama causou da ira dos republicanos porque, sendo um estadista ou um super-star, como reclamam eles, cria novos parâmetros de eficiência para a Presidência, reinagura a diplomacia do diálogo e cooperação entre os Estados Unidos, que respondem por um terço do Produto Interno do Bruto do mundo, e outras centenas de países que vivem em torno ou em função deste chamado império da era moderna.
Por isto mesmo o novo presidente norte-americano parece ter saído por encomenda de um sonho coletivo não só do país que governa, como também de todo o mundo. Expõe com delicadeza e paciência o ridículo das guerras, da destruição da natureza, das religiões misturadas ao poder, ou das bravatas que se tornaram lugar comum nos anos Bush. Acalma os ânimos, abre possibilidades, desenha portas para o entendimento. Coisa que o mundo nunca viu. Nem mesmo com Jimmy Carter.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Obama, a Rainha, o Ipod e a pedra da Lua
Seattle - Barack Obama teria dado presente melhor à octagenária rainha Elizabeth II, durante visita ao Palácio de Buckingham semana passada? O Ipod , este minúsculo tocador de música (e de muitas outras coisas) inventado em 2001 por Steve Jobs já vendeu mais de 173 milhões de aparelhos em todo o mundo. Mais do que um milagre do design, é o melhor exemplo do empreendorismo e inovação dos Estados Unidos desde que, em 1969, Neil Armstrong trouxe de volta para Terra uma pedra da Lua. Dentro do Ipod, Obama, que gosta tanto de tecnologia quanto de Michelle, colocou 200 fotos da visita da nobre britânica aos Estados Unidos em 2007, durante visita oficial. A rainha agradeceu, retribuiu com uma foto do casal real autografada, e até hoje deve estar sem dormir tentando descobrir as nuances do seu novo brinquedo.
Os Estados Unidos podem estar dando adeus a mais de meio século de domínio mundial, tanto econômico como tecnológico, mas é pródigo em chocar o resto do mundo com simplicidade e elegância. Durante uma das maiores feiras mundiais de todos os tempos, em Osaka, Japão, em 1970, visitada por 64 milhões de pessoas, levou apenas uma imensa abóbada de alumínio. Outros países encharcaram seus pavilhões com milhares de produtos, fotos, expositores e tudo mais. No pavilhão americano, apenas a pedra da Lua, obtida um ano antes durante a viagem da Apolo 11. Desnecessário dizer que foi o país mais visitado.
Agora, quase 40 anos depois, o Ipod parece conquistar todo o mundo como a pedra da Lua. Só nos Estados Unidos, o aparelhinho responde por 90% do mercado de players, sendo responsável por quase 50% das vendas da Apple, atingindo mais de US$ 10 bilhões a cada trimestre. Explica-se que a base do seu sucesso esteja na falta de teclados, um monte de teclas incompreensivelmente juntas que existe desde que Gutenberg inventou a impressão, mas que tem sido objeto de revolta de Jobs desde quando começou a ler e escrever. Ao invés de teclar, Jobs sugeriu tocar - e todo mundo adorou.
Mais do que um simples player, o Ipod também carrega fotos, vídeos, games, agendas, e-mails, marcadores da Internet, calendários e muito mais. Seu sucesso não está apenas entre adolescentes alienados. Está no ouvido de empresários e alunos de MBA em universidades, que têm em mãos uma 'memória adicional' com tudo que eles precisam ter durante lapsos de tempo durante uma ou outra atividade.
O nome Ipod foi sugerido por Vinnie Chieco, um escritor free lancer, que foi chamado pela Apple para ajudar no marketing do produto. Chieco, ao ver o protótipo, lembrou do filme 2001, Uma Odisséia no Espaço, onde se fala para o computador-comandante 'Open de pod bay door, Hal', numa referência ao veículo espacial.
Desde que nasceu, o Ipod tem ganho prêmios de excelência em tecnologia, de produto mais inovador, de melhor produto computadorizado do mundo, melhor design, facilidade de uso, e por aí vai. Revolucionou a forma como interagimos com diversos conteúdos, roubando mercado de cds, dvds, livros e, assim, mudando completamente os modelos de negócios de empresas que pensavam que o mundo não ia mudar. Mais do que tudo, foi o responsável por trazer Jobs, o homem que criou o computador pessoal, ao centro do espetáculo da tecnologia. Agora também no Palácio de Buckingham."
terça-feira, 31 de março de 2009
NPR: do povo, pelo povo, para o povo
Fairfield, Connecticut - Nestes tempos de fim de mundo, onde tudo que é sólido está se desmanchando no ar, a NPR, a adorada rádio pública norte-americana, está se arrebentando em rios de dinheiro e sucesso. Está certo que a autarquia, fundada pelo ex-presidente Lyndon Johnson em 1970, ganhou há cinco anos a maior doação já recebida por uma instituição norte-americana, US$ 200 milhões da viúva de Jay Kroc, o fundador do McDonald's, mas parece inexplicável que a NPR tenha dobrado de ouvintes de 1999 para cá, chegando a 26,4 milhões, bem à frente do jornal de maior circulação nos Estados Unidos (USA Today, com 2,3 milhões de leitores), e os telespectadores do horário nobre de uma emissora como a Fox News (2,8 milhões).
Mas onde a NPR está se revelando mesmo é na chamada nova mídia. A rádio é a campeã de downloads (14 milhões diários) no Itunes. Sua página na internet, npr.org, é visitada por oito milhões de pessoas diariamente, e a redes sociais que se alimentam de sua programação costumam ficar, no mínimo, "congestionadas". A revista Fast Company, uma espécie de bíblia do empreendedorismo americano, acaba de fazer uma reportagem investigativa sobre o sucesso da NPR entre os gringos, e o mistério só aumentou. Diante da falta de razões, só sobrou uma justificativa: um caso de amor do público por uma rádio criada do povo, pelo povo e para o povo.
O faturamento da NPR hoje chega a US$ 159 milhões, com um lucro (isto mesmo, lucro) líquido de US$ 18.9 milhões. O dinheiro vem em grande parte (43%) das 860 estações-membro espalhadas por todos os Estados Unidos. Em segundo lugar (29%), vem o patrocínio de corporações (especialmente fundações), concebidos na forma de apoio à sua programação (mais fundação Roberto Marinho do que Casas Bahia, digamos assim). 15% originam-se de doações de empresas e principalmente do público, que anualmente participa de campanhas de arrecadação de fundos durante um dia da programação. Apenas 2% vem do governo, através de um fundo chamado Corporation for Public Broadcasting.
Ou seja, a rádio é pública, mas dinheiro do governo quase não existe. É a própria sociedade organizada que mantém e faz o sucesso da NPR. Com a crise econômica, a rádio também não ficou impune. Prevê-se que, a continuar a seca de doações e patrocínios institucionais, vai ter um déficit de US$ 23 milhões no ano fiscal de 2009. Neste ambiente, foi cortado 7% da força de trabalho e cancelados dois shows (News and Notes e Day to Day). É a pior crise desde o início dos anos 80.
Mesmo assim, os executivos e repórteres da NPR estão confiantes que passarão estes tempos medonhos de uma forma menos drástica, já que a organização não depende somente dos patrocínios, pode utilizar US$ 15 milhões anuais das suas reservas e, acima de tudo, confia que sua audiência não vai diminuir. Mais ainda, os salários da NPR são irrisórios quando comparados aos de estrelas da mídia de TV, por exemplo. "O salário de um âncora de TV dá para pegar três vezes o orçamento de um dos programas de maior audiência, o Morning Edition ", diz um dos vice-presidentes da rádio. Não fosse este caso de amor com a NPR, a audiência será para sempre cativa. Afinal, dizem eles, pouca gente hoje tem tempo para ler jornal, mas é capaz de ficar horas no trânsito, voluntária ou involuntariamente, ouvindo sua programação.
terça-feira, 24 de março de 2009
Dinheiro, prá que dinheiro?
New York - Para o quinto website mais visitado do mundo, a Wikipedia , a enciclopédia colaborativa que busca reunir todos os conhecimentos do ser humano, dinheiro não é tudo na vida. Seu fundador, Jimmy Wales, um ex-trader de opções de Chicago, bem que tentou atrair patrocinadores no início da operação, mas foi rechaçado pelos hoje milhares de colaboradores que nutrem cerca de 12 milhões de páginas sobre tudo - ou quase tudo - que existe na Terra, em mais de 250 línguas. Por que? A verdade é que a Wikipedia não é apenas resultado de um sonho coletivo de conhecimentos livres para nós, terráqueos, mas é também uma amostra do movimento que nasce neste terceiro milênio: sem chefes ou empregados, sem prédios ou telefones, mas onipresente 24 horas por dia, 7 dias por semana, onde o cliente é o centro do universo e a mercadoria não é propriedade de um único dono.
Só tem um probleminha. Sem dinheiro, como esta conta fecha? Esta é a pergunta que não quer calar. Todos os projetos em volta desta nunca vista base de conhecimento, que inclui o Wikibooks, Wikiquote ou Wikinews, são sustentados por uma fundação, a Wikimedia Foundation , que está em San Francisco, mas que por motivos de segurança pouca gente sabe onde está. A Fundação recebe doações que dão para pagar a infraestrutura de rede e seus 25 funcionários, mas está pesquisando formas de rentabilizar a base de dados com projetos empresariais. Este mergulho no mercado é feito com extrema discrição e ética, mas o objetivo da organização é um mundo onde qualquer pessoa terá livre acesso à soma do conhecimento humano. O dinheiro, assim, tornou-se uma barreira que foi transposta com trabalho colaborativo e voluntário.
No documentário Join Us , da Tv Ideal, do Grupo Abril, a Wikipedia é mostrada como o centro do mundo colaborativo, que só surgiu com o advento da Internet. Andrew Lih, um ex funcionário da organização que acaba de lançar o livro "The Wikipedia Revolution ", explica seu sucesso como um "resultado natural" das forças do mercado. "O website tornou-se um fenômeno instantâneo por causa da oferta e demanda - conteúdo equilibrado e confiável é uma commodity rara, e com alta demanda", diz ele. E mais: "a Internet tem gente ansiosa para dividir conhecimentos profundos sobre qualquer coisa, mas até então este povo estava disperso geográfica e logisticamente - A Wikipedia simplesmente apareceu como um espaço para abrigar todo este conhecimento".
Pouca gente fala, no entanto, de outro fenômeno: A Wikipedia, reunindo conhecimento de forma prática e ágil, está tomando o lugar dos jornais. O jornalista Jonathan Dee, do The New York Times, comentou o fato de que o site não é apenas uma enciclopédia on line, mas também fonte de notícias sempre atualizada. Já tornou-se lenda o fato de que a Wikipedia furou a mídia tradicional dando em primeira mão a notícia de morte de gente famosa, como o apresentador da NBC Tim Russell, que sofreu um ataque de coração fulminante.
Quem está contra a Wikipedia? Algumas pessoas que criticam certas distorções ou mentiras em determinadas páginas - como o fato da cantora Britney Spears ter o mesmo espaço que o filósofo Sócrates, ou muitos professores que identificam pesquisas e deveres-de-casa dos estudantes copiados literalmente do site, sem nenhuma outra fonte. Mesmo a cópia sendo permitida pela licença da enciclopédia, a própria comunidade não aconselha essa atitude, pois eles não consideram a Wikipedia como fonte primária. Quanto a revista Time elegeu VOCÊ como a pessoa do ano em 2006, citou o sucesso da colaboração online e a interação de milhões de pessoas ao redor do mundo. É o que a Wikipedia representa.
Só tem um probleminha. Sem dinheiro, como esta conta fecha? Esta é a pergunta que não quer calar. Todos os projetos em volta desta nunca vista base de conhecimento, que inclui o Wikibooks, Wikiquote ou Wikinews, são sustentados por uma fundação, a Wikimedia Foundation , que está em San Francisco, mas que por motivos de segurança pouca gente sabe onde está. A Fundação recebe doações que dão para pagar a infraestrutura de rede e seus 25 funcionários, mas está pesquisando formas de rentabilizar a base de dados com projetos empresariais. Este mergulho no mercado é feito com extrema discrição e ética, mas o objetivo da organização é um mundo onde qualquer pessoa terá livre acesso à soma do conhecimento humano. O dinheiro, assim, tornou-se uma barreira que foi transposta com trabalho colaborativo e voluntário.
No documentário Join Us , da Tv Ideal, do Grupo Abril, a Wikipedia é mostrada como o centro do mundo colaborativo, que só surgiu com o advento da Internet. Andrew Lih, um ex funcionário da organização que acaba de lançar o livro "The Wikipedia Revolution ", explica seu sucesso como um "resultado natural" das forças do mercado. "O website tornou-se um fenômeno instantâneo por causa da oferta e demanda - conteúdo equilibrado e confiável é uma commodity rara, e com alta demanda", diz ele. E mais: "a Internet tem gente ansiosa para dividir conhecimentos profundos sobre qualquer coisa, mas até então este povo estava disperso geográfica e logisticamente - A Wikipedia simplesmente apareceu como um espaço para abrigar todo este conhecimento".
Pouca gente fala, no entanto, de outro fenômeno: A Wikipedia, reunindo conhecimento de forma prática e ágil, está tomando o lugar dos jornais. O jornalista Jonathan Dee, do The New York Times, comentou o fato de que o site não é apenas uma enciclopédia on line, mas também fonte de notícias sempre atualizada. Já tornou-se lenda o fato de que a Wikipedia furou a mídia tradicional dando em primeira mão a notícia de morte de gente famosa, como o apresentador da NBC Tim Russell, que sofreu um ataque de coração fulminante.
Quem está contra a Wikipedia? Algumas pessoas que criticam certas distorções ou mentiras em determinadas páginas - como o fato da cantora Britney Spears ter o mesmo espaço que o filósofo Sócrates, ou muitos professores que identificam pesquisas e deveres-de-casa dos estudantes copiados literalmente do site, sem nenhuma outra fonte. Mesmo a cópia sendo permitida pela licença da enciclopédia, a própria comunidade não aconselha essa atitude, pois eles não consideram a Wikipedia como fonte primária. Quanto a revista Time elegeu VOCÊ como a pessoa do ano em 2006, citou o sucesso da colaboração online e a interação de milhões de pessoas ao redor do mundo. É o que a Wikipedia representa.
quinta-feira, 19 de março de 2009
A classe média chega ao paraíso
Além da Casa Branca, da Disneyworld e de Estátua da Liberdade, outro ponto que deve ser conhecido nos Estados Unidos é a rede de supermercados Costco, uma idéia inovadora que, aqui, está sendo chamada de porta do paraíso da classe média. Embora tenha sido também afetada pela crise, com "apenas" US$ 5 bilhões a menos em faturamento, a rede que tem sede em Seattle e se espalha por todo o país parece ter sido criada na medida certa para a dona de casa e, melhor ainda, é um modelo de sucesso para o empreendedor (ou para a empreendedora).
A primeira vista, o Costco é apenas um imenso barracão com produtos amontoados no chão, televisores de plasma de 200 dólares, roupas chinesas a preço de banana e banana a preço de chicletes. Depois da segunda ou terceira visita, você começa a tomar gosto pelo lugar - e descobre que ali é existe uma laboratório para paladares requintados e curiosos a procura de novidades. Com a crise, é um bom lugar para comer e beber de graça. Em cada esquina, por exemplo, há aposentados (de preferência imigrantes) oferecendo pedacinhos de tortelone feitos na hora, ou uma tostada francesa com queijo de cabra. Para a criançada, oferece-se pizza a US$ 1,50 e Coca Cola com direito a refil gratuito.
Com o tempo, descobre-se outra razão do sucesso: o fator surpresa. Embora jogados em prateleiras que lembram o Makro, no Brasil, os produtos são de excelente qualidade e sempre vêem em doses generosas com preços ainda mais generosos. E, o melhor, coisas que você jamais viu. Dez pedaços de frango em um só pacote por US$ 5, espinafre orgânico para abastecer uma casa por dois meses, caixas de vinho argentino a US$ 6 a garrafa, etc. Não é loja de pobre, mas de uma classe média americana cada vez mais esprimida pela não só pela crise, mas pelo fato de que a classe média vem sendo espremida em qualquer lugar.
Perguntei ao diretor comercial Jim Donald, numa visita a Issaquah, na região de Seattle, onde está a sede da empresa, porque o Costco não vai para o Brasil. "Temos que responder positivamente a 25 questões antes de chegar a qualquer país, mas não vamos para o Brasil simplesmente porque lá (aí) não existe uma classe média ligeiramente alta (não sabia que existia isto) que compra os nossos produtos", disse ele.
Fundado em 1983, o Costco conta hoje com 123 mil empregados e é a maior rede de atacado do mundo em volume de vendas. É o quarta maior varejista do país, e a única empresa do mundo que subiu de zero a US$ 3 bilhões de faturamento em apenas seis anos. Tem em sua carteira mais de 51 milhões de membros, representando 28,3 milhões de lares norte-americanos. Em 2007, faturou US$ 64,4 bilhões, com mais de US$ 1 bilhão em lucros. É a 29a maior empresa dos Estados Unidos, e também uma das mais adoradas.
O foco do Costco é vender produtos a preço baixo e em grande volume. Até aí nada demais. O supermercado, entretanto, não oferece centenas de marcas, e prefere vender a maioria dos produtos debaixo da sua marca própria, a Kirkland. O resultado, segundo os especialistas, é que o Costco economiza para o consumidor trabalhando com poucos fornecedores e investindo muito pouco no marketing. Aliás, como se diz aqui, o supermercado é o rei do chamado marketing de experiência. O Costco sabe que, se você for lá, vai voltar sempre.
A primeira vista, o Costco é apenas um imenso barracão com produtos amontoados no chão, televisores de plasma de 200 dólares, roupas chinesas a preço de banana e banana a preço de chicletes. Depois da segunda ou terceira visita, você começa a tomar gosto pelo lugar - e descobre que ali é existe uma laboratório para paladares requintados e curiosos a procura de novidades. Com a crise, é um bom lugar para comer e beber de graça. Em cada esquina, por exemplo, há aposentados (de preferência imigrantes) oferecendo pedacinhos de tortelone feitos na hora, ou uma tostada francesa com queijo de cabra. Para a criançada, oferece-se pizza a US$ 1,50 e Coca Cola com direito a refil gratuito.
Com o tempo, descobre-se outra razão do sucesso: o fator surpresa. Embora jogados em prateleiras que lembram o Makro, no Brasil, os produtos são de excelente qualidade e sempre vêem em doses generosas com preços ainda mais generosos. E, o melhor, coisas que você jamais viu. Dez pedaços de frango em um só pacote por US$ 5, espinafre orgânico para abastecer uma casa por dois meses, caixas de vinho argentino a US$ 6 a garrafa, etc. Não é loja de pobre, mas de uma classe média americana cada vez mais esprimida pela não só pela crise, mas pelo fato de que a classe média vem sendo espremida em qualquer lugar.
Perguntei ao diretor comercial Jim Donald, numa visita a Issaquah, na região de Seattle, onde está a sede da empresa, porque o Costco não vai para o Brasil. "Temos que responder positivamente a 25 questões antes de chegar a qualquer país, mas não vamos para o Brasil simplesmente porque lá (aí) não existe uma classe média ligeiramente alta (não sabia que existia isto) que compra os nossos produtos", disse ele.
Fundado em 1983, o Costco conta hoje com 123 mil empregados e é a maior rede de atacado do mundo em volume de vendas. É o quarta maior varejista do país, e a única empresa do mundo que subiu de zero a US$ 3 bilhões de faturamento em apenas seis anos. Tem em sua carteira mais de 51 milhões de membros, representando 28,3 milhões de lares norte-americanos. Em 2007, faturou US$ 64,4 bilhões, com mais de US$ 1 bilhão em lucros. É a 29a maior empresa dos Estados Unidos, e também uma das mais adoradas.
O foco do Costco é vender produtos a preço baixo e em grande volume. Até aí nada demais. O supermercado, entretanto, não oferece centenas de marcas, e prefere vender a maioria dos produtos debaixo da sua marca própria, a Kirkland. O resultado, segundo os especialistas, é que o Costco economiza para o consumidor trabalhando com poucos fornecedores e investindo muito pouco no marketing. Aliás, como se diz aqui, o supermercado é o rei do chamado marketing de experiência. O Costco sabe que, se você for lá, vai voltar sempre.
O jeito é perguntar ao Google
Se o Google fosse uma fábrica de automóveis, não fabricaria carros. Deixaria que um bando de chineses fabricasse veículos simples, elétricos, eficientes, fáceis de dirigir, disponíveis em qualquer lugar e.... de graça. O GoogleMobile seria o resultado da colaboração de milhões de internautas, que poderiam sugerir qualquer acessório, como um plug para Ipod ou Blackberry, e rodariam sob o patrocínio de um anunciante qualquer. Melhor ainda, sairiam sempre numa versão beta, de forma que possam ser melhorados infinitamente - e a qualquer momento.
No livro "What Would Google Do", o jornalista Jeff Jarvis, também professor da City University of New York Graduate School of Journalism, faz esta e outras incômodas perguntas cujas respostas sugerem um mapa para atravessarmos a pior crise desde 1929, o grande desastre econômico de todos os tempos, a implosão da economia mundial tal qual a conhecemos ou, simplesmente, o início de uma nova era para a humanidade.
Jarvis chegou até a sentar-se com o pessoal de Detroit (Ford, GM, Chrysler) para dizer que os fabricantes de automóveis, hoje falidos, são mais desconectados dos seus consumidores do que funcionário público exigindo reconhecimento de firma. Quase apanhou. No mundo de hoje, diz, deixe o consumidor trabalhar. Ele quer influir, colaborar, conversar, participar, inovar, enfim (já repararam como todo mundo hoje está dizendo "enfim"?) - ser parte integrante do produto ou serviço.
No livro "What Would Google Do", o jornalista Jeff Jarvis, também professor da City University of New York Graduate School of Journalism, faz esta e outras incômodas perguntas cujas respostas sugerem um mapa para atravessarmos a pior crise desde 1929, o grande desastre econômico de todos os tempos, a implosão da economia mundial tal qual a conhecemos ou, simplesmente, o início de uma nova era para a humanidade.
Jarvis chegou até a sentar-se com o pessoal de Detroit (Ford, GM, Chrysler) para dizer que os fabricantes de automóveis, hoje falidos, são mais desconectados dos seus consumidores do que funcionário público exigindo reconhecimento de firma. Quase apanhou. No mundo de hoje, diz, deixe o consumidor trabalhar. Ele quer influir, colaborar, conversar, participar, inovar, enfim (já repararam como todo mundo hoje está dizendo "enfim"?) - ser parte integrante do produto ou serviço.
Jorra dinheiro no Vale do Silício
O mundo, se você não reparou, está acabando, mas o Vale do Silício, uma área erguida no deserto californiano ao redor da Universidade de Stanford, está mais do que nunca open for business. Só no ano passado, segundo uma das mais conceituadas consultoras da região, a holandesa Anne Donker, foram investidos US$ 28,3 bilhões, perfazendo quase quatro mil negócios. Em qualquer momento, segundo ela, pelo menos 20 mil empreendedores estão pensando em abrir alguma empresa aqui, sendo que quase metade deles está precisando de dinheiro para tocar o negócio (embora calcula-se que só 1% deles o consiga).
Aqui está pelo menos metade de todas as firmas de investimento em novas empresas (venture capitalists, ou VCs) dos Estados Unidos, administrando cerca de US$ 257 bilhões. E, nesta crise, os VCs estão mais afoitos que nunca para financiar ideias que justamente tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com a tecnologia da informação, biotecnologia e energias limpas, como baterias de alta durabilidade e paineis solares que tenham preços acessíveis à maioria das pessoas.
O bom é que para 2009 a coisa piora, mas só um pouquinho. O Vale não está se desgrenhando, como a indústria automobilística ou a mídia tradicional, por exemplo. A maioria dos VCs diz que este é um excelente momento para investir em novas empresas, já que estes ativos estão bastante depreciados de uma forma geral devido à crise mundial. "Jamais haverá recessão quando se tratar de inovação", diz Anne.
Nas pesquisas que promove no setor, ela descobriu que 48% dos investidores estão prevendo aumento de investimentos em 2009. Para onde o dinheiro está indo? Se forem seguidos os padrões do ano passado, estes bilhões de dólares irão para software, que no ano passado foi o centro de 881 negócios, energia limpa (277) e ciências da vida - biotecnologia, medicina e instrumentação (853). Na parte de específica de tecnologia da informação, os favoritos são e-commerce, componentes e subsistemas, segurança, entretenimento e redes sociais, nesta ordem.
Como se sabe, o que mais o investidor quer é ajudar a montar a empresa, criar valor e, no menor tempo possível, cair fora do negócio vendendo-o por um preço exorbitante, várias vezes o preço que pagou para entrar. É a chamada estratégia de saída. Com a crise, sair bem está ficando mais difícil, daí o VC pensar duas vezes antes de entrar financiando qualquer oferta, diz Anne. "Só falta uma lupa para que eles esquadrinhem cada pedaço do negócio, a fim de examinar detidamente se vale a pena ou não investir", diz ela.
Para chegar até estes investidores, o empreendedor tem de passar pela via crucis de uma fantástica indústria que se criou para apoiá-los antes que eles apresentem seus negócios aos VCs. No Vale, há associações de apoio a empreendedores em cada esquina, consultores caros e baratos em outras, empresas de recursos humanos que acham toda a equipe que você precisa e ainda a convence a trabalhar de graça por 90 dias em troca de uma possível futura participação, e até bancos que emprestam dinheiro em troca de um business plan que faça sentido, e a juros de 4% ao ano.
O americano comum, ao contrário do que está fazendo o presidente Barack Obama, sabe que a solução tem de vir do mercado, e não do governo. Daí surgirem ilhas de prosperidade como o Vale do Silício num mundo que, a cada dia, se desmorona.
kicker: Firmas de investimento querem financiar ideias que tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com TI
Aqui está pelo menos metade de todas as firmas de investimento em novas empresas (venture capitalists, ou VCs) dos Estados Unidos, administrando cerca de US$ 257 bilhões. E, nesta crise, os VCs estão mais afoitos que nunca para financiar ideias que justamente tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com a tecnologia da informação, biotecnologia e energias limpas, como baterias de alta durabilidade e paineis solares que tenham preços acessíveis à maioria das pessoas.
O bom é que para 2009 a coisa piora, mas só um pouquinho. O Vale não está se desgrenhando, como a indústria automobilística ou a mídia tradicional, por exemplo. A maioria dos VCs diz que este é um excelente momento para investir em novas empresas, já que estes ativos estão bastante depreciados de uma forma geral devido à crise mundial. "Jamais haverá recessão quando se tratar de inovação", diz Anne.
Nas pesquisas que promove no setor, ela descobriu que 48% dos investidores estão prevendo aumento de investimentos em 2009. Para onde o dinheiro está indo? Se forem seguidos os padrões do ano passado, estes bilhões de dólares irão para software, que no ano passado foi o centro de 881 negócios, energia limpa (277) e ciências da vida - biotecnologia, medicina e instrumentação (853). Na parte de específica de tecnologia da informação, os favoritos são e-commerce, componentes e subsistemas, segurança, entretenimento e redes sociais, nesta ordem.
Como se sabe, o que mais o investidor quer é ajudar a montar a empresa, criar valor e, no menor tempo possível, cair fora do negócio vendendo-o por um preço exorbitante, várias vezes o preço que pagou para entrar. É a chamada estratégia de saída. Com a crise, sair bem está ficando mais difícil, daí o VC pensar duas vezes antes de entrar financiando qualquer oferta, diz Anne. "Só falta uma lupa para que eles esquadrinhem cada pedaço do negócio, a fim de examinar detidamente se vale a pena ou não investir", diz ela.
Para chegar até estes investidores, o empreendedor tem de passar pela via crucis de uma fantástica indústria que se criou para apoiá-los antes que eles apresentem seus negócios aos VCs. No Vale, há associações de apoio a empreendedores em cada esquina, consultores caros e baratos em outras, empresas de recursos humanos que acham toda a equipe que você precisa e ainda a convence a trabalhar de graça por 90 dias em troca de uma possível futura participação, e até bancos que emprestam dinheiro em troca de um business plan que faça sentido, e a juros de 4% ao ano.
O americano comum, ao contrário do que está fazendo o presidente Barack Obama, sabe que a solução tem de vir do mercado, e não do governo. Daí surgirem ilhas de prosperidade como o Vale do Silício num mundo que, a cada dia, se desmorona.
kicker: Firmas de investimento querem financiar ideias que tirem o mundo da crise, a maioria delas relacionada com TI
O capitalismo morreu. Viva o capitalismo!
Eu já tinha ouvido falar de Chris Anderson, por intermédio do Juliano Spyer , o maior especialista brasileiro em colaboração. Sabia que o editor chefe da Wired - a bíblia dos novos tempos da internet -, o homem que tão bem identificou a nova era que estamos vivendo com o livro "The Long Tail", tinha lá suas impenetrabilidades, vivendo na reclusão de quem é submergido por pedidos de palestras, viagens ou autógrafos.
Bastou entrarmos na redação da revista em San Francisco, acompanhando um grupo de brasileiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que queria conhecer as empresas do Vale do Silício, para ele aparecer todo sorridente e, melhor ainda, interessado no Brasil, onde seu novo livro, "Free", será lançado em breve. Não deu outra: autógrafos, fotos e, melhor ainda, promessas de fazer palestras no Brasil.
Como a maioria das pessoas, gosto de conhecer celebridades (qualquer uma) só pelo fato de serem celebridades. No mínimo, vira assunto de mesa de bar. Mas com Anderson é diferente. "The Long Tail" foi publicado em 2004 em forma de artigo, e até hoje é o assunto mais reverenciado numa das mais reverenciadas revistas do mundo.
Nascido em 1961, Anderson cresceu vendo Batman, lendo o The New York Times e ouvindo a NPR, a rádio pública norte-americana. Como editor da revista, e mergulhado nos meios digitais, começou a comparar a sua adolescência com o dia-a-dia dos garotos (ou garotas) que hoje têm, por exemplo, 16 anos.
Nesta imersão, descobriu um mundo totalmente novo, construído sobre a internet. O fenômeno do Long Tail, que já era estudado entre os demógrafos, baseia-se no fato de que a rede de computadores reduziu o custo de distribuição a quase zero, fazendo com que empresas como a Amazon e Netflix vendam um grande número de itens em pequenas quantidades. Outro excelente exemplo é o iTunes da Apple, que não tem nenhuma - isto mesmo, nenhuma - das bilhões de músicas no seu catálogo que não tenha sido vendida, fazendo o sucesso não só se celebridades, mas também de ilustres desconhecidos.
Na conversa, perguntamos o que vai nascer depois do que está sendo chamado de o fim do capitalismo. Para ele, emergirão empresas horizontalizadas, sem chefes, transparentes, éticas, sustentáveis e ecológicas. Um exemplo é o que está acontecendo na mídia. Com o fim dos jornais impressos, da TV ou do rádio, nascem milhões de mídias, como blogs, twiters, ou sites de notícias para hackers, adoradores do diabo ou esportes radicais. Ao invés de TV, surgem o Youtube ou o Hulu, sem comerciais e com conteúdos exclusivos ou copiados da TV. Ao invés de rádio, o Itunes - músicas on-line, a US$ 0,99 cada.
Pelo menos nos Estados Unidos, uma espécie de avant première do que vai acontecer no mundo, a tendência é o que ele chama de "marketing massivo de nichos". Uma mídia para cada gosto. Este é um intrincado labirinto de tribos, gangs, gostos, seja lá o que for, uma parafernália de conteúdos totalmente diferente do que estamos acostumados, dirigida para cada ser humano, em uma onda gigantesca, indetectável e incompreensível.
O interessante disto tudo é que a conta não fecha. Excetuando o Google, que vive de pequenos anúncios na Internet e distribui gratuitamente softwares para as massas, e outras poucas empresas, não foi descoberto ainda um modelo de negócios rentável que possa abarcar as iniciativas dos empreendedores do mundo inteiro.
Chris Anderson, no entanto, faz muito dinheiro com esta nova era. Já ganhou milhões na Wired, nos livros que escreve e nas palestras que dá. Coube a ele identificar e descrever pela primeira vez a nova era. Agora, já prenuncia outra era (vai ser tudo free, como dizia Raul Seixas) de conteúdo, produtos, serviços - o que for - para todo mundo. Quem vai pagar a conta?
Bastou entrarmos na redação da revista em San Francisco, acompanhando um grupo de brasileiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que queria conhecer as empresas do Vale do Silício, para ele aparecer todo sorridente e, melhor ainda, interessado no Brasil, onde seu novo livro, "Free", será lançado em breve. Não deu outra: autógrafos, fotos e, melhor ainda, promessas de fazer palestras no Brasil.
Como a maioria das pessoas, gosto de conhecer celebridades (qualquer uma) só pelo fato de serem celebridades. No mínimo, vira assunto de mesa de bar. Mas com Anderson é diferente. "The Long Tail" foi publicado em 2004 em forma de artigo, e até hoje é o assunto mais reverenciado numa das mais reverenciadas revistas do mundo.
Nascido em 1961, Anderson cresceu vendo Batman, lendo o The New York Times e ouvindo a NPR, a rádio pública norte-americana. Como editor da revista, e mergulhado nos meios digitais, começou a comparar a sua adolescência com o dia-a-dia dos garotos (ou garotas) que hoje têm, por exemplo, 16 anos.
Nesta imersão, descobriu um mundo totalmente novo, construído sobre a internet. O fenômeno do Long Tail, que já era estudado entre os demógrafos, baseia-se no fato de que a rede de computadores reduziu o custo de distribuição a quase zero, fazendo com que empresas como a Amazon e Netflix vendam um grande número de itens em pequenas quantidades. Outro excelente exemplo é o iTunes da Apple, que não tem nenhuma - isto mesmo, nenhuma - das bilhões de músicas no seu catálogo que não tenha sido vendida, fazendo o sucesso não só se celebridades, mas também de ilustres desconhecidos.
Na conversa, perguntamos o que vai nascer depois do que está sendo chamado de o fim do capitalismo. Para ele, emergirão empresas horizontalizadas, sem chefes, transparentes, éticas, sustentáveis e ecológicas. Um exemplo é o que está acontecendo na mídia. Com o fim dos jornais impressos, da TV ou do rádio, nascem milhões de mídias, como blogs, twiters, ou sites de notícias para hackers, adoradores do diabo ou esportes radicais. Ao invés de TV, surgem o Youtube ou o Hulu, sem comerciais e com conteúdos exclusivos ou copiados da TV. Ao invés de rádio, o Itunes - músicas on-line, a US$ 0,99 cada.
Pelo menos nos Estados Unidos, uma espécie de avant première do que vai acontecer no mundo, a tendência é o que ele chama de "marketing massivo de nichos". Uma mídia para cada gosto. Este é um intrincado labirinto de tribos, gangs, gostos, seja lá o que for, uma parafernália de conteúdos totalmente diferente do que estamos acostumados, dirigida para cada ser humano, em uma onda gigantesca, indetectável e incompreensível.
O interessante disto tudo é que a conta não fecha. Excetuando o Google, que vive de pequenos anúncios na Internet e distribui gratuitamente softwares para as massas, e outras poucas empresas, não foi descoberto ainda um modelo de negócios rentável que possa abarcar as iniciativas dos empreendedores do mundo inteiro.
Chris Anderson, no entanto, faz muito dinheiro com esta nova era. Já ganhou milhões na Wired, nos livros que escreve e nas palestras que dá. Coube a ele identificar e descrever pela primeira vez a nova era. Agora, já prenuncia outra era (vai ser tudo free, como dizia Raul Seixas) de conteúdo, produtos, serviços - o que for - para todo mundo. Quem vai pagar a conta?
sábado, 31 de janeiro de 2009
Conversando a gente se entende....
Seattle - Você prefere ler aquele manual de 300 páginas ou perguntar para seu colega como se faz para instalar o seu programa de email? Já foi chamado de burro porque não suportava ficar boa parte da sua adolescência sentado numa cadeira ouvindo qualquer marciano falar o que você não entendia? Já caiu no sono - e sonhou com uma praia distante - durante um treinamento na sua empresa?
Se você disse sim a qualquer uma destas perguntas você não está sozinho. Especialistas em educação - presencial ou à distância - finalmente estão dando o braço a torcer e reconhecendo a chatice que é o processo de aprendizado, desde que algum insensível na antiga Grécia criou o professor, a sala de aula e um monte de alunos que estão ali como se estivessem no purgatório.
Para Jay Cross, o autor de Learning:Rediscovering the Natural Pathways that Inspire Innovation and Performance, o aprendizado já mudou - só que a maioria das pessoas, especialmente os empresários que precisam adequar suas empresas aos novos e mutantes tempos, ainda não percebeu.
A educação, como se sabe, continua sendo a grande e sustentável vantagem competitiva na idade do conhecimento, onde somos pagos para pensar, ao contrário de 100 anos atrás. Mas o problema é que hoje a velocidade das mudanças é tão grande que o mercado - empresas, alunos etc - não suporta mais pagar os custos da ineficiência do aprendizado tradicional. Por isto o ser humano aprende muito mais trocando mensagens on line, blogando, fazendo podcasts, escrevendo em wikis, jogando no Wii, trocando informações no Orkut ou simplesmente encostando no colega ao lado e perguntando. Em outras palavras, fazendo o que fomos feitos para fazer: comunicar, socializar, entreter e sermos entretidos.
O problema é que as gerações antigas, incluindo eu e você, leitor, não conseguimos imaginar uma escola sem professor, uma empresa sem prédios, um negócio sem chefe. Ainda somos viciados em conceitos que, já morreram ou estão fadados a morrer. Confundimos seriedade com trabalho duro. Não concebemos que as chamadas relações estruturadas - a escola, o govenro, a empresa - não estão seguindo mais a fantástica, confusa e inesperada capacidade do ser humano de criar conceitos, estabelecer conexões, ter os chamados insights, progredir independentemente de qualquer controle, de grande irmãos ou líderes.
"Por isto a chamada conversação é a mais poderosa tecnologia de aprendizado do planeta", disse Jay Cross numa recente entrevista ao web site da Adobe, uma empresa que está apostando tudo na colaboração on line. "O que os empregados fazem quanto tem uma dúvida? Perguntam para os colegas que estão mais próximos deles". É uma prática comum. Daí, segundo ele, a tendência de networking online (ou off line) não só nas empresas, mas em tudo quanto é lugar. A reboque, uma incrível troca instantânea de conhecimento que vai levar o progresso a níveis exponenciais, com boa parte dos seres humanos se comunicando 24 horas por dia, 7 dias por semana.
* Dirige a The Information Company nos Estados Unidos. www.vidaamericana.com.br
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
A gente não quer só comida - a gente quer banda larga também
Seattle - Plugado num Blackberry, no Youtube e outras gusoleimas digitais, Barack Hussein Obama, o primeiro presidente on line dos Estados Unidos, pretende investir US$ 30 bilhões para levar a banda-larga a todos - isto mesmo, todos - os 303 milhões de americanos, estejam eles em Nova York ou em Boys Town, Nebraska, considerada a menor cidade do país, com apenas cinco honrosos habitantes. Obama entende que a chamada conexão de alta velocidade, assunto em que o país está em um humilhante 15° lugar no mundo, é tão importante quanto a paz, o pacote de estímulo de US$ 750 bilhões ou, simplesmente, comida na mesa do trabalhador.
Especialistas têm apenas um vaga idéia do que seria um país totalmente plugado, mas não conseguem imaginar a grandiosidade da revolução que tal estrutura vai provocar em termos de educação, entretenimento, informação e principalmente novos empregos, milhões de empregos. O consenso é que, hoje, a banda-larga é tão importante quanto os carros de Henry Ford nos anos 20, as estradas construídas por Dwight Eisenhower nos anos 50 e a própria infraestrutura de Internet que a dupla Clinton-Gore criou nos anos 90, as chamadas information highways. Só se sabe que a banda-larga é o passaporte para o futuro.
Boa parte dos US$ 30 bilhões que Obama pretende investir vai para incentivos fiscais. Empresas que levem a bandalarga a lugares inóspitos ou de pouco acesso vão ganhar até 60% de tax credits, como se diz por aqui. Outras que aumentarem a velocidade da atual banda podem receber até 40%. Os incentivos, segundo a revista Business Week, estarão disponíveis para qualquer empresa. Mas quem vai ganhar, como se prevê, é quem já está no ramo, como a AT&T, Verizon Communications, Comcast, ou até uma empresa de internet sem fio aqui da região de Seattle, a Clearwire. Pelas suas características, o setor é altamente monopolizado, e vai vencer a parada quem já estiver pronto para fazer o serviço. Depois de oito anos de George W. Bush, a pressa do novo governo, seja ela em qualquer setor, chega aos níveis da extrema ansiedade.
O homem chave de Obama nos setor é um tal de Blair Levin, que não dá entrevista para a imprensa nem sob tortura. Ele lidera um grupo que estuda a possibilidade de incentivos fiscais para quem também utiliza a conexão rápida, como escolas, livrarias e - o problemão de todo mundo comenta -, a redução de custos no setor de saúde. Afinal, durante a campanha, Obama bateu de frente neste setor, insistindo que sua informatização seria a chave para aumentar a produtividade e, desta forma, reduzir os custos para milhões de americanos que pagam US$ 150 dólares por uma consulta ou comprimidos para combater o colesterol. Fala-se também que até os Estados vão receber dinheiro para construir redes de banda-larga para regiões que nunca nem ouviram falar disto. Seria uma extensão do atual programa do Departamento de Agricultura, o Rural Development Broadband Program, que já conectou 600 mil casas em 40 estados desde 2002.
Esta empurrão na banda-larga é importante para a administração de Obama porque pretende resolver um monte de problemas. Além de criar empregos na construção destas redes e ampliar o uso da Internet, o esforço traria os Estados Unidos para um dos primeiros lugares do mundo neste setor, que hoje tem a Dinamarca, a Noruega e Holanda nos primeiros lugares. "A banda-larga é a chave para o nosso futuro", resumiu S. Derek Turner, diretor da Free Press, uma organização independente que estuda o assunto no momento.
Dirige a The Information Company nos Estados Unidos - www.vidaamericana.com.br
domingo, 18 de janeiro de 2009
Investir em crise abre a porta pula do avião
Seattle - Aterrorizado pelas perdas que provocou aos seus clientes no Heritage Wealth Management Inc., uma firma de Indiana, nos Estados Unidos, o gerente de investimentos Marcus Schrenker, 38 anos, abriu a porta no seu mono-motor e pulou para a eternidade num pântano no Estado de Alabama, no sul do país. Schrenker, rico, bonito, acrobata e esportista, um homem que ficou milionário sendo o que se chama aqui de "babá de milionário", cometeu sucessivos erros que, pelo que se viu até agora, deram um prejuízo de US$ 2 milhões aos seus clientes. Depois que ficou pobre, até a sua mulher o deixou entrando com um pedido milionário de divórcio. A saída foi a morte.
Tudo parecia ser mais um caso de suicídio nos recessivos tempos que estamos vivendo até que a Força Aérea americana relatou que foi chamada a socorrer um piloto que tinha quebrado do pára-brisa do avião e que, segundo o chamado, "estava sangrando profundamente". Ao chegarem perto do mono-motor Piper PA-46, ainda a dois mil pés de altitude, descobriram que a cabine estava vazia e que a porta lateral estava semiaberta. Seguiram o avião até que ele se espatifou num mangue ao sul do Alabama. Dentro, nenhum sinal de sangue.
Foi aí que descobriram que Marcus Schrenker queria mesmo é desaparecer e reaparecer, daqui a algum tempo, mas com outra identidade. Sem dívidas financeiras, aporrinhações da esposa e outras contrariedades que só quem está vivo sabe, ele queria uma segunda chance. No entanto, Polícia, FBI, Força Aérea e toda a mídia cheiraram a notícia e começaram a seguí-lo. Descobriram uma fita de vídeo de um motel onde ele aparece ainda carregando o pára-quedas e entrando no quarto. Entrevistado pela política, o gerente disse que Schrenker alegava que tinha tido um acidente de canoa no rio. Mais tarde, descobriu-se que ele tinha guardado uma motocicleta (uma Yamaha vermelha) num local próximo e, como no filme Easy Rider, já tinha colocado o pé na estrada.
Na quinta-feira passada, o xerife Frank Chiumento descobriu o moço escondido num acampamento em Quincy, na Flórida. Schrenker estava meio desacordado depois de cortar o pulso esquerdo numa nova tentativa - esta real - de suicídio para se livrar dos problemas. O problema é que, mais uma vez, ele não tinha morrido. Pego em flagrante num país onde o maior pecado é a mentira, o investidor agora vai seguir a Via Crucis dos tribunais. Um juiz já terminou o congelamento de todos os seus bens, de forma que os interesses dos investidores sejam no mínimo garantidos.
Quando viu todo o alvoroço na TV, sua mulher, Michelle, voltou atrás e disse que quer ajudar o pai de seus três filhos a voltar à vida normal. "Ele é apenas uma vítima das circunstâncias", disse através de seu advogado". Para quem está de fora, e pelas informações obtidas até agora pela imprensa, Schrenker não cometeu crime algum depois que recebeu um email um dia antes do vôo com um texto que o ameaçava (não se sabe como). Promotores entrevistados pela TV, no entanto, dizem que sua prisão é apenas uma questão de tempo. Atrás das grades, ele terá mais tempo para pensar no que fez e, como quer sua esposa, se reconciliar com a vida.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Recessão é a melhor hora para descriminalizar as drogas
Maconha, haxixe, cocaína, crack, anfetaminas - o presidente-eleito Barack Obama, ele mesmo um ex-usuário (hoje é só cigarro de vez em quando) terá que lidar com a possibilidade de descriminalização das drogas, a exemplo dos que os Estados Unidos fizeram há exatos 75 anos, quando uma emenda constitucional acabou com a Prohibition, que para nós ficou conhecida como Lei Seca. Em 1933, milhões de americanos voltaram a tomar seus dry martinis e, assim, deixaram de ser criminosos, esvaziaram as prisões e, o melhor, acabaram com a vida fácil de Al Capones e outros gângsters que infestavam Chicago oferecendo bebidas que muitas vezes simplesmente matavam quem as bebia.
Contraditoriamente, e diferentemente de muitos países, os Estados Unidos adotam desde então uma política semelhante à Prohibition em relação a outras drogas. O resultado é uma Chicago dos anos 30 em escala mundial. Aqui, mais de meio milhão de pessoas encarceradas por uso de entorpecentes (1,8 milhão de prisões por ano), bilhões investidos nas guerras contra o tráfego, desde a Colômbia até o Afeganistão, milhares de mortes por overdose, suporte a terroristas como a FARC, e por aí vai. Ao todo, 20 milhões de americanos tomam drogas, contra 127 milhões de pessoas que, talvez como você, leitor, são chegados num drinque no final do dia.
Como lembrou Ethan A. Nadelmann, diretor do Drug Policy Alliance, não faz sentido liberar o álcool e proibir a maconha, que faz menos mal, tem pouca associação com comportamentos violentos e não oferece risco de overdose (a não ser o sono). O problema maior, como muita gente sabe, são as drogas estimulantes - cocaína e metafetaminas -, mas que quando comparadas ao álcool representam menor número de mortes e outros prejuízos para a sociedade.
"A diferença real", disse ele num artigo do The Wall Street Journal, "é que o álcool é um diabo que a gente conhece, enquanto estes outros diabos a gente desconhece". Por isto mesmo, continua, nada melhor que uma recessão (ou será depressão?), como a que vemos agora, para sairmos da chamada zona de conforto e enfrentarmos nossos preconceitos de uma forma clara, eficiente e principalmente inteligentemente.
Trazendo o mundo das drogas à luz do dia, sendo vendidas e controladas pelo Estado (ou por organizações criadas para este fim), e a exemplo do que já acontece vários países, como no nosso vizinho Canadá e em países europeus, o custo para a sociedade seria menor. Milhões de dólares deixariam de ser gastos numa guerra subterrânea que a gente desconhece e, por isto mesmo, não sabe como lidar.
Em seu programa de governo, Barack Obama já sinalizou que vai acabar com as grandes sentenças para drogados, voltará a financiar programas educativos para evitar a AIDS (que tem uma relação íntima com as drogas), deixará que a maconha seja testada para fins medicinais e vai dar suporte a programas alternativos para pequenos usuários pegos pela polícia.
Como se sabe, a fonte de toda dor - qualquer dor - é a falta de informação. Muitos pais sofrem por não saber como os filhos compram drogas em favelas, injetam substâncias no corpo sem agulhas descartáveis ou desconhecem seus limites como usuários. Trazendo o problema à tona, os riscos cairiam tremendamente e a criminalidade deixaria de existir em grande parte. Mas este problema, se não for enfrentado, sempre existirá. Pois se droga realmente fosse uma "droga", uma substância utilizada desde Adão para esquecermos a realidade e vivermos sonhos impossíveis, ninguém a utilizaria.
O Rambo Pitbull de Barack Obama
Já ia escrevendo um artigo explicando porque Barack Obama pode ser um desastre como presidente - inexperiente, joguete nas mãos das elites, síndico de outro desastre, George W. Bush - quando surge uma esperança: a primeira escolha do eleito, o deputado Rahm Emanuel (para chefe de gabinete) , o político pitbull, mais conhecido como "Rahmbo", "algo intermediário entre as hemorróidas e uma terrível dor de dente" - como dizem seus detratores -, o homem que esteve por trás da fantástica vitória dos democratas em 2006 e que culminou com a eleição do primeiro presidente negro americano.
Se Obama representa o equilíbrio, a turma do deixa disso, nem negro, nem branco, nem asiático, nem africano, Rahm é o oposto: é o cowboy chamado para impor ordem no faroeste sem lei. Direto, brusco, é judeu praticante, já foi triatleta, tem 1m78cm de altura, nove dedos nas mãos (fruto de uma infecção que quase o matou), pele tostada (como a dos beduínos) e uma energia sem limites, que combina eficiência e eficácia. É um temido gerentão, CEO, executor ou, simplesmente, um trator.
Um dos principais fundraisers dos democratas e deputado pelo distrito de Chicago (mesmo de Barack), Rahm liga às quatro da tarde pedindo dinheiro, novamente às 4h15min para ver se o dinheiro já foi transferido e às 4h30min para agradecer - e pedir mais. Não é à toa que Obama teve o dinheiro que quis durante a campanha.
Amado e odiado, pela esquerda e pela direta, é um dos homens mais ricos do Congresso. Levantou (para si) US$ 18 milhões em bônus em dois anos e meio, quando trabalhou para o banco Dresdner Kleinwort Wasserstein, em Chicago.
Com seu estilo determinado, incansável e nervoso, impôs a eficiência e a disciplina empresarial à então confusa e difusa minoria democrata. Na Casa Branca, provavelmente trará a mesma disciplina a um governo que deve US$ 10,3 trilhões e tem um déficit anual perto dos US$ 500 bilhões.
Rahm tem a fé que remove montanhas não apenas por mérito. Parece que nasceu assim, como seus pais e irmãos. Filho de um médico israelita que imigrou para os Estados Unidos, já serviu no Exército israelense como mecânico na fronteira com o Líbano.
O irmão mais novo, Ari Emanuel, um dos mais proeminentes agentes artísticos de Hollywood, divide com ele o estilo "bateu-levou-deixa-que-eu-chuto". O mais velho, Ezekiel, é um famoso oncologista nos Estados Unidos e tido como um dos maiores apologistas na defesa da ética na Medicina.
Rahm formou-se em dança e tem diploma de Comunicação. Ganhou notoriedade quando, há dois anos, percorreu o país para lançar o livro "O Plano - Grande Idéias para a América".
Seu ídolo é Bill Clinton, com quem atuou seis anos na Casa Branca e chegou a substituir o ex-porta-voz George Stephanopoulos como conselheiro sênior na área de política e estratégia.
Para Rahm, política se faz com dinheiro - se tiver boas idéias e nobres ideais, melhor ainda. Se não tiver, azar de quem estiver pela frente. Sendo um pitbull de Barack Obama, a Casa Branca, enfim, vai funcionar.
Você chamaria Obama para salvar a empresa?
Carismático, pai exemplar, orador excepcional, o presidente-eleito Barack Obama nunca amanheceu com contas a pagar ou dormiu com contas a receber. Até ficar rico com sua autobiografia, vivia pendurado em cartões de crédito, a exemplo de seus mais de 100 milhões de eleitores. Em seu primeiro emprego, como pesquisador numa consultoria financeira, sentia-se um espião atrás das linhas inimigas. Obama sempre foi aquele cara que está mais para empregado insatisfeito do que patrão legal. É uma espécie de antítese empresarial. Agora, vai assumir o comando da locomotiva do mundo sem saber como ela roda, o que ela carrega e para onde ela vai. Os EUA e o mundo esperam que ele se saia bem, mas um rápido "reality check", como se diz aqui, leva a crer que só um milagre pode fazer com que ele recoloque o país nos trilhos.
Na Casa Branca a partir de 20 de janeiro, o presidente democrata vai descobrir que todos os bilhões de dólares despejados pelo governo para salvar o mercado imobiliário foram por terra. Até o fim de 2008, outras 1,4 milhão de hipotecas não vão ser pagas. O que gerou a maior recessão econômica desde 1930, o escândalo das sub-primes, está longe de acabar. Obama será obrigado a intervir no mercado novamente para convencer os bancos a dar uma moratória nos pagamentos.
Como democrata, Obama adora sindicatos. E sindicatos, como se sabe, adoram proteger o trabalhador. De cada carro que sai das linhas de produção da General Motors (a empresa tem caixa para sobreviver até o final de dezembro, e não pode mais pedir emprestado), US$ 2 mil são separados para pagar benefícios de empregados. A conta simplesmente não fecha. Com este câncer na produtividade, mais de um milhão de empregos serão perdidos este ano. O desemprego vai chegar a 7% até dezembro, maior índice desde 1993.
Obama vai ter de cortar impostos para desempregados, emprestar dinheiro para as empresas contratarem mais e terá que convencer o Congresso a dar um segundo pacote de estímulo para a população. O primeiro, no início deste ano, quase chegou a US$ 300 bilhões e foi distribuído indiscriminadamente entre todos - todos - cidadãos norte-americanos.
Menos impostos, mais gastos, e assim a vida continua. Mesmo com o petróleo barato, outra vítima da recessão, o presidente eleito terá de investir mais de US$ 150 bilhões em fontes alternativas de energia nos próximos dez anos, de forma que o país se veja livre da dependência do óleo do Oriente Médio. O progresso que está sendo feito em diversas áreas - energia solar, vento, etanol - é excepcional, mas nada que sobrepasse o velho, e agora novamente barato, óleo dos cheiques árabes. Analistas já estão prevendo que o preço do petróleo vai voltar em breve aos níveis do início deste ano - mais de US$ 100 o barril.
Com tanto pepino pela frente, os Estados Unidos precisam de um líder carismático ou de um gerente eficaz e eficiente, que resolve tudo doa a quem doer? Se os Estados Unidos fossem uma empresa, a sua empresa, você chamaria Barack Obama para tomar conta do pedaço?
kicker: O detalhe é que quanto mais o governo interfere, menos o mercado reage; de janeiro para cá, casas perderam 17% do valor
Sarah não sai do inconsciente coletivo
Derrotada nas eleições presidenciais, humilhada por sua ignorância (principalmente geográfica) e ridicularizada pelas posições políticas e religiosas, a governadora do Alasca Sarah Palin não sai do inconsciente coletivo norte-americano desde que juntou-se ao idoso John Mcain na derrotada chapa republicana. "Você pode odiá-la, mas não consegue tirar os olhos dela", resumiu um veterano jornalista da TV.
Desde a derrota, Palin vem sendo mais notícia de que o presidente-eleito Barack Obama. Deu entrevista para o Today, o Bom Dia Brasil daqui, para a sisuda Greta Von Susteren, da Fox News, e para o outro sisudo Wolf Blitzer, da CNN. Em todas, mostrou suas pernas, seu coque dos anos 60, o conjuntinho preto com o broche da bandeira americana e outros dotes, especialmente na cozinha, fazendo caçarola de salmão em sua casa no estado que de abundante só tem gelo.
O que os americanos não dizem, e nem poderiam dizer dado o grau de puritanismo (uma palavra branda para sexo mal resolvido) da sua população, principalmente a masculina, é que o país está tarado pela ex-miss Alasca que acidentalmente entrou na política, uma evangélica que acha que a África é um país ou que a Rússia é vizinha dos Estados Unidos (olhando de cima o globo terrestre, é ou não é?).
Mesmo formada em Comunicações, e sendo uma ex-jornalista de TV, Palin é uma mulher chucra, interiorana, inocente (mesmo do alto dos seus 44 anos), uma mãe de cinco filhos que agora vive seus momentos de glória enfrentando jornalistas marmanjões com olhares lânguidos na TV. Não acredita na evolução da espécie (e nem na fotossíntese, como brincou o comediante Bill Maher, da HBO), é contra o aborto (seu último filho é deficiente mental), é a favor da educação dos jovens para a utilização de armas, apóia a pena de morte e, contra tudo e contra todos, é a favor da exploração de petróleo nas reservas naturais do seu Estado natal.
Algumas feministas ainda tentam defender Sarah Palin, por ser a primeira governadora mulher do Alasca e a segunda candidata presidencial em mais de dois séculos de história norte-americana (a primeira foi a democrata Geraldine Ferraro., que também perdeu a eleição). Mas sua falta de conhecimento, e daí o despreparo para o cargo, é tão grande que, aos poucos, torna-se impossível defendê-la. Apenas assisti-la e torcer para mais uma gafe.
Agora ela aparece monótona e diariamente na TV, mostrando seu corpo bem torneado e suas idéias truncadas para um país sedento por um símbolo sexual na política, algum colírio no intervalo de um noticiário coberto por previsíveis homens de terno e gravata. O país reprimido sexualmente estremece-se agora da mesma forma que cansou de comentar o affair entre o ex-presidente John Kennedy e a atriz Marilyn Monroe. Ou mesmo entre Bill Clinton e a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. Ou até do coitado do ex-presidente Jimmy Carter, que confessou ter traído a mulher - mas só em pensamento. Isto mesmo, em pensamento.
Fora pelos seus atributos físicos ninguém entende seu estrondoso sucesso na política. Sexo, como se diz, anda de mãos dadas com o poder. Talvez, com o passar dos anos, esta senhora que saiu do nada reúna as mínimas condições para suceder Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos. Determinação e coragem ela já demonstrou ter.
Microsoft corre para a terceira idade
Há quatro anos a Microsoft, cujo quartel general e aqui, enrosca-se numa luta para destruir o Google e outras empresas que, com menos recursos mas com mais inteligência e juventude, dominam a Internet. Com 21 bilhões de dólares em caixa, provenientes da renda do paquidérmico Windows e do Office, a empresa criou o Online Services Business, que reúne o portal MSN, a agência de publicidade on line aQuantive, e o Live Search para enfrentar a concorrência. Resultado? Acaba de perder meio bilhão de dólares no último quadrimestre, 80% a mais comparado ao mesmo período no ano passado.
Sempre que visito o campus da empresa, uma espécie de Disneylândia da tecnologia, faço a óbvia pergunta: o que vai acontecer com vocês se continuarem a insistir em vender softwares embutidos em PCs e Laptops, e não mergulharem de vez na web? Todos se ajeitam na cadeira, pigarreiam e desconversam, como se eu estivesse vendendo apólice de seguro de vida.
A verdade é que a empresa que aprendemos a admirar, mas que hoje está para a Internet assim como a General Motors está para a indústria automobilística, degladia-se internamente para buscar o seu lugar no futuro. Tem dinheiro, cabeças pensantes, gente estimulada mas, como uma Venezuela que se deitou na piscina do petróleo, tenta mas não consegue dar um passo na Internet quando tem recursos entrando em caixa todos os dias - e por um bom tempo ainda.
A empresa nasceu com a idéia de "um computado em cada casa, rodando um software Microsoft", mas não contava com uma idéia mais genial, de que software é commodity que pode ser encontrado e utilizado na rede. Quando, como e onde você estiver. E de graça. Pior ainda, não contava (e ninguém contava) com outra novidade, a pesquisa (não basta aparecer, você tem de ser é achado) , que hoje é pedra fundamental não só da internet, mas de boa parte do marketing.
Sem saber para onde ir, especialmente desde que Bill Gates optou pela filantropia e deixou o Steve Ballmer gritando sozinho no salão, a Microsoft hoje é uma cidade dentro de Redmond, perto de Seattle, com interesses tão distintos que tentam abraçar o mundo de uma vez só, desde a saúde até a geologística, num premeditado projeto de onipresença. Está certo que ela ganha dinheiro em vários setores (US$ 9 bilhões de faturamento no ano passado), especialmente empresariais, compra dezenas de outras empresas, é uma fantástica usina de gênios, mas está certo também que a firma rasga dinheiro como nunca e, como qualquer um de nós, está envelhecendo.
Qualquer usuário hoje sabe que a simplicidade é o Deus nos negócios na Internet. O Google ("apenas uma firma de publicidade", segundo os funcionários da Microsoft) é assim. Seu logo, sua webpage, as novas facilidades que apresenta a cada dia (e que passam imediatamente a fazer parte das nossas vidas) são tão óbvios que fazem a gente pensar: por que eu não inventei isto antes? Tudo que sobe desce, diz o ditado. A Microsoft, a empresa que fez, faz e ainda fará por algum tempo parte das nossas vidas, tende a complicar-se ainda mais e perder o fio da história. Hoje é um gigante de cabelos brancos que, naturalmente, vai dar lugar em breve às próximas gerações.
Nada a temer, senão o próprio medo
Quando o democrata Franklin Delano Roosevelt, o FDR, o maior presidente americano, assumiu a Casa Branca em 1933, devolveu aos americanos a vontade de reagir e dar a volta por cima depois que o furacão de 1929 roubou 13 milhões de empregos, reduziu a produção industrial à metade, derrubou os preços das residências em 80% e ainda provocou a falência de cinco mil bancos.
Vendo o documentário FDR, que a TV pública americana (PBS ) acaba de distribuir gratuitamente pelo Itunes, dá para antever o que ocorrerá conosco nos próximos anos. Na crise de 29, no entanto, o maior problema não era a falta de emprego, a destruição de valor, a inflação ou a fome, mas sim a apatia. O povo estava cansado, desiludido, debilitado, sem forcas para reagir. No primeiro dia, na famosa Conversa ao Pé do Rádio, e com apenas um discurso, FDR trouxe a esperança de volta aos norte-americanos. "Não temos nada a temer, senão o próprio medo", disse.
O problema é que esperança não enchia e nem enche barriga. A depressão econômica durou ainda boa parte dos 12 anos dos quatro mandatos de Roosevelt, e só iria acabar depois que o governo despejasse meio trilhão de dólares em dezenas de programas sociais, regulasse a economia de tudo quanto é jeito, empregasse diretamente oito milhões de pessoas e, finalmente, entrasse na Segunda Guerra Mundial, mesmo contra a vontade da população e dos políticos.
Roosevelt teve que dobrar o Congresso para acabar com as seguidas moções que defendiam a neutralidade norte-americana. Sabia que nada melhor que guerras, conflitos ou batalhas para fomentar a economia, e bastou que a Marinha americana fosse destruída em Pearl Harbor para que convencesse a indústria do pais a produzir aviões, metralhadoras e granadas.
O esforço de guerra, que arrancou cerca de US$ 360 bilhões dos contribuintes, foi a coisa mais notável que se viu até então. As forças armadas americanas, dizem os historiadores, eram menores do que as da Suécia. Em apenas um ano, 1943, os Estados Unidos produziram cerca de 120 mil aviões de combate. A união em torno de um objetivo comum, acabar com Hitler, uniu de vez o país e construiu as bases do que viria a ser a maior potência militar (e econômica) do mundo.
Vitima da poliomielite e entrevado em cadeiras de rodas, condição que escondeu do povo durante todos os anos da Casa Branca, FDR é criticado até hoje por ter intervido na economia com mão de ferro. Keynesiano de carteirinha, sabia o custo da não intervenção. Mesmo nascido em berço de ouro, e extremamente à vontade na vida besta da alta sociedade de Nova York, era um esquerdista para os padrões norte-americanos. Governo-patrão, força para os sindicatos, salário mínimo e outras garantias para o povo trabalhador. Só não avançou mais ainda porque resistiu como pôde às exigências da mulher Eleonor Roosevelt, uma espécie de Lula que acreditava que o Estado, e não o mercado, resolve as diferenças sociais.
O legado de FDR, como as Nações Unidas e o Seguro Social norte-americano, persiste até hoje. Mesmo aleijado, mas dono de um irrefreável otimismo, simpatia e vigor politico, tirou os Estados Unidos da recessão, ganhou a Segunda Guerra e elevou o país à condição de superpotência. Ano passado, seu biógrafo Jean Eduard Smith escreveu: "FDR levantou-se da cadeira de rodas para erguer uma nação de joelhos".
A última flor da dinastia Kennedy
Para quem não a conhece, ela é aquela menininha que bate continência ante a passagem do túmulo do pai, o democrata John Kennedy, nos fazendo chorar nos repetitivos filmes que, há quarenta anos, passam na TV americana sobre o assassinato de um dos mais importantes presidentes norte-americanos, em 1963. Caroline Bouvier Kennedy, advogada (mas também ex-jornalista, ex-museóloga e autora de livros patrióticos), hoje uma respeitável e milionária mãe de família, quer ser agora Senadora pelo Estado de Nova York, vaga ocupada por Hillary Clinton, hoje futura secretária de Estado de Barack Obama.
Caroline, que levou seu trôpego tio Bob (está com câncer) a subir o pódio para apoiar Obama ("he's a lifetime candidate"), encantou-se pela política e agora parece ser imbatível para o cargo. Não só na preferência do atual governador de Nova York, David Paterson, o deficiente visual que substituiu Eliot Spitzer, pego em flagrante com uma prostituta e obrigado a renunciar - como também do Partido Democrata, da mídia e, principalmente, dos doadores da campanha.
Caroline passou por muitas tragédias. Viu, pela ordem, seu irmão Patrick não resistir a dois meses de vida, seu pai ser assassinado em Dallas, Texas, sua mãe sucumbir ao câncer, e o mais novo, John-John, morrer depois que seu Teco-Teco desabou no Atlântico. Aos 51 anos, mãe de três filhos, casada com um designer de museu, tímida, baixinha, voz raquítica, a moça é a ultima remanescente do que se convencionou chamar de "família real" norte-americana.
Sua grande tacada foi escrever um editorial no The New York Times , com o título "Um presidente como o meu pai", em Janeiro deste ano, ato que foi a gota dágua para os eleitores esquecerem Hillary Clinton e optarem pelo negro que viria ser o presidente do Estados Unidos. No jornal, ele pontificou: "Eu nunca tive um presidente que me inspirasse do mesmo jeito que as pessoas dizem que meu pai as inspirou - pela primeira vez, (...) encontrei um homem que poderia ser este tipo de presidente, não só para mim, mas para as novas gerações de norte-americanos". Seu endosso caiu como uma bomba nos comitês dos outros candidatos, pois o poder de fogo de um Kennedy é irresistível nas hostes do Partido Democrata.
Herdeira da fortuna dos Kennedy, que incluiu uma penthouse na East Side de Nova York e uma vila no balneário de Martha's Vineyard, Caroline, mineiramente, contribuiu com a campanha de Obama, mas também com a de Clinton durante as prévias do Partido Democrata. Sua candidatura ao Senado (nos Estados Unidos, quando o cargo fica vago, como agora, o substituto é apontado pelo governador do Estado), é apoiada pelo atual prefeito da cidade, Michael Bloomberg, como também pelo The New York Times.
Milhares de livros, documentários, séries e filmes já foram feitos para desvendar o mistério da morte do seu pai, e principalmente a atração que esta família irlandesa de católicos exerce sobre o eleitorado norte-americano. Se eleita, Caroline vai servir ainda dois anos do mandato de Hillary Clinton, e provavelmente fará campanha para ficar mais seis anos no cargo. Ao todo, e se ela for eleita, os Kennedy terão um representante no Senado durante contínuos 68 anos. E, quem sabe, uma futura presidente Kennedy na Casa Branca.
Montanha russa ou casa dos horrores?
2008 não ficará na história como o ano em que os investidores americanos perderam mais de 7 trilhões de dólares em ações, foram obrigados a devolver suas casas para os bancos ou assistiram à sua aposentadoria evaporar. Fora estes fatos, que irão direto para o Guiness, o livro dos recordes, 2008 irá se tornar o ano em que, pela primeira vez nas nossas vidas, foi bobagem fazer qualquer planejamento para 2009, simplesmente porque ainda não sabemos o que acontecerá com nós neste ano que se inicia.
Por que? Primeiro porque as coisas, contrariando a teoria do fundo do poço, não param de piorar. O barril de petróleo, que chegou a US$ 150 no último verão aqui, agora está abaixo de US$ 40 - trata-se de notícia ruim, já que significa falta de demanda. O valor de mercado da General Motors, já socorrida pelo governo norte-americano, está abaixo do que era em 1927. Instituições financeiras tradicionais, como Bear Stearns e Lehman Brothers, já não existem, e como lembrou o MarketWatch, do The Wall Street Journal, é normal agora a bolsa subir e descer 900 pontos num mesmo dia.
Em segundo lugar, nunca ninguém viu uma recessão como esta, onde a atividade econômica em todo o mundo parece desmoronar como num castelo de cartas. O S&P Broad-Market Index, que reúne mais de 11 mil ações de país em desenvolvimento e países emergentes, caiu US$ 17,7 trilhões do início do ano até agora. Em Novembro, o Banco Mundial disse que a economia da China vai diminuir seu crescimento para 7,5% ano que vem, o pior nível desde 1990. As ações na Rússia caíram 72%, Turquia 68% e Índia 67%. No Japão, o índice Nikkei registrou os menores índices em 26 anos, e o país já se declarou em recessão. A Islândia, país que ninguém sabia que existia até pouco tempo, perdeu 81% do valor de suas ações com investimentos em fundos de altíssimo risco. Até sobrou para o Brasil, que perdeu 25% do Bovespa, a maior perda em apenas um mês durante os últimos dez anos.
Além de muita gente boquiaberta, o que vimos até agora foram diferentes governos em todo o mundo despejando dinheiro no mercado e regulando-o a fim que não se cometam mais excessos, como se o capitalismo, por si só, fosse um excesso, e governos, pela sua própria natureza, fossem exemplos de lisura e competência. Só o governo norte-americano endividou-se ainda mais e imprimiu dinheiro (isto mesmo, rodou a maquininha) para injetar estes trilhões no mercado, inclusive em participações acionárias, e ainda reduziu a taxa de juros a zero. Está apenas devolvendo para o mercado o que o mercado lhe deu na forma de impostos durante todos estes anos.
Como disse Hugh Johnson, chairman of Hohnson Illington Advisors, que está de olho no mercado há 40 anos, o problema agora é que não existem palavras para descrever o que está acontecendo, se é recessão ou depressão, se trata-se de uma arranjo natural do capitalismo ou se é o que se convencionou chamar de fim de mundo. "Gostaria de usar a comparação com uma montanha russa", diz Paul Nolte, da Hinsdale Associates, "mas está sendo mais uma viagem de ida à casa dos horrores".
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